terça-feira, 4 de novembro de 2025

22ª Terça-feira Depois de Pentecostes

  
04 de Novembro de 2025 (CC) / 22 de Outubro (CE)
Milagroso Ícone da Mãe de Deus de Kazan
Santo Abércio, bispo de Hierápolis († c. 170)
Santos Sete Jovens Dormentes de Éfeso († 250)
Tom 4


O Ícone de Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego, teria sido escrito, segundo os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem de meio corpo da Virgem carregando o Menino Jesus, que se encontra quase de pé numa atitude de benção para com sua mãe, para quem Ele ergue Sua mão direita. 
O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho. Sob a cobertura está o desenho e as cores se conservam perfeitamente, o que se leva a considerá-lo não unicamente como uma peça de altíssimo valor religioso, mas também uma verdadeira obra de arte. 
A lâmina que recobre a imagem data do século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que deste modo quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem. 
No dia 1 de outubro de 1552, festa da «Proteção da Virgem» o exército do Czar Ivan, o Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino Tártaro. O Czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da Anunciação. 
No ano de 1579 Kazan foi assolada por um violento incêndio que destruiu a metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a Virgem aparece a uma menina de nove anos. Manda-lhe escavar as ruínas porque ali encontraria o Sagrado Ícone. 
No dia 8 de julho de 1579, é encontrada entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de 1612 quando é transportada para a cidade de Moscou. 
Em 1790 o Czar Pedro, o Grande, a invoca como «Protetora e Estandarte»na batalha de Poltava, contra Carlos XII da Suécia. Após a vitória russa o ícone é entronizado na Catedral de Moscou, sendo em seguida transferido para São Petersburgo e colocado num santuário a ele especialmente dedicado. 
Na noite de 29 de junho de 1904, durante uma revolta popular, desaparece junto a outros tesouros do Santuário. Em 1970, cerca de sessenta anos depois, reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Neste contexto, foi comprado pelo «Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima» organização católica de devoção à Virgem de Fátima. Prosseguindo sua caminhada foi entronizado na Capela Bizantina, em Fátima, Portugal e, em 1993, foi entregue ao Papa por esta organização. 
O bispo de Roma conservou o ícone na capela de seu apartamento, esperando a oportunidade de encontrar-se com o Patriarca Alexis II para devolvê-lo, pois este, enquanto chefe atual da Igreja Ortodoxa Russa, era considerado seu legítimo proprietário.  
Em 28 de agosto de 2004, o Papa João Paulo II, manifestando o desejo de promover as relações fraternas com a Igreja Ortodoxa Russa, devolveu ao Patriarcado de Moscou este que é um dos ícones mais venerados pelos Ortodoxos através da história. 


Tropária e Kondákia

Tom 4: Ó Mãe do Senhor Altíssimo, e fervorosa intercessora, / por todos intercedei ao teu Filho, Cristo nosso Deus, / intentando a salvação de todos os que recorrem à tua poderosa proteção. / Ó Soberana Senhora e Rainha, ajude-nos e defenda a todos nós / que nas angústias, provações e dores, sobrecarregados de muitos pecados, / estamos diante do teu puríssimo Ícone na tua presença, / e a ti oramos com compunção de alma, / contrição de coração, e com lágrimas, / e que inabalavelmente esperamos em ti. / Conceda-nos, a todos, o que é bom para nós, / libertando-nos de todo o mal, / e salva-nos a todos, ó Virgem Theotókos, // pois tu és uma Divina Proteção para os teus filhos.

Tom 8: Acorramos, ó povos, ao porto de calmaria e pronta ajudadora, / iminente e calorosa salvação e Virgem protetora. / Apressemo-nos a nos arrepender e a orar, / pois, a puríssima Theotókos derrama sobre nós infalível misericórdia, / e depressa socorre aos servos tementes e agradáveis a Deus nas necessidades, // livrando-nos de males e catástrofes.

