sexta-feira, 31 de agosto de 2018

14ª Sexta-feira Depois de Pentecostes

PÓS-FESTA DA DORMIÇÃO DA MÃE DE DEUS
31 de Agosto de 2018 (CC) / 18 de Agosto (CE)
Santos Mártires Florus e Laurus († Sé. II).
Modo 4



Os Santos Mártires Florus e Laurus eram irmãos gêmeos e muito unidos pela fé e amor a Cristo. Naturais de Bizâncio, tinham como mestre e pai espiritual comum São Proklo. 
Depois da morte de São Proklo, Florus e Laurus saíram de Iliria e foram morar na cidade de Ulpiana, onde exerceram a profissão de construtores e, na medida de suas possibilidades, pregavam o Evangelho. Nesta cidade encontrava-se um sacerdote idólatra de nome Meratios. Seu filho, Atanásio, desde muito pequeno, havia perdido a visão de um de seus olhos, sem que tivessem encontrado uma solução nas ciências médicas de seu tempo. Este pai, desesperado, aproximou-se certo dia dos irmãos artesãos e eles, com uma única invocação do Nome de Deus, alcançaram a graça de ver restaurada a visão desta criança. 
Depois disso, tanto o sacerdote como o seu filho, se converteram à fé cristã. Ao tomar conhecimento do fato, o prefeito Liko ordenou que os irmãos fossem aprisionados e, depois de serem duramente golpeados, foram jogados num poço onde entregaram suas almas a Deus.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 

Gálatas 2:6-10

E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram; antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios), e conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência.

Marcos 5:22-24,35-6:1

E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés, e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está à morte; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos, para que sare, e viva. E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava... Estando ele ainda falando, chegaram alguns do principal da sinagoga, a quem disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre? E Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente. E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago. E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e pranteavam. E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi; que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto. E mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer. E, partindo dali, chegou à sua pátria, e os seus discípulos o seguiram.

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COMENTÁRIO

Mateus, Marcos e Lucas narram os milagres que se sucederam após a expulsão dos demônios na cidade de Gerasa. Eles aconteceram enquanto o Senhor retornava à Cafarnaum, seguido pela multidão. Jesus estava agora diante do poder da doença e da morte. As duas pessoas beneficiadas são mulheres. Uma sofria de uma enfermidade incurável que a arruinava e a afastava do convívio da sociedade, porque sua doença era vista como sinal de impureza e contaminação e, por isso, uma ameaça à integridade. A outra, uma menina, filha única, que não resistiu a uma doença grave.

Ao chegar na cidade uma multidão o esperava, sobretudo os curiosos e cheios de fé. Também estava lá o chefe da Sinagoga, Jairo, que pedia ao Senhor o restabelecimento da saúde de uma filha que estava a ponto de morrer. Jesus chamou Pedro, Tiago e João que o para O acompanhar, a fim de serem testemunhas daquilo que iria se realizar.

No caminho que conduzia à casa de Jairo, Jesus curou uma mulher que sofria durante muitos anos por hemorragia. Sofria física e espiritualmente em consequência do desprezo e preconceito dos outros: ela era vista como impura, amaldiçoada.

Chegando à casa de Jairo, o Senhor percebeu um alvoroço pois já choravam a morte da menina. Ao entrar disse a todos: “Para que este choro? A menina não morreu, mas dorme”. Diz o Evangelista que as pessoas zombavam d'Ele. Não compreendiam que para Deus, a verdadeira morte é o pecado que mata a vida divina na alma. Para quem crê, a morte terrena é como um sono do qual se acorda em Deus.

No Antigo Testamento, a concepção de morte, apresentada sobretudo em Gênesis, Salmos, Sabedoria, Provérbios, é uma concepção israelita: a morte constituía um mero fim. A pessoa humana era vista como um corpo que era animado pela alma que lhe dava vida. Quando uma pessoa morria, a alma que lhe dava vida desaparecia e a pessoa continuava a existir naquele corpo inanimado. Por isso Jesus dizia que o nosso Deus não é um Deus dos mortos, mas sim de vivos (Mt 22,32). A morte ideal, acreditavam os judeus, era aquela que vinha após longa vida, ou seja, obedecendo o ciclo natural das coisas. Quando alguém morria "antes da hora" parecia que se quebrava a normalidade e o falecido e sua família eram vistos como menos abençoados por Deus. É forte também o pensamento de que a morte existia como consequência do pecado dos primeiros pais, sendo preciso passar por ela para chegar até Deus. Quando uma jovem morria, como a filha de Jairo, acrescentava à família uma culpa enorme por consequência de uma grave falta cometida por algum de seus antepassados.

O Senhor disse: “não morreu a menina, apenas dorme”. Estava morta para os homens que não podiam despertá-la. Para Deus, a menina dormia porque a sua alma vivia submetida ao poder divino, e a carne descansava para a ressurreição.

