quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

1ª Quarta-feira do Triódion

31 de Janeiro de 2018 (CC) 18 de Janeiro (CE)
Ss. Atanásio e Cirilo, Patriarcas de Alexandria (séc. IV e V)
Modo 1



Santo Atanásio nasceu entre os anos 295 e 296, no seio de uma família humilde de Alexandria. Deus lhe concedeu muitas virtudes, entre elas, uma fé profunda e uma grande capacidade intelectual, demonstrada em seus estudos. Aos 25 anos foi ordenado diácono pelo Patriarca Alexandros, de Alexandria. Participou do Primeiro Concilio Ecumênico, em Nicéia que tratou da heresia de Ário. Em 328, faleceu o Patriarca Alexandro, e Santo Atanásio foi eleito pelo clero e pelo povo como seu sucessor, contando com apenas 33 anos de idade. Iniciou um forte combate contra a heresia de Ário e, por causa disso, foi exilado cinco vezes por ordem do imperador Constantino, sofrendo toda espécie de penas. Sem dúvidas, com fé, valor e inesgotável paciência, saiu vencedor e destroçou os lobos de nossa Ortodoxia. Com diz a Sagrada Escritura: 
«Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas» (1Tim 6,12). 
Estas palavras se fizeram realidade na vida de Santo Atanásio que no dia 2 de maio de 373, quando estava com 75 ou 77 anos de idade, entregou sua alma a Deus. Santo Atanásio foi reconhecido com um dos grandes escritores eclesiásticos e um dos grandes Santos Padres da Igreja. 
São Cirilo
São Cirilo , nasceu em Alexandria entre 370 e 380 dC, Antes de ser ordenado presbítero, viveu vida monástica e após sua ordenação, seguiu seu tio, Teófilo, que era Bispo de Alexandria e administrou com mão firme e com prestígio a diocese Alexandrina, Com o falecimento de seu tio em 412, Cirilo foi eleito Bispo de Alexandria, governando com grande energia durante trinta e dois anos, visando sempre afirmar o seu primado em todo o Oriente, Lutou valorosamente contra as doutrinas de Nestório, que foi condenado como herege no Concílio de Éfeso (431) por defender que Maria não era mãe de Deus, mas apenas mãe de Jesus, Cirilo foi mais tarde definido “guardião da exatidão” que se deve entender como guardião da verdadeira fé e mesmo “selo dos Padres”, tendo ele escrito verdadeiras obras eruditas que visavam a defesa e explicação da fé ortodoxa. Nos anos seguintes, dedicou-se de todos os modos à defesa e ao esclarecimento da sua posição teológica até à sua morte, ocorrida no dia 27 de Junho de 444.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Pedro 3:1-18

1 Amados, já é esta a segunda carta que vos escrevo; em ambas as quais desperto com admoestações o vosso ânimo sincero; 2 para que vos lembreis das palavras que dantes foram ditas pelos santos profetas, e do mandamento do Senhor e Salvador, dado mediante os vossos apóstolos; 3 sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria andando segundo as suas próprias concupiscências, 4 e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. 5 Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste; 6 pelas quais coisas pereceu o mundo de então, afogado em água; 7 mas os céus e a terra de agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo, sendo reservados para o dia do juízo e da perdição dos homens ímpios. 8 Mas vós, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. 9 O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se. 10 Virá, pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão descobertas. 11 Ora, uma vez que todas estas coisas hão de ser assim dissolvidas, que pessoas não deveis ser em santidade e piedade, 12 aguardando, e desejando ardentemente a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se dissolverão, e os elementos, ardendo, se fundirão? 13 Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça. 14 Pelo que, amados, como estais aguardando estas coisas, procurai diligentemente que por ele sejais achados imaculados e irrepreensível em paz; 15 e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; 16 como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando acerca destas coisas, nas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição. 17 Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que pelo engano dos homens perversos sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; 18 antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade.   

Marcos 13:24-31

24 Mas naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; 25 as estrelas cairão do céu, e os poderes que estão nos céus, serão abalados. 26 Então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória. 27 E logo enviará os seus anjos, e ajuntará os seus eleitos, desde os quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu. 28 Da figueira, pois, aprendei a parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão. 29 Assim também vós, quando virdes sucederem essas coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às portas. 30 Em verdade vos digo que não passará esta geração, até que todas essas coisas aconteçam. 31 Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.2) 

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MEDITAÇÃO

Santo Efrém, o Sírio (séc. IV)

“És, Senhor, a esperança de todos e a vida dos que morrem”

Lutador valente! O dia do juízo será o fim dos teus trabalhos; entraste no combate e saíste vitorioso, consumaste a carreira e guardaste firme a fé; o Filho de Deus recompensará os teus esforços: aquele dia será para ti dia de prêmio. Quando elevar-se o Oriente desde o alto do céu para redimir-nos das trevas do sepulcro, pede-lhe que as orações lhe sejam holocaustos e oblações gratíssimas; confia que ao vir o Senhor também ouvirás sua voz e ressuscitarás.

Filhos, recebei a doutrina de vosso pai, o testamento de sua herança: ambas procedem do Senhor e permanecerão para sempre. Com exceção de sua doutrina, tudo passa, tudo é efêmero: o mundo passa, passam as ilusões e os sofrimentos; somente perdura a vida naqueles que viveram bem e a assumiram como tempo de ganhar méritos. Esses, ao final dos séculos, buscarão o Rei, que virá majestoso. As coisas boas que nos ensinaram, estas não passam; dai-me, caríssimos, este consolo de que todos, todos, caminheis na verdade e na sã doutrina, pois assim, quando o esposo se tornar visível, eu também me alegrarei da felicidade de meus filhos.

