sábado, 31 de outubro de 2020

21º Sábado Depois de Pentecostes

31 de Outubro de 2020 (CC) / 18 de Outubro (CE)

Santo Apóstolo e Evangelista Lucas
Tom 3


São Lucas era originário da cidade de Antioquia. De nobre procedência, aplicava-se desde sua juventude a progredir na sabedoria e no estudo das ciências e das artes, viajava pelo mundo afora a fim de saciar sua sede de conhecimentos, e se destacava em particular nos domínios da ciência medicinal e na arte pitoresca. Além do grego, conhecia igualmente o hebraico e o siríaco.

Sob o reinado do Imperador Cláudio (aproximadamente 42 d.C.), ao dispensar seus cuidados aos enfermos da região de Tebas, em Beócia, depara-se com o Apóstolo Paulo, cujas palavras de fogo o convencem de que a Verdade Absoluta que ele tanto buscava se encontrava efetivamente junto aos Discípulos de Jesus Cristo. 
Lucas abandona, então, sem hesitar, todos os seus bens e tudo aquilo que o prendia aos erros de seus pais, bem como a medicina dos corpos para se tornar, a exemplo de Paulo, médico das almas.
 
São Lucas segue o Apóstolo Paulo em suas viagens missionárias, percorrendo sem tréguas as rotas do mundo a fim de proclamar a Evangelho. Ele o acompanha até Roma para sua última viagem. É lá que, sem dúvidas, o Apóstolo Paulo lhe ordena redigir o terceiro Evangelho, dedicado a Teófilo, Governador da Acaia, que se convertera ao Cristianismo.
 
Um pouco mais tarde, Lucas remete a este mesmo Teófilo os «Atos dos Apóstolos». Os «Atos dos Apóstolos». narram os prodígios realizados pelo Espírito Santo junto aos Apóstolos, desde o Pentecostes até o cativeiro de Paulo em Roma.
 
Depois de ter se separado de seu mestre, Lucas retorna à Grécia para aí proclamar o Evangelho. Ele se fixa, novamente, na região de Tebas, onde morre em paz com a idade de oitenta anos. Existe uma tradição da Igreja que diz que São Lucas morreu sofrendo o martírio, suspenso em forma de cruz a uma oliveira pelos idólatras.
 
Querendo render glória ao Seu fiel servidor, Deus faz correr de seu túmulo um líquido miraculoso, que curava as doenças dos olhos daqueles que se ungiam com fé. É assim que mesmo depois de sua morte, São Lucas continua a exercer a medicina - cura.
 
Muitos e longos anos mais tarde, o Imperador Constâncio, filho do Grande Constantino, faz transportar a relíquia do Santo à Constantinopla por intermédio de Santo Artêmio, Duque do Egito. Ele a coloca sob o altar da Igreja dos Santos Apóstolos, junto às relíquias dos Apóstolos André e Timóteo.
 
Segundo a Tradição, foi São Lucas que, em primeiro lugar, pintou três imagens da Santa Mãe de Deus trazendo em Seus braços o Menino-Deus. Ele os submete à aprovação da Santa Virgem, ainda em vida. Esta acolhe com alegria as santas imagens e diz:
 
«Que a graça d´Aquele, Que por Mim foi gerado, esteja nelas!»
A partir de então, São Lucas representa, em imagem, os Apóstolos e transmite à Igreja esta piedosa e santa tradição da veneração dos ícones de Cristo e de Seus Santos.
 
Fonte: Prólogo de Ohrid, 
por São Nicolau Velimirovic, Bispo de Žica e Ohrid
Traduzido do original em sérvio
Extraído do sítio da Eparquia Ortodoxa do Brasil

Leituras Comemorativas de São Lucas   
João 21:15-25 Matinas 
Colossenses 4:5-9,14,18
Lucas 10:16-21 
Tropárion Tom 5 
Ó Santo Apóstolo Lucas, digno de todo louvor.Tu és reconhecido pela Igreja de CristoComo aquele que escreveu os Atos dos ApóstolosE ilustre autor do Evangelho de Cristo.Nós te louvamos com hinos santos,Ó Médico que cura as enfermidades humanas,Os males da natureza e purifica as feridas espirituais: Roga, incessantemente, por nossas almas.
 

Oração Antes de Ler as Escrituras

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Coríntios 3:12-18

Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório. Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido; e até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará. Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.