No Novo Testamento, Paulo em suas cartas, afirma que de fato a morte é consequência e castigo do pecado, pois ela veio ao mundo por causa de um só homem que pecou (Rm 5,12). No entanto, continua ele, fomos resgatados da morte por Cristo, uma vez que em Adão todos morremos e fomos trazidos de volta à vida pelo Redentor (1Cor 15,22). Um segundo alicerce sobre o qual está baseado a concepção da morte é constituído pela afirmação de que Jesus superou a morte com sua própria morte. A morte foi o último inimigo que Cristo teve que superar (1Cor 15,25). Cristo despojou a morte de seu poder (2Tm 1,10); destruiu pela morte o dominador da morte, o diabo (Hb 2,14). A lei do Espírito da Vida em Cristo nos libertou da Lei do Pecado e da Morte (Rm 8,2). Cristo morreu e ressuscitou tornando-se Senhor dos mortos e dos vivos (Rm 14,9). Ressuscitado dos mortos, a morte não tem mais domínio sobre Ele.

O cristão experimenta a vitória de Jesus sobre a morte, pelos sacramentos. O cristão é batizado na morte de Jesus, pois somente nestas condições é que pode ressuscitar com Jesus para a nova vida. No sacramento do Batismo ele vive a morte e a ressurreição de Cristo quando submerge três vezes nas águas batismais, renascendo para a vida nova em Cristo, recebendo assim a veste branca. Participar da morte de Cristo significa "tornar-se um só com Ele" (Rm 6,5). A fé em Cristo não priva o homem da morte física, mas lhe dá a certeza de que esta experiência não se resume ao fim, mas ao começo de uma nova vida.

São João Crisóstomo comenta este Evangelho dizendo:

“As ressurreições feitas por Jesus são certamente fatos excepcionais; ocultam, todavia, a realidade maior que se dará no fim dos tempos para todos os homens, como professamos ao rezarmos o Credo: a ressurreição dos corpos. A filha de Jairo tempos depois morreu novamente, mas certamente depois experimentou a Ressurreição verdadeira em Deus”.

Francisco F. Carvajal, «Falar com Deus»
Editora Quadrante. S. Paulo, 1991.

ORAÇÃO

Guarda-me, ó Deus, pois em ti me refugio. Ao Senhor declaro: "Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de ti". Quanto aos santos que há na terra, eles é que são os notáveis em quem está todo o meu prazer. Grande será o sofrimento dos que correm atrás de outros deuses. Não participarei dos seus sacrifícios de sangue, e os meus lábios nem mencionarão os seus nomes. Senhor, tu és a minha porção e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro. As divisas caíram para mim em lugares agradáveis: Tenho uma bela herança! Bendirei o Senhor, que me aconselha; na escura noite o meu coração me ensina! Sempre tenho o Senhor diante de mim. Com ele à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto; mesmo o meu corpo repousará tranquilo, porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita.

Salmo 15(16)

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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

14ª Quinta-feira Depois de Cristo

PÓS-FESTA DA DORMIÇÃO DA MÃE DE DEUS
30 de Agosto de 2018 (CC) / 17 de Agosto (CE)
Santo Mártir Miron, de Cyzicuz († 250)
Modo 4


Miron era um padre na cidade de Achaia. Era de origem rica e proeminente, porém, muito gentil e humilde por natureza - um amante de Deus e do homem.

Durante o reinado do Imperador Décio, na Festa da Natividade de Cristo, pagãos invadiram a igreja durante a liturgia, e arrastando Miron para fora, o torturaram pelo fogo. Durante esta tortura, um anjo lhe apareceu e o encorajou. Os pagãos, então, começaram a descascar sua pele em tiras, da cabeça aos pés. O mártir agarrou uma tira de sua pele, e com esta bateu na face do seu algoz e juiz. Como que possesso, Antipater, o juiz, pegou uma espada e matou-se. 
Finalmente, os pagãos levaram Miron para a cidade de Cyzicus, e ali o mataram à espada, no ano de 250 d.C.



Oração Antes de Ler as Escrituras

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 

Gálatas 1:1-10, 20-2:5

Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos), E todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia: Graça e paz da parte de Deus Pai e do nosso Senhor Jesus Cristo, O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai, Ao qual seja dada glória para todo o sempre. Amém... Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto. Depois fui para as partes da Síria e da Cilícia. E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em Cristo; Mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía. E glorificavam a Deus a respeito de mim. Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito. E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão. Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se; E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.

Marcos 5:1-20

1 Chegaram então ao outro lado do mar, à terra dos gerasenos. 2 E, logo que Jesus saíra do barco, lhe veio ao encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo, 3 o qual tinha a sua morada nos sepulcros; e nem ainda com cadeias podia alguém prendê-lo; 4 porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas; e ninguém o podia domar; 5 e sempre, de dia e de noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando, e ferindo-se com pedras, 6 Vendo, pois, de longe a Jesus, correu e adorou-o; 7 e, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? conjuro-te por Deus que não me atormentes. 8 Pois Jesus lhe dizia: Sai desse homem, espírito imundo. 9 E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos. 10 E rogava-lhe muito que não os enviasse para fora da região. 11 Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos. 12 Rogaram-lhe, pois, os demônios, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. 13 E ele lho permitiu. Saindo, então, os espíritos imundos, entraram nos porcos; e precipitou-se a manada, que era de uns dois mil, pelo despenhadeiro no mar, onde todos se afogaram. 14 Nisso fugiram aqueles que os apascentavam, e o anunciaram na cidade e nos campos; e muitos foram ver o que era aquilo que tinha acontecido. 15 Chegando-se a Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, sentado, vestido, e em perfeito juízo; e temeram. 16 E os que tinham visto aquilo contaram-lhes como havia acontecido ao endemoninhado, e acerca dos porcos. 17 Então começaram a rogar-lhe que se retirasse dos seus termos. 18 E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele. 19 Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. 20 Ele se retirou, pois, e começou a publicar em Decápolis tudo quanto lhe fizera Jesus; e todos se admiravam.