Ai! Vejo-me obrigado a deixar todos os bens que juntei, até a veste, e nu e pobre partir deste mundo. Todas as riquezas em que abundava e a própria vida me abandonam: as honras, os tesouros ficam na padieira de meu mausoléu; não podem passar adiante, aonde colocam o seu dono. Meus parentes também partirão, me desprezarão. Somente o olhar-me lhes ofenderá; e minha mulher e meus filhos, ao ver-me despojado de minha primeira honra, no mesmo instante sairão, aterrados pelo vazio da noite que rodeará meu cadáver.
Ricos e poderosos, venham aqui e considerai qual é a transformação que se opera em tudo que é nosso, e qual seu paradeiro final... És, Senhor, a esperança de todos e a vida dos que morrem, ainda que para ti não estejam perdidos os que morrem, mas adormecidos... Pois, segundo isto, meu Deus, que me purifiques com a tua graça das máculas com que me sujou minha depravada natureza, não vão fechar-me a entrada de glória prometida à virtude.

O nascimento de nosso Rei invicto comoveu o orbe inteiro, e, admirado, correu atrás dele. Ressuscitou aos mortos, deu vista aos cegos, limpou os leprosos, venceu a morte e o demônio e assegurou a liberdade de nossa estirpe. Ele mesmo, morto e sepultado, saiu do sepulcro cheio de glória e claridade para voltar ao céu, à destra de seu Pai. Quando chegue a hora, descerá segunda vez ao mundo com grande majestade, rodeado das hostes dos espíritos celestiais. Então cumprirá a promessa feita no Evangelho e realizará a sua ascensão triunfante aos céus e dará para sempre a herança íntegra da bem-aventurança eterna.)

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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

1ª Terça-feira do Triódion

30 de Janeiro de 2018 (CC) 17 de Janeiro (CE)
S. Antão, o Grande, anacoreta († 356)
Modo 1



Santo Antão nasceu no Egito, por volta do ano 250, em uma família rica e nobre e foi educado na fé cristã. Aos 18 anos perdeu seus pais, ficando órfão com uma irmã sob sua proteção. Certo dia dirigia-se à Igreja e, enquanto caminhava, pensava nos Santos Apóstolos, em suas vidas, em como tinham deixado tudo neste mundo para seguir o Senhor e servi-Lo. Ao entrar na igreja ouviu as palavras do Evangelho: 

«Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me» (Mt 19, 21). 
Estas palavras impressionaram Antão de tal forma como se fossem faladas pelo Senhor a ele pessoalmente. Pouco tempo depois, Antão renunciou a sua parte da herança em favor dos pobres de sua cidade, mas não sabia com quem poderia deixar sua irmã. Preocupado com isto, foi novamente à igreja e lá, novamente escuta as palavras do Salvador, como se lhe falasse diretamente: 
«Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal» (Mt 6, 34). 
Antão confiou a guarda de sua irmã a algumas conhecidas virgens cristãs e deixou a cidade para viver em solidão e servir unicamente a Deus.

