sábado, 29 de novembro de 2014

25º Sábado Depois de Pentecostes


29 de Novembro de 2014 (CC) / 16 de Novembro (CE)
São Mateus, Apóstolo e Evangelista (séc. I)
Jejum da Natividade


Mateus, também chamado de Levi, era filho de Alfeu, e morava na cidade de Cafarnaum. O Santo Apóstolo era um cobrador de impostos quando o Senhor o avistara em Cafarnaum e lhe dissera: “Segue-me. E ele se levantou, e O seguiu” (Mateus 9:9). Mateus preparou uma recepção para o Senhor em sua casa e, assim, deu ocasião para que o Senhor falasse aos convidados as verdades sobre a Sua vinda à Terra.

Depois de receber o Espírito Santo, Mateus ainda pregou na Palestina por muitos anos e, durante este período escreveu o seu Evangelho, o qual fora redigido orginalmente em língua aramaica e depois traduzido para o grego. O texto aramaico não sobreviveu, mas muitas das peculiaridades linguísticas e histórico-cultural da tradução grega dão indicações do mesmo. Depois da Palestina saiu a anunciar o Reino para os sírios, partos, medos e etíopes e, nas terras da Etiópia teve o seu martírio.

A Etiópia era uma terra habitada por tribos canibais detentoras de costumes e crenças primitivas. Após haver convertido alguns dos canibais para a fé em Cristo, Mateus fundou a Igreja e construiu um templo na cidade de Mirmena, estabelecendo ali o seu companheiro Platon como bispo, retirando-se logo após para a solidão da oração em uma montanha, onde passou a orar fervorosamente pela conversão dos etíopes.

Um dia - enquanto orava - o Senhor lhe aparecera na forma de um jovem. Dera-lhe um cajado e ordenara-lhe que o tal fosse plantado às portas da igreja. O Senhor lhe dissera que o bastão se transformaria numa árvore que daria muitos frutos, e que de suas raízes fluiria uma corrente de água vivificante.

Os milagres operados com o bastão atraíram a esposa e o filho do governador da terra, Fulvian, os quais eram atormentados por espíritos imundos, e em nome de Cristo, o Santo Apóstolo os curou. Este milagre converteu um grande número de pagãos ao Senhor. Mas o governador não queria que seus súditos se tornassem cristãos e que deixassem de adorar os deuses pagãos. Fulvian acusou o Apóstolo de feitiçaria e deu ordens para executá-lo. Assim, enviou soldados para prendê-lo. Os soldados enviados voltaram ao príncipe dizendo que tinham ouvido a voz de Mateus, mas não podia vê-lo com os olhos. O príncipe, então, enviou uma segunda guarnição. Quando eles se aproximaram do Apóstolo, este resplandecera uma luz celestial tão forte que os soldados não conseguiam olhar para ele e, cheios de medo, jogaram suas armas e retornaram. Então, o príncipe foi pessoalmente até Mateus para executar a prisão. Mais uma vez, o Santo Apóstolo irradiara uma luz tão intensa que o príncipe imediatamente ficara cego. No entanto, o Santo Apóstolo tinha um coração compassivo, orou a Deus, e o príncipe teve sua visão restaurada.

Infelizmente, os olhos espirituais de Fulvian permaneceram cegos, prendeu Mateus e o submeteu a torturas cruéis. Depois mandou que se fizesse uma grande fogueira, na qual o Santo Apóstolo fora amarrado de cabeça para baixo para ser queimado vivo. 
Quando o fogo fora deflagrado, então, todos começaram a perceber que o fogo não feria São Mateus. Então Fulvian deu ordens para adicionar mais lenha na fogueira, e nada do Apóstolo ser atingido. Fulvian, estando sob grande frenesi mandou que se pusessem doze ídolos ao redor do fogo. As chamas, depois de derreterem os ídolos, se voltaram contra Fulvian. O etíope grandemente assustado virou-se para o santo com uma súplica por misericórdia; e pela oração do mártir a chama se apagou. Logo após este milagre, Mateus expirou e partiu para o Senhor, e o seu corpo permaneceu ileso.

Fulvian arrependeu-se profundamente de seu ato, mas ainda tinha dúvidas pairavam em seu coração. Certamente, à semelhança do Faraó do Egito à época de Moisés, ele não descartava a possibilidade de Mateus ser um grande feiticeiro (pois esta era a cultura, a da feitiçaria, na qual estivera inserido durante toda a sua vida). Assim, ordenou que se pusesse o corpo de São Mateus em um caixão de ferro e o jogasse ao mar, pois Fulvian, para dirimir suas dúvidas disse que se o Deus de Mateus preservasse o corpo do Apóstolo na água, como Ele o preservou no fogo, então ele estaria certo de que o Deus anunciado por Mateus era o Único, e que somente a Ele se deveria adorar. 
Naquela mesma noite, o Apóstolo Mateus aparecera ao Bispo Platon em um sonho, e ordenara-lhe ir com o clero para a costa do mar a fim de encontrar seu corpo que se achava lá. Também Fulvian Justos e sua comitiva acompanharam o bispo até a costa do mar. O caixão transportado pelas ondas fora levado para a igreja construída pelo Apóstolo. Então Fulvian implorou perdão do Santo Apóstolo Mateus; logo após o bispo Platon o batizou, dando-lhe o nome de Mateus, em obediência a uma revelação Divina.

Fulvian, assim como fizera São Mateus nos tempos da coletoria, abdicou do seu cargo de governador e se tornou um presbítero. Com a morte do bispo Platon, o Apóstolo Mateus lhe aparecera, exortando-o a se tornar o Chefe da Igreja Etíope. Tendo-se tornado um bispo, Mateus (Fulvian), entregou-se fervorosamente à pregação da Palavra de Deus, continuando o trabalho de seu padroeiro celestial.

Diz-se do Apóstolo e Evangelista Mateus que ele nunca comeu carne, mas apenas vegetais e frutas.

COMEMORAÇÃO DE SÃO MATEUS

MATINAS

João 21:15-25

E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras. E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.


Troparion - Modo 3
Com zelo, seguiste Cristo, o Mestre, 
O Qual em Sua bondade apareceu na Terra para a humanidade. 
Chamando-te da coletoria, 
Ele te revelou que foste escolhido para ser apóstolo, 
proclamador do Evangelho ao mundo inteiro! 
Por isto, ó Mateus, portador de Divina eloquência,
honramos tua memória preciosa! 
Suplica ao misericordioso a remissão das transgressões de nossas almas.

