sábado, 30 de novembro de 2019

24º Sábado Depois de Pentecostes

30 de Novembro de 2019 (CC) / 17 de Novembro (CE)
São Gregório, o Taumaturgo, bispo de Neo-Cesaréia († c. 275)
Jejum da Natividade
Tom 7

Teodoro, que mais tarde seria chamado Gregório e, por seus milagres, tornou-se conhecido como «o Taumaturgo», nasceu em Neo-Cesaréia do Ponto (Ásia). Seus pais eram de linhagem nobre e pagãos. Quando Gregório tinha catorze anos de idade, ficou órfão de pai. O jovem seguiu com sua carreira jurídica. A irmã de Gregório empreendeu uma viagem a Cesaréia da Palestina para encontrar-se com seu esposo que ocupava um cargo oficial. Gregório a acompanhou nessa viagem, bem como o seu irmão, Atenodoro, que mais tarde tornou-se bispo e muito sofreu por sua fé.

Gregório planejava exercer o ofício de advogado em seu país, porém, pouco depois de sua chegada, foi eleito bispo de Neo-Cesaréia, cidade que contava, nesta época, com apenas dezessete cristãos. Neo-Cesaréia era, nesta época, uma cidade muito rica e com uma grande população, predominando a idolatria e o vício. São Gregório, consumido pelo zelo e caridade, entregou-se energicamente no cumprimento de seus deveres pastorais, sendo agraciado por Deus com um extraordinário dom de operar milagres. São Basílio disse a seu respeito que «com a ajuda do Espírito Santo, tinha um poder formidável sobre os maus espíritos. Em certa ocasião, fez secar um lago que era motivo de disputa entre dois irmãos. Sua capacidade de prever e predizer os acontecimentos futuros o elevava a altura dos profetas. Os milagres que operava eram tão notáveis que amigos e inimigos o consideravam como um novo Moisés».

Pouco depois de tomar posse de sua sede como bispo, São Gregório foi hospedar-se na casa de Musonio, um personagem importante da cidade que lhe havia convidado para que fosse morar com ele. Nesse mesmo dia iniciou sua atividade de pregação e, antes que a noite caísse, já havia convertido um número suficiente para formar uma pequena igreja. No dia seguinte, aglomeravam-se à porta da casa de Musonio muitos enfermos aos quais Gregório restaurava a saúde, e os convertia à fé cristã. Logo os cristãos eram em tal número que Gregório pode construir uma Igreja, já que todos colaboravam com suas esmolas e trabalho. A prudência e o tato de São Gregório moviam as pessoas a buscar sua orientação acerca de questões civis e religiosas e, nesse sentido, foram de grande proveito ao santo, seus estudos dos assuntos jurídicos.

São Gregório de Nissa e seu irmão, São Basílio, ficaram sabendo através da avó, Santa Macrina, do que se dizia a respeito do Taumaturgo, já que a santa, quando ainda era pequena, vivia em Cesaréia, mais ou menos na época em que morreu São Gregório. São Basílio diz que, a vida do Taumaturgo refletia a sublimidade de seu fervor evangélico. Em suas práticas devocionais, mostrava grande reverência, recolhimento, e jamais orava com a cabeça coberta. Amava a simplicidade e modéstia nas palavras: o «sim» e o «não» constituíam a medula de suas conversações. Detestava a mentira e a falsidade; em suas palavras, tanto como em sua conduta, não havia nunca a menor sombra de cólera ou de amargura.

Quando irrompeu a perseguição aos cristãos sob o império de Décio no ano 250, São Gregório aconselhou aos cristãos que se escondessem para não ficarem expostos aos perigo de perder a fé. Ele mesmo se retirou para o deserto em companhia de um antigo sacerdote pagão a quem havia convertido e ordenado diácono para estar ao seu lado. Os perseguidores ficaram sabendo que Gregório se refugiara nas montanhas e enviaram um pelotão de soldados para que fosse capturado. Estes, porém, voltaram sem a «presa», dizendo que só haviam encontrado vegetação. Então, o homem que havia indicado o lugar onde estava escondido São Gregório foi ao bosque e encontrou o Santo e seu companheiro entregues à oração. Diante de tal quadro, compreendeu que Deus devia ter protegido aqueles dois homens, fazendo com que os soldados os confundissem com as árvores. De delator de cristãos, este homem converteu-se à fé cristã.

Depois da perseguição, teve início uma epidemia que foi seguida da invasão dos godos. Assim, não é de se estranhar que, em tais circunstâncias, não lhe tenha restado muito para escrever, pois que devia dedicar-se à sua tarefa pastoral. Ele mesmo é quem descreve as dificuldades de seu ministério na «Carta canônica», que escreveu por ocasião dos problemas causados pela invasão dos bárbaros. Diz-se que o Santo organizava entretenimento nos dias das festas dos mártires, e que isso tenha contribuído para atrair os pagãos e popularizar as reuniões religiosas entre os cristãos. Além disso, o santo estava certamente convencido de que, a diversão saudável, além das práticas religiosas, constituíam também uma maneira de venerar os mártires.