O afastamento de Santo Antão do mundo não aconteceu de repente, mas de forma gradual. No início ele passou a viver nos arredores da cidade, na casa de um piedoso eremita, já com idade avançada, e procurava imitá-lo em sua vida. Santo Antão também visitava outros eremitas que viviam nos arredores da cidade, e seguia seus conselhos. Já nesta época, ele era tão conhecido por seus esforços espirituais, que o chamavam de «amigo de Deus». Então ele decidiu então se mudar para um lugar mais distante. Convidou o velho ermitão para acompanhá-lo. Como o ermitão tivesse se recusado, se despediu e partiu, e se instalou em uma caverna distante. Ocasionalmente, algum amigo trazia-lhe comida. Finalmente, Santo Antão afastou-se dos lugares habitados; cruzou o Nilo e se estabeleceu nas ruínas de uma fortificação militar. Levou consigo uma reserva de pão para seis meses, passando depois a receber alimentos de seus amigos através de uma abertura no teto. 
É impossível imaginar quantas tentações suportou e quanta luta teve de enfrentar este grande eremita. Ele sofria de fome e sede, frio e calor. Mas, a tentação mais terrível que um ermitão pode enfrentar, nas palavras do próprio Antão, é a nostalgia do mundo e a desordem emocional. A tudo isso se acrescente os horrores e as tentações do demônio. Frequentemente, o Devoto Santo ficava sem forças e prestes a cair em desânimo. Então se apresentava a ele o próprio Senhor ou um anjo enviado por Ele para fortalecê-lo. 
«Onde estavas, Santo Jesus, por que não vieste mais cedo para acabar com meu sofrimento?»  
Implorava Antão ao Senhor, quando, após uma terrível provação lhe apareceu o Senhor.  
«Eu estava aqui mesmo, respondeu o Senhor, e esperava ver teu esforço espiritual». 
Certa vez, durante uma luta terrível com seus pensamentos, Antão gritou: 
«Senhor, eu quero me salvar, mas meus pensamentos não me deixam fazê-lo!» 
De repente, ele viu que alguém, que se parecia com ele, trabalhava sentado em uma cadeira. Então, se levantou e rezou, e depois seguiu trabalhando. 
«Faça o mesmo e te salvarás!» Disse o Anjo do Senhor.
Já fazia 20 anos que Antão vivia em solidão, recluso, quando alguns amigos, descobrindo onde estava, vieram ao seu encontro planejando permanecer com ele. Por um longo tempo ficaram batendo na porta, suplicando a Antão que deixasse sua reclusão voluntária. Finalmente, quando pensavam arrombar a porta, ela se abriu e saiu Antão. Eles ficaram surpresos de não encontrar nele qualquer vestígio de fadiga, embora tivesse se submetido a duras provas. A paz celestial reinava em sua alma e refletia em seu rosto. Tranquilo, moderado e muito amável com todos, este ancião se tornou logo o pai e mestre de muitos. O deserto recebeu vida. Por todos os lados da montanha apareciam os refúgios dos monges. Muita gente cantava, estudava, fazia jejum, rezava, trabalhava e ajudava aos pobres. Santo Antão não impôs aos seus alunos as regras especiais para a vida monástica. Ele estava preocupado apenas em fortalecer neles um devoto estado de ânimo, e lhes inspirava a fidelidade à vontade de Deus, à oração, à renúncia a todas as coisas terrenas e o trabalho incessante. Mas a vida no deserto entre as pessoas, pesava demais para Santo Antão, e ele começou a procurar um novo isolamento. 
 «Para onde queres fugir?» Ouviu de uma voz do céu, quando, na costa do rio Nilo, ele estava esperando o barco para se afastar para longe do povo.
«Alta Tebaida», disse Antão. Mas a mesma voz respondeu:
«Então, estás planejando ir para o alto da Tebaida ou para baixo, na Bucolia; pois não encontrarás tranquilidade em nenhum desses lugares. Vá para o interior do deserto – assim se chamava o deserto localizado perto do Mar Vermelho. Então Antão se dirigiu para lá, seguindo uma caravana.
Depois de caminhar por três dias, encontrou uma alta montanha desabitada, com uma fonte e algumas palmeiras no vale. Ali se instalou, começando a cultivar uma pequena área, de modo que ninguém precisasse mais lhe trazer pão. Ocasionalmente, visitava os eremitas. Um camelo lhe levava pão e água para manter suas forças durante essas difíceis viagens pelo deserto. No entanto, os admiradores de Santo Antão, também descobriram este seu último refúgio. Começou então a chegar muita gente que procurava por suas orações e conselhos. Traziam-lhe seus enfermos, e ele os curava com suas orações.
Já havia se passado quase 70 anos desde que Santo Antão começou a viver no deserto, quando, involuntariamente, um pensamento arrogante começou a confundi-lo. Pensava que era o mais antigo eremita que vivia no deserto. Ele pediu a Deus para que afastasse esse pensamento e teve uma revelação de que havia um ermitão que havia se instalado no deserto antes dele e que ainda estava servindo a Deus. Na manhã seguinte, levantou-se Antão muito cedo e foi em busca deste eremita desconhecido. Caminhou durante todo o dia, sem encontrar qualquer pessoa, com exceção de alguns animais que viviam no deserto. Diante dele se estendia a grandeza infinita do deserto, mas ele não perdia a esperança. Na manhã seguinte, bem cedo, prosseguiu seu caminho. De repente, viu um lobo correndo em direção a um córrego. Santo Antão se aproximou do riacho e viu uma caverna ao lado dele. Enquanto se aproximava, a porta da caverna se fechou. Durante meio dia Santo Antão passou diante daquela porta suplicando ao ancião que mostrasse seu rosto. Finalmente, a porta se abriu, saindo por ela um velho grisalho. Este homem era São Paulo de Tebas. Ele vivia no deserto há cerca de 90 anos. Depois de uma saudação fraterna, Paulo lhe perguntou como estava a humanidade. Quem estava governando? Se ainda existiam idólatras? O fim da perseguição e o triunfo do cristianismo no Império Romano foi uma notícia muito agradável para Paulo. Ao contrário, o surgimento do arianismo lhe foi uma notícia muito amarga. Enquanto conversavam, apareceu um corvo que lhe deixou um pão. 
«Quão generoso e misericordioso é o Senhor!» exclamou Paulo: «Por muitos anos ele me envia metade de um pão e agora, graças a sua visita, ele me enviou um pão inteiro». 
Na manhã seguinte, Paulo confessou a Antão que muito em breve ele deveria deixar este mundo. Por isso pediu a Antão para que lhe trouxesse a túnica do Bispo Atanásio (famoso por sua luta contra o arianismo), para que seu corpo fosse coberto com ela. Antão foi muito depressa para satisfazer o desejo deste santo ancião. Voltou ao seu deserto muito animado e, quando os irmãos monges lhe perguntavam sobre a razão da túnica, respondia: 
«Eu me considerava um monge e sou um pecador.» E: «Eu vi Elias, vi João e vi a Paulo no Paraíso!»  
E quando estava chegando ao lugar onde São Paulo de Tebas vivia, viu como ele ia subindo ao céu, entre muitos anjos, profetas e apóstolos. 
«Paulo, por que não me esperaste?» Gritou Antão. «Tão tarde eu te conheci e tão cedo te vás embora?» 
No entanto, ao entrar na caverna, encontrou Paulo ajoelhado, rezando. Antão também se ajoelhou e começou a rezar. Só depois de várias horas de oração se deu conta de que Paulo já não se movia, pois estava morto. Então, Antônio lavou piedosamente o corpo do santo e envolveu seu corpo na túnica de Santo Atanásio. De repente, apareceram dois leões que cavaram com suas garras uma tumba suficientemente profunda, onde Antônio enterrou o corpo do santo eremita.

Santo Antão morreu com idade já bastante avançada (106 anos) no ano 356, e por seus esforços espirituais mereceu ser chamado de “o Grande”. Foi o fundador da vida eremítica, que consiste em que vários eremitas vivam em celas separadas, longe um do outro e sob a direção de um Aba (que em hebraico significa pai). A vida dos eremitas se resumia em oração, jejum e trabalho. Vários eremitas reunidos sob um Abba constituíam uma Lavra. Mas, enquanto Santo Antão ainda vivia neste mundo, surgiu outro estilo de vida monástica. Eles se uniam em comunidades, trabalhando juntos, cada um segundo suas capacidades. Também compartilhavam a refeição e eram subordinados às mesmas regras. Estas comunidades foram chamadas de “comunidades monásticas” ou “mosteiros”. Os Abbas dessas comunidades passaram a se denominar arquimandritas. O fundador da vida comunitária dos monges foi São Pacômio, o Grande.