Kondakion - Modo 4

Ao te desprenderes do jugo fazendário 
para se submeter ao jugo da Justiça, 
tu te revelaste um excelente negociante, 
rico na sabedoria do Alto. 
Tu proclamaste a Palavra da Verdade, e com teus escritos, despertastes as almas indolentes para a hora do Juízo.


Prokímenon Modo 8

Sua voz saiu por toda a terra,
E as suas palavras, até aos confins do mundo. (Sl 18:4)

Os céus proclamam a glória de Deus
E o firmamento anuncia a obra das suas mãos. (Sl 18:1)


1 Coríntios 4:9-16

Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos. Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.


Aleluia Modo 1

Aleluia, aleluia, aleluia
Os céus anunciarão as tuas maravilhas, ó Senhor,
E a tua verdade na assembleia dos santos. (Sl 88:5)  

Aleluia, aleluia, aleluia
Deus é glorificado na assembleia dos santos,
Grande e terrível para com todos que estão ao redor dele. (Sl 88:7)
Aleluia, aleluia, aleluia


Mateus 9:9-13

E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.






sexta-feira, 28 de novembro de 2014

25ª Sexta-feira Depois de Pentecostes

28 de Novembro de 2014 (CC) / 15 de Novembro (CE)
Ss. Gorias (Esl.: Gurij), Samonas e Habib, mártires (início do séc. IV)
Início do Jejum da Natividade


Os santos Gorias e Samonas foram presos durante a perseguição de Diocleciano. Como eles se recusaram a render sacrifícios aos deuses pagãos, foram pendurados pelas mãos com pesos amarrados aos pés. Depois, passaram três dias no interior de um horrível calabouço, sem comer ou beber. Quando foram retirados de lá, Gorias estava agonizante. Samonas foi cruelmente torturado mais uma vez, mas permaneceu firme na fé. Ambos morreram decapitados. 
Mais tarde, um diácono de Edessa de nome Habib, escondeu-se durante a perseguição de Licínio, mas finalmente se entregou para também ganhar a coroa do martírio. O magistrado perante o qual compareceu, fez a tentativa de convencê-lo a abjurar a fé e, em troca, escapar com vida, mas Habib se recusou a isso, sendo por isso condenado à fogueira. Sua mãe e outros parentes acompanharam até o local da execução. Os carrascos deram permissão para que se desse o beijo da paz entre eles, antes de serem atirados às chamas. Os cristãos recolheram depois o corpo do mártir, que o fogo não havia consumido, e sepultaram-no num local próximo de seus companheiros e amigos Gorias e Samonas.  As relíquias desses mártires estão conservadas num dos dois principais santuários de Edessa, na Síria

2 Tessalonicenses 3:6-18

Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão. Ora, o mesmo Senhor da paz vos dê sempre paz de toda a maneira.O Senhor seja com todos vós. Saudação da minha própria mão, de mim, Paulo, que é o sinal em todas as epístolas; assim escrevo. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém.

Lucas 16:15-18; 17:1-4

E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação. A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei. Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.¶ E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos. Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.



quinta-feira, 27 de novembro de 2014

25ª Quinta-feira Depois de Pentecostes

27 de Novembro de 2014 (CC) / 14 de Novembro (CE)
Santo Apóstolo Felipe, digno de toda a honra (séc. I)



Filipe era um dos doze Apóstolos. Todos os evangelistas fazem referência a ele, porém, São João o citou mais que os outros, provavelmente, porque fosse amigo muito próximo de Filipe. Os textos evangélicos mostram que Filipe teve contato com São João Batista; talvez até tenha sido um de seus discípulos e tenha ouvido da boca de João: «Eis aqui o Cordeiro de Deus!». 
Outros dos discípulos de Jesus era André, o Primeiro a ser Chamado, conforme reconhece a Tradição. Ambos, Filipe e André, juntos, como nos revelam os capítulos 6 e 12 do evangelho de São João; mais provavelmente é que ambos fizessem parte de um grupo que estudava as Leis e os Profetas, e discutiam sobre o perfil do Messias esperado. Natanael também pertencia a este grupo, pois Filipe, ao encontrar o Senhor, foi ao seu encontro para dizer-lhe: «Aquele sobre o qual escreveu Moisés na Lei e também os Profetas, nós o encontramos: Jesus, o filho de José…» 
O caráter de Filipe, como é manifestado no Evangelho segundo São João, em certo sentido, parece ao de Tomé: um homem tranqüilo, espontâneo, prático, que buscava fazer sua própria experiência e ser convencido mais pelo toque que pelas palavras. Tanto é que, quando Jesus falava aos discípulos acerca do Pai que «…desde agora o conheceis, e o tendes visto»… Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta»… Mas, Jesus o repreendeu, orientando a sua fé:  «Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?» 
A respeito de sua pregação depois da Ascensão de Senhor e de Pentecostes, a Tradição nos informa que esteve pregando na Ásia Menor, junto com Bartolomeu (também chamado de Natanael), tendo alcançado lá tanto êxito a ponto de converter a própria esposa do governador da Ásia. Furiosos, os pagãos o tomaram, arrastando-o pelas ruas da cidade e, finalmente, o crucificaram com a cabeça voltada para o chão. Seu martírio aconteceu nos anos 80 da era cristã. Mais tarde, suas relíquias foram trasladadas à Roma. 
Pelas intercessões do Apóstolo São Filipe, Senhor Jesus Cristo nosso Deus, tem piedade de nós e salva-nos! 

COMEMORAÇÃO DO APÓSTOLO FILIPE  
Troparion Modo III
Ó santo apóstolo Filipe 
suplica ao Deus misericordioso
que conceda às nossa almas 
a remissão das transgressões.

Kontakion, Modo VIII
Teu discípulo, amigo, 
e imitador do Teu sofrimento, Filipe,
portador de Divina Eloquência, 
Te proclamou ao mundo como Deus; 
por suas orações e da Theotokos, 
preserva Tua Igreja e toda a cidade 
dos inimigos mais iníquos, ó Clementíssimo. 

LEITURAS COMEMORATIVAS 
1 Coríntios 4:9-16; João 1:43-51 


LEITURAS ORDINÁRIAS

2 Tessalonicenses 2:13-3:5

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra. No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós; para que sejamos livres de homens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos. Mas fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno. E confiamos quanto a vós no Senhor, que não só fazeis como fareis o que vos mandamos. Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo.

Lucas 16:1-9

E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinquenta. Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta. E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.



REFLEXÃO

São Autênticas Riquezas Aquelas Que, Uma Vez Possuídas, Não Podemos Perder.