De qualquer modo, São Gregório foi, ao que se sabe, o único missionário que, durante os três primeiros séculos da Igreja, empregou tais métodos em sua ação pastoral, ele que era um grego de notável cultura.

Pouco antes de sua morte São Gregório fez investigações para verificar quantos infiéis restavam ainda na cidade e, tomando conhecimento de qu somavam dezessete, exclamou alegremente: «Graças sejam dadas a Deus! Pois, quando cheguei a esta cidade, não havia mais que dezessete cristãos». Depois de orar pela conversão dos infiéis e pela santificação daqueles que já eram agraciados com a fé no verdadeiro Deus, recomendou aos seus amigos que, quando morresse, não fosse sepultado num lugar distinto, já que havia estado no mundo como peregrino, sem buscar a si mesmo e desejava compartilhar da mesma sorte das pessoas simples depois da morte. No ano 270, São Gregório adormeceu, entregando ao Senhor sua alma em paz.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Coríntios 11:1-6

Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda.Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis. Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos. E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós.

Lucas 9:57-62

E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus. Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.


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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

24ª Sexta-feira Depois de Pentecostes

29 de Novembro de 2019 (CC) / 16 de Novembro (CE)
São Mateus, Apóstolo e Evangelista (séc. I)
Jejum da Natividade: Azeite é permitido
Tom 6



Mateus, também chamado de Levi, era filho de Alfeu, e morava na cidade de Cafarnaum. O Santo Apóstolo era um cobrador de impostos quando o Senhor o avistara em Cafarnaum e lhe dissera: “Segue-me. E ele se levantou, e O seguiu” (Mateus 9:9). Mateus preparou uma recepção para o Senhor em sua casa e, assim, deu ocasião para que o Senhor falasse aos convidados as verdades sobre a Sua vinda à Terra. 
Depois de receber o Espírito Santo, Mateus ainda pregou na Palestina por muitos anos e, durante este período escreveu o seu Evangelho, o qual fora redigido orginalmente em língua aramaica e depois traduzido para o grego. O texto aramaico não sobreviveu, mas muitas das peculiaridades linguísticas e histórico-cultural da tradução grega dão indicações do mesmo. Depois da Palestina saiu a anunciar o Reino para os sírios, partos, medos e etíopes e, nas terras da Etiópia teve o seu martírio. 
A Etiópia era uma terra habitada por tribos canibais detentoras de costumes e crenças primitivas. Após haver convertido alguns dos canibais para a fé em Cristo, Mateus fundou a Igreja e construiu um templo na cidade de Mirmena, estabelecendo ali o seu companheiro Platon como bispo, retirando-se logo após para a solidão da oração em uma montanha, onde passou a orar fervorosamente pela conversão dos etíopes. 
Um dia - enquanto orava - o Senhor lhe aparecera na forma de um jovem. Dera-lhe um cajado e ordenara-lhe que o tal fosse plantado às portas da igreja. O Senhor lhe dissera que o bastão se transformaria numa árvore que daria muitos frutos, e que de suas raízes fluiria uma corrente de água vivificante. 
Os milagres operados com o bastão atraíram a esposa e o filho do governador da terra, Fulvian, os quais eram atormentados por espíritos imundos, e em nome de Cristo, o Santo Apóstolo os curou. Este milagre converteu um grande número de pagãos ao Senhor. Mas o governador não queria que seus súditos se tornassem cristãos e que deixassem de adorar os deuses pagãos. Fulvian acusou o Apóstolo de feitiçaria e deu ordens para executá-lo. Assim, enviou soldados para prendê-lo. Os soldados enviados voltaram ao príncipe dizendo que tinham ouvido a voz de Mateus, mas não podia vê-lo com os olhos. O príncipe, então, enviou uma segunda guarnição. Quando eles se aproximaram do Apóstolo, este resplandecera uma luz celestial tão forte que os soldados não conseguiam olhar para ele e, cheios de medo, jogaram suas armas e retornaram. Então, o príncipe foi pessoalmente até Mateus para executar a prisão. Mais uma vez, o Santo Apóstolo irradiara uma luz tão intensa que o príncipe imediatamente ficara cego. No entanto, o Santo Apóstolo tinha um coração compassivo, orou a Deus, e o príncipe teve sua visão restaurada. 
Infelizmente, os olhos espirituais de Fulvian permaneceram cegos, prendeu Mateus e o submeteu a torturas cruéis. Depois mandou que se fizesse uma grande fogueira, na qual o Santo Apóstolo fora amarrado de cabeça para baixo para ser queimado vivo.  
Quando o fogo fora deflagrado, então, todos começaram a perceber que o fogo não feria São Mateus. Então Fulvian deu ordens para adicionar mais lenha na fogueira, e nada do Apóstolo ser atingido. Fulvian, estando sob grande frenesi mandou que se pusessem doze ídolos ao redor do fogo. As chamas, depois de derreterem os ídolos, se voltaram contra Fulvian. O etíope grandemente assustado virou-se para o santo com uma súplica por misericórdia; e pela oração do mártir a chama se apagou. Logo após este milagre, Mateus expirou e partiu para o Senhor, e o seu corpo permaneceu ileso. 
Fulvian arrependeu-se profundamente de seu ato, mas ainda tinha dúvidas pairavam em seu coração. Certamente, à semelhança do Faraó do Egito à época de Moisés, ele não descartava a possibilidade de Mateus ser um grande feiticeiro (pois esta era a cultura, a da feitiçaria, na qual estivera inserido durante toda a sua vida). Assim, ordenou que se pusesse o corpo de São Mateus em um caixão de ferro e o jogasse ao mar, pois Fulvian, para dirimir suas dúvidas disse que se o Deus de Mateus preservasse o corpo do Apóstolo na água, como Ele o preservou no fogo, então ele estaria certo de que o Deus anunciado por Mateus era o Único, e que somente a Ele se deveria adorar.  
Naquela mesma noite, o Apóstolo Mateus aparecera ao Bispo Platon em um sonho, e ordenara-lhe ir com o clero para a costa do mar a fim de encontrar seu corpo que se achava lá. Também Fulvian Justos e sua comitiva acompanharam o bispo até a costa do mar. O caixão transportado pelas ondas fora levado para a igreja construída pelo Apóstolo. Então Fulvian implorou perdão do Santo Apóstolo Mateus; logo após o bispo Platon o batizou, dando-lhe o nome de Mateus, em obediência a uma revelação Divina. 
Fulvian, assim como fizera São Mateus nos tempos da coletoria, abdicou do seu cargo de governador e se tornou um presbítero. Com a morte do bispo Platon, o Apóstolo Mateus lhe aparecera, exortando-o a se tornar o Chefe da Igreja Etíope. Tendo-se tornado um bispo, Mateus (Fulvian), entregou-se fervorosamente à pregação da Palavra de Deus, continuando o trabalho de seu padroeiro celestial. 
Diz-se do Apóstolo e Evangelista Mateus que ele nunca comeu carne, mas apenas vegetais e frutas.