Lucas 6:1-10

E aconteceu que, no segundo sábado após o primeiro, passou pelas searas, e os seus discípulos iam arrancando espigas e, esfregando-as com as mãos, as comiam. E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito fazer nos sábados? E Jesus, respondendo-lhes, disse: Nunca lestes o que fez Davi quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e tomou os pães da proposição, e os comeu, e deu também aos que estavam com ele, os quais não é lícito comer senão só aos sacerdotes? E dizia-lhes: O Filho do homem é Senhor até do sábado. E aconteceu também noutro sábado, que entrou na sinagoga, e estava ensinando; e havia ali um homem que tinha a mão direita mirrada. E os escribas e fariseus observavam-no, se o curaria no sábado, para acharem de que o acusar. Mas ele bem conhecia os seus pensamentos; e disse ao homem que tinha a mão mirrada: Levanta-te, e fica em pé no meio. E, levantando-se ele, ficou em pé. Então Jesus lhes disse: Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar? E, olhando para todos em redor, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele assim o fez, e a mão lhe foi restituída sã como a outra.

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REFLEXÃO

Sobre o Propósito da Partilha de Dons, Ministérios e Vocações

(…) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo (Efésios 4:12)

É por isso que o Espírito Santo partilhou os dons, e fez de uns apóstolos, outros profetas, outros evangelistas e, outros pastores e mestres: para que os santos, os fiéis cristãos, se tornassem perfeitos. 

Assim como em um lar, o serviço e a honra são partilhados, e há o serviço e honra próprios para os pais, honra e serviço próprios a cada filho ou filha adulto e serviço e honra próprios para filhos jovens e servos – e ainda assim todos trabalham juntos para o benefício de todos, assim é na cada de Deus, a Santa Igreja: com cada honra em um serviço correspondente, e as obras de cada um são benéficas a todos. 

Assim, o corpo de Cristo, a Santa Igreja de Deus, é construído de forma sábia e gradual. Cada um dos fiéis, assistido pelos outros, cresce e se desenvolve como um membro desse corpo, cresce e se desenvolve em santidade e pureza, e em medidas e proporções correspondentes a todo o grande corpo. O corpo inteiro, do começo ao fim dos tempos — especialmente desde e encarnação de Deus, o Verbo, na terra até ao Temível Julgamento — é a Santa Igreja de Deus. 

O corpo é digno da imortalidade, a construção é digna de Deus. Os olhos humanos não podem ver de ponta a ponta, e nem a mente humana pode compreender. A construção é feita com materiais selecionados: pedras vivas, olhos e corações, sem dureza ou feiura, sem corrupção ou mudança. Cada coisa em seu lugar, tudo é mais belo por inteiro e em partes. Aqui está, irmãos, o objetivo da nossa jornada! Aqui está o significado da nossa queimação na fornalha do sofrimento! Aqui está nossa vida, melhor que todos os nossos planos e mais adorável que todos os nossos desejos.

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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

21ª Sexta-feira Depois de Pentecostes

30 de Outubro de 2020 (CC) / 17 de Outubro (CE)
S. Profeta Oséias (820 a.C); 
S. Mártir Monge André de Creta (767 d.C); 
Ss. Cosme e Damião da Arábia e seus irmãos Leôncio, Antimos e Eutrópios (Séc. IV)
Tom 23



Oséias era filho de Beeri, da tribo de Issacar. Foi contemporâneo dos santos Profetas Amós (em Israel) e de Isaías e Miquéias (em Judá). Ele profetizou por um período de cerca de 60 anos – desde 785 a.C. até o tempo do cativeiro das dez tribos. Durante o exercício de seu ministério o rei mais importante foi Jeroboão II (o filho de Joás). O Reino do Norte experimentou grande prosperidade em termos materiais. Enquanto isto em Judá (ou Reino do Sul) reinaram Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (1.1). Mas seu trabalho fora completamente voltado para o Reino do Norte. Muitas vezes no livro aparece o Reino de Israel como Efraim, isto por ser a tribo de Efraim a maior dentre as dez.