Leituras Comemorativas
Filipenses 2:5-11
Lucas 10:38-42; 11:27-28
Comemoração de Santo Abércio 
Abércio Marcelo viveu no segundo séclo, na Frigia Salutaris, e era Bispo de Hierópolis.  Aos setenta anos de idade realizou uma peregrinação a cidade de Roma e, retornando desta viagem, passou pela Síria, Mesopotâmia, visitando lá à cidade de Nísibis. Por todos os lugares por onde passou encontrou fervorosos cristãos que haviam sido purificados pelo batismo e se nutriam do Corpo e do Sangue de Cristo.
O santo bispo, através de sua pregação e milagres, levou tantos à conversão que lhe foi dado o título de «Igual-aos-apóstolos». Sua fama chegou aos ouvidos do Imperador Marco Aurélio que mandou que viesse à Roma, pois sua filha era vítima de possessão. Santo Abércio realizou com muito êxito o exorcismo na jovem, ordenando ao demônio que lhe atormentava que transportasse a pedra de um altar do hipódromo romano até a sua cidade episcopal, onde seria utilizada na construção de sua sepultura. O nome de Abércio figura na liturgia grega desde o século X. Seu adormecimento em Cristo aconteceu quando contava 72 anos de idade. 
Santos Maximiliano, Jâmblico, Martiniano, João, Dionísio, Constantino e Antonino. 
São Maximiliano era o filho do administrador da cidade Éfeso, e os outros seis jovens eram filhos de outros ilustres cidadãos de Éfeso. Os jovens eram amigos desde a infância, e todos estavam cumprindo juntos o serviço militar. 
Quando o imperador Décio (249-251) chegou a Éfeso, ordenou que todos os cidadãos fossem ofertar sacrifícios aos deuses pagãos, e quem não o fizesse, sofreria torturas e execução. 
Através de uma denúncia, os sete jovens de Éfeso foram convocados para responder às acusações. Em pé perante o Imperador, os sete jovens confessaram a sua fé em Cristo. Imediatamente as divisas militares dos jovens lhes foram tomadas. Décio julgava que lhes expulsando do exército, os faria abandonar a fé pelo desejo de voltarem às campanhas militares. 
No entanto, os jovens fugiram da cidade e se esconderam em uma caverna no Monte Okhlonos, onde permaneceram todo o tempo em oração, preparando-se para o martírio. O mais novo deles, São Jâmblico, se vestiu com roupas de mendigo e entrou na cidade para comprar pão. 
Em uma dessas viagens para a cidade, ouviu que o Imperador estava os estava procurando para leva-los a julgamento. São Maximiliano exortou seus companheiros a sairem da caverna e bravamente aparecer no julgamento.

Contudo, ao descobrir o esconderijo dos rapazes, o Imperador deu ordens para vedar a entrada da caverna com pedras, para que os rapazes morressem de fome e de sede. 
Pela obra de dois cristãos desconhecidos (muitos viviam a ocultar a sua fé, para escapar do martírio), no desejo de preservar a memória dos santos, instalou entre as pedras um recipiente lacrado, no qual foram localizados dois feixes de estanho. Nelas estavam inscritos os nomes dos sete jovens e os detalhes do seu sofrimento e morte. Mas o Senhor submeteu os jovens a uma especie de adormecimento milagroso, que os fez dormir por quase dois séculos. 
Após esse tempo as perseguições contra os cristãos tinham cessado. No entanto, durante o reinado do Santo imperador Teodósio , o Jovem (408-450), surgiram hereges que rejeitavam a crença na ressurreição dos mortos e na Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Alguns deles diziam:  
"Como pode haver uma ressurreição dos mortos, quando não há mais nem alma, nem o corpo, uma vez que foram desintegrados?" 
Outros afirmavam:  
"Somente as almas poderiam ser restauradas, uma vez que é impossível para corpos ressurgir e viver depois de mil anos, pois até mesmo a poeira deles não existe mais". 
O Senhor, portanto, revelou o mistério da Ressurreição dos Mortos e da vida futura através dos seus sete jovens de Éfeso. Um mestre de obras que trabalhava nas proximidades do monte Okhlonos, descobriu a construção de pedra e os seus trabalhadores abriram as passagens para a caverna. O Senhor havia mantido vivo os jovens, e eles como que se despertassem de seu sono habitual, não suspeitavam que haviam adormecido por quase 200 anos! Seus corpos e roupas estavam intactos, sem qualquer sinal da passagem do tempo!

Preparando-se para aceitar a tortura, os jovens confiaram a São Jâmblico a ida novamente a cidade para comprar pão para que eles pudessem se apresentar para o martírio com boa disposição física. 
No caminho para a cidade, o jovem foi surpreendido ao ver a Santa Cruz gravada nos portões das casas. E ouviu o nome de Jesus ser pronunciado livremente pelas pessoas nas ruas, e nisso começou a duvidar de que ele estava se aproximando de sua própria cidade. 
Ao comprar o pão, o jovem deu uma moeda ao padeiro com a imagem do imperador Décio gravada nela. Naquele tempo havia uma horda de criminosos, usando dinheiro velho para enganar comerciantes. E nisso São Jâmblico foi detido como suspeito de fazer parte do grupo de falsários, e foi levado ao administrador da cidade, que naquele momento era o Bispo de Éfeso.

Ao ouvir as respostas desconcertantes do jovem (contando que era um habitante da Efeso dos tempos do imperador Décio), o Bispo percebeu que Deus estava revelando por meio daquele jovem algum tipo de mistério, e nisso partiu, junto com uma comitiva , para a tal caverna, na qual estariam os outros 6 jovens. 
Na entrada da caverna, o bispo encontrou o recipiente fechado e o abriu. Ele então leu o que estava gravado nos feixes de estanho: os nomes dos sete jovens e os detalhes da vedação da caverna sob as ordens do Imperador Décio.