COMEMORAÇÃO DE SÃO MATEUS

MATINAS

João 21:15-25

E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras. E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.

LITURGIA

Tropárion - Modo 3
Com zelo, seguiste Cristo, o Mestre, 
O Qual em Sua bondade apareceu na Terra para a humanidade. 
Chamando-te da coletoria, 
Ele te revelou que foste escolhido para ser apóstolo, 
proclamador do Evangelho ao mundo inteiro! 
Por isto, ó Mateus, portador de Divina eloquência,
honramos tua memória preciosa! 
Suplica ao misericordioso a remissão das transgressões de nossas almas.

Kondákion - Modo 4
Ao te desprenderes do jugo fazendário 
para se submeter ao jugo da Justiça, 
tu te revelaste um excelente negociante, 
rico na sabedoria do Alto. 
Tu proclamaste a Palavra da Verdade, e com teus escritos, despertastes as almas indolentes para a hora do Juízo.

Prokímenon Modo 8

Sua voz saiu por toda a terra,
E as suas palavras, até aos confins do mundo. (Sl 18:4)

Os céus proclamam a glória de Deus
E o firmamento anuncia a obra das suas mãos. (Sl 18:1)

1 Coríntios 4:9-16

Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos. Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.

Aleluia Modo 1

Aleluia, aleluia, aleluia
Os céus anunciarão as tuas maravilhas, ó Senhor,
E a tua verdade na assembleia dos santos. (Sl 88:5)  

Aleluia, aleluia, aleluia
Deus é glorificado na assembleia dos santos,
Grande e terrível para com todos que estão ao redor dele. (Sl 88:7)

Aleluia, aleluia, aleluia

Mateus 9:9-13

E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

24ª Quinta-feira Depois de Pentecostes

INÍCIO DA QUARESMA DE NATAL
28 de Novembro de 2019 (CC) / 15 de Novembro (CE)
Ss. Gorias (Esl.: Gurij), Samonas e Habib, mártires (início do séc. IV)
Tom 6