Suas palavras divinamente inspiradas encontram-se em seu livro, que contém catorze capítulos. Repreendeu rigorosamente Israel e Judá por sua idolatria e também predisse a punição de Deus pelos seus pecados, a destruição da Samaria e Israel pela sua apostasia e a misericórdia de Deus pela tribo de Judá. Previu a abolição e o fim dos sacrifícios do Antigo Testamento. Previu a vinda do Senhor e a riqueza dos dons que Ele traria consigo à terra. 
De sua vida pessoal sabe-se que se casou com Gomer que lhe era abertamente infiel, o que levou a divorciar-se formalmente sem que, no entanto, deixasse de amá-la e compadecer-se dela. Este drama pessoal mostrou ao profeta quão duros eram os efeitos da traição espiritual do povo de Israel ao seu Deus, depois que recebeu os mandamentos no Sinai. 
Os nomes «Oséias», «Josué» e «Jesus» são derivados da mesma raiz na língua hebraica. Oséias significa «salvação» ao passo que os nomes «Josu黫Jesus» significam «O Senhor É a Salvação». 
Oséias viveu até idade muito avançada e repousou em paz. 
Santo Monge e Mártir André, de Creta  
O Monge e Mártir, André de Creta, viveu durante o reinado do Imperador iconoclasta Constantine Kopronymos (741-775), que ameaçando de pena de morte, ordenou aos cristãos deitar fora os ícones sagrados de suas igrejas e casas. Os crentes, que destemidamente resistiram ao ímpio iconoclasta e preservaram firmemente a tradição dos Santos Padres, foram trancados na prisão. 
Quando o Monge André ouviu, que o Imperador estava jogando na prisão, não os ladrões e assaltantes, mas, em vez disto, eram os cristãos virtuosos e piedosos, ele foi para Constantinopla e na frente de todos, na Igreja do Santo Mártir Mamant, denunciou o herege por perseguir a verdadeira fé. Ao justificar-se, o Imperador disse: 
«Isto é loucura, conceder veneração a madeira e tinta».
O monge respondeu que todo aquele que padecer pelos Santos ícones, é por Cristo que padece; mas todo aquele que insulta o ícone sobre a qual está posta a Imagem de Cristo, insulta ao próprio Cristo. 
O iconoclasta, enfurecido, deu ordens para torturar Santo André sem piedade. Ao longo do caminho para o local da execução, o mártir expirou ao Senhor. Cem anos mais tarde, um cânone foi escrito ao santo pelo Monge José, o Melodista. Através das orações a Santo André, convulsões são curadas. 
Os Veneráveis Santos e Anárgiros Cosme e Damião, da Arábia
  
Os Santos taumaturgos e anárgiros Cosme e Damião da Mesopotâmia nasceram na Ásia Menor. Seu pai, que era pagão, morreu enquanto eles ainda eram crianças, e sua mãe, Teodota, os criou na fé cristã.
Seguindo o exemplo de vida de sua mãe e em imitação a Nosso Senhor, os gêmeos tornaram-se homens justos e virtuosos. Ao alcançarem a idade  adulta, aprenderam medicina e as artes da cura, e por sua virtude receberam do Espírito Santo o dom de curar as enfermidades do corpo e da alma através de suas orações. Por amor a Deus e ao próximo, eles jamais cobraram por seus serviços, seguindo estritamente o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: «Recebestes de graça, de graça dai!» (Mt. 10:8). Eles tratavam até mesmo os animais. A fama dos Santos Cosme e Damião se espalhou por toda a região da Mesopotâmia, e o povo apelidou os irmãos de médicos anárgiros, ou seja, «aqueles que não recebem prata (dinheiro)». 
Certo dia, os santos foram chamados para atender uma senhora acometida de uma doença incurável, de nome Paládia, a quem todos os médicos recusaram-se a tratar. Pela fé, oração e pelos santos dons dos irmãos, o Senhor curou a doença de Paládia, que logo em seguida levantou-se de seu leito, com perfeita saúde, para agradecer a Deus. Desejando recompensar seus médicos de algum modo, em um gesto de gratidão a idosa senhora foi conversar com Damião, e lhe presenteou com três ovos, dizendo: 
«Aceite este pequeno presente em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». 
Ao ouvir o nome da Santíssima Trindade, o santo médico não ousou recusar o presente. No entanto, quando Cosme soube o que acontecera, entristeceu-se, pois cria que seu irmão havia quebrado seu voto de caridade. 
Após certo tempo, chegou a hora de São Cosme repousar no Senhor. Em seu leito de morte, ele declarou que não gostaria de ser enterrado ao lado de seu irmão. Alguns meses depois, São Damião também veio a falecer. Todos os seus amigos e parentes ficaram preocupados, pois não sabiam onde deveriam enterrar São Damião. Porém, pela vontade de Deus, um anjo apareceu aos presentes, dizendo que não houvesse dúvidas se os irmãos deveriam ser enterrados lado a lado, pois São Damião aceitara o presente da velha senhora, não como pagamento, mas em respeito ao Nome de Deus e em caridade, para não humilhar a nobre senhora. E assim, os gêmeos foram enterrados lado a lado, em Theremam, Mesopotâmia, atual Síria, no ano de 303 AD. 
Tropário de São Cosme e Damião
Santos anárgiros e taumaturgos Cosme e Damião,
curai-nos de nossas enfermidades. Concedei-nos gratuitamente,
aquilo que de graça recebestes.