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COMENTÁRIO

É quase inconcebível a cena descrita por São Marcos: um ser humano que tem seu psiquismo tomado por dois mil demônios (isto se considerarmos que o número de demônios que possuíam aquele homem seja correspondente ao da manada de porcos que se precipitou no abismo). As pessoas que pensam o mundo pela ótica dos cientificismos dirão que esta é uma cena surreal. Para nós aqui não nos interessa demonstrar por meio de argumentos – científicos ou teológicos - a pertinência e realidade da ação dos demônios na alma humana. Deixamos a cargo da realidade social que vivemos o testemunho do absurdo da perversão e da maldade que habitam o ser humano - o crime organizado, os pedófilos “iluminados” (artistas, cientistas e religiosos), a violência homicida contra crianças e idosos, a degeneração das relações interpessoais e coisas semelhantes. Aqui nos cabe procurar demonstrar por meio das pistas contidas nesta narrativa, como esta realidade bizarra com a qual Cristo tanto se deparou, se configura e se estabelece no ser humano.

São Marcos nos diz que os gadarenos criavam porcos, o que mostra que viviam de uma atividade ilegal, alimentada por um mercado clandestino de consumidores de carne de porco; portanto, deveria ser uma atividade muito lucrativa, uma vez que por ser difícil a aquisição, a carne suína tinha um preço muito elevado. Assim, podemos entender que entre os principais consumidores desta «iguaria» estavam autoridades civis, os grandes mercadores e os nobres. Esta é a razão pela qual não eram molestados, apesar de proibida pela Lei de Moisés.

Nesta disposição de vida, temos a configuração perfeita para a degeneração e demonização do ser humano e de suas sociedades: quando as necessidades consideradas básicas para a sobrevivência e o desejo de riquezas se sobrepõem ao mandamento Divino. Esta foi a primeira perspectiva demoníaca que se apresentou para tentar o próprio Cristo: «Se És Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães»,e a tal proposta repele: «Não só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus».

«luta pela sobrevivência» e a busca da felicidade por meio das posses e do prazer, fez da religião um meio subordinado a estes objetivos. Deus deixa de ser o fim principal para o qual o homem orienta seus desejos, tornando-se uma espécie de «gênio encantado», com superpoderes para realizar todos os desejos do seu amo. Quando a religião não se presta a este fim, então, em geral os homens se voltam contra ela, procurando bani-la e encontrar outra que a substitua e se preste a tal fim. E, assim nascem e se estabelecem os falsos profetas, os criadores de ídolos e ilusões, ou seja, aqueles que habilmente criam sistemas, raciocínios e espiritualidades que se prestem a atender os apelos psíquicos e corporais dos seres humanos. 

Certamente que os gadarenos tinha sua religião. O que não faltavam era cultos pagãos à fertilidade a garantir a bênção dos deuses aos anelos humanos. Iludidos e recompensados pelas promessas ou realidades experimentadas das «bênçãos»temporais, eles não sabiam que cultuavam os demônios. Por isto São Paulo diz: 

«Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios» (1 Cor. 10:20).

Os gadarenos não queriam Cristo e Lhe pedem que se retire de sua cidade. Mas o outrora endemoninhado não quer mais sair de Sua companhia, pois ele conhecera o mundo terrível de Satanás, de suas inquebrantáveis cadeias, até que chegou a ele, Aquele que É o Amigo do Homem, libertando-lhe de todos os grilhões. Cristo não atende seu pedido, antes o envia para testemunhar entre os demais cativos a graça que o libertara. Cristo não lhe atendeu o pedido, mas não lhe negou o desejo, pois, em sua missão entre os gadarenos, Ele, em Espírito o acompanharia, Se faria presente em sua solidão e visível em meio às invisibilidades aos sentidos. Por fim, ele, o gadareno, se somaria à grande nuvem de testemunhas, das quais o mundo não é digno (Hb. 11:38; 12:1) e comporia "a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados" (Hb 12:23).

ORAÇÃO

Deus Todo-poderoso, que libertaste Teu povo da escravidão do adversário, e que através de Teu Filho lançaste abaixo Satanás como um raio, liberta-me também de toda influencia de espíritos impuros. Manda Satanás partir para bem longe de mim pelo poder de Teu Filho Único. Salva-me da ilusão demoníaca e da escuridão. Preenche-me com a luz do Espírito Santo para que eu possa ser guardado contra as armadilhas dos demônios astuciosos. Conceda que um anjo sempre vá perante mim e leve-me para o caminho da retidão todos os dias da minha vida, para a honra de Teu glorioso Nome, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e sempre. Amém.