Diretrizes Para a Quaresma de Natal (Jejum da Natividade)
 15 de novembro (28/11)* a 24 de dezembro (06/01) 
O jejum da Natividade (Quaresma de Natal) é um dos quatro períodos canônicos de jejum do calendário eclesiástico Ortodoxo. Este é um jejum jubiloso em preparação para o Natal de Cristo. Esta é a razão pela qual é menos rigoroso do que outros períodos de jejum.  
O jejum da Natividade é dividido em dois períodos:  
O 1º período é de 28 de novembro do calendário Civil (15/11 Eclesiástico) a 01 de janeiro (19/12 C.E.), quando a disciplina do jejum tradicional (abstinência total de carne, laticínios, peixe, vinho e óleo) é observada. É permitido o consumo de vinho e óleo às terças e quintas-feiras. Da mesma forma, peixe, vinho e óleo são permitidos aos sábados e domingos. 
O 2º período é o de 2 de janeiro a 6 de janeiro do calendário civil (20 a 24 de dezembro C.E), quando a disciplina do jejum tradicional (abstinência total de carne, laticínios, peixe, vinho e óleo) é observada. O consumo de vinho e óleo é permitido apenas aos sábados e domingos durante este período.  
Estas são as diretrizes:
 CARNES 
Abstenção total de: Carne de vaca, frango, carne de porco, peru, alce, vitela, cordeiro, cervo, coelho, búfalo e assim por diante 
 LACTICÍNIOS
Abstenção Total de: Leite, ovos, queijo, manteiga, iogurte, creme, e assim por diante. 
PEIXE
É Permitido: A Ingestão de peixe com espinha dorsal apenas aos sábados e domingos antes de 20 de dezembro (02/01). Em algumas terças e quintas-feiras, o peixe também é permitido. 
Não é permitido em tempo algum: Camarão, polvo, marisco, lula, ou outros frutos do mar. 
VINHO
(Alguns incluem todos os tipos de álcool nesta categoria) 
É Permitido: Apenas às terças-feiras, quintas-feiras, sábados e domingos antes de 20 de dezembro (02/01). 
ÓLEO
(Alguns incluem todos os tipos de óleo nesta categoria) 
É Permitido: Apenas às terças-feiras, quintas-feiras, sábados, domingos e antes de 20 de dezembro (02/01). 
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No Jejum da Natividade, além das abstinências dos alimentos e bebidas acima mencionados, como de fumar. No jejum eucarístico pratica-se uma abstinência total, a partir da meia-noite anterior para comungar na Liturgia da manhã. 
O Propósito do Jejum 
O propósito do jejum é focar nas coisas do Alto, ou seja, o Reino de Deus. É um meio para se praticar as verdadeiras virtudes, aqui e agora. Pelo jejum, nos libertamos da dependência das coisas mundanas. Devemos jejuar fielmente e em segredo, não julgando os outros, e não nos pondo como exemplo. 
Jejuar em si não é um meio de agradar a Deus. O jejum não é um castigo pelos nossos pecados, e nem tão pouco um uso do sofrimento e da dor como uma espécie de expiação. Cristo já nos redimiu em Sua Cruz. A salvação é um dom de Deus que não é comprado pela nossa fome ou sede. 
Nós jejuamos para sermos libertados das paixões carnais, para que o dom de salvação de Deus possa dar fruto em nós. 
Nós jejuamos e voltamos nossos olhos para Deus em Sua Santa Igreja. Jejum e oração vão juntos.  
O jejum não é irrelevante. O jejum não é obsoleto, e não é usado em benefício de outrem. O jejum é de Deus, para nós, aqui e agora.   
Acima de tudo, não devemos nos devorar uns aos outros. Pedimos a Deus que "ponha uma sentinela que guarde a porta de nossos lábios".

Não se Deve Jejuar 
  • Entre 25 de dezembro e 5 de janeiro (mesmo às quartas e sextas-feiras); 
  • Se estiver grávida ou a amamentando um recém-nascido; 
  • Durante grave doença; 
  • Sem oração; 
  • Sem esmola; 
  • De acordo com sua própria vontade sem a orientação de seu pai espiritual. 
Fonte: 
Patriarcado de  Antioquia 
Arquidiocese da América do Norte 

Comemoração dos Santos Gorias, Samonas e Habib 
Os santos Gorias e Samonas foram presos durante a perseguição de Diocleciano. Como eles se recusaram a render sacrifícios aos deuses pagãos, foram pendurados pelas mãos com pesos amarrados aos pés. Depois, passaram três dias no interior de um horrível calabouço, sem comer ou beber. Quando foram retirados de lá, Gorias estava agonizante. Samonas foi cruelmente torturado mais uma vez, mas permaneceu firme na fé. Ambos morreram decapitados. 
Mais tarde, um diácono de Edessa de nome Habib, escondeu-se durante a perseguição de Licínio, mas finalmente se entregou para também ganhar a coroa do martírio. O magistrado perante o qual compareceu, fez a tentativa de convencê-lo a abjurar a fé e, em troca, escapar com vida, mas Habib se recusou a isso, sendo por isso condenado à fogueira. Sua mãe e outros parentes acompanharam até o local da execução. Os carrascos deram permissão para que se desse o beijo da paz entre eles, antes de serem atirados às chamas. Os cristãos recolheram depois o corpo do mártir, que o fogo não havia consumido, e sepultaram-no num local próximo de seus companheiros e amigos Gorias e Samonas.  As relíquias desses mártires estão conservadas num dos dois principais santuários de Edessa, na Síria.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

1 Tessalonicenses 5:1-8

Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios; porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam, embebedam-se de noite. Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação.