Usai o dinheiro injusto para fazer amigos. Acaso Zaqueu possuía suas riquezas de forma justa? Leiam e vejam. Era o chefe dos publicanos, ou seja, aquele a quem eram entregues os tributos públicos. Dali tirou as suas riquezas. Tinha oprimido a muitos; tinha roubado a muitos, tinha armazenado muito. Cristo entrou em sua casa e a salvação chegou a ele, pois o Senhor afirma: Hoje entrou a salvação nesta casa.

Contemplai agora em que consiste a salvação. Inicialmente desejava ver ao Senhor, pois tinha baixa estatura. Como a multidão o impedia, subiu num sicômoro e o viu quando passava. Jesus o viu e disse: Zaqueu, desce. Convém que hoje eu fique em tua casa. Estás suspenso, mas não te mantenho no ar, ou seja, não dou tempo ao tempo. Querias ver-me ao passar; hoje me encontrarás habitando em tua casa. O Senhor entrou nela. Zaqueu, cheio de alegria, disse: Darei aos pobres a metade dos meus bens.

Veja como corre quem se apressa a usar o dinheiro injusto para fazer o bem com aquilo, que tu não permaneças sendo mau. As tuas moedas se convertem em bem e tu vais continuar sendo mau?

Pode-se entender também de outra maneira; não a calarei. O dinheiro injusto são as riquezas do mundo, procedam de onde procedam. De qualquer forma que se acumulem, são riquezas injustas. O que significa “são riquezas injustas”? É ao dinheiro que a injustiça chama com o nome de riquezas. Se tu buscas as verdadeiras riquezas, são outras. Nelas abundava Jó, ainda que estivesse nu, quando tinha o coração cheio de Deus e, tendo perdido tudo, proferia louvores a Deus, qual pedras preciosas. De que tesouro se nada possuía?

Essas são as verdadeiras riquezas. As outras somente a injustiça as denomina assim. Se as tens, não te reprovo: recebeu uma herança, teu pai ficou rico e as legou para ti. As adquiriste honestamente. Tu tens a casa cheia como fruto dos teus trabalhos, não te reprovo. Contudo, não as chames riquezas, porque, se fazes isto, as amarás e, se as amares, perecerás com elas. Perde-as, para que tu não pereças; doa-as, para adquiri-las; semeia-as, para colhê-las.

Não as chames riquezas, porque não são as verdadeiras. Estão cheias de pobreza e sempre sujeitas a infortúnios. Como chamar riquezas ao que te faz ter medo do ladrão, te leva a sentir medo do teu criado, medo de que te mate, que as pegue e fuja? Se fossem verdadeiras riquezas, te dariam segurança.

Portanto, são autênticas riquezas aquelas que, uma vez possuídas, não podemos perder. E para não ter medo do ladrão por causa delas, estejam ali onde ninguém as arrebata. Escuta ao Senhor: Acumulai vossos tesouros no céu, onde o ladrão não entra. Então serão autênticas riquezas: quando as mudes de lugar. Enquanto estão na terra, não são riquezas. Porém, o mundo, a injustiça, as denominam riquezas. Por isso Deus as chama dinheiro da injustiça, porque é a injustiça quem as denomina riquezas.


Bendito Agostinho, bispo de Hipona (séc. V)




Sobre a Perfeita Fé Em Deus

Querendo o Senhor conduzir seus discípulos para a fé perfeita, disse no Evangelho: Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. O que são as coisas pequenas? O que são as grandes? As pequenas são os bens desta vida, que ele prometeu dar aos que creem nele, tais como o sustento, as vestes e outras necessidades corporais, como a saúde e coisas do tipo, ordenando-nos categoricamente que não andemos preocupados com elas, mas esperemos com confiança nele, pois Deus é a providência daqueles que a ele se acolhem, providência total e segura.

As coisas grandes são os dons da vida eterna e incorruptível, que ele prometeu a quantos creiam nele e aos que continuamente estão dependentes destas coisas e a ele buscam em suas necessidades, porque assim está ordenado: Vós, porém, buscai sobretudo o Reino de Deus e a sua justiça, e as outras coisas vos serão dadas por acréscimo. Nestas coisas pequenas e temporais se demonstrará se alguém crê em Deus, que prometeu concedê-las para nós, na condição, porém, de que não andemos oprimidos por elas, mas unicamente nos preocupemos das realidades futuras e eternas.

E ficará perfeitamente estabelecido que alguém crê nos bens incorruptíveis e busca de verdade os bens eternos se conserva uma fé sadia nestes bens. De fato, cada um dos que aceitaram a palavra de verdade deve provar-se e examinar-se a si mesmo, ou ser examinado e provado por mestres do espírito, sobre quais são as razões de sua fé e quais as motivações de sua entrega a Deus: deve ponderar se crê realmente e de verdade apoiado na Palavra de Deus, ou se crê mais induzido pela opinião que formou sobre a justificação e a fé.

Toda pessoa tem ao seu alcance a possibilidade de comprovar e demonstrar-se a si mesmo se é fiel nas pequenas coisas – refiro-me aos bens temporais. De que forma? Escuta: Te crês digno do Reino dos Céus? Te confessas filho de Deus nascido do alto? Te consideras co-herdeiro de Cristo, destinado a reinar eternamente com ele e a gozar das delícias na misteriosa luz por séculos incontáveis e infinitos, assim como Deus? Me contestarás, sem dúvida: Certamente. Essa é precisamente a razão pela qual deixei o mundo e me entreguei em corpo e alma ao Senhor.

Examina-te, portanto, e observa se as preocupações terrenas ainda não te retêm, ou o desmedido cuidado do sustento e da veste corporal, ou também outros interesses e o conforto, como se tu fosses capaz de prover-te por ti mesmo do que te foi ordenado de não preocupar-te de forma alguma, ou seja, de tua vida. Pois se estás convencido de poder alcançar os bens imortais, eternos, permanentes e carentes de inveja, muito mais convencido têm de estar de que o Senhor te concederá estes bens efêmeros e terrenos, que ele concede inclusive aos homens ímpios e até aos próprios pássaros, havendo-te ele mesmo ensinado a não preocupar-te com nada destas coisas.

Portanto, você, que te fizeste peregrino deste mundo, deves obter uma fé nova e peregrina, um modo de pensar e de viver superior ao de todos os homens deste mundo. Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo pelos séculos. Amém.”