Oração contra a Influência Demoníaca
Livro Ortodoxo de Orações

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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

14ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

PÓS-FESTA DA DORMIÇÃO DA MÃE DE DEUS
29 de Agosto de 2018 (CC) / 16 de Agosto (CE)
Trasladação de Edessa para Constantinopla 
da imagem “ Aquiropita” do Nosso Senhor Jesus Cristo (944); 
S. Diomedes, mártir († 298 d.C.)
Modo 4



Segundo a tradição, o primeiro ícone de Jesus Cristo surgiu durante sua vida terrena. Faz-se referência a esta imagem como a «Santa Face», ou melhor, «O ícone não feito por mãos humanas». 
A tradição relata que, durante o tempo do Salvador, Abgar, o Governante de Edessa, sofria de lepra. Embora nunca tenha visto o Salvador, Abgar acreditava em Jesus como o Filho de Deus por ter ouvido falar sobre os grandes milagres realizados por Ele, e Lhe teria escrito uma carta pedindo para que fosse curá-lo, a qual enviou à Palestina através do seu próprio retratista e pintor Ananias, tendo lhe encomendado também um retrato (pintura) do Divino Mestre. 
No entanto, quando Ananias chegou a Jerusalém e viu o Senhor, lhe foi impossível aproximar-se dele devido à grande multidão que o cercava. Ao vê-lo, Jesus lhe chamou pelo nome, entregando-lhe uma carta para Abgar na qual fazia elogios à sua grande fé e prometia enviar um de seus discípulos para curá-lo a lepra e guiá-lo à salvação. O Senhor, em seguida, pediu um lenço e água. Lavou o seu rosto e o enxugou com o lenço, e seu divino semblante ficou plasmado no lenço. Ananias levou a Edessa este lenço e a carta do Salvador. Com muita reverência Abgar recebeu o que Jesus lhe havia enviado e a sua cura foi imediata; apenas um pequeno vestígio da sua terrível aflição permaneceu em seu rosto até a chegada do discípulo prometida pelo Senhor. Este discípulo foi São Tadeu (21 de agosto) um dos Setenta Discípulos, que lhe anunciou o Evangelho, batizou o devoto Abgar e todas as pessoas de Edessa. 
 Esta é, portanto, a tradição sobre a imagem que hoje se venera, como a «Imagem não feita por mãos humanas», a «Santa Face» 
Leituras Comemorativas 
Colossenses 1:12-18
Lucas 9:51-56; 10:22-24  
Santo Mártir Diomedes  
Diomedes era um proeminente médico, nascido em Tarso. 
Curando as pessoas, Diomedes ensinou-lhes a fé cristã. O Imperador Diocleciano ordenou que ele fosse decapitado em Nicéia, no ano 298 d.C. 
Aqueles que o decapitou e trouxeram a cabeça para o Imperador ficaram cegos. Então, eles devolveram a cabeça ao corpo, e ofereceram uma oração de arrependimento, e foram curados. 


Oração Antes de Ler as Escrituras

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 


2 Coríntios 13:3-13

3 Visto que buscais uma prova de Cristo que fala em mim, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso entre vós. 4 Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós.5 Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. 6 Mas espero que entendereis que nós não somos reprovados. 7 Ora, eu rogo a Deus que não façais mal algum, não para que sejamos achados aprovados, mas para que vós façais o bem, embora nós sejamos como reprovados. 8 Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade. 9 Porque nos regozijamos de estar fracos, quando vós estais fortes; e o que desejamos é a vossa perfeição. 10 Portanto, escrevo estas coisas estando ausente, para que, estando presente, não use de rigor, segundo o poder que o Senhor me deu para edificação, e não para destruição. 11 Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco. 12 Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. 13 Todos os santos vos saúdam.

Marcos 4:35-41
35 Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado. 36 E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia com ele também outros barcos. 37 E se levantou grande tempestade de vento, e as ondas batiam dentro do barco, de modo que já se enchia. 38 Ele, porém, estava na popa dormindo sobre a almofada; e despertaram-no, e lhe perguntaram: Mestre, não se te dá que pereçamos? 39 E ele, levantando-se, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E cessou o vento, e fez-se grande bonança. 40 Então lhes perguntou: Por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé? 41 Encheram-se de grande temor, e diziam uns aos outros: Quem, porventura, é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?

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COMENTÁRIO

«Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação. Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice. Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais; vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa. Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria. Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz. Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada? Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram.»
Jesus, Filho de Sirac
Livro da Sabedoria de Jesus,
Ben Sirac (Eclesiástico) 2:1-13

ORAÇÃO

Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR. Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança, e que não respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira. Muitas são, SENHOR meu Deus, as maravilhas que tens operado para conosco, e os teus pensamentos não se podem contar diante de ti; se eu os quisera anunciar, e deles falar, são mais do que se podem contar. Não retires de mim, SENHOR, as tuas misericórdias; guardem-me continuamente a tua benignidade e a tua verdade. Porque males sem número me têm rodeado; as minhas iniquidades me prenderam de modo que não posso olhar para cima. São mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça; assim desfalece o meu coração. Digna-te, SENHOR, livrar-me: SENHOR, apressa-te em meu auxílio. Sejam à uma confundidos e envergonhados os que buscam a minha vida para destruí-la; tornem atrás e confundam-se os que me querem mal. Desolados sejam em pago da sua afronta os que me dizem: Ah! Ah! Folguem e alegrem-se em ti os que te buscam; digam constantemente os que amam a tua salvação: Magnificado seja o SENHOR. Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó meu Deus.