Lucas 16:1-9

E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinquenta. Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta. E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
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REFLEXÃO

São Autênticas Riquezas Aquelas Que, Uma Vez Possuídas, Não Podemos Perder.

Usai o dinheiro injusto para fazer amigos. Acaso Zaqueu possuía suas riquezas de forma justa? Leiam e vejam. Era o chefe dos publicanos, ou seja, aquele a quem eram entregues os tributos públicos. Dali tirou as suas riquezas. Tinha oprimido a muitos; tinha roubado a muitos, tinha armazenado muito. Cristo entrou em sua casa e a salvação chegou a ele, pois o Senhor afirma: Hoje entrou a salvação nesta casa.

Contemplai agora em que consiste a salvação. Inicialmente desejava ver ao Senhor, pois tinha baixa estatura. Como a multidão o impedia, subiu num sicômoro e o viu quando passava. Jesus o viu e disse: Zaqueu, desce. Convém que hoje eu fique em tua casa. Estás suspenso, mas não te mantenho no ar, ou seja, não dou tempo ao tempo. Querias ver-me ao passar; hoje me encontrarás habitando em tua casa. O Senhor entrou nela. Zaqueu, cheio de alegria, disse: Darei aos pobres a metade dos meus bens.

Veja como corre quem se apressa a usar o dinheiro injusto para fazer o bem com aquilo, que tu não permaneças sendo mau. As tuas moedas se convertem em bem e tu vais continuar sendo mau?

Pode-se entender também de outra maneira; não a calarei. O dinheiro injusto são as riquezas do mundo, procedam de onde procedam. De qualquer forma que se acumulem, são riquezas injustas. O que significa “são riquezas injustas”? É ao dinheiro que a injustiça chama com o nome de riquezas. Se tu buscas as verdadeiras riquezas, são outras. Nelas abundava Jó, ainda que estivesse nu, quando tinha o coração cheio de Deus e, tendo perdido tudo, proferia louvores a Deus, qual pedras preciosas. De que tesouro se nada possuía?

Essas são as verdadeiras riquezas. As outras somente a injustiça as denomina assim. Se as tens, não te reprovo: recebeu uma herança, teu pai ficou rico e as legou para ti. As adquiriste honestamente. Tu tens a casa cheia como fruto dos teus trabalhos, não te reprovo. Contudo, não as chames riquezas, porque, se fazes isto, as amarás e, se as amares, perecerás com elas. Perde-as, para que tu não pereças; doa-as, para adquiri-las; semeia-as, para colhê-las.

Não as chames riquezas, porque não são as verdadeiras. Estão cheias de pobreza e sempre sujeitas a infortúnios. Como chamar riquezas ao que te faz ter medo do ladrão, te leva a sentir medo do teu criado, medo de que te mate, que as pegue e fuja? Se fossem verdadeiras riquezas, te dariam segurança.

Portanto, são autênticas riquezas aquelas que, uma vez possuídas, não podemos perder. E para não ter medo do ladrão por causa delas, estejam ali onde ninguém as arrebata. Escuta ao Senhor: Acumulai vossos tesouros no céu, onde o ladrão não entra. Então serão autênticas riquezas: quando as mudes de lugar. Enquanto estão na terra, não são riquezas. Porém, o mundo, a injustiça, as denominam riquezas. Por isso Deus as chama dinheiro da injustiça, porque é a injustiça quem as denomina riquezas.
Bendito Agostinho, bispo de Hipona (séc. V)

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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

24ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

27 de Novembro de 2019 (CC) / 14 de Novembro (CE)
Santo Apóstolo Felipe, digno de toda a honra (séc. I)
Véspera da Quaresma da Natividade
Tom 6