Anônimo do Séc. IV








quarta-feira, 26 de novembro de 2014

25ª Quarta-feira Depois de Pentecostes


26 de Novembro de 2014 (CC) / 13 de Novembro (CE)
São João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla († 407)
Sem Jejum



São João Crisóstomo nasceu na cidade de Antioquia, cresceu no meio da multidão sem se deixar contaminar por ela. Conheceu os pobres e desafortunados e soube amá-los como eram. Sua família era culta e possuía muitos bens. O pai de João, oficial de alto nível, morrera jovem. Desde criança foi educado pela mãe, mulher admirável que, aos vinte anos, sacrificou sua juventude, renunciou a novas núpcias, para dedicar-se inteiramente a seu filho. João recebeu o Batismo mais ou menos aos dezoito anos de idade. Concluídos de forma brilhante os seus estudos de cultura geral, retórica e filosofia, renunciou a uma carreira que se apresentava promissora para receber as ordens menores. Quis partir para o deserto, mas sua mãe, que por ele sacrificara tudo, não lho permitiu. Fugiu, então, da agitação de Antioquia e estabeleceu-se fora das portas da cidade, a fim de encontrar a paz, consagrando-se à ascese e ao estudo bíblico. Antioquia era um centro teológico de grande reputação. João aprende lá de forma brilhante a exegese bíblica. Depois passou a viver nas montanhas entre monges uma vida austera a ponto de prejudicar sua saúde. Após algum tempo nas montanhas, achou-se preparado para enfrentar a ação missionária. O amor aos outros, mais do que sua saúde abalada, fê-lo voltar a Antioquia, onde o bispo Melécio o ordenou diácono, em 381. 
Escreveu aos 34 anos o tratado sobre o Sacerdócio, que é conhecido e estudado até os nossos dias. Com 39 anos foi ordenado padre. Consagrou-se à pregação, substituindo o bispo, nas homilias pois esse era pouco dotado para falar. 
Durante doze anos, pregou ao povo contra o paganismo e tinha esperança de transformá-lo em gente de fé cristã. É dele a frase: “Basta um só homem, para reformar todo um povo.” 
Sua tarefa era séria. Precisava denunciar os abusos existentes no interior da Igreja e na sociedade; defender os pobres, clamar contra as injustiças sociais. Manteve ainda uma intensa atividade literária, respondendo a todos os que lhe pediam conselho. 
A maioria de suas homilias era comentários a respeito do Antigo e o Novo Testamento : explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos. O que fazia com mais agrado era pregar sobre o Evangelho. Comentou longamente o de Mateus e o de João. São Paulo era seu autor preferido: sentia afinidade com o Apóstolo dos gentios. Cognominaram-no de o “novo Paulo”. 
Resta-nos, de João Crisóstomo, uma série de catequeses batismais, que preparavam os catecúmenos para o batismo. As últimas foram reencontradas em 1955, no monte Atos. João Crisóstomo era um orador nato e igualmente um moralista que analisava os segredos do coração em profundidade e com rara psicologia. O povo de Antioquia sabia que João só repreendia para corrigir e para converter. 
Inúmeras vezes João tomou a defesa dos pobres e dos infelizes, dos que morriam de fome e sede. Com veemência, João-Boca-de-Ouro ergueu sua voz contra os flagelos sociais, o luxo e a cobiça. Lembrou a dignidade do homem, mesmo pobre, e os limites da propriedade. Dizia: “Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das prisões, da nudez.” 
A fama de João ultrapassava as fronteiras de Antioquia e chegava à nova capital do império. Em 397, o bispo da capital, Nectário, que sucedera a Gregório Nazianzeno, acabava de morrer. Intimado a comparecer à Capital do Império, foi eleito o Bispo de Constantinopla, a Sé do Oriente. João começou uma grande reforma, desembaraçando a casa episcopal do luxo, fazia suas refeições sozinho e acabou com as recepções suntuosas. Reformou as ordens de vida dos clérigos e dos monges, organizou a Reforma Litúrgica com a preocupação de levar Deus aos homens pela Divina Liturgia. 
O texto da Divina Liturgia, que toda a Igreja Ortodoxa celebra em todo o mundo, é conhecida como sendo de São João Crisóstomo. 
Empreendeu a evangelização das zonas agrícolas e esforçou-se para trazer à ortodoxia aos pagãos, que eram numerosos na região. Combateu as seitas heréticas com intransigência e rudeza. 
Em 402, São João Crisóstomo foi deposto e exilado acusado de não coadunar os interesses da Igreja com as do Império. O bispo foi detido em sua catedral, durante a celebração pascal. Depois de uma palavra de despedida, João deixou a sua igreja que jamais haveria de rever. O exílio foi penoso. João foi enviado para uma aldeia, Cucusa, na fronteira com a Armênia. 
A saúde do bispo achava-se enfraquecida. O clima era duro e desfavorável para o seu estado. A maior parte de suas cartas data dessa época. Este homem atingido em cheio pela provação procurou mais consolar do que ser consolado. 
No sofrimento, pensava nos outros. Finalmente morreu, no dia 14 de setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. Suas últimas palavras foram: “Glória a Deus por tudo.” 
Os contemporâneos descrevem-nos João Crisóstomo como um homem de estatura baixa, de rosto magro, de testa enrugada, de cabeça calva. Tinha voz fraca. As austeridades comprometeram definitivamente sua saúde. Não falava para ser escutado, falava para instruir, exortar, reformar, preocupado com o combate aos costumes pagãos e com a instauração da moral do Evangelho. Era um reformador, um missionário. Se não era um teólogo original, era um pastor incomparável. Sua pregação desempenhou na liturgia Ortodoxa o mesmo papel que a de Agostinho no Ocidente. Ele foi lido, copiado, traduzido, imitado.

COMEMORAÇÃO DE SÃO JOÃO CRISÓSTOMO  
Tropário de São João Crisóstomo
Como uma lâmpada resplandecente
Assim brilhou a graça da tua boca
Iluminando o Universo
Conservando para o mundo
Oprecioso tesouro do desprendimento do dinheiro
Fazendo-nos ver claramente a excelência da humildade.
Por isso, ó santo Padre João Crisóstomo, cujas palavras edificam os homens,
Roga a Cristo, Verbo de Deus, que salve as nossas almas!  


MATINAS  
João 10:1-9
 LITURGIA 
Hebreus 7:26-8:2; João 10:9-16 St. John 



LEITURAS DO DIA

2 Tessalonicenses 2:1-12


Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade.

Lucas 15:1-10

E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, jubiloso; e, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.




REFLEXÃO


São Pedro Crisólogo



“Cristo Nos Buscou Na Terra; Nós devemos Buscá-lo No Céu”

Ocorre sempre, essa é a verdade, que, ao encontrar o que tínhamos perdido, inauguramos um novo caudal de alegria, e nos é mais grato falar do perdido, que não ter perdido o que com empenho guardamos. No entanto, esta parábola é mais uma ponderação da misericórdia divina que a constatação de um costume humano; e expressa uma grande verdade. Abandonar as grandes coisas e amar as coisas pequenas é próprio do poder divino, não da cobiça humana: pois Deus chama ao ser o que não existe, e de tal forma vai à busca do perdido, que não despreza o que deixa; e de tal maneira encontra o perdido, que não perde o que estava guardado.