Salmo 39(40): 1-5,11-17


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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Festa Da Dormição Da Santíssima Mãe De Deus

28 de Agosto 2018 (CC) / 15 de Agosto (CE)
S. Miquéias, profeta (séc. VIII a.C.).
Modo 4


Eis o que a Igreja recebeu da antiga tradição patrística, em relação à Dormição da Toda Santa Mãe de Deus:

Chegado o tempo em que era agradável a Nosso Senhor conduziu para junto de Si sua divina Mãe, Ele anuncia-lhe, através ao Arcanjo Gabriel, três dias antes, de sua passagem desta vida transitória à vida eterna e bem-aventurada. Ouvindo a mensagem, a Virgem dirigiu-se ao monte das Oliveiras para orar e agradecer a Deus. Depois retorna à sua casa e prepara o necessário ao seu enterro. Entretanto, os Apóstolos, avisados pelo Espírito Santo e transportados em nuvens luminosas, reúnem-se na casa da Santa Virgem, vindos das mais diferentes extremidades da terra, onde se encontravam, dispersos, a pregar o Evangelho. Ela lhes explica, então, a razão daquele chamado tão inesperado, os consola maternalmente e depois levanta as mãos aos céus, ora pela paz no mundo, abençoa os Apóstolos e, subindo ao leito, cruza os braços e rende assim sua alma toda santa às mãos de seu Filho e seu Deus.


Os Apóstolos conduzem o seu santo Corpo e o enterram no Getsêmani. Porém, três dias mais tarde, durante uma reunião onde, segundo o hábito, partiam o pão em nome de Jesus, a Virgem lhes aparece no Céu e lhes diz: “Salve!” Eles assim ficam sabendo que ela subira aos céus com o seu corpo.


A festa de hoje tem por origem o aniversário da dedicação de um Santuário da Virgem, situado entre Jerusalém e Belém, que comemorava, talvez, uma “estação” onde, segundo as tradições, a Virgem Maria, fatigada da viagem, teria repousado antes de chegar a Belém para dar à luz à criança.


A celebração dessa solenidade no dia 15 de agosto foi fixada com um edito do Imperador do Oriente, Maurício (582-602), confirmando uma tradição, sem dúvida, mais antiga. 


A primeira evidência clara acerca dessa festa remonta à época do 3° Concílio Ecumênico em Éfeso (431). No entanto, essa evidência refere-se a uma festa pré-existente da Dormição de Maria. No início do 5° século, por exemplo, uma antologia armênia chama o 15 de agosto “o dia de Maria, a Mãe de Deus.” Porém, festas desse tipo tanto no Oriente quanto no Ocidente eram dedicadas à memória de Maria em geral e não à sua Dormição, em particular. Gradualmente, entretanto, essas festas começam à convergir para o dia presumível de sua morte, 15 de agosto, talvez como resultado indireto da construção, no Getsêmani, de uma igreja em sua honra, que incluía seu próprio túmulo, segundo a Tradição. Ao final do século VI, no entanto, a festa de Dormição foi estendida a todo Império Bizantino, pelo Imperador Maurício. No Ocidente, a festa foi introduzida, juntamente com outras três festas marianas, pelo papa Sérgio I, coincidindo as datas de sua celebração.  


A Festa da Dormição da Santíssima Mãe de Deus, “Kóimésis” em grego e “Uspénie” em eslavo eclesiástico, palavras que aludem justamente ao ato de dormir, tem como tradicional representação iconográfica a Virgem estendida no leito de morte, rodeada pelos Apóstolos para o último sono vindos prodigiosamente dos lugares onde pregavam o evangelho, tendo ao centro Jesus Cristo que acolhe a sua alma, representada como uma menina envolta em faixas e por Ele sustentada.


A partir do dia 1º de agosto, a Igreja prepara-se para a festa com um jejum (do qual também fala São Teodoro Estudita, morto no ano 826); e dado que, além da pré-festa do dia 14 de agosto, os textos litúrgicos falam do trânsito de Maria Santíssima ao céu até o dia 23 de agosto, pode-se afirmar que este é o mês mariano dos Fiéis Ortodoxos.


A Igreja Ortodoxa não comunga do "dogma" romano da Assunção de Maria. Até o meado do séc. XX a Igreja Romana também não professava essa doutrina. Foi o Papa Pio XII que definiu solenemente o dogma da Assunção no dia 1 de novembro de 1950 por meio da Constituição “Munificentissimus Deus”.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 

MATINAS 


Lucas 1:39-49, 56

E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá,
E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel.E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo.E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas. Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada, Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome... E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa.

LITURGIA

Tropário – Modo 1
Em tua maternidade conservaste a virgindade
e em tua dormição não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus.
Foste levada para a vida sendo a Mãe da Vida,
e por tuas orações resgatas nossas almas da morte.

Kontákion – Modo 2

Nem o túmulo nem a morte prevaleceram sobre a Mãe de Deus,
que, sem cessar, reza por nós e permanece firme esperança de intercessão.
Com efeito, aquele que habitou um seio sempre virgem
assumiu para a vida aquela que é a Mãe da Vida.

