segunda-feira, 7 de abril de 2025

Grande Festa da Anunciação

07 de Abril de 2025 (CC) / 25 de Março (CE)
Novo Hieromartir Tikhon, Patriarca de Moscou e Toda a Rússia (1925);
Venerável Sabbas, o Novo (1948);
"Anunciação" (16 c.) Ícone da Mãe de Deus;
Mártires Pelagia, Theodosia, e Dula de Nicomédia, que sofreram sob Valentiniano; 
Venerável Parthenius das Cavernas de Kiev (1855);
São Senuphius, o Taumaturgo de Latomos (9º Séc.);
São Nicander de Pskov (1581).
Jejum (Peixe é permitido)
Tom 8



A Anunciação (ou "Evangelismos", em grego) à Mãe de Deus (Theotókos) é uma das Grandes Festas do Igreja Ortodoxa, comemorada em 25 de março. Este é um dos dois únicos dias durante a Quaresma em que se é permitido comer peixe (o outro é o Domingo de Ramos).  
De acordo com o Evangelho de Lucas 1:26-38, o Arcanjo Gabriel apareceu a Maria para anunciar-lhe que ela iria conceber e dar à luz um filho, mesmo "não conhecendo homem algum". Conforme a Santa Tradição,  Maria tinha apenas quinze anos, quando fora visitada pelo Arcanjo Gabriel. 
Desde o princípio, a festa foi estabelecida no dia 25 de março, porque circulava a opinião de que Jesus se havia encarnado coincidindo com o equinócio de primavera, tempo em que, segundo as concepções mais antigas, foi criado o mundo e o primeiro homem. Isto o comenta mais extensamente Anastácio, o Antioqueno (+599) em sua Homilia sobre a Anunciação, 6-7.

Teologicamente falando, desde Santo Irineu, que fazia parte do círculo de discípulos do Apóstolo João, a Virgem é vista como sendo a Segunda Eva, e a Encarnação do Verbo (o Segundo Adão), como o evento que reinaugura a Criação do mundo, ou seja, da nova humanidade. São Máximo, o Confessor (+622), retoma este tema, o da concepção de Cristo, o segundo Adão, e a recriação do mundo por Deus, na Encarnação, com vistas à Ressurreição, plenitude de todo o criado.  
Normalmente a festa da Anunciação se dá durante a temporada de Quaresma, mas em alguns anos, cai no mesmo dia em que a Páscoa, o que resulta numa exuberante festa chamada de Kyriopascha. Atualmente, a Kyriopascha só é possível nas igrejas que observam o tradicional Calendário Juliano ou o Calendário Gregoriano. No entanto, nas Igrejas que usam o Novo Calendário (Juliano Revisado), devido a metodologia utilizada para poder preservar a data da Páscoa e ao mesmo tempo se  adaptar ao Calendário Ocidental (Gregoriano), se torna impossível a existência da Kyriopascha. E aqui reside uma das mais graves críticas ao Novo Calendário, pois sepulta a Festa mais exuberante da Ortodoxia.