Não se trata, portanto, de um pastor terreno, mas celestial; e esta parábola tomada globalmente não está fundamentada sobre ocupações humanas, mas encobre mistérios divinos. O próprio fator numérico o destaca quando diz: Se alguém tem cem ovelhas e se perde uma... Já percebes como este pastor sofre a perda de uma ovelha como se todo o rebanho que tinha a sua direita tivesse derivado para a sua esquerda; e por isso, deixando as noventa e nove, vai atrás dessa única, a busca, para encontrar a todas nessa única, para reintegrá-las todas em uma.

Porém, expliquemos o segredo da celestial parábola: Esse homem que possui cem ovelhas é Cristo. O bom pastor, o pastor piedoso que em uma única ovelha, a saber, em Adão, havia personificado toda a grei do gênero humano, colocou a esta ovelha no ameno jardim do Éden, a colocou em verdes prados. Porém, ela se esqueceu da voz do pastor ao dar ouvidos aos uivos do lobo, perdeu os apriscos da salvação e acabou toda ela costurada de feridas letais. Em busca dela veio Cristo ao mundo, e a achou no seio de um campo virginal.

Veio na carne de seu nascimento e suspendendo-a sobre a cruz, a carregou sobre os ombros de sua Paixão e, no cume da alegria da ressurreição, levou-a mediante a ascensão, colocando-a no mais alto da mansão celestial. Reúne aos amigos e vizinhos, ou seja, aos anjos, e lhes diz: Felicitai-me! Encontrei a ovelha que tinha perdido.

Felicitam-se e se congratulam os anjos com Cristo pelo retorno da ovelha do Senhor, nem se sentem indignados por vê-la presidir-lhes desde o próprio trono da majestade, pois a inveja foi afugentada do céu com a expulsão do diabo, nem era possível que o pecado da inveja penetrasse nas mansões eternas através do Cordeiro que tinha tirado o pecado do mundo. Irmãos, Cristo buscou-nos na terra: o busquemos no céu; ele nos conduziu para a glória de sua divindade: o levemos em nosso corpo com toda santidade: Glorificai – diz o apóstolo – e levai a Deus em vosso corpo. Leva a Deus em seu corpo aquele que não carrega com pecado algum nas obras de sua carne.


São Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena (séc. V)



São Gregório, o Grande



Existe Mais Alegria No Céu Pela Conversão do Pecador 
do Que Pela Perseverança do Justo

Eu vos digo que haverá mais alegria no céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão. Devemos considerar, meus irmãos, por que o Senhor diz que existe no céu maior alegria na conversão dos pecadores do que na perseverança dos justos; e é pelo mesmo que estamos vendo todos os dias, ou seja, porque muitas vezes aqueles que sabem que não estão contaminados pelos pecadores se encontram, sim, no caminho da justiça, não cometem nenhuma coisa ilícita, mas, no entanto, não desejam ansiosamente irem para a pátria celestial, e se permitem usar das coisas lícitas, enquanto lembram-se de não ter cometido nada de ilícito. E muitas vezes são fracos para praticar as principais virtudes, porque estão muito seguros de que não cometeram nenhuma falta grave.

Mas, pelo contrário, algumas vezes aqueles que sabem que fizeram alguma coisa ilícita, oprimidos por sua própria dor, incendeiam-se no amor de Deus, exercitam-se nas maiores virtudes, empreendem com santo valor tudo que é mais difícil, deixam todas as coisas deste mundo, fogem das honras, alegram-se com as afrontas que lhes são inferidas, ardem em santos desejos e anelam ir para a pátria celestial, e considerando que se afastaram de Deus, recompensam os prejuízos precedentes com os bens que alcançam depois.

Portanto, existe mais alegria no céu pela conversão do pecador do que pela perseverança do justo, porque um capitão ama mais numa batalha aquele soldado que, tendo voltado ao combate após ter fugido, ataca com coragem o inimigo, que ao outro que, embora nunca tenha voltado às costas, contudo, também nunca fez nada de valor. Assim também o lavrador estima mais aquela terra que, depois de ter ervas daninhas, dá abundantes frutos, que aquela que nunca teve espinhos, porém tampouco produz messe em abundância.

Apesar do que foi dito, devemos considerar também que existem muitos justos, em cuja vida existe tanta alegria, que de nenhuma forma será postergada aquela que se experimenta com qualquer penitência dos pecadores. Pois muitos justos sabem perfeitamente que não têm pecado algum e, contudo, afligem-se de tal maneira como se estivessem manchados com todos os pecados do mundo.

Privam-se de todas as coisas, até mesmo das lícitas; submetem-se com abnegação ao desprezo do mundo, não querem permitir-se nem sequer as menores coisas; abstêm-se dos bens, mesmo daqueles que lhes foram concedidos; alegram-se com os seus sofrimentos e se humilham em todas as coisas; e, como alguns, choram: os pecados de atos, lamentam os pecados de pensamento.

Como se há de chamar a estes, senão justos e penitentes, que se humilham no pecado de pensamento e perseveram sempre retos nas obras? Daqui temos de inferir quão grande será o gozo do Senhor quando humildemente chora o justo, sendo que há alegria no céu quando o injusto reprova pela penitência o mal que fez.”


São Gregório, o Grande, Papa de Roma (séc. VI)







terça-feira, 25 de novembro de 2014

25ª Terça-feira Depois de Pentecostes

25 de Novembro de 2014 (CC) / 12 de Novembro (CE)
Ss. João, o Misericordioso, Patriarca de Alejandría; 
Nilo, o Jejuador do Sinaí, Profeta († 430) e Ajías, filho de Ajitub; 
Santo Ícone da Mãe de Deus, a Misericordiosa. 