 

Oração Antes de Ler as Escrituras  

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Colossenses 2:1-7

1 Pois quero que saibais quão grande luta tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram a minha pessoa; 2 para que os seus corações sejam animados, estando unidos em amor, e enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do mistério de Deus - Cristo, 3 no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. 4 Digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas. 5 Porque ainda que eu esteja ausente quanto ao corpo, contudo em espírito estou convosco, regozijando-me, e vendo a vossa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo. 6 Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também nele andai, 7 arraigados e edificados nele, e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, abundando em ação de graças.

Lucas 9:12-18

E já o dia começava a declinar; então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos lugares e aldeias em redor, se agasalhem, e achem o que comer; porque aqui estamos em lugar deserto. Mas ele lhes disse: Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em ranchos de cinquenta em cinquenta. E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos. E, tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão. E comeram todos, e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze alcofas de pedaços. E aconteceu que, estando ele só, orando, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou?

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HOMILIA


“Mesmo Quando For Pouco O Que Possuímos, O Ofereçamos Aos Pobres”

Para os enfermos ele fazia milagres sempre, agora faz uma dádiva universal, a fim de que muitos não só fossem espectadores do que a outros acontecia, mas que também desfrutassem do dom por si mesmos. Aquilo que aos judeus antigos lhes parecia no deserto admirável e diziam: «Poderá também dar-nos pão e preparar-nos a mesa no deserto?», isso Cristo realiza agora. E os levou ao deserto para que não recaísse suspeita alguma sobre o milagre, e ninguém pensasse que algum povo próximo tenha provido as mesas de pão. Por isto o evangelista recorda não somente o lugar, mas também a hora. Também aprendemos aqui a prudência que os discípulos demonstravam nas coisas necessárias e em que alto grau desprezavam os prazeres. Pois sendo eles doze, não tinham senão cinco pães e dois peixes. Até tal ponto desprezavam as coisas materiais e somente cuidavam das espirituais. Ainda mais: nem mesmo este pouco que tinham guardaram, mas, assim que lhes foi solicitado, o entregaram.

Aprendemos disto que, mesmo quando for pouco o que possuímos, o ofereçamos aos pobres. Pois os Apóstolos, mandados apresentar os cinco pães, não exclamaram: «Mas de onde nos alimentaremos depois? Como poderemos amenizar a fome?», mas prontamente obedecem. A parte da razão do que já aduzimos, parece que Cristo fez o milagre com estes pães, para levar os discípulos à fé, pois eles ainda eram fracos nela. Por isso olha ao céu. Já possuíam muitos exemplos de outros tipos de milagres, mas deste nenhum.

Tendo, portanto, tomado os pães, os partiu, e através dos discípulos os repartiu, conferindo-lhes este cargo de honra. Não o fez somente para honrá-los, mas para que, apalpando a realidade do milagre, não lhe negassem a fé nem se esquecessem do acontecido, do qual suas próprias mãos davam testemunho. E permitiu que primeiro a multidão sofresse a fome e esperou que os discípulos se aproximassem e lhe perguntassem. Também por meio deles fez que a multidão se recostasse na relva, e por eles distribuiu os pães, querendo assim antecipar-se e comprometer cada um por sua própria confissão e por suas obras. Por esta causa, recebeu os pães deles, a fim de que se multiplicassem os testemunhos do milagre e tivessem esses registros e recordações do prodígio. Pois se depois de tantos preparativos ainda se esqueceram, o que teriam feito se Jesus não os houvesse preparado de tantas maneiras? E ordenou que se recostassem na relva, ensinando-os desta forma a viver austeramente. Porque não desejava unicamente que os corpos se alimentassem, mas que as almas assimilassem os ensinamentos.

De maneira que pelo lugar, por não ministrar-lhes senão pães e peixes, por ter ordenado que a todos fosse dado o mesmo e em comunidade o tomassem, de forma que nenhum recebesse mais do que o outro, ensinou a humildade, a temperança e a caridade; e quis que todos amassem a todos com igual afeto e tivessem todas as coisas em comum. E tendo partido os pães, os deu aos discípulos, e os discípulos os deram ao povo. Deu-lhes os cinco pães já partidos; e estes cinco pães, como se fossem uma fonte, multiplicavam-se e brotavam das mãos dos discípulos.