Filipe era um dos doze Apóstolos. Todos os evangelistas fazem referência a ele, porém, São João o citou mais que os outros, provavelmente, porque fosse amigo muito próximo de Filipe. Os textos evangélicos mostram que Filipe teve contato com São João Batista; talvez até tenha sido um de seus discípulos e tenha ouvido da boca de João: «Eis aqui o Cordeiro de Deus!». 
Outros dos discípulos de Jesus era André, o Primeiro a ser Chamado, conforme reconhece a Tradição. Ambos, Filipe e André, juntos, como nos revelam os capítulos 6 e 12 do evangelho de São João; mais provavelmente é que ambos fizessem parte de um grupo que estudava as Leis e os Profetas, e discutiam sobre o perfil do Messias esperado. Natanael também pertencia a este grupo, pois Filipe, ao encontrar o Senhor, foi ao seu encontro para dizer-lhe: 
«Aquele sobre o qual escreveu Moisés na Lei e também os Profetas, nós o encontramos: Jesus, o filho de José…»  
O caráter de Filipe, como é manifestado no Evangelho segundo São João, em certo sentido, parece ao de Tomé: um homem tranqüilo, espontâneo, prático, que buscava fazer sua própria experiência e ser convencido mais pelo toque que pelas palavras. Tanto é que, quando Jesus falava aos discípulos acerca do Pai que «…desde agora o conheceis, e o tendes visto»… Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta»… Mas, Jesus o repreendeu, orientando a sua fé:  «Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?»  
A respeito de sua pregação depois da Ascensão do Senhor e do Pentecostes, a Tradição nos informa que esteve pregando na Ásia Menor, junto com Bartolomeu (também chamado de Natanael), tendo alcançado lá tanto êxito a ponto de converter a própria esposa do governador da Ásia. Furiosos, os pagãos o tomaram, arrastando-o pelas ruas da cidade e, finalmente, o crucificaram com a cabeça voltada para o chão. Seu martírio aconteceu nos anos 80 da era cristã. Mais tarde, suas relíquias foram trasladadas à Roma.  
Pelas intercessões do Apóstolo São Filipe, Senhor Jesus Cristo nosso Deus, tem piedade de nós e salva-nos!

Comemoração do Apóstolo Filipe 
Leituras Comemorativas 
João 21:15-25 (Matinas); 1 Coríntios 4:9-16; João 1:43-51  


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

1 Tessalonicenses 4:1-12

Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais. Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo. Quanto, porém, ao amor fraternal, não necessitais de que vos escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis uns aos outros porque também já assim o fazeis para com todos os irmãos que estão por toda a Macedônia. Exortamo-vos, porém, a que ainda nisto aumenteis cada vez mais. E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado; para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e não necessiteis de coisa alguma.

Lucas 15:1-10

E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, jubiloso; e, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.
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REFLEXÃO

“Cristo Nos Buscou Na Terra; Nós devemos Buscá-lo No Céu”

Ocorre sempre, essa é a verdade, que, ao encontrar o que tínhamos perdido, inauguramos um novo caudal de alegria, e nos é mais grato falar do perdido, que não ter perdido o que com empenho guardamos. No entanto, esta parábola é mais uma ponderação da misericórdia divina que a constatação de um costume humano; e expressa uma grande verdade. Abandonar as grandes coisas e amar as coisas pequenas é próprio do poder divino, não da cobiça humana: pois Deus chama ao ser o que não existe, e de tal forma vai à busca do perdido, que não despreza o que deixa; e de tal maneira encontra o perdido, que não perde o que estava guardado.

Não se trata, portanto, de um pastor terreno, mas celestial; e esta parábola tomada globalmente não está fundamentada sobre ocupações humanas, mas encobre mistérios divinos. O próprio fator numérico o destaca quando diz: Se alguém tem cem ovelhas e se perde uma... Já percebes como este pastor sofre a perda de uma ovelha como se todo o rebanho que tinha a sua direita tivesse derivado para a sua esquerda; e por isso, deixando as noventa e nove, vai atrás dessa única, a busca, para encontrar a todas nessa única, para reintegrá-las todas em uma.

Porém, expliquemos o segredo da celestial parábola: Esse homem que possui cem ovelhas é Cristo. O bom pastor, o pastor piedoso que em uma única ovelha, a saber, em Adão, havia personificado toda a grei do gênero humano, colocou a esta ovelha no ameno jardim do Éden, a colocou em verdes prados. Porém, ela se esqueceu da voz do pastor ao dar ouvidos aos uivos do lobo, perdeu os apriscos da salvação e acabou toda ela costurada de feridas letais. Em busca dela veio Cristo ao mundo, e a achou no seio de um campo virginal.

Veio na carne de seu nascimento e suspendendo-a sobre a cruz, a carregou sobre os ombros de sua Paixão e, no cume da alegria da ressurreição, levou-a mediante a ascensão, colocando-a no mais alto da mansão celestial. Reúne aos amigos e vizinhos, ou seja, aos anjos, e lhes diz: Felicitai-me! Encontrei a ovelha que tinha perdido.