Entre os discípulos de São João Crisóstomo havia um, de nome Nilo, que ocupava um alto cargo em Constantinopla. Era casado e tinha dois filhos. Quando estes já se encontravam crescidos, Nilo sentiu-se fortemente chamado à vida eremítica, entrando em acordo com sua esposa para que ambos deixassem a vida do mundo. Seu filho, Teódulo, partiu com ele e se estabeleceram junto aos monges de Monte Sinai. Daí, Nilo escreveu cartas de protesto ao imperador Arcádio quando este ordenou o desterro de São João Crisóstomo de Constantinopla. Tempos mais tarde, os árabes saquearam o monastério, mataram muitos monges sinaítas, levando como prisioneiro seu filho Teódulo. Nilo então os seguiu na esperança de poder resgatar seu filho. Finalmente o encontrou em Eleusa, ao sul de Beersheba, já que o bispo desta cidade, compadecido da sorte de Teódulo, o comprara dos árabes, dando a ele trabalho na igreja. O bispo de Eleusa conferiu a ordenação sacerdotal a Nilo e ao seu filho, antes que partissem de volta ao Monte Sinai. São Nilo tornou-se bastante conhecido por seus escritos teológicos, bíblicos e, sobretudo, pelos escritos ascéticos que são atribuídos à sua autoria. Em seu Tratado Sobre a Oração recomenda-nos que peçamos a Deus, antes de tudo, o dom da oração, e que supliquemos ao Espírito Santo que Ele faça brotar em nosssos corações os desejos que lhes são irresistíveis; recomenda-nos ainda que peçamos a Deus que se faça a Sua vontade da forma mais perfeita possível. Às pessoas que vivem no mundo, Nilo prega a temperança, a meditação sobre a morte e a obrigação da caridade. 
São Nilo sempre esteve pronto a comunicar aos outros os seus conhecimentos ascéticos. As suas cartas, que foram conservadas, mostram quão longe havia chegado na vida interior e no estudo da Sagrada Escritura, e quão frequentemente recorriam a ele pessoas de todas os níveis sociais, para buscar orientação espiritual. Uma dessas cartas constitui a resposta de São Nilo ao prefeito Olimpiodoro, ele que havia construído uma igreja e queria saber se podia adorná-la com mosaicos  com temas profanos, cenas de caça, imagens de pássaros, animais e outras coisas assim. São Nilo reprovou a idéia e aconselhou Olimpiodoro a colocar cenas do Antigo e do Novo Testamento para «instruir aqueles que não sabem ler». Acrescentou que deve haver apenas uma cruz, situada no ponto principal da igreja. São Nilo escreveu um tratado inteiro para demonstrar que a vida de eremita é melhor do que a dos monges que vivem em comunidade (vida cenobítica), nas cidades, mas também constata que os eremitas têm as suas dificuldades e provações próprias. O santo era experimentado nisso, já que havia enfrentado violentas tentações, prturbações e assaltos dos espíritos maus. São Nilo escreveu a certo «Etilita» que o seu retiro para o alto lhe havia sido indicado pela soberba: «Quem se exalta será humilhado». 

II – São Nilo, Asceta 
São Nilo do Sinai é também conhecido como São Nilo, o Asceta, São Nilo, o Velho e São Nilo, o Sábio. 
Era um oficial bizantino e parece que foi um prefeito pretoriano. Casado e pai de dois filhos. Quando os filhos cresceram, Nilo e esposa  concordaram em se separarem e levar uma vida dedicada a Deus. Ele foi monge no Monte Sinai com o seu filho Teódulo. Após alguns anos no Monte Sinai, os árabes raptaram Teódulo. Nilo saiu a sua procura e o encontrou em Eleusa, na Palestina, onde o Bispo tinha resgatado Teódulo da escravidão e o colocou como porteiro da sua igreja. O bispo ordenou a ambos e ele retornou ao Sinai. Notável conhecedor de assuntos teológicos e autor de vários livros, seus escritos influenciaram a Igreja Oriental. Bispo de Ancyra, (hoje Ankara – Turquia) amigo e conselheiro de São João Crisóstomo, nasceu no 4°  século em Bizancio, e faleceu no ano  430 de causas naturais.  
A Profecia atribuida a São Nilo 
Antes de apresentarmos essa Profecia, é bom fazer algumas considerações iniciais, para que a sua simples leitura não seja superficial, nem passem desapercebidas as coisas e acontecimentos que ela nos revela.  Essa profecia tem mais de 1570 anos, o que equivale a mais de XV séculos e meio, e é de estilo Apocalíptico. Humanamente falando, é absolutamente impossível que um homem, sem a ajuda de Deus, possa conhecer o futuro, dizendo, com incrível precisão, as coisas que estão por acontecer. A indicação da época em que esta viria realizar-se e a sua realização revela a sobrenaturalidade da profecia, ou seja, faz-nos ver que foi Deus que falou, afastando, assim, a argumentação de que sua realização seja apenas uma mera coincidência, ou fruto de uma interpretação comodata dos textos proféticos da Bíblia. A predição da época, e a sua realização, é um testemunho que faz brilhar a onisciência de Deus, e sinal de que a Profecia não veio do homem, mas de Deus. Ora, nem o homem e, segundo a teologia, nem os Anjos e nem os Demônios podem conhecer, com certeza, o que irá acontecer, porque têm a inteligência limitada. Deus, porém, pode conhecer, com certeza, o que irá acontecer, num futuro próximo ou longínquo, porque sua inteligência é ilimitada, ou seja, compreende tudo: o presente, o passado e o futuro. A inteligência do homem mau compreende o presente; a do Anjo compreende o presente e o passado; e tanto um como o outro, não podem, de maneira absoluta, conhecer o futuro. Portanto, a Profecia de São Nilo, que trás a compreensão exata de coisas futuras, que viriam acontecer XV séculos depois de sua predição, só pode ter a Deus por autor. Deus quis, por meio dessa Profecia, assistir à sua Igreja, nestes tempos conturbados pelo qual ela está passando, porque essa Profecia é um Dom do Espírito Santo, o qual foi prometido aos Apóstolos para guiar toda a Igreja no caminho da verdade como tal, conforme disse nosso Senhor Jesus Cristo: “Quando vier, porém, o Espírito de verdade, ele vos guiará no caminho da verdade integral, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-se-vos-á as coisas que estão para vir.” (Jô. 16, 13).  As “coisas que estão para vir” são todas aquelas “coisas” que foram profetizadas por nosso Senhor Jesus Cristo, pelos Profetas e pelos Santos Apóstolos, ou seja, as “coisas que estão para vir” são as Profecias que dizem respeito ao final dos tempos e sobre a aparição do Anticristo. 
A Profecia de São Nilo anuncia, de maneira extraordinária, o tempo em que os sinais da Parusia, profetizados por nosso Senhor Jesus Cristo e pelos Santos Apóstolos, viriam acontecer. Embora a Profecia de São Nilo indique a época de sua realização, isto não contradiz em nada o que está escrito: “Mas, quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os Anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai”. (Mt. 24, 36).  Não contradiz, porque a Profecia indica o século que se inicia, e não o dia e a hora, em que os sinais ali descritos viriam acontecer, como anúncio da aparição do Anticristo e do fim dos tempos. 
A Vinda do Anticristo 
Depois do ano 1900, por meados do século XX, as pessoas desse tempo tornar-se-ão irreconhecíveis …  Quando se aproximar o tempo da vinda do Anticristo, a inteligência dos homens será obscurecida pelas paixões carnais: a degradação e o desregramento acentuar-se-ão. O mundo, então, tornar-se-á irreconhecível. As pessoas mudarão de aparência, e será impossível distinguir os homens das mulheres, por causa do atrevimento na maneira de se vestir e na moda de seus cabelos.  Essas pessoas serão desumanas e como autênticos animais selvagens, por causa das tentações do anticristo. Não se respeitará mais os pais e os mais idoso. O amor desaparecerá. E os pastores cristãos, bispos e sacerdotes, serão homens frívolos, completamente incapazes de distinguir o caminho à direita, ou à esquerda. Nesse tempo as leis morais e as tradições dos cristãos e da Igreja mudarão. As pessoas não praticarão mais a modéstia e reinará a dissipação! A mentira e a cobiça atingirão grandes proporções, e infelizes daqueles que acumularão riquezas! A luxúria, o adultério, a homossexualidade, as ações secretas e a morte serão a regra da sociedade. Nesse tempo futuro, devido o poder de tão grandes crimes e de uma tal devassidão, as pessoas serão privadas da graça do Espírito Santo, recebida no seu batismo, e nem sequer sentirão remorsos. As Igrejas serão privadas de pastores piedosos e tementes a Deus, e infelizes dos cristãos que restarem sobre a terra, nesse momento! Eles perderão completamente a sua Fé, porque não haverá quem lhes mostre a luz da verdade. Eles se afastarão do mundo, refugiando-se em lugares santos, na intenção de aliviar os seus sofrimentos espirituais, mas, em toda a parte, só encontrarão obstáculos e contrariedades. Tudo isto resultará do fato de que o Anticristo deseja ser o senhor de todas as coisas, e se tornar o mestre de todo o Universo. Ele realizará milagres e sinais inexplicáveis. Dará também a um homem sem valor uma sabedoria depravada, a fim de descobrir um modo pelo qual um homem possa ter uma conversa com outro, de um canto ao outro da terra. Nesse tempo, os homens também voarão pelos ares como os pássaros, e descerão ao seio do oceano como os peixes. E quando isso acontecer, infelizmente, essas pessoas verão as suas vidas rodeadas de conforto, sem saber, pobres almas, que tudo isso é uma fraude de Satanás. E ele, o ímpio, inflará a ciência da vaidade, a tal ponto que ela se afastará do caminho certo e conduzirá as pessoas à perda da Fé na existência de Deus, de um Deus em Três Pessoas… 
Então, Deus, infinitamente Bom, verá a decadência da raça humana, e abreviará os dias, por amor do pequeno número daqueles que deverão ser salvos, porque o Inimigo desejaria arrastar mesmo os eleitos à tentação, se isso fosse possível. Então a espada do castigo aparecerá de repente e derrubará o corruptor e seus servidores.” (Bibl. Sanctorum, v. IX, p. 1008.).
Se compararmos a Profecia de São Nilo com todas as Profecias Bíblicas, de estilo apocalíptico, notaremos uma identidade de idéias muito profundas, de forma que elas se compreendem e se completam. As profecias Bíblicas que tratam sobre o “Fim dos Tempos” e sobre a “Vinda do Anticristo”, descrevem de forma extraordinária todos os sinais que acontecerão naqueles dias, mas só que não revelam o tempo exato em que estas coisas viriam a se realizar, ao passo que São Nilo, ao tratar sobre o mesmo assunto, indica o tempo em que tudo isso viria a acontecer. Por isto a Profecia de São Nilo torna-se uma interpretação divina e profética das Escrituras