Filipenses 2:5-11


5 Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, 7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.   


Lucas 10:38-42; 11:27-28


38 Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. 40 Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. 41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; 42 entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. 27 Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste. 28 Mas ele respondeu: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam.


† † †

HOMILIA



«...Eis aquela cuja festa celebramos hoje em sua santa e divina Dormição.»


Acorrei, pois, e subamos a montanha mística. Ultrapassando as imagens da vida presente e da matéria, penetrando na treva divina e incompreensível, ingressando na luz de Deus, celebremos o seu infinito poder. Aquele que, de Sua transcendência superessencial e imaterial, desceu ao seio virgíneo para ser concebido e Se encarnar, sem deixar o seio do Pai; aquele que através da Paixão marchou voluntariamente para a morte, conquistando pela morte a imortalidade e voltando ao Pai; como não pôde ele atrair ao Pai sua Mãe segundo a carne? Como não elevaria da terra ao céu aquela que fora um verdadeiro céu sobre a terra?


Hoje a escada espiritual e viva, pela qual o Altíssimo desceu, se fez visível e conversou entre os homens (Baruc 3:38): ei-la que sobe, pelos degraus da morte, da terra ao céu.


Hoje a mesa terrestre que sem núpcias trouxera o Pão Celeste da Vida e a Brasa da Divindade, foi levada da terra aos céus; e para a Porta oriental - para a Porta de Deus - se ergueram as portas do céu.


Hoje, da Jerusalém terrestre, a Cidade viva de Deus foi conduzida à Jerusalém do Alto; aquela que concebera como seu primogênito e unigênito o Primogênito de toda a criatura e o Unigênito do Pai, vem habitar na Igreja das primícias (Hb 12, 23); a Arca do Senhor, viva e racional, é transportada ao repouso de seu Filho (Sl 132:8).


As portas do paraíso se abrem para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a Árvore da Vida Eterna, redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão. É o Cristo, causa da vida universal, quem recebe a gruta escondida, a montanha não trabalhada, donde se destacou, sem intervenção humana, a pedra que enche a terra.


Aquela que foi o leito nupcial onde se deu a Divina encarnação do Verbo, veio repousar em túmulo glorioso, como em tálamo nupcial, para de lá se elevar até a câmara das núpcias celestes, onde reina em plena luz com seu Filho e seu Deus, deixando-nos também como lugar de núpcias seu túmulo sobre a terra. Lugar de núpcias, esse túmulo? Sim, e o mais esplendoroso de todos, a refulgir não por revérberos de ouro, de prata ou de gemas, porém pela Divina Luz, irradiação de Espírito Santo. Proporciona, não uma união conjugal aos esposes da terra, mas a vida santa às almas que se prendem pelos laços do Espírito, proporciona uma condição junto de Deus, melhor e mais suave que outra qualquer.


Seu túmulo é mais gracioso do que o Éden: neste, sem querermos repetir tudo o que lá se passou, houve a sedução do inimigo, sua mentira apresentada como conselho amigo, a fraqueza de Eva, sua credulidade, o engodo - doce e amargo - ao qual seu espírito se deixou prender e pelo qual em seguida aliciou o marido; a desobediência, a expulsão, a morte, mas - para não trazermos com tais lembranças assunto de tristeza à nossa festa - houve o túmulo que elevou ao céu o corpo de um mortal, ao contrário daquele primeiro jardim, que derrubou do céu nosso primeiro pai. Pois não foi ali que o homem, feito à imagem Divina, ouviu a sentença: «Tu és terra e em terra te hás de tornar?» (Gn 3, 19)


O túmulo de Maria, mais precioso que o antigo tabernáculo, encerrou o candelabro espiritual e vivo, brilhante de Divina luz, a Mesa Portadora de Vida, que recebeu, não os pães da proposição, mas o pão celeste, não o fogo material mas o fogo imaterial da Divindade.


Esse túmulo é mais feliz que a arca mosaica, pois teve por partilha a verdade, já não as sombras e as figuras; acolheu a urna áurea do maná celeste, a mesa viva do Verbo encarnado por obra do Espírito Santo, dedo onipotente de Deus, Verbo subsistente; acolheu o altar dos perfumes, a brasa divina que aromatizou toda a Criação.


Fujam portanto os demônios, gemam os míseros nestorianos - como outrora os egípcios - com seu chefe, o novo faraó, o cruel flagelo, o tirano, pois foram engolidos pelo abismo da blasfêmia. Nós, porém, salvos, que atravessamos a pé enxuto o mar da impiedade, cantemos à Mãe de Deus o canto do Êxodo. Miriam, que é a Igreja, tome nas mãos o tamborim e entoe o hino de festa; saiam as jovens do Israel espiritual com tamborins e coros (Ex 15, 20), exultando de alegria! Que os reis da terra, os juízes e os príncipes, os jovens e as virgens, os velhos e as crianças, celebrem a Mãe de Deus! Que reuniões e discursos de toda espécie, raças e povos na diversidade de suas línguas, componham um cântico novo! Que o ar ressoe de flautas e trombetas espirituais, inaugurando com brilho de fogos o dia da salvação! Alegrai-vos, ó céus, e vós, nuvens, fazei chover a alegria! Saltai, novilhos do rebanho eleito, apóstolos divinos que, como montanhas altas e sublimes, aspirais às mais altas contemplações; e vós, também, ó cordeiros de Deus, povo santo, filhos da Igreja, que pelo desejo vos alçais como colinas até as altas montanhas!...


...Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus: por causa de Adão entrega seu corpo à terra, mas por causa de seu Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Santificada seja a Cidade santa, que acolhe mais essa bênção eterna! 


Que os anjos precedam a passagem da divina morada e preparem seu túmulo, que o fulgor do Espírito a decore! Preparai aromas para embalsamar o corpo imaculado e repleto de delicioso perfume! Desça uma onda pura a fim de haurir a bênção da fonte imaculada da bênção! 


Alegre-se a terra de receber o corpo e exulte o espaço pela ascensão do espírito! Soprem as brisas, suaves como o orvalho e cheias de graça! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: 


Os grupos de jovens em sua alegria, a boca dos oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios em suas dissertações sobre essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas contemplações. Que todas as criaturas se associem nessa homenagem, que ainda assim não seria suficiente. 


Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Sim, todos, pelo fervor do coração, desçamos com a que desce à sepultura e ali nos coloquemos. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: «Rejubila-te, cheia de graça, o Senhor é contigo!» 


Permanece na alegria, tu que foste predestinada a ser Mãe de Deus. 


Permanece na alegria, tu que foste eleita antes dos séculos por um desígnio de Deus, germe divino da terra, habitação do fogo celeste, obra-prima do Espírito Santo, fonte de água viva, paraíso da Árvore da Vida, ramo vivo que portas o Divino fruto, donde fluem o néctar e a ambrosia, rio de aromas do Espírito, terra produtora da Divina espiga, rosa resplandecente da virgindade, donde emana o perfume da graça, lírio da veste real, ovelha que geras o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, instrumento de nossa salvação, superior às potências angélicas, serva e Mãe!...”


Trechos da Homilia de São João Damasceno

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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

14ª Segunda-feira Depois de Pentecostes

PRÉ-FESTA DA DORMIÇÃO DA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS
27 de Agosto 2018 (CC) / 14 de Agosto (CE)
S. Miquéias, profeta (séc. VIII a.C.).
Jejum da Dormição da Santíssima Mãe de Deus
Modo 4


Natural de Moreset-Gat em Hebron, um pequeno povoado ao sul de Jerusalém, Miquéias foi um profeta bíblico que profetizou durante os reinados de Joatão, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá, sendo assim contemporâneo de Isaías, outro profeta bíblico. Tendo vivido na época das invasões assírias sobre os reinos da Samaria e de Judá, os seus vaticínios são dirigidos contra ambos os reinos, aos quais ameaça com o castigo por intermédio dos assírios.

Sobre Miquéias há referências no livro do profeta Jeremias (Jr 26, 18), quando quiseram matar Jeremias por causa de suas previsões sobre a destruição de Jerusalém. Alguns líderes o defenderam alegando que Miquéias previra o mesmo no tempo do rei Ezequias sem que, por isso, tenha sido perseguido. Apenas uma parte dos discursos de Miquéias foi preservada, sendo que o restante, muito provavelmente, foi destruído durante as perseguições aos profetas por Manassés.

O principal pensamento do profeta Miquéias é que o Senhor, fiel ao seu compromisso com o povo eleito, o purifica mediante os desastres e o arrependimento, e o fará entrar (e através dele também os pagãos) no Reino do Messias. O livro contém as profecias sobre a destruição da Samaria e sobre o aniquilamento de Jerusalém, as promessas de salvação a Israel através do Líder de Belém e a indicação do caminho da salvação. Miquéias defende aos pobres e desditados de seu povo e acusa de crueldade e orgulho aos ricos.
 
«Desapareceram os homens piedosos da terra, não há quem seja íntegro entre os homens. Todos andam à espreita para derramar sangue, cada um arma laços ao seu irmão. Suas mãos estão prontas para o mal: o príncipe exige (um presente), o juiz cobra as suas sentenças, o grande manifesta abertamente suas cobiças, todos tramam (suas intrigas). O melhor dentre eles é como um silvedo, o mais íntegro, como uma sebe de espinhos. No dia anunciado por teus vigias, vem o castigo: eles serão completamente destruídos» (Mq 7, 2-4). 

O seu livro bíblico (Livro de Miquéias), classificado pela Bíblia Cristã como livro profético, divide-se em três seções: na primeira condena os pecados da Samaria e de Judá, principalmente as injustiças praticadas pelos ricos e poderosos que despojavam injustamente os pobres; a segunda começa com um vaticínio sobre a restauração de Jerusalém, sobre a qual virão as nações estrangeiras e das quais esta se libertará; a terceira corresponde a um processo contra Jerusalém devido às suas idolatrias.