Felicitam-se e se congratulam os anjos com Cristo pelo retorno da ovelha do Senhor, nem se sentem indignados por vê-la presidir-lhes desde o próprio trono da majestade, pois a inveja foi afugentada do céu com a expulsão do diabo, nem era possível que o pecado da inveja penetrasse nas mansões eternas através do Cordeiro que tinha tirado o pecado do mundo. Irmãos, Cristo buscou-nos na terra: o busquemos no céu; ele nos conduziu para a glória de sua divindade: o levemos em nosso corpo com toda santidade: Glorificai – diz o apóstolo – e levai a Deus em vosso corpo. Leva a Deus em seu corpo aquele que não carrega com pecado algum nas obras de sua carne.
São Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena (séc. V)


Existe Mais Alegria No Céu Pela Conversão do Pecador 

do Que Pela Perseverança do Justo

Eu vos digo que haverá mais alegria no céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão. Devemos considerar, meus irmãos, por que o Senhor diz que existe no céu maior alegria na conversão dos pecadores do que na perseverança dos justos; e é pelo mesmo que estamos vendo todos os dias, ou seja, porque muitas vezes aqueles que sabem que não estão contaminados pelos pecadores se encontram, sim, no caminho da justiça, não cometem nenhuma coisa ilícita, mas, no entanto, não desejam ansiosamente irem para a pátria celestial, e se permitem usar das coisas lícitas, enquanto lembram-se de não ter cometido nada de ilícito. E muitas vezes são fracos para praticar as principais virtudes, porque estão muito seguros de que não cometeram nenhuma falta grave.

Mas, pelo contrário, algumas vezes aqueles que sabem que fizeram alguma coisa ilícita, oprimidos por sua própria dor, incendeiam-se no amor de Deus, exercitam-se nas maiores virtudes, empreendem com santo valor tudo que é mais difícil, deixam todas as coisas deste mundo, fogem das honras, alegram-se com as afrontas que lhes são inferidas, ardem em santos desejos e anelam ir para a pátria celestial, e considerando que se afastaram de Deus, recompensam os prejuízos precedentes com os bens que alcançam depois.

Portanto, existe mais alegria no céu pela conversão do pecador do que pela perseverança do justo, porque um capitão ama mais numa batalha aquele soldado que, tendo voltado ao combate após ter fugido, ataca com coragem o inimigo, que ao outro que, embora nunca tenha voltado às costas, contudo, também nunca fez nada de valor. Assim também o lavrador estima mais aquela terra que, depois de ter ervas daninhas, dá abundantes frutos, que aquela que nunca teve espinhos, porém tampouco produz messe em abundância.

Apesar do que foi dito, devemos considerar também que existem muitos justos, em cuja vida existe tanta alegria, que de nenhuma forma será postergada aquela que se experimenta com qualquer penitência dos pecadores. Pois muitos justos sabem perfeitamente que não têm pecado algum e, contudo, afligem-se de tal maneira como se estivessem manchados com todos os pecados do mundo.

Privam-se de todas as coisas, até mesmo das lícitas; submetem-se com abnegação ao desprezo do mundo, não querem permitir-se nem sequer as menores coisas; abstêm-se dos bens, mesmo daqueles que lhes foram concedidos; alegram-se com os seus sofrimentos e se humilham em todas as coisas; e, como alguns, choram: os pecados de atos, lamentam os pecados de pensamento.

Como se há de chamar a estes, senão justos e penitentes, que se humilham no pecado de pensamento e perseveram sempre retos nas obras? Daqui temos de inferir quão grande será o gozo do Senhor quando humildemente chora o justo, sendo que há alegria no céu quando o injusto reprova pela penitência o mal que fez.”
São Gregório, o Grande, Papa de Roma (séc. VI)

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terça-feira, 26 de novembro de 2019

24ª Terça-feira Depois de Pentecostes

26 de Novembro de 2019 (CC) / 13 de Novembro (CE)
São João Crisóstomo, Arcebispo de Constantinopla († 407)
Tom 6



São João Crisóstomo nasceu na cidade de Antioquia, cresceu no meio da multidão sem se deixar contaminar por ela. Conheceu os pobres e desafortunados e soube amá-los como eram. Sua família era culta e possuía muitos bens. O pai de João, oficial de alto nível, morrera jovem. Desde criança foi educado pela mãe, mulher admirável que, aos vinte anos, sacrificou sua juventude, renunciou a novas núpcias, para dedicar-se inteiramente a seu filho. 
João recebeu o Batismo mais ou menos aos dezoito anos de idade. Concluindo de forma brilhante os seus estudos de cultura geral, retórica e filosofia, renunciou a uma carreira que se apresentava promissora para receber as ordens menores. Quis partir para o deserto, mas sua mãe, que por ele sacrificara tudo, não lho permitiu. Fugiu, então, da agitação de Antioquia e estabeleceu-se fora das portas da cidade, a fim de encontrar a paz, consagrando-se à ascese e ao estudo bíblico. Antioquia era um centro teológico de grande reputação. João aprende lá de forma brilhante a exegese bíblica. Depois passou a viver nas montanhas entre monges uma vida austera a ponto de prejudicar sua saúde. Após algum tempo nas montanhas, achou-se preparado para enfrentar a ação missionária. O amor aos outros, mais do que sua saúde abalada, fê-lo voltar a Antioquia, onde o bispo Melécio o ordenou diácono, em 381.