LITURGIA

1 Tessalonicenses 1:1-10-2:2

Quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós). Por isso também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a obra da fé com poder; para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.¶ Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.

Lucas 14:25-35

Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe: Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz. Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo. Bom é o sal; mas, se o sal degenerar, com que se há de salgar? Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.




REFLEXÃO





Sobre as Três Renúncias


Cabe-nos agora falar das renúncias. Tanto a tradição dos padres como a autoridade das Sagradas Escrituras demonstram que são três renúncias que cada um de nós há de trabalhar com afinco para colocá-las em prática.

Mediante a primeira desprezamos todas as riquezas e bens materiais do mundo; mediante a segunda desprezamos os costumes, vícios e paixões da vida passada, tanto da alma como da carne; mediante a terceira afastamos o pensamento de todos os bens presentes e visíveis, para centrar-nos exclusivamente na contemplação das realidades futuras e no anelo do invisível. Que estas três renúncias devem ser praticadas lemos que o Senhor já ordenara a Abraão, quando disse: Sai da tua terra, de tua pátria e da casa de teu pai.

Primeiro ele disse: Sai de tua terra, isto é, dos bens deste mundo e das riquezas terrenas; em segundo lugar: sai da tua pátria, isto é, do modo de viver, dos costumes e vícios do passado, todas elas coisas tão estritamente vinculadas a nós desde o nosso nascimento, que se converteram em nossos parentes baseado em uma espécie de afinidade e consanguinidade; em terceiro lugar: sai da casa de teu pai, ou seja, de toda memória deste mundo e que se encontra debaixo do campo de observação de nossos olhos. E saindo com o coração desta casa temporal e visível, dirigimos os nossos olhos e nosso contemplar para aquela casa na qual habitaremos para sempre. O que cumpriremos quando, sendo homens e procedendo como tais, começarmos a militar nas fileiras do Senhor guiados não por objetivos humanos, confirmando com as obras e a virtude aquela sentença do bem-aventurado apóstolo: Nós, pelo contrário, somos cidadãos do céu.

Por este motivo, de nada nos adiantaria ter empreendido com toda a devoção de nossa fé a primeira renúncia, se não colocássemos em obra a segunda com o mesmo empenho e idêntico ardor. E assim, uma vez alcançada esta, poderemos chegar também àquela terceira renúncia, mediante a qual, saindo da casa de nosso primeiro pai, centramos toda a atenção de nossa alma nos bens celestiais.

Assim, mereceremos alcançar a verdadeira perfeição da terceira renúncia quando nosso espírito, não debilitado por contágio algum de estupidez carnal, mas purificado de todo afeto e apego terreno mediante um notável trabalho de acabamento, através da incessante meditação das divinas Escrituras e o exercício da contemplação, se houvesse transladado de tal modo ao mundo do invisível que, atento somente às realidades soberanas e incorpóreas, não perceba que está ainda envolto na fragilidade da carne e circunscrito a um determinado lugar.