Ao adentrar na caverna e ver os jovens vivos, todos da comitiva se alegraram e perceberam que o Senhor, através do despertar dos jovens, após um longo sono, estava revelando à Igreja o mistério da Ressurreição dos Mortos. Posteriormente, o próprio Imperador chegou a Éfeso e conversou com os jovens. 
Contudo, após algum tempo da revelação, os jovens santos , diante de todos, deitaram no chão e voltaram a adormecer, desta vez até a Ressurreição de todos, no Dia do Juízo. 
O Imperador desejava colocar cada um dos jovens em um caixão coberto de jóias, mas os santos apareceram ao Imperador em um sonho, pedindo que seus corpos fossem deixados na caverna. 
No século XII o peregrino russo, Higumeno Daniel, visitou a caverna na qual permaneciam adormecidos os sete jovens santos. 
Além do dia 04 de Agosto, os Sete Santos adormecidos de Éfeso são comemorados no dia 22 de Outubro. A data de Agosto se refere ao dia nos quais eles adormeceram, e Outubro se refere ao despertar dos Santos.

Os jovens santos são mencionados também no Ofício do Ano Novo Litúrgico, no dia 01 de Setembro.
Tropárion dos Sete Mártires Dormentes, Tom 4: Em seus sofrimentos, ó Senhor, / Teus mártires receberam de Ti, ó nosso Deus, coroas imperecíveis, / pois, tomados de Teu poder, / aviltaram os torturadores e esmagaram a débil ousadia dos demônios. // Por suas súplicas, salva, Senhor, as nossas almas.

Kondakion dos Sete Mártires Dormentes, Tom 4: Tendo rejeitado as coisas corruptas deste mundo / e recebendo o dom da incorruptibilidade, / pois, mesmo estando mortos, permaneceram intocados pela corrupção. / Assim, ao ressurgirem depois de muitos anos, / sepultaram toda a incredulidade dos ímpios. // Ó Fiéis, celebremos hoje os Dormentes, entoando hinos a Cristo!


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Colossenses 2:20-3:3

Fragmento 256 -
 Irmãos, se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne. Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.

Lucas 11:1-10

Fragmento 55 - Jesus estava orando em certo lugar, e quando acabou, lhe disse um dos Seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. E Ele lhes disse: Quando orardes, dizei: 

“Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu Nome; venha o Teu Reino; seja feita a Tua vontade, assim na terra, como no céu.
Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano;
E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve, e não nos conduzas à tentação, mas livra-nos do maligno”.

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho o que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para os dar; digo-vos que, ainda que não se levante a os dar, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que for necessário. E eu vos digo a vós: Pedi, e vos será dado; buscai e achareis; batei, e vos será aberto; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate lhe será aberto.

† † †

HOMILIAS


Sobre a Oração

Seria digno de observar se no Antigo Testamento se encontra uma oração na qual alguém invoca a Deus como Pai, porque nós, até o presente, não a temos encontrado, apesar de tê-la buscado com interesse. E não dizemos que Deus não foi chamado com o título de Pai, ou que aqueles que nele têm crido não foram chamados filhos de Deus; mas que em nenhuma parte encontramos em uma oração essa confiança proclamada pelo Salvador de invocar a Deus como Pai.

Além disso, que Deus é chamado Pai e, de filhos, os que se ativeram à palavra divina, pode-se constatar em muitas passagens veterotestamentárias. Assim:

"Deixaste ao Deus que te gerou, e deste ouvido ao Deus que te alimentou?" 

E ainda na mesma passagem:

"São filhos sem fidelidade alguma". 

E em Isaías:

"Eu criei filhos e os tenho enaltecido, porém eles me têm desprezado"; 

e em Malaquias:

"O filho honrará ao seu pai e o servo ao seu Senhor. Porque se eu sou pai, onde está a minha honra?"

Ainda que em todos estes textos Deus seja chamado de Pai, e filhos aqueles que foram gerados pela palavra da fé nEle, não se encontra, contudo, na Antiguidade uma afirmação clara e infalível desta filiação. Desta forma os mesmos lugares citados mostram que eram realmente súditos aqueles que se chamavam filhos. Já que, segundo o apóstolo, enquanto o herdeiro é menor, sendo o Senhor de tudo, não difere do servo; mas está sob tutores e encarregados até a data assinalada pelo pai.

Mas a plenitude dos tempos chegou com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, quando pode se receber livremente a adoção, como ensina São Paulo, afirmando que "tendes recebido o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abbá, Pai!"