Comemoração de Santo Antão 

Tropário (4º tom)
Imitador do zelo de Elias, pelo teu gênero de vida
e seguindo os retos caminhos do precursor,
tu povoaste o deserto e consolidaste o mundo.
Em tuas orações, ó Santo Antônio, nosso Pai,
roga a Cristo nosso Deus pela salvação de nossas almas!

Leituras: Hebreus 13:17-21; Lucas 6:17-23
 


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Pedro 2:9-22

9 também sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados; 10 especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades, 11 enquanto que os anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor. 12 Mas estes, como criaturas irracionais, por natureza feitas para serem presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, 13 recebendo a paga da sua injustiça; pois que tais homens têm prazer em deleites à luz do dia; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em suas dissimulações, quando se banqueteiam convosco; 14 tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecar; engodando as almas inconstantes, tendo um coração exercitado na ganância, filhos de maldição; 15 os quais, deixando o caminho direito, desviaram-se, tendo seguido o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça, 16 mas que foi repreendido pela sua própria transgressão: um mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta. 17 Estes são fontes sem água, névoas levadas por uma tempestade, para os quais está reservado o negrume das trevas. 18 Porque, falando palavras arrogantes de vaidade, nas concupiscências da carne engodam com dissoluções aqueles que mal estão escapando aos que vivem no erro; 19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo. 20 Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro. 21 Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. 22 Deste modo sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro; Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal.

Marcos 13:14-23

14 Ora, quando vós virdes a abominação da desolação estar onde não deve estar (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judéia fujam para os montes; 15 quem estiver no eirado não desça, nem entre para tirar alguma coisa da sua casa; 16 e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa. 17 Mas ai das que estiverem grávidas, e das que amamentarem naqueles dias! 18 Orai, pois, para que isto não suceda no inverno; 19 porque naqueles dias haverá uma tribulação tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá. 20 Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias. 21 Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! não acrediteis. 22 Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os escolhidos. 23 Ficai vós, pois, de sobreaviso; eis que de antemão vos tenho dito tudo.

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COMENTÁRIO

A sociedade em que vivemos tem como uma de suas principais características a relativização dos conceitos e das percepções. Isto atingiu a mente de muitos cristãos, os quais passaram a ver o dogma como também algo relativo, e às percepções heterogêneas - não mais como antagonismos ou heresias - mas, sim, como diversidade; portanto, legítimas, cada qual conforme as suas perspectivas.

Este tipo de mentalidade, torna inócuos e sem sentido os textos bíblicos que falam de falsos profetas que ensinam falsas doutrinas, uma vez que cada um, conforme sua realidade e modo de pensar está certo, "já que ninguém é mesmo dono da verdade".

O ensino dos severos juízos de Deus também cai por terra, uma vez que Deus é amor, e não vai condenar ninguém, pois "Ele é muito compreensivo e tolerante" e afinal de contas, cada um é mau porque é vítima de alguma coisa: da sociedade, da família em que nasceu, do ambiente social em que crescera, dos males sofridos na existência e etc. Todo tipo de justificativa. Todos que assim pensam, são néscios, virgens imprudentes que dormiram e deixaram de por azeite no seu candelabro.

O espaço aqui é curto para uma maior abordagem de que como Satanás induz a sociedade ao erro, mas, como resumo de tudo, o ensino apostólico nos diz que isto se dá porque os homens se tornariam amantes de si mesmos e mais amigos dos prazeres do que de Deus (2 Tm 3:2,4), e por isto, não suportariam a sã doutrina; e para anular a incômoda voz da consciência, se cercariam de mestres que lhe dariam suporte intelectual para legitimares suas concupiscências (2 Tm 4:3). É destes mestres que Pedro fala em sua epístola e dos quais Cristo tanto nos adverte.

As ovelhas de Cristo ouvem a Sua voz e O seguem, mas, de modo algum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz do estranho (João 10).


Pe. Mateus (Antonio Eça)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

1ª Segunda-feira do Triódion

29 de Janeiro de 2018 (CC) 16 de Janeiro (CE)
Veneração das Cadeias de S. Pedro Apóstolo
Modo 1


Neste dia, comemoramos e honramos as correntes do apóstolo São Pedro que as aceitou para a glória do Senhor. O apóstolo Lucas, nos Atos dos Apóstolos, nos relata: 
«Naquele tempo, o rei Herodes, prendeu alguns da igreja a fim de maltratá-los. Tiago, irmão de João, foi morto à espada. Ao ver que isto agradava aos judeus, decidiu também prender Pedro. Isto se sucedeu durante as Festas do Pão Ázimo. Depois de ser capturado, Pedro foi colocado na prisão sob a vigia de quatro grupos de quatro soldados cada um. Herodes tencionava levá-lo a juízo após a Páscoa até quando ficaria preso. A igreja orava constante e fervorosamente a Deus por ele. Nas vésperas do julgamento, à noite, Pedro dormia acorrentado sob a vigia dos soldados. Também alguns guardas vigiavam a entrada da prisão. De repente apareceu um anjo do Senhor e uma luz resplandeceu na cela.  Pedro acordou ouvindo a voz do anjo que lhe dizia: ‘Ide depressa, levanta-te’. Neste momento as correntes se partiram nas mãos de Pedro». 
Estas correntes que se partiram sob a intervenção do Arcanjo estão abençoadas e realizou muitos milagres. Aqueles que a veneram com fé são curados de todos os tipos de doenças. E para que fossem protegidas, eram repassadas entre os cristãos até que, muitos anos depois, os reis cristãos a guardaram na Igreja de São Pedro em Constantinopla. 
Textos Comemorativos:  
Atos 12:1-11; João 21:15-25


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Pedro 1:20-2:9

20 sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. 21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo. 1 Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. 2 E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade; 3 também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio; a condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita. 4 Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo; 5 se não poupou ao mundo antigo, embora preservasse a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios; 6 se, reduzindo a cinza as cidades de Sodoma e Gomorra, condenou-as à destruição, havendo-as posto para exemplo aos que vivessem impiamente; 7 e se livrou ao justo Ló, atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos 8 (porque este justo, habitando entre eles, por ver e ouvir, afligia todos os dias a sua alma justa com as injustas obras deles); 9 também sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados...