São João Cassiano (séc. V)



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

25ª Segunda-feira Depois de Pentecostes

23 de Novembro de 2014 (CC) / 10 de Novembro (CE)
 Santos Menas, Victor, Vicente, Stefania e Teodoro, mártires (séc. I-II)



Durante o reinado do imperador Marco Aurélio (anos 161-180) na cidade de Damasco, na Síria, um cristão de nome Victor, nascido na itália,  desempenhava o ofício de guerreiro. Quando o imperador ordenou a perseguição aos cristão, o chefe do exército, Sebastião, exigiu de Victor que abjurasse sua fé em Cristo e oferecesse sacrifício aos ídolos locais. «És um guerreiro imperial e, como tal, é teu dever cumprir suas ordens», disse Sebastião. «Não», respondeu Victor. «Agora sou guerreiro do Rei Celestial e somente a Ele devo obediência, e desprezo aos repugnantes ídolos». Sebastião, ouvindo isto, deu ordens para que Victor fosse submetido a torturas. Os carrascos quebraram tão os dedos das mãos e pés de Victor. Durante as torturas que sofria São Vitor rezava a Deus e, corajosamente, suportava todos os sofrimentos que lhe impunham as torturas. Posteriormente, os carrascos obrigaram Victor a comer uma carne envenenada por um bruxo. Depois de rezar e abençoar aquela carne, o mártir Victor a comeu sem que nenhum mal lhe causasse. 
Todos ficaram impressionados com o milagre. Cumpriu-se, portanto, o que o Senhor havia prometido aos seus discípulos: «E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão». O feiticeiro, vendo que o veneno que havia introduzido no alimento nenhum mal causara a Victor, abandonou suas crenças abraçando a fé cristã. Ele, melhor que ninguém, compreendia que nenhuma força terrena poderia neutralizar seu mortal veneno. Victor, então, foi submetido a torturas ainda mais cruéis. Stefania, esposa de um dos guerreiros que torturavam Victor não suportou mais olhar os sofrimentos que aquele mártir de Cristo suportava e começou a interceder por ele. Os carrascos, enlouquecidos pelo sangue,  em vez de parar se enfureceram ainda mais com a intervenção de Stefania, vendo nela a sua nova vítima. Amarraram-na a duas palmeiras inclinadas e a fizeram em pedaços. Assim morreu Stefania, na flor de sua juventude, quando contava apenas 15 anos de idade. Depois, os torturadores seguiram torturando Victor até, finalmente, ser decapitado. Os santos mártires Victor e Stefania foram martirizados por amor a Cristo no ano 175. Antes de sua morte, Victor predisse aos torturadores que morreriam em 12 dias, e ao chefe do exército imperial, que o fariam prisioneiro em 24 horas. E assim se deu.


LITURGIA

1 Tessalonicenses 1:1-10

Paulo, e Silvano, e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses em Deus, o Pai, e no Senhor Jesus Cristo: Graça e paz tenhais de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai, sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós. E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo. De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia. Porque por vós soou a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou, de tal maneira que já dela não temos necessidade de falar coisa alguma; porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.

Lucas 14:12-15

E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos, e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos. E, ouvindo isto, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus.



REFLEXÃO



Sê Benigno Com os Irmãos Desfavorecidos

Nunca faltam hóspedes e exilados; por todas as partes podem ver-se mãos estendidas implorando uma esmola. A estes, o ar livre sob um céu estrelado lhes serve de teto; os pórticos, as encruzilhadas dos caminhos e os rincões mais afastados das praças lhes oferecem abrigo. À imitação das corujas e bufos, ocultam-se nas cavernas. Cobrem-se com vestes esfarrapadas, desgastadas e maltrapilhas. Os produtos dos campos são para eles a bondade daqueles que se compadecem de sua miséria; seu alimento é o que conseguirem recolher das pessoas de quem se aproximam; sua bebida é a mesma dos seres irracionais, ou seja, as fontes; seu copo são as conchas das mãos; seu alforje é o próprio estômago, enquanto não esteja totalmente indisposto, incapaz de cobiçar as coisas que nele se lançam. Sua mesa são os joelhos juntos; seu leito, o chão; seu banho, o que Deus proporcionou a todos, construído sem intervenção do engenho humano: o rio ou o lago. Levam uma vida errante e campesina, e não porque inicialmente optaram por este estilo de vida, mas porque as calamidades e a necessidade lhes obrigaram a isso.

Tu que jejuas, proporciona a eles o necessário para o sustento. Sê benigno com os irmãos miseráveis. Aquilo que tu subtrais ao estômago, dai ao que tem fome. Que o justo temor de Deus gere igualdade. Mediante uma modesta temperança, combina e modera duas tendências contrárias entre si: tua saciedade e a fome do irmão. Que a razão abra aos pobres as portas dos ricos. Que a prudência deixe ao necessitado rápido acesso ao abastado. Que não seja o cálculo humano o que abasteça aos indigentes, mas sim a palavra eterna de Deus a que lhes proporcione casa, leito e mesa. Com palavras transbordantes de carinho e humanismo, forneça de teus bens o necessário para a vida. Que a multidão de pobres e de enfermos encontrem em ti um refúgio seguro. Que cada um se cuide com toda dedicação de seus vizinhos. Não consintas que ninguém se antecipe a ti na solicitude, digna de recompensa para com os próximos. Cuide para que não arranquem de ti o tesouro que te está reservado.

Abraça, como ao ouro, o homem flagelado pela calamidade. Cuida de tal forma da precária saúde do pobre, como se dela dependesse o teu bem-estar, a saúde de tua mulher, a de teus filhos, a de teus servos, em uma palavra: a saúde de toda a tua família. Pois se é verdade que todos os pobres hão de ser atendidos e auxiliados, temos de cercar com uma especialíssima atenção aos enfermos. Pois aquele que é ao mesmo tempo indigente e enfermo, está atribulado por uma dupla pobreza. De fato, os pobres que possuem um corpo vigoroso, indo de porta em porta, finalmente acabarão encontrando quem lhes dê alguma coisa. Ademais, colocam-se nos locais concorridos, dirigindo-se a todos os transeuntes implorando ajuda. Já os pobres que não desfrutam de boa saúde se encontram reclusos em uma mísera choupana, ou até mesmo em um apertado canto da choupana, como Daniel na cova dos leões, e te esperam, qual outro Habacuc, a ti cheio de bondade, de preocupação e de amor para com os pobres.

Portanto, mediante a esmola, amigo do profeta; socorre o indigente prontamente e sem nenhum tipo de preguiça. Não temas, não sofrerás diminuição em teus interesses. Porque da esmola se deriva um variado e substancioso proveito. Semeia o benefício, para que possas colher o fruto e encher a tua casa de bons feixes.


São Gregório de Nissa (séc. IV)