E no Evangelho de São João lemos:

"Mas a todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; aos que creem em seu nome." 

E por este espírito de adoção de filhos sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, porque a semente de Deus está nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus.

Por tudo isto, se entendêssemos o que escreve São Lucas ao dizer: "Quando orardes, dizei: Pai", nos envergonharíamos de invocá-lo sob esse título se não somos filhos legítimos. Porque seria triste que, junto aos nossos outros pecados, acrescentássemos o crime de impiedade.


Orígenes, Presbítero de Alexandria (séc. III)

† † †

“Estes São os Bens que Principalmente Devemos Pedir”

Desejando nosso Senhor e Salvador que cheguemos às alegrias do reino celestial, ensinou-nos a pedir-lhe estas mesmas alegrias e prometeu de concedê-las a nós se o pedimos: Pedi – diz ele – e recebereis, procurai e encontrareis, batei e vos será aberto. Devemos refletir seriamente e com a máxima atenção, caríssimos irmãos, sobre a mensagem de que são portadoras estas palavras do Senhor, visto que nos asseguram que o Reino dos Céus não é patrimônio de ociosos e desocupados, mas que se dará, será encontrado e se abrirá para aqueles que o peçam, o procurem e chamem às suas portas.

Desta forma, a entrada no reino temos de pedi-la orando, temos de procurá-la vivendo honradamente e temos de chamar às suas portas perseverando. Porque não é suficiente limitar-se a pedi-lo de palavra, mas devemos indagar diligentemente qual há de ser a nossa conduta para merecer alcançar o que pedimos, segundo a afirmação daquele que afirma: Nem todo o que me diz Senhor entrará no Reino dos Céus, mas aquele que cumpra a vontade de meu Pai que está no céu: esse entrará no Reino dos Céus.

Portanto, é necessário, meus irmãos, que peçamos assiduamente, que oremos constantemente, que nos prostremos por terra, bendizendo ao Senhor, nosso Criador. E para que mereçamos ser escutados, consideremos solicitamente como ele quer que vivamos, que é cumprir o que nosso Criador nos ordenou. Recorramos ao Senhor e ao seu poder, busquemos continuamente a sua face. E para que mereçamos achá-lo e contemplá-lo, limpemo-nos de toda sujidade de corpo ou de espírito, pois no dia da ressurreição somente subirão ao céu aqueles que tenham conservado a castidade do corpo, unicamente os puros de coração poderão contemplar a glória da divina Majestade.

E se desejamos saber o que ele quer que peçamos, escutemos aquilo do Evangelho: Buscai o Reino de Deus e sua justiça, e as outras coisas vos serão dadas por acréscimo. Buscar o Reino de Deus e sua justiça significa desejar os dons da pátria celestial, significa indagar incessantemente qual é o comportamento adequado para alcançá-los, não ocorra que cheguemos a nos desviar do caminho que a isso nos conduz, nos vejamos impossibilitados de alcançar a meta à qual nos tínhamos proposto. Estes são, caríssimos irmãos, os bens que principalmente temos de pedir a Deus, esta é a justiça do reino que preferencialmente temos de buscar, ou seja, a fé, a esperança e a caridade, porque está escrito: O justo viverá por sua fé; o que confia no Senhor, a misericórdia o cerca; e amar é cumprir a lei inteira; porque toda a lei se concentra nesta frase: amarás ao próximo como a ti mesmo.

Por isso o Senhor amavelmente nos promete que o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que o peçam. Com o qual quer decisivamente indicar-nos que aqueles que são maus por natureza podem tornar-se bons mediante a aceitação da graça do Espírito.

Promete que o Pai dará o Espírito Santo àqueles que o pedem, porque a própria fé, a esperança e a caridade, como quaisquer outros bens celestiais que desejamos alcançar, nos são concedidos unicamente pelo dom do Espírito Santo.

Seguindo suas pegadas, na medida do possível, peçamos, amadíssimos irmãos, a Deus Pai que, pela graça de seu Espírito, nos guie pelo reto caminho da fé, uma fé ativa na prática do amor. E para que mereçamos alcançar os bens desejados, procuremos viver de tal maneira que não sejamos indignos de tão grande Pai; pelo contrário, esforcemo-nos por conservar, com corpo sempre íntegro e alma pura, o ministério do segundo nascimento, mediante o qual e no batismo nos convertemos em filhos de Deus. Porque é seguro que, se observamos os mandamentos do Pai eterno, nos remunerará com a herança de uma bênção eterna, preparada para nós desde o princípio por Jesus Cristo nosso Senhor, que vive e reina com Deus Pai, na unidade do Espírito Santo, é Deus por todos os séculos dos séculos. Amém.


São Beda o Venerável, monge (séc. VIII)

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