Marcos 13:9-13

9 Mas olhai por vós mesmos; pois por minha causa vos hão de entregar aos sinédrios e às sinagogas, e sereis açoitados; também sereis levados perante governadores e reis, para lhes servir de testemunho. 10 Mas importa que primeiro o evangelho seja pregado entre todas as nações. 11 Quando, pois, vos conduzirem para vos entregar, não vos preocupeis com o que haveis de dizer; mas, o que vos for dado naquela hora, isso falai; porque não sois vós que falais, mas sim o Espírito Santo. 12 Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão. 13 E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.

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COMENTÁRIO

“Olhai por vós mesmos”..., é a exortação do Senhor Jesus Cristo, pois o coração humano é cheio de fantasias e ilusões, facilmente enganado por falsas perspectivas. O Cristianismo não é o caminho para garantir o sucesso, o conforto e a segurança em meio às estruturas que estribam a sociedade humana: a cobiça dos olhos, a cobiça da carne e a busca pelas glórias deste mundo. Falsos profetas têm se levantado para tentar transformar a fé cristã na “via divina” para se atingir os objetivos deste mundo. O caminho de Jesus Cristo nos põe na contramão da vida e inexoravelmente nos reserva uma cruz, aos conflitos com os poderosos deste mundo, à inadequação ao modo de vida da sociedade, a sofrer hostilização das pessoas sem Deus, a ser mau compreendidos e julgados injustamente, a perder o afeto das pessoas que nos são próximas, a ver amigos e pessoas a quem amamos nos ignorar. Sim, dias difíceis e relações conflituosas são perspectivas muito prováveis no caminho daquele que se dispõe a seguir Jesus Cristo.

Certa vez um amigo meu que é Pastor Protestante me fez o seguinte comentário:

“Eu não acredito que a Igreja Ortodoxa consiga se firmam em nossa cultura, pois ela tem uma mensagem muito impopular e um jeito estranho de ser”.

E eu lhe respondi com uma pergunta, para a qual só obtive como resposta, um olhar surpreso e um não quase que inaudível após um breve silêncio ponderativo. Eu lhe perguntara:

“Acaso você conhece algum período da história da Igreja em que ela se estabeleceu sem tensões, conflitos e inaceitabilidade?”

Vigiar significa, antes de tudo, prestar atenção nas santas palavras proféticas, pois ela desfaz as ilusões que Satanás faz surgir em nossos corações. A vigilância dispensa a preocupação e a consumação do nosso tempo com a construção de discursos bem elaborados com a finalidade de fazer a Fé parecer razoável a mente do mundo, pois a atalaia vigilante conhece muito bem as ordens e as palavras que lhes foram confiadas; a sua boca nada mais é do que os lábios pelos quais fala o Todo-Poderoso Senhor dos céus e da terra: o Pai, Filho e Espírito Santo.

Padre Mateus (Antonio Eça)
  
† † †

Domingo do Fariseu e do Publicano

28 de Janeiro de 2018 (CC) 15 de Janeiro (CE)
S. Timóteo, Apóstolo [dos 70] (fim séc. I)
Modo 1



São Paulo nasceu no Egito, na baixa Tebaida, e perdeu seus pais quando tinha 14 anos. Distinguia-se por conhecer a língua grega e a cultura egípcia. Era bondoso, modesto e temente a Deus. A cruel perseguição do imperador Décio perturbou a Igreja no ano de 250. O demônio tratava de matar, com seus sutis artifícios, tanto os corpos quanto as almas. Durante estes dias, Paulo permaneceu escondido na casa de um amigo. Mas, ao saber que fora denunciado por um cunhado que cuidava de suas propriedades, fugiu para o deserto. Lá encontrou algumas cavernas que, segundo a tradição, serviram para cunhar moedas na época de Cleópatra, rainha do Egito. Escolheu para sua morada uma destas cavernas, próximo de uma fonte e de uma palmeira. Vestia-se com as folhas das palmeiras, seus frutos o alimentava e a água da fonte o saciava. 
Paulo tinha 22 anos quando chegou ao deserto. Seu primeiro propósito era gozar a liberdade para servir a Deus, durante as perseguições. Tendo gostado da doçura da contemplação, na solidão, resolveu não mais voltar a cidade e se esquecer totalmente do mundo. Paulo se alimentava do fruto da palmeira até seus 43 anos. Depois disso, até sua morte, assim como Elias, ele também era alimentado por um corvo que trazia pão no bico. Não se sabe de que forma viveu e com que se ocupava até morrer aos 90 anos quando Deus se deu a conhecer a seu servo.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (XI)

Mateus 28:16-20


E os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

LITURGIA


Tropárion da Ressurreição
Embora a pedra fosse selada pelos judeus / e o Teu puríssimo Corpo fosse guardado pelos soldados, / ressurgiste ao terceiro dia, ó Salvador, dando a vida ao mundo! / Por isso, as Potências celestes exclamaram-Te, ó Autor da vida:/ "Glória a Tua Ressurreição, ó Cristo, / glória a Tua Realeza, // glória a Tua Providência, ó Tu que amas a humanidade!

Kondákion da Ressurreição
Tu, sendo Deus, Te levantaste do túmulo, e devolveste a vida ao mundo; / a natureza humana, por isso Te louva: / a morte foi vencida, Adão se regozija, ó Mestre, / e Eva, liberta agora das cadeias da morte, / com alegria exclama: // Tu, Cristo, És o que a todos dá a Ressurreição!

Theotókion
Quando Gabriel te saudou, ó Virgem, dizendo: "alegra-te!" / e com sua voz, o Salvador encarnou-se em ti, tabernáculo santo; / e, como falava o Justo Davi: / "veio do céu trazendo o Criador de tudo". / Glória Àquele que habita em ti, // glória Àquele nascido de ti e que nos libertou!

Prokímenon

Venha sobre nós, Senhor a Tua misericórdia
Conforme nossa esperança em Ti.

Por isso eu a Ti clamo como o Filho Pródigo:
Pequei contra Ti, ó Pai Misericordioso!
Recebe-me arrependido e faze-me um de Teus servos.

2 Timóteo 3:10-15

10 Tu, porém, tens observado a minha doutrina, procedimento, intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança, 11 as minhas perseguições e aflições, quais as que sofri em Antioquia, em Icônio, em Listra; quantas perseguições suportei! e de todas o Senhor me livrou. 12 E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições. 13 Mas os homens maus e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. 14 Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, 15 e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus.   

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!
Deus assegura a minha vitória
E me submete os meus adversários.


Aleluia, aleluia, aleluia!
Salva maravilhosamente Teu servo 

e usa de misericórdia com Teu Ungido.


Aleluia, aleluia, aleluia!

Lucas 18:10-14

10 Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. 11 O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: Ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. 12 Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador! 14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado.   

 † † †


Os Portões Do Arrependimento


“Abra para mim, ó Doador da Vida, as portas do arrependimento...” canta a Igreja nas Matinas para o primeiro dos quatro domingos que nos preparam para a Quaresma. Na verdade, este domingo poderia ser pensado como uma porta, através da qual entramos no período sagrado que nos leva para a Páscoa; uma porta que se abre para a atmosfera de arrependimento, para o caminho que prepara a vida nova, que a Quaresma deve trazer para cada um de nós. Mas devemos lembrar que a palavra “penitência” ou “arrependimento” é uma tradução do termo grego "metanóia", e que significa "mudança de espírito". Metanóia significa muito mais estar envolvido [internamente] do que o cumprimento de algum tipo de arrependimento exterior. Uma mudança radical, renovação, conversão, é isto o que nos é pedido.

Este domingo, no calendário litúrgico, é chamado de "Domingo do Fariseu e Publicano".A Igreja, a fim de nos exortar ao verdadeiro arrependimento, coloca diante de nós a cena de dois homens que vão ao templo para orar, e dos quais um é justificado por conta de sua humildade e sua sincera contrição. 

Podemos nos atrever a dizer que a parábola do fariseu e publicano (Lc 18: 10-14), que é lida na liturgia, é a mais perigosa de todas as parábolas. Porque estamos tão acostumados a condenar o farisaísmo que aqui parece que estamos a dizer: "Pelo menos, apesar de todo o meu pecado, não sou fariseu. Não sou um hipócrita”. Esquecemo-nos que a oração do fariseu não é totalmente má. O fariseu afirma que jejua, que dá o dízimo, que está livre dos pecados mais grosseiros. E isso tudo é verdade. Além disso, o fariseu não toma o crédito por suas boas ações, ele reconhece que elas vêm de Deus, e dá graças a Deus. No entanto, a oração do fariseu erra de duas maneiras: falta-lhe o arrependimento e humildade, pois não parece que ele tenha consciência... das deficiências - talvez desculpáveis - das quais ele, como todos os homens, é culpado. E, além disso, ele se compara ao publicano com um certo orgulho, um certo desdém. Será que temos o direito de condenar o fariseu, e nos considerarmos mais justos do que ele? Mas, antes de tudo, se nós quebramos os mandamentos que o fariseu observa, será que temos o direito de nos colocar no mesmo nível do publicano justificado, em contraste com o fariseu? Nós não podemos fazer isso, a menos que nossa atitude seja exatamente a mesma que a do publicano. Será que nos atrevemos a dizer que temos a humildade e o arrependimento do publicano? Se nós ostensivamente condenamos o fariseu, sem verdadeiramente assumirmos a humildade do publicano, então nós mesmos é que estaremos caindo no próprio farisaísmo.

Vamos agora olhar mais de perto o publicano. Ele não se atreve a levantar os olhos; ele fere seu peito; implora a Deus que tenha misericórdia dele, pois ele percebe que ele é um pecador. Toda a sua atitude corporal é de humildade. É por isso que o Salvador disse: 

Este homem desceu justificado para sua casa, em vez do outro”.

Notamos que Jesus diz: “em vez do outro”', deixando, de alguma forma, o caso do fariseu aberto ao nosso pensamento. E Jesus acrescenta: 

"Todo aquele que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado".

Vamos tentar explorar este episódio mais profundamente. É o publicano justificado simplesmente porque ele humildemente confessa seu pecado diante de Deus? Não é só isso, nesse caso, há algo a mais. O núcleo da oração do publicano é um apelo, cheio de confiança, na bondade e na ternura de Deus. "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" Estas primeiras palavras ecoam as do Salmo 51, que é essencialmente a abertura do salmo de penitência: 

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.” (Sl 51:1)

 O fato de que Jesus escolhe para colocar estas palavras na boca do publicano e, assim, torná-las modelo de nossas orações de arrependimento, lança uma grande luz sobre a alma do Salvador, e sobre o que Ele pretende. O que Jesus pede de um pecador penitente (e, portanto, de cada um de nós), é acima de tudo este abandono, esta confiança absoluta na terna misericórdia e na graça de Deus.

Nas matinas, a Igreja resume a parábola evangélica e formula assim o pensamento central para este domingo: 

"Senhor, que reprovaste o fariseu por justificar-se a si mesmo e por tomar-se de orgulho por suas ações, Tu que justificastes o publicano, quando ele se aproximou humildemente de Ti, buscando, com gemidos, o perdão por seus pecados. Pois Tu não te aproximarás dos pensamentos arrogantes, nem manterás longe de Ti um coração contrito. Por isso, nós também ajoelhamos humildemente diante de Ti, Tu que sofreste por nós, conceda-nos o Teu perdão e a Tua grande misericórdia".

A epístola para este domingo é tomada da segunda carta de São Paulo a seu discípulo Timóteo (II Tm 3: 10-15). O apóstolo, resumidamente, lembra a Timóteo de tudo o que ele, Paulo, teve que sofrer: perseguições e aflições de todos os tipos. Ele exorta Timóteo, que desde a infância foi criado acreditando em Cristo e nas Escrituras, a não desanimar, e a perseverar com caridade e paciência. Na véspera da Quaresma, esta epístola nos adverte que provas e dificuldades não vão faltar durante os santos preparativos para a Páscoa. Paulo tanto diz para nós quanto para Timóteo: 

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido” (II Tm 3:14).


Fonte: Boletim da Igreja Ortodoxa Polonesa 

sábado, 27 de janeiro de 2018

34º Sábado Depois de Pentecostes

CONCLUSÃO DA FESTA DA TEOFANIA
27 de Janeiro de 2018 (CC) 14 de Janeiro (CE)
S. Nina da Geórgia, Igual aos Apóstolos, virgem e monja († 335)
Modo 8


Santa Nina, igual-aos-apóstolos, evangelizadora dos georgianos, era sobrinha do Patriarca de Jerusalém. Desde sua juventude amou a Deus e lamentava muito pelas pessoas que não acreditavam n’Ele. Depois que seu pai, Zavulon da Capadócia, fez-se ermitão e sua mãe foi ordenada diaconisa, Nina foi entregue, ainda criança, a uma piedosa anciã que frequentemente falava sobre a Ibéria (atualmente Geórgia) . Naquela época, a Ibéria era um país pagão, e os contos que ouvia da anciã despertou um forte desejo de visitá-lo para levar a luz da fé cristã àquele povo.Tal desejo tornou-se mais forte quando, em um sonho, viu a Mãe de Deus que lhe  entregava uma cruz feita de uma cepa. Seu desejo cumpriu-se quando teve que fugir para a Ibéria para salvar-se das perseguições contra os cristãos decretadas por Diocleciano (284-305).  
Na Ibéria, Santa Nina instalou-se na casa de uma mulher situada nas vinhas reias. Muito rapidamente ficou conhecida por ajudar os necessitados, e muita gente foi sabendo da força de suas orações. Muitos doentes começaram a ir ao seu encontro para vê-la. Invocando o nome de Cristo, ela curava os enfermos. Falava sobre Deus que criou o Céu e a terra e sobre o Cristo, nosso Senhor e Salvador. Os sermões sobre Cristo, os milagres que operava e a vida virtuosa de Santa Nina tiveram efeito favorável sobre o povo da Ibéria: muitos começaram a crer no Deus verdadeiro e foram batizados. O próprio rei Mariano que era pagão foi convertido ao cristianismo por Santa Nina. Depois disso, um bispo e alguns sacerdotes de Constantinopla foram convidados a ir a Ibéria, e lá foi construída a primeira Igreja dedicada aos Santos Apóstolos. Pouco a pouco, toda a Ibéria tornou-se cristã. 
Santa Nina não gostava de fama ou honras, buscando refúgio, por isso, nas montanhas próximas. Ali, na solidão, dava graças ao Senhor pela conversão ao cristianismo daquele país que antes era pagão. Vários anos depois, deixou sua vida solitária e viajou à Kajetia onde converteu a Rainha Sofia. Depois de 35 anos de trabalhos, Santa Nina faleceu em paz no dia 14 de janeiro de 335. Por ordem do Rei Mariano, no lugar onde Santa Nina morreu foi construída uma Igreja dedicada a São Jorge, parente distante de Santa Nina.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Timóteo 2:11-19

11 Fiel é esta palavra: Se, pois, já morremos com ele, também com ele viveremos; 12 se perseveramos, com ele também reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; 13 se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo. 14 Lembra-lhes estas coisas, conjurando-os diante de Deus que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam, senão para subverter os ouvintes. 15 Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. 16 Mas evita as conversas vãs e profanas; porque os que delas usam passarão a impiedade ainda maior, 17 e as suas palavras alastrarão como gangrena; entre os quais estão Himeneu e Fileto, 18 que se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição é já passada, e assim pervertem a fé a alguns. 19 Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor.

Lucas 18:2-8

2 dizendo: Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens. 3 Havia também naquela mesma cidade uma viúva que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. 4 E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, 5 todavia, como esta viúva me incomoda, hei de fazer-lhe justiça, para que ela não continue a vir molestar-me. 6 Prosseguiu o Senhor: Ouvi o que diz esse juiz injusto. 7 E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles? 8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?

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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

34ª Sexta-feira Depois de Pentecostes

PÓS-FESTA DA TEOFANIA
26 de Janeiro de 2018 (CC) 13 de Janeiro (CE)
Ss. Hermilo e Estratônico, mártires († c. 310)
Modo 8



As narrativas mais conhecidas sobre estes santos falam sobre seus martírios em Singidunum, próximo a Belgrado, na época do imperador Licinio. Santo Hermilo era diácono. Foi detido sob a acusação de ser cristão e enviado para a prisão com os maxilares destroçados. Na prisão um anjo o visitou e o consolou. Depois foi conduzido ao imperador e lá foi cruelmente açoitado seis homens. Parecia que não sentia dor nenhuma. Durante o tormento dirigiu a Deus uma oração que lhe foi respondida por uma voz que veio do Céu  prometendo-lhe triunfo depois de três dias. Assim que entrou na prisão entoava salmos, e as vozes celestiais o acompanhavam.  
No dia seguinte, infligiram novos suplícios, durante os quais não cessava de cantar sua felicidade. Diante de tudo isso, o carcereiro da prisão, chamado Estratônico, converteu-se. Denunciado ao imperador, Estratônico também foi condenado aos açoites. Na prisão, Estratônico ouviu a voz milagrosa que prometia o triunfo para o dia seguinte. Por fim, Hermilo compareceu diante do Juiz e sofreu novos suplícios. Estratônico e Hermilo foram então presos em uma rede e jogados no rio Danúbio. Três dias depois, seus corpos foram encontrados às margens do rio. Os fiéis recolheram os corpos e depositaram em um lugar próximo a Singidunum. Em Constantinopla existe uma igreja fundada por São Marciano e que é dedicada a Santo Estratônico. 

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Pedro 1:1-10

1 Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo: 2 Graça e paz vos sejam multiplicadas no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor. 3 Visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo autêntico conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude; 4 pelas quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo. 5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude; e à virtude o conhecimento; 6 e ao conhecimento, o domínio próprio; e ao domínio próprio a perseverança; e à perseverança a piedade; 7 e à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. 8 Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. 9 Pois, aquele em quem não há estas coisas é cego, míope, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. 10 Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, jamais tropeçareis.

Marcos 13:1-8

1 Quando saía do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras e que edifícios! 2 Ao que Jesus lhe disse: Vês estes grandes edifícios? Não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. 3 Depois estando ele sentado no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, Tiago, João e André perguntaram-lhe em particular: 4 Dize-nos, quando sucederão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir? 5 Então Jesus começou a dizer-lhes: Acautelai-vos; ninguém vos engane; 6 muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e a muitos enganarão. 7 Quando, porém, ouvirdes falar em guerras e rumores de guerras, não vos perturbeis; forçoso é que assim aconteça: mas ainda não é o fim. 8 Pois se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes. Isso será o princípio das dores.

† † †

A DEIFICAÇÃO

“Deificação” é uma antiga palavra teológica, usada para descrever o processo pelo qual um cristão vai se tornando cada vez mais semelhante a Deus. São Pedro fala desse processo quando escreve:

"Visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade... para que por elas vos torneis participantes da natureza divina..." (2 Pd. 1: 3, 4).

O que significa participar da natureza divina, e como experimentamos isso? Antes de darmos uma resposta, vamos primeiro abordar o que deificação não é, e depois descrever o que é.

O Que A Deificação Não É. 

Quando somos chamados a buscar a piedade, a nos assemelhar mais a Deus, isso não significa que os seres humanos se tornem iguais a Deus. Não nos tornamos como Deus em Sua Essência. Isto não seria apenas heresia, como, também, impossível; pois, desde nossas origens somos humanos e sempre o seremos. Não podemos assumir a natureza (essência) de Deus.

São João de Damasco faz uma observação notável. A palavra "Deus" nas Escrituras não se refere à natureza divina enquanto essência, pois Sua Essência é incognoscível. "Deus" refere-se às Energias divinas - o poder e a graça de Deus que podemos perceber neste mundo. O termo grego para “Deus” (theos), vem de um verbo que significa "correr", "ver" ou "queimar". Estas palavras sugerem, por assim dizer, uma energia (ação, força dinâmica), e não “essência”.

Em João 10:34, Jesus, citando o Salmo 81:6: "Vós sois deuses". Ele estava falando com um grupo de líderes religiosos hipócritas que O acusavam de blasfêmia, dando um claro sentido duplo à tal afirmação. Ora, Jesus não está usando "deus" para se referir à “Essência” de Deus. Somos deuses na medida em que nós carregamos a Sua imagem, não a Sua Essência.

O Que É Deificação? 

Deificação significa que devemos nos tornar mais semelhantes a Deus através da Sua graça ou energias divinas. Na criação, os seres humanos foram feitos à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26), de acordo com a natureza humana. Em outras palavras, a humanidade por é, por natureza, um ícone ou deidade. A imagem divina está em toda a humanidade. Por meio do pecado, porém, esta imagem de Deus foi borrada, e nós caímos.

Quando o Filho de Deus assumiu nossa humanidade no seio da bem-aventurada Virgem Maria, o processo de nosso ser, renovado à imagem e semelhança de Deus, foi reiniciado. Assim, aqueles que estão unidos a Cristo no Santo Batismo, através da fé, iniciam um processo de recriação, sendo renovados à imagem e semelhança de Deus. Nós nos tornamos, como escreve São Pedro, "participantes da natureza[1] divina" (1:4).

Por causa da Encarnação do Filho de Deus, e porque a plenitude de Deus habitou a carne humana, sendo unida a Cristo, significa que é novamente possível experimentar a deificação, a realização do nosso destino humano. Ou seja, através da união com Cristo, nos tornamos pela graça, o que Deus É por natureza (energia) - "nos tornamos filhos de Deus" (João 1:12). Sua divindade interpenetra nossa humanidade.

Historicamente, a deificação tem sido muitas vezes ilustrada pelo exemplo de uma espada no fogo. Uma espada em aço, que é submetida a um fogo quente até que a espada assuma um brilho vermelho. A energia do fogo interpenetra a espada. A espada nunca se torna fogo, mas pega as propriedades do fogo. Da mesma forma, as energias divinas interpenetram a natureza humana de Cristo. Quando estamos unidos a Cristo, nossa humanidade está interpenetrada com as energias de Deus através da Carne glorificada. Alimentados pelo Corpo e pelo Sangue de Cristo, participamos da graça de Deus: Sua força, Sua justiça, Seu amor, e nos tornamos capacitados a servi-Lo.

Artigo extraído da “Orthodox Study Bible,
Adaptado pelo Pe. Mateus (Antonio Eça)


[1] Natureza (energia)