Escreveu aos 34 anos o tratado sobre o Sacerdócio, que é conhecido e estudado até os nossos dias. Com 39 anos foi ordenado padre. Consagrou-se à pregação, substituindo o bispo, nas homilias pois esse era pouco dotado para falar.

Durante doze anos, pregou ao povo contra o paganismo e tinha esperança de transformá-lo em gente de fé cristã. É dele a frase: 

«Basta um só homem, para reformar todo um povo.»

Sua tarefa era séria. Precisava denunciar os abusos existentes no interior da Igreja e na sociedade; defender os pobres, clamar contra as injustiças sociais. Manteve ainda uma intensa atividade literária, respondendo a todos os que lhe pediam conselho. 

A maioria de suas homilias era comentários a respeito do Antigo e o Novo Testamento: Explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos. O que fazia com mais agrado era pregar sobre o Evangelho. Comentou longamente o de Mateus e o de João. São Paulo era seu autor preferido: sentia afinidade com o Apóstolo dos gentios. O cognominaram de o «novo Paulo».

Resta-nos, de João Crisóstomo, uma série de catequeses batismais, que preparavam os catecúmenos para o batismo. As últimas foram reencontradas em 1955, no monte Atos. João Crisóstomo era um orador nato e igualmente um moralista que analisava os segredos do coração em profundidade e com rara psicologia. O povo de Antioquia sabia que João só repreendia para corrigir e para converter.

Inúmeras vezes João tomou a defesa dos pobres e dos infelizes, dos que morriam de fome e sede. Com veemência, João-Boca-de-Ouro ergueu sua voz contra os flagelos sociais, o luxo e a cobiça. Lembrou a dignidade do homem, mesmo pobre, e os limites da propriedade. Dizia: 
«Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das prisões, da nudez.»

A fama de João ultrapassava as fronteiras de Antioquia e chegava à nova capital do império. Em 397, o bispo da capital, Nectário, que sucedera a Gregório Nazianzeno, acabava de morrer. Intimado a comparecer à Capital do Império, foi eleito o Bispo de Constantinopla, a Sé do Oriente. João começou uma grande reforma, desembaraçando a casa episcopal do luxo, fazia suas refeições sozinho e acabou com as recepções suntuosas. Reformou as ordens de vida dos clérigos e dos monges, organizou a Reforma Litúrgica com a preocupação de levar Deus aos homens pela Divina Liturgia.

O texto da Divina Liturgia, que toda a Igreja Ortodoxa celebra em todo o mundo, é conhecida como sendo de São João Crisóstomo.

Empreendeu a evangelização das zonas agrícolas e esforçou-se para trazer à ortodoxia aos pagãos, que eram numerosos na região. Combateu as seitas heréticas com intransigência e rudeza.  

Em 402, São João Crisóstomo foi deposto e exilado acusado de não coadunar os interesses da Igreja com os do Império. O bispo foi detido em sua catedral, durante a celebração pascal. Depois de uma palavra de despedida, João deixou a sua igreja que jamais haveria de rever. O exílio foi penoso. João foi enviado para uma aldeia, Cucusa, na fronteira com a Armênia.  

A saúde do bispo achava-se enfraquecida. O clima era duro e desfavorável para o seu estado. A maior parte de suas cartas data dessa época. Este homem atingido em cheio pela provação procurou mais consolar do que ser consolado. 

No sofrimento, pensava nos outros. Finalmente morreu, no dia 14 de setembro de 407, Festa da Exaltação da Santa Cruz. Suas últimas palavras foram: 
«Glória a Deus por tudo.»  

Os contemporâneos descrevem-nos João Crisóstomo como um homem de estatura baixa, de rosto magro, de testa enrugada, de cabeça calva. Tinha voz fraca. As austeridades comprometeram definitivamente sua saúde. Não falava para ser escutado, falava para instruir, exortar, reformar, preocupado com o combate aos costumes pagãos e com a instauração da moral do Evangelho. Era um reformador, um missionário. Se não era um teólogo original, era um pastor incomparável. Sua pregação desempenhou na liturgia Ortodoxa o mesmo papel que a de Agostinho no Ocidente. Ele foi lido, copiado, traduzido, imitado.


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS  
João 10:1-9

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.


LITURGIA


Tropárion de São João Crisóstomo Tom 8
Como uma lâmpada resplandecente / Assim brilhou a graça da tua boca / Iluminando o Universo / Conservando para o mundo o precioso tesouro do desprendimento do dinheiro / Fazendo-nos ver claramente a excelência da humildade. / Por isso, ó santo Padre João Crisóstomo, / cujas palavras edificam os homens, / Roga a Cristo, Verbo de Deus, // que salve as nossas almas! 

Hebreus 7:26-8:2; 

Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre. Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade, Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem.

João 10:9-16

Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.


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