Ele não terminou com este milagre; mas Jesus fez que não somente os pães superabundassem, mas também os pedaços, para perceber que estes pedaços eram daqueles pães, e os ausentes também pudessem saber o que havia acontecido. Para isto permitiu que a multidão sofresse a fome, a fim de que ninguém pensasse que tudo se reduzia a meras aparências. Permitiu que sobrassem doze cestos, para que até mesmo Judas levasse o seu. Podia simplesmente ter apagado a fome na multidão, mas os discípulos não teriam experimentado o seu poder, pois assim aconteceu no tempo de Elias. Nesta ocasião os judeus ficaram de tal forma pasmos que quiseram constituí-lo rei, coisa que em outros milagres não tinham tentado.

São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla

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“A Escritura É O Pão Que O Senhor Multiplica Por Meio De Seus Intérpretes”

Considera como o Senhor no Evangelho parte poucos pães e alimenta milhares de homens, e como restam tantos cestos. Enquanto os pães estão inteiros, ninguém se sacia com eles, ninguém se alimenta, nem os próprios pães se multiplicam. Considera agora, pois, como nós partimos poucos pães: tomamos algumas poucas palavras das Escrituras divinas, e são milhares de homens que com elas se saciam.

Porém, se estes pães não tivessem sido partidos, se não tivessem sido feitos em pedaços pelos discípulos, ou seja, se a letra da Escritura não tivesse sido partida e discutida em pequenos pedaços, seu sentido não teria chegado a toda a multidão. Porém, como a tomamos em nossas mãos e discutimos cada ponto em particular, então as multidões comem dela quanto podem. O que não conseguem comer deve-se recolhê-lo e guardá-lo para que nada se perca. Assim nós, o que a multidão não pode tomar, o guardamos e o recolhemos em cestos e balaios.

Não faz muito, quando esmigalhávamos o pão no referente a Jacó e Esaú, quantos pedaços sobraram daquele pão? Todos os recolhemos com diligência para que não se perdessem, e os guardamos nos cestos e balaios até que vejamos o que o Senhor ordena que façamos com eles. Mas agora comamos os pães e tiremos água do poço, tudo o que conseguirmos.

Procuremos, também, fazer aquilo que nos recomenda a sabedoria quando diz: «Beba água de tuas próprias fontes e de teus poços, e seja a tua própria fonte.» Tu que me ouves, procura ter o teu próprio poço e tua própria fonte, de maneira que, quando tomas o livro das Escrituras, começas a tirar alguma compreensão por ti mesmo, e de acordo com o que aprendeste na Igreja, tenta beber na fonte de tua própria criatividade.

Dentro de ti existe uma água viva natural, algumas veias de água permanente, as correntes que fluem do entendimento racional, ao menos enquanto não ficam obstruídas pela terra e os entulhos. O que tens que fazer é cavar a terra e remover a sujeira, ou seja, lançar a preguiça de tua inteligência e a sonolência de teu coração.

Ouve o que diz a Escritura: Aperta o olho e derramará uma lágrima; aperta o coração e alcançará sabedoria (Sabedoria de Sirach, 22:19). Procura, portanto, limpar também a tua inteligência, para que alguma vez possas chegar a beber de tuas próprias fontes, e possas tirar água viva de teus poços. Por que se recebeste em ti a Palavra de Deus, se tens recebido e guardado com fidelidade a água viva que Jesus te deu, se tornará em ti uma fonte de água que jorra para a vida eterna, no próprio Jesus Cristo, nosso Senhor, de quem é a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

Orígenes, Presbítero de Alexandria (Séc. III)

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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

21ª Quinta-feira Depois de Pentecostes

29 de Outubro de 2020 (CC) / 16 de Outubro (CE)
Santo Mártir Longuinos, o Centurião e 2 Mártires com ele; Mártir Eloef; Monge Gall; Longuino de Pechersk, o Porteiro; Longuino de Yarengsk; Eufrásia, Princesa de Pskov.
Tom 3