Fato curioso é que a última Kyriopascha Ortodoxa se deu no ano de 1991, no qual se deu o colapso da União Soviética, e resultou na libertação dos povos Ortodoxos da Europa Oriental. As próximas serao em 2075, 2086 e 2159. A última Kyriopascha no Calendário Gregoriano foi em 1951, e as próxima se darão em 2035, 2046 e 2103.  O primeiro ano em que a Kyriopascha em ambos os Calendários, Juliano e Gregoriano, acontecerão juntas é 6700, seguido de 6779 e 6863. 
Comemoração de São Tikhon.
Nascido em 1865, São Tikhon foi tonsurado monge em 1891 e consagrado bispo no mesmo ano. A partir de 1900, tornou-se bispo do Alasca, sob a supervisão da Igreja na América do Norte. Na América, consagrou o primeiro mosteiro Ortodoxo do continente e trabalhou incansavelmente para unir todos os grupos étnicos como um só rebanho. Em 1907 foi nomeado bispo de Yaroslavl e retornou à Rússia.
Em 1917, São Tikhon foi eleito para ser o primeiro Patriarca de Moscou desde a abolição do Patriarcado pelo czar Pedro, o Grande, mais de 200 anos antes. Quase imediatamente, a Igreja Russa mergulhou numa nova e terrível perseguição quando um governo ateu e totalitário assumiu o controle. O Patriarca Tikhon sempre procurou não entrar em conflito com o governo comunista, mas, sua recusa em negar sua fé ou sua Igreja o deixou marcado aos olhos deles como um inimigo. Em 1925, São Tikhon morreu em circunstâncias misteriosas, e acredita-se que tenha sido assassinado pelos soviéticos. Ele é comemorado como um Confessor, e por muitos como um mártir também.
Nota: Porque sua comemoração cai na Festa da Anunciação, sua Liturgia comemorativa é, geralmente, transferida para o dia antes ou depois da festa.
Mensagem do Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, Em Comemoração do Centenário do Abençoado Repouso de São Tikhon, 
Vossas Eminências! Veneráveis pais! Amados irmãos e irmãs em Cristo! 
O ano de 2025 é especialmente memorável para a Igreja Ortodoxa Russa, que celebra em oração os 100 anos do abençoado repouso no Senhor de São Tikhon, Patriarca de Moscou e de toda a Rússia. Por vontade divina, o Primaz enfrentou severas provações, como abalos revolucionários, guerra civil e o início de cruéis perseguições à fé, que moldaram seu destino. 
Ao ascender à cátedra dos Primeiros Hierarcas de Moscou, São Tikhon teve uma premonição do enorme peso da cruz que lhe era imposta, como atestam suas palavras: "Quantas lágrimas terei que conter e prantos reprimir neste serviço Patriarcal!" (Sermão do Metropolita Tikhon ao receber a notícia de sua eleição). Tudo isso se cumpriu verdadeiramente, e o ministério Patriarcal se tornou para ele um pergaminho profético no qual estavam escritas as terríveis palavras: "Lamentações, gemidos e aflições" (Ezequiel 2:10). 
A restauração do Patriarcado na Igreja Russa, no outono de 1917, coincidiu com a chegada ao poder de ateus militantes, cujo objetivo era erradicar completamente a fé religiosa entre o povo e estabeleceram uma perseguição sem precedentes contra a Igreja de Cristo. Denunciando audaciosamente os crimes dos bolcheviques, que cometeram sangrentas represálias, São Tikhon testemunhou: "A Igreja não se vincula eternamente a uma determinada forma de governo, porque tal forma tem apenas um significado histórico relativo. A Igreja realiza um serviço diferente: é e deve ser a consciência do Estado" (Sermão na festa do Hieromártir Patriarca Hermógenes, 2 de março de 1919). 
Com humildade e mansidão, combinadas com o zelo pela obra de Deus e um espírito de fervor, Sua Santidade Tikhon cumpriu o ministério que lhe havia sido confiado, suplicando ao seu rebanho que não se desviasse do caminho da cruz e permanecesse fiel à Igreja Ortodoxa. 
Somente o Senhor conhecia as profundas preocupações e a angústias que o Patriarca Tikhon experimentou ao ver o colapso da antiga Rússia e a destruição dos templos ortodoxos. Somente o Senhor conhecia as fervorosas orações que o santo oferecia pelo rebanho que lhe havia sido confiado, enquanto estava encarcerado no mosteiro de Donskoy, afastado na prática da administração da Igreja. 
Mas "em tudo nos aprovamos como ministros de Deus, em muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no conhecimento, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido” (2 Coríntios 6:4-6), o santo adquiriu a coroa do martírio e se tornou um exemplo de coragem e fortaleza espiritual. 
Com uma especial devoção, o povo ortodoxo dirige-se às preciosas relíquias de São Tikhon, que são levadas às cidades e vilas da Santa Rússia. Esta veneração das relíquias nos ajuda a fortalecer nossa fé e a ter esperança no poder da intercessão de São Tikhon perante Deus pela Pátria e pelo nosso povo. Cremos e esperamos que São Tikhon responderá às súplicas dos filhos fiéis da Igreja Russa, com os quais se preocupou incansavelmente durante sua vida terrena, e agora, estando diante do Trono do Todo-Poderoso, não deixará de interceder por nós perante Deus. 
Elevemos nossas fervorosas orações a São Tikhon, para que a fé de nosso povo não se enfraqueça, para que o Senhor, pela intercessão de seu glorioso servo e guardião das tradições apostólicas, abençoe a Igreja e nosso país com o silêncio e a paz de Deus (tropário do santo), nos fortaleça no cumprimento dos mandamentos do Evangelho e nos conceda coragem para seguir no caminho de Cristo Salvador. 
Pelas intercessões de São Tikhon, Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, que o Senhor Misericordioso  proteja a todos vós, meus queridos! 
+ KIRILL 
PATRIARCA DE MOSCOU E DE TODA RÚSSIA 


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
LEITURAS

Gênesis 28:10-17 (Vésperas, Anunciação)
Ezequiel 43:27-44:4 (Vésperas, Anunciação)
Provérbios 9:1-11 (Vésperas, Anunciação)
Êxodo 3:1-8 Theotókos
Provérbios 8:22-30 Theotókos
Lucas 1:39-49, 56 Matinas Do Evangelho
Hebreus 2:11-18 Theotókos
Lucas 1:24-38 Theotókos
Isaías 48:17-49:4 (6 Horas)
Gênesis 27:1-41 (Vésperas, 1ª Leitura)
Provérbios 19:16-25 (Vésperas, 2ª Leitura)


HOMILIA

Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestar veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem:
1. Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: “Bendita és tu...”, igualmente também se dirige à Criança: “Bendito é o Fruto do teu ventre”; 

2. Aquela que profetiza se enche de humildade diante do que lhe é inefável, e, assim, Isabel diz: “Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?”; 

3. Faz com que ela profetize acerca do que não entende. Isabel não poderia entender como o mortal poderia gerar o Eterno;  

4. Louva Àquela que Deus santificou: “Bem aventurada aquela que creu...”. Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza: 

a. Louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe concedeu, sendo ela uma humilde serva e; b. Anunciando a veneração que doravante todas as gerações lhe prestariam.
A maioria dos Protestantes não consegue enxergar este sentido do texto, porque são despossuídos de uma mente litúrgica. Como sua experiência se centraliza e se apoia unicamente na razão discursiva, reduz a expressão “Bem Aventurada” - aplicada à Virgem  - a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarias. 

Tal abordagem assemelha-se às visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só́ enxergam as suas utilidades, mas não conseguem exaurir sua alma, como faz um artista. Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao próprio Cristo, o Senhor; pois se as fórmulas “Bendita", "Bem Aventurada”, forem despidas de seus sentidos cúlticos e reduzidas a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: “Bendito o Fruto do Teu ventre”.

A partir da visita de Maria a Isabel, a Igreja entende que foi o próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus.

Pe. Mateus (Antonio Eça)

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