Isto é o que o Senhor espera do homem: 
«Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus». (Mq 6, 8). O profeta termina seu livro dirigindo-se a Deus: «Qual é o Deus que, como Tu, apaga a iniqüidade e perdoa o pecado do resto de seu povo, que não se ira para sempre porque prefere a misericórdia? Uma vez mais, tem piedade de nós! Esquece as nossas faltas e joga nossos pecados nas profundezas do mar!» (Mq 7,18-19). 
Conteúdo do livro de Miquéias: a destruição de Jerusalém e Samaria (1-2); o pecado do povo de Judá (3); o Reino do Messias (4); o nascimento de Cristo em Belém (5); o Juízo sobre os povos (6); e a misericórdia para com os fiéis (7).


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 

2 Coríntios 12:10-19

10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte. 11 Fui néscio em gloriar-me; vós me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós, visto que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos, ainda que nada sou. 12 Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas. 13 Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo. 14 Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos. 15 Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado. 16 Mas seja assim; eu não vos fui pesado mas, sendo astuto, vos tomei com dolo. 17 Porventura aproveitei-me de vós por algum daqueles que vos enviei? 18 Roguei a Tito, e enviei com ele um irmão. Porventura Tito se aproveitou de vós? Não andamos porventura no mesmo espírito, sobre as mesmas pisadas? 19 Cuidais que ainda nos desculpamos convosco? Falamos em Cristo perante Deus, e tudo isto, ó amados, para vossa edificação.

Marcos 4:10-23

10 Quando se achou só, os que estavam ao redor dele, com os doze, interrogaram-no acerca da parábola. 11 E ele lhes disse: A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; 12 para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados. 13 Disse-lhes ainda: Não percebeis esta parábola? como, pois entendereis todas as parábolas? 14 O semeador semeia a palavra. 15 E os que estão junto do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; mas, tendo-a eles ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que neles foi semeada. 16 Do mesmo modo, aqueles que foram semeados nos lugares pedregosos são os que, ouvindo a palavra, imediatamente com alegria a recebem; 17, mas não têm raiz em si mesmos, antes são de pouca duração; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam. 18 Outros ainda são aqueles que foram semeados entre os espinhos; estes são os que ouvem a palavra; 19, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e a cobiça doutras coisas, entrando, sufocam a palavra, e ela fica infrutífera. 20 Aqueles outros que foram semeados em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, a trinta, a sessenta, e a cem, por um. 21 Disse-lhes mais: Vem porventura a candeia para se meter debaixo do alqueire, ou debaixo da cama? não é antes para se colocar no velador? 22 Porque nada está encoberto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para vir à luz. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
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COMENTÁRIO

O Semeador Semeia Sem Contar

Hoje não persuadi o meu ouvinte, mas talvez o persuada amanhã, ou talvez dentro de três ou quatro dias. Às vezes, o pescador que em vão lançou as redes durante todo o dia apanha à noite, quando se vai embora, o peixe que não conseguiu pescar durante o dia. O lavrador não deixa de cultivar a terra mesmo que não obtenha grandes colheitas durante vários anos; por fim, é frequente um só ano reparar, e com abundância, todas as perdas anteriores. […]

Deus não nos pede que tenhamos sucesso, mas que trabalhemos; ora, o nosso trabalho não será menos recompensado por não termos sido escutados. […] Cristo sabia perfeitamente que Judas não se converteria; e, contudo, tentou convertê-lo até ao fim, censurando-lhe o seu pecado em termos comoventes: “Amigo, a que vieste?” (Mt 26, 50). Ora, se Cristo, que é o modelo dos pastores, trabalhou até ao fim pela conversão de um homem desesperado, quanto devemos fazer nós por aqueles por quem nos foi ordenado que esperemos sempre!

Se a semente seca, não é devido ao calor. Jesus não disse que a semente secou por causa do calor, mas sim pela «falta de raiz». Se a Palavra é asfixiada, não será por causa dos espinhos, mas de quem os deixou crescer em liberdade. Se quiseres, podes impedir que cresçam, podes fazer bom uso da riqueza. É por isso que o Salvador não fala «do mundo», mas dos «cuidados do mundo», não fala «da riqueza», mas da «sedução da riqueza». Por conseguinte, não acusemos as coisas em si mesmas, mas a corrupção da nossa consciência. [...]

Não é o agricultor, como vês, não é a semente, é a terra onde ela é recebida que explica tudo, ou seja, as disposições do nosso coração. Também aí a bondade de Deus para com o homem é imensa, dado que, longe de exigir a mesma medida de virtude, acolhe os primeiros, não repudia os segundos e dá lugar aos terceiros. [...]

É necessário, pois, começar por ouvir atentamente a Palavra, depois guardá-la fielmente na memória, em seguida encher-se de coragem, depois desprezar a riqueza e livrar-se do amor aos bens do mundo. Se Jesus coloca em primeiro lugar a Palavra, antes de todas as outras condições, é porque é a condição fundamental. «E como hão de acreditar Naquele de Quem não ouviram falar?”. (Rom, 10, 14). Também nós, se não dermos atenção ao que nos é dito, não conheceremos os deveres a cumprir. Só depois vem a coragem e o desprezo pelos bens deste mundo. Para pôr a render estas lições, fortifiquemo-nos de todas as maneiras: estejamos atentos à Palavra, façamos crescer profundamente as nossas raízes e desembaracemo-nos de todas as preocupações do mundo.
São João Crisóstomo,
Patriarca de Constantinopla.
Homilia pronunciada ao voltar do exílio

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