O Santo Mártir Longuinos era um centurião, chefe de um regimento de soldados romanos, a quem havia sido ordenado levar a cabo a condenação à morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. 
Quando Pilatos emitiu a ordem de execução de Jesus por crucifixão, Longuinos desconhecia de quem se tratava, estando, por isso, presente durante toda esta tragédia. Em sua alma, no entanto, não havia lugar para a hipocrisia dos fariseus, tampouco para a frieza dos soldados romanos. Dirigiu um olhar em profundidade para a Vítima, observou a sua altivez,  a modéstia e a tranquilidade que dela emanava. Logo depois que o Senhor exalou seu último suspiro, viu a queda do templo que se partiu em dois, sentiu a terra tremer sob seus pés, as pedras se partirem, os sepulcros se abrirem, e tudo isto o iluminou ainda mais. Já não tinha nenhuma dúvida em seu interior, e com todas as suas forças, declarou o que todos os que possuem os olhos da alma limpos declaram: 
«Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus». 
Longuinos aderiu à fé cristã e, resistindo à pressão dos romanos para que a abjurasse, e acabou sendo martirizado, morrendo por decapitação.


Oração Antes de Ler as Escrituras  
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Colossenses 1:24-29

Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a economia de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.

Lucas 9:7-11

7 O tetrarca Herodes ouviu comentários sobre o que estava ocorrendo e ficou assustado, pois algumas pessoas divulgavam que João havia ressuscitado dos mortos. 8 Outros, alegavam que Elias tinha ressurgido; e outros ainda falavam que um dos profetas do passado havia voltado à vida. 9 Herodes, entretanto, afirmava: “Eu mandei decapitar a João; quem é, pois, este a respeito do qual tenho ouvido tais coisas?” E se empenhava por conhecê-lo. A primeira multiplicação dos pães. 10 Entrementes, ao regressarem os apóstolos, relataram a Jesus tudo quanto tinham realizado. Então Ele os levou consigo, e retiraram-se para uma cidade chamada Betsaida. 11 Contudo, as multidões ficaram sabendo, e o seguiram. Ele as acolheu, e ensinava-lhes acerca do Reino de Deus, e atendia a todos que tinham necessidade de qualquer cura.

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COMENTÁRIO


“Aproximemo-nos de Cristo Com Fervor”

Cristo nos deu sua carne para saciar-nos, convidando-nos a uma amizade cada vez mais íntima. Aproximemo-nos, pois, a ele com fervor e com uma ardente caridade, e não incorramos em castigo. Porque quanto maiores forem os benefícios recebidos, mais gravemente seremos castigados se nos fizéssemos indignos de tais benefícios.

Os magos também adoraram este corpo recostado em um presépio. E sendo homens irreligiosos e pagãos, abandonando casa e pátria, percorreram um longo caminho, e, ao chegar, o adoraram com grande temor e tremor. Imitemos ao menos estes estrangeiros, nós que somos cidadãos do céu. Eles realmente se aproximaram com grande temor a um presépio e a uma gruta, sem descobrir nenhuma das coisas que agora te é dado contemplar. Tu, por outro lado, não o enxerga em um presépio, mas sobre um altar; não contemplas a uma mulher que o tem em seus braços, mas ao sacerdote que está de pé em sua presença e ao Espírito, transbordante de riqueza, pairando sobre os dons. Não vês simplesmente, como eles, este mesmo corpo, mas conheces todo o seu poder e sua economia de salvação, e não ignoras nada do que ele fez, pois, ao ser iniciado te ensinaram detalhadamente todas estas coisas. Exortemo-nos, pois, mutuamente com um santo temor, e lhe demonstremos uma piedade muito mais profunda que a que exibiram aqueles estrangeiros, para que, não aproximando-nos a ele temerária e desconsideradamente, não tenhamos que esconder o rosto de vergonha.

Digo isto não para que não nos aproximemos, mas para que não nos aproximemos com hesitação. Porque assim como é perigoso aproximar-se com hesitação, assim a não participação nestas místicas ceias significa a fome e a morte. Porque esta mesa é a força de nossa alma, a fonte de unidade de todos nossos pensamentos, a causa de nossa esperança: é esperança, salvação, luz, vida. Se com esta bagagem saíssemos daquele sacrifício, com confiança nos aproximaríamos aos seus átrios sagrados, como se fôssemos armados até os dentes com armadura de ouro.

Talvez falo de coisas futuras? Desde agora este mistério tornou para ti a terra em um céu. Abre, pois, as portas do céu e olha; ou melhor dizendo, abre as portas não do céu, mas do céu dos céus, e então contemplarás o que foi dito. Tudo o que de mais precioso ali existe, vou mostrar-te permanecendo na terra. Porque assim como o mais precioso que existe no palácio real não são os muros nem as coberturas de ouro, mas o rei sentado no trono real, assim também no céu o mais precioso é a pessoa do Rei.

E a pessoa do Rei te é dado contemplá-la já agora na terra, pois não te apresento aos anjos, nem aos arcanjos, nem aos céus, nem aos céus dos céus, mas ao próprio Senhor de todos eles. Compreendes como na terra contemplas o que há de mais precioso? E não somente o vês, mas ainda o tocas; e não somente o tocas, mas também o comes; e depois de tê-lo recebido, regressas para a tua casa. Purifica, portanto, tua alma, prepara teu coração para a recepção destes mistérios.

São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V)

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

21ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

 
28 de Outubro de 2020 (CC) / 15 de Outubro (CE)
São Luciano, Presbítero da Igreja de Antioquia, Hieromártir († 312)
Tom 3



Luciano nasceu em Samosata, na Síria (235-312), de pais cristãos, como ele também o foi desde muito pequeno. Logo depois da morte de seus pais, repartiu sua herança com os pobres, passando a se dedicar ao estudo das Sagradas Escrituras, pois que conservava em seu coração as palavras do apóstolo São Paulo: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, defender, corrigir e guiar para o bem». Ou seja, toda a Escritura foi inspirada por Deus, sendo por isso proveitosa para ensinar a verdade, comprovar os erros, corrigir aos que pecam e educar na virtude. Tendo alcançado um profundo conhecimento da Santa Escritura, Luciano foi então ordenado sacerdote de Antioquia. Ali ele ensinou com muita dedicação e precisão a divina palavra. Luciano fundou em Antioquia escolas muito concorridas para os estudantes nas quais a doutrina e as virtudes cristãs eram ensinadas e praticadas. Quando tomou conhecimento que em Nicomédia o imperador Diocleciano perseguia e matava cristãos,  Luciano deixou Antioquia seguindo para lá para levar apoio e fortalecer na fé os cristãos que eram submetidos ao martírio. Mas logo foi apanhado e levado à prisão onde foi deixado morrer de fome.


Oração Antes de Ler as Escrituras  
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Colossenses 1:18-23

E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.

Lucas 8:22-25

22E aconteceu que, em um daqueles dias, ao entrar no barco, pediu Jesus aos seus discípulos: “Passemos para a outra margem do lago”, e partiram. 23Enquanto navegavam, Ele adormeceu. E abateu-se sobre o lago uma grande tempestade com fortes ventos, de modo que o barco estava sendo inundado, e eles corriam o risco de naufragar. 24Então os discípulos correram para acordá-lo, exclamando: “Mestre! Mestre, estamos a ponto de morrer!” Ele se levantou e repreendeu a tempestade e a violência das águas. Tudo então se acalmou e houve perfeita paz. 25Jesus, no entanto, dirigiu-se aos seus discípulos e indagou: “Onde está a vossa fé?” Mas eles, amedrontados e maravilhados, interrogavam uns aos outros: “Quem é este que até aos ventos e às ondas dá ordens, e eles lhe obedecem?”  

† † †


“Para que Fossem Confirmados na Fé”

Senhor, salva-nos, que estamos perecendo. Era tanto o temor que tinham, estavam tão perturbados e tão fora de si, que chegaram ao Senhor com grande alteração, sem descanso nem sossego, mas muito apressados, e lhe disseram assim: Senhor, salva-nos, que estamos perecendo. Ó bem-aventurados e verdadeiros discípulos de Deus! Tendes convosco ao verdadeiro Senhor e Salvador do mundo, e temeis algum perigo? Tendes convosco a vida, e temeis a morte? Tendes presente ao Criador do mar, e lhe despertais com medo da tempestade? Como? Pois não basta seu poder, mesmo que com o corpo durma, para amansar as ondas e aplacar a tempestade?

Mas a isto responderão estes santos e tão amados discípulos: “agora nós somos pequenos, somos fracos, não estamos fortificados na fé, e por isso tememos, por isso trememos, ainda não vimos a cruz do Senhor; ainda não fomos confirmados na gloriosa paixão e triunfante ressurreição; na sua maravilhosa ascensão aos céus; não nos visitou com a vinda do Espírito Santo sobre nós, e desta forma não vos maravilheis de que sejamos fracos e temamos, e por isso mesmo ouvimos muitas vezes que repreendendo-nos o Senhor nos chama homens de pouca fé, e tudo o sofremos com amor e humildade para seguir-lhe”.

Por que estais tão medrosos, homens de pouca fé? Por que não tendes fortaleza? Por que não tendes perfeita confiança e segurança? Como? E se a morte vos viesse, não seria motivo que com muita constância a sofrêsseis? Não sabeis que a fortaleza é virtude necessária para sofrer tudo o que nos sobrevém? Qualquer perigo e tribulação, até a própria morte se sofre com a fortaleza: a fortaleza também é útil contra os prazeres, riquezas e honras do mundo, porque com ela nos defendemos para não nos ensoberbecermos, para não desvanecermos.

Porque a fortaleza nos ensina a não menosprezar aos nossos inimigos, nem ter em pouca consideração aos pobres humildes; ensina-nos como não devemos esquecer-nos de Deus, nem desamparar ao nosso Criador, nem ser-lhe ingratos; e de uma coisa vos aviso: que se é necessária a virtude da fortaleza para combater com as adversidades e as dificuldades, para armar-se da fé e sofrer tudo por Deus, não é menos necessária para saber usar das honras, riquezas e prosperidades que o mundo nos dá. Para que não nos sirvam de ciladas em que o diabo nos amarre, pois, por que estais perturbados, ó homens de pouca fé?

Se crestes que eu sou verdadeiramente Deus, Criador de todas as coisas, e por isso me seguistes e me tomastes por mestre, como duvidais que o que eu criei esteja em meu poder e ao meu comando? Por que duvidastes, ó homens de pouca fé? Não sabeis que está escrito que aquele que pouco crê será repreendido; e o que nada crê, será menosprezado? Os fracos na fé serão repreendidos, os que forem completamente alheios à fé serão castigados.

Então, levantando-se, ordenou aos ventos e ao mar, e houve uma grande calmaria. O grande profeta disse: e levantando-se o Senhor como quem dormia, ou como um poderoso embriagado por vinho, feriu a todos os seus inimigos nas costas; agora se levantando ordenou aos ventos e ao mar, e houve uma grande calmaria. Ordenou aos ventos e ao mar como seu Criador que era: ordenou aos seus como poderoso, ordenou aos ventos como seu Senhor, e ordenou-lhes antes que aos seus discípulos, para que eles, vendo-o, fossem confirmados na fé.

Orígenes (séc. III)

terça-feira, 27 de outubro de 2020

21ª Terça-feira Depois de Pentecostes

27 de Outubro de 2020 (CC) / 14 de Outubro (CE)
Comemoração dos Santos Padres do 7º Concílio Ecumênico (787);
Ss. Nazário, Gervásio, Protásio e Celso, mártires († c. 66)
Tom 3



Dos pais de Nazário, Africanos e Perpétua, conta-se que eram discípulos do Apóstolo Paulo, quem os introduziu na fé e os batizou. Nazário ficou órfão muito jovem e, numa sociedade corrompida, os ensinamentos da fé cristã, como os que formaram o jovem Nazário, o protegeu e colocou em destaque as suas virtudes. O Santo manteve-se incorruptível, como dizia o Apóstolo Pedro:

«… purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro» (1 Pedro 1:22).  
O Santo não só se manteve íntegro e honrado como, ao completar 20 anos de idade, vendeu todas as suas propriedades, repartiu o dinheiro com os pobres e iniciou uma peregrinação, pregando a Palavra do Evangelho. 
Indo à Milão, encontrou-se com dois piedosos homens, Gervásio e Protásio e, pregando juntos, os três alcançaram grande êxito, não só entre as pessoas do povo, como nas classes sociais mais altas. Depois disso, Nazário foi à França onde também foi muito bem sucedido em suas pregações.  
Entre aqueles que trouxeram à fé estava o jovem Celso, um jovem de profunda fé que acompanhou Nazário de volta à Milão. Lá, encontraram-se com Gervásio e Protásio e também se depararam com a perseguição aos cristãos por parte do Governador Anodinos. Logo foram chamados e forçados a negar sua fé e prestarem adoração aos ídolos, o que se negaram a fazê-lo e, por isso, foram mortos por decapitação.


Oração Antes de Ler as Escrituras  
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Colossenses 1:1-2, 7-11

Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, aos santos e irmãos fiéis em Cristo, que estão em Colossos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Como aprendestes de Epafras, nosso amado conservo, que para vós é um fiel ministro de Cristo, o qual nos declarou também o vosso amor no Espírito. Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo...

Lucas 8:1-3

E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele, E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens.

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COMENTÁRIO

A vida intinerante e sem perspectivas financeiras ou seguranças econômicas que marca a vida terrena do Filho de Deus, não é meramente uma condição peculiar àqueles que decidiram largar tudo para servirem ao Reino de Deus.

Antes, é um sinal da alma e do sentimento que devem nortear a todos