30 de Setembro de 2013 (CC) / 17 de
Setembro (CE)
Ss. Sofia e suas três filhas Fé, Esperança e Caridade, mártires († c. 130).
Gálatas 2:11-16
Depois,
passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também
comigo Tito. E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego
entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de
maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão. Mas nem ainda Tito,
que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se; E isto por
causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a
nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; Aos
quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do
evangelho permanecesse entre vós. E, quanto àqueles que pareciam ser alguma
coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a
aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me
comunicaram; Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão
me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (Porque aquele que operou
eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em
mim com eficácia para com os gentios), E conhecendo Tiago, Cefas e João, que
eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as
destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e
eles à circuncisão; Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o
que também procurei fazer com diligência.
E,
chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os
gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles,
temendo os que eram da circuncisão.
E os
outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou
levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente
conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo
judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a
viverem como judeus? Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os
gentios. Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé
em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados
pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei
nenhuma carne será justificada.
Marcos
5:24-34
24
Jesus foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. 25 Ora,
certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, 26 e que tinha
sofrido bastante às mãos de muitos médicos, e despendido tudo quanto possuía
sem nada aproveitar, antes indo a pior, 27 tendo ouvido falar a respeito de
Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto; 28 porque dizia:
Se tão-somente tocar-lhe as vestes, ficaria curada. 29 E imediatamente cessou a
sua hemorragia; e sentiu no corpo estar já curada do seu mal. 30 E logo Jesus,
percebendo em si mesmo que saíra dele poder, virou-se no meio da multidão e
perguntou: Quem me tocou as vestes? 31 Responderam-lhe os seus discípulos: Vês
que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou? 32 Mas ele olhava em
redor para ver a que isto fizera. 33 Então a mulher, atemorizada e trêmula,
cônscia do que nela se havia operado, veio e prostrou-se diante dele, e
declarou-lhe toda a verdade. 34 Disse-lhe ele: Filha, a tua fé te salvou;
vai-te em paz, e fica livre desse teu mal.
COMENTÁRIO
A Lei
estigmatizava a mulher na qual houvesse fluxo de sangue desordenado,
classificando-a como “imunda” (Lv. 15:25) e condenava também à
imundície todo objeto que fosse tocado por ela: a cama onde dormia, a cadeira
onde se sentava, etc; mas, não somente os objetos, também qualquer pessoa que
os tocasse se tornaria imunda (Lv. 15:26) Assim, uma mulher que padecia de um
mal hemorrágico sofria quase que o mesmo ostracismo dos leprosos: a diferença
entre um e outro é que a hemorrágica podia disfarçar temporariamente o seu mal.
A
mulher se aproveitou da multidão para se acobertar e tocar em Cristo sem que
Este pudesse notar. Mas Jesus a surpreende: “Quem me tocou?”, pergunta
o Mestre, distinguindo o seu toque do aperto que sofria da multidão. Ele
distinguiu o toque porque sentira do Seu corpo sair poder. Quando aquilo que
era “imundo” tocara O que É Santo, o Santo não se tornara
imundo – como prescrevia a Lei – antes, o Santo purificou o que é imundo. No
entanto, muitos corpos pecadores tocavam e até comprimiam o Corpo Santo, mas
nenhum desses atraiu para si a Virtude do Santo. Só o desta mulher – que pela
Lei era mais indigna do que os demais – alcançou tal graça. O que tinha este
toque de distinto dos demais?
Se o
corpo do Santo comunicara virtude à mulher imunda, é porque o toque da imunda
comunicava ao Santo a fé que habitava no corpo imundo. E a fé é o único
instrumento que atrai a Graça (Ef. 2:9). Esta fé que se apresenta quando todos
os pilares da existência desmoronam. A mulher gastara todo seu dinheiro com o
seu tratamento, sem obter resultado, sua dignidade e honra estavam dilaceradas
pelo estigma social que a doença provocara. O tempo da enfermidade (12 anos)
lhe torturara o suficiente para destruir todas as certezas ilusórias da sua
vida. Algo no seu íntimo a fazia intuir que Aquele homem da Galileia era
Depositário da graça que ela necessitava.
Mas Ele
era um Rabi, um Homem Santo, que certamente a condenaria, visto que esta era a
sentença da Lei. Por isto a estratégia de se dissimular por entre a multidão.
Sua
estratégia dera certo. Ela estava curada. Uma alegria lhe toma o ser. Mas,
parece que sua alegria teria duração curta. O Rabi interrompe sua caminhada e
pergunta: “Quem me tocou?” Olhando em seguida para ela.
Pronto,
agora fora descoberta. Seria humilhada e condenada. A cena do Éden parece se
repetir. Eva tem que sair detrás da árvore e se apresentar nua perante o Seu
Criador e Juiz. O que iria surpreender a mulher é que no roteiro do drama do
Éden, o ato agora em cena, não era mais o da sentença de Eva, mas o da
promessa: pois Quem aparece no palco do mundo é O Descendente nascido da
semente da mulher que iria pisar a cabeça da serpente (e por esta ser ferido).
Podemos
aqui fazer um aparte para que reflitamos na Graça que habitou na Mãe de Deus.
Quando o Verbo foi Gerado em seu ventre para receber dela a sua carne, Ele teve
seu Ser tocado pelos genes impuros de Eva que habitavam na Virgem, e assim como
a mulher hemorrágica não pudera contaminar o Santo, antes recebendo dele a
purificação da sua doença, assim também a Santa Virgem teve todo seu corpo
purificado por Aquele que tudo plenifica.
Desprovida
de seus disfarces, tiradas as máscaras do anonimato, desfeita a estratégia da
dissimulação, a mulher se apresenta perante o Santo de Deus. Ela está prostrada
perante o Santo e direciona o olhar do medo para o chão, porém os seus ouvidos
não demoram a ouvir palavras de ternura:
“Filha,
a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre desse teu mal”.
ORAÇÃO
Jesus dulcíssimo,
glória dos apóstolos; meu Jesus, alegria dos mártires; Senhor onipotente,
Jesus, meu Salvador, Jesus belíssimo, salva-me a mim que recorro a Ti. Salvador
Jesus, tem piedade de mim, pela intercessão daquela que te trouxe ao mundo, e
de todos, ó Jesus, os teus santos, e de todos os profetas; meu Salvador Jesus,
torna-me também digno das delícias do paraíso, ó Jesus amigo dos homens.
Jesus
dulcíssimo, orgulho dos monges; Jesus longânime, alimento e beleza dos ascetas,
Jesus, salva-me; Jesus meu Salvador, Jesus meu boníssimo, arranca-me da mão do
dragão, Salvador Jesus, e livra-me de seus laços, Salvador Jesus; e
libertando-me do abismo, ó meu Salvador Jesus, faze-me sentar à tua direita com
as outras ovelhas.
Senhor,
Cristo Deus, que com a tua paixão curaste as minhas paixões e com as tuas
feridas medicaste as minhas chagas, dá-me a mim, mísero pecador, lágrimas de
compunção. Perfuma o meu corpo com a fragrância do teu corpo vivificante e
oferece a doce bebida do teu precioso sangue para refazer-me da amargura com
que o inimigo deu de beber à minha alma.
Ergue a
Ti a minha mente atraída pelas baixezas terrenas e levanta-me do abismo da
perdição. Ofusquei a minha mente com afeições terrenas e não consigo erguer os
olhos para Ti; nem aquecer com lágrimas o meu amor por Ti.
Mas tu,
Mestre, meu Senhor Jesus Cristo, tesouro de todos os bens, concede-me contrição
perfeita e ardente desejo de lançar-me à tua procura. Dá-me a tua graça e
renova em mim as feições da tua imagem. Eu te abandonei, não me pagues com o
abandono. Vem em busca de mim, reconduze-me ao teu redil, e faze-me nutrir-me
da relva dos divinos mistérios.
Pela
intercessão da tua puríssima Mãe e de todos os teus santos. Amém.
Cânon A Jesus Dulcíssimo,
Teostericto, Monge - (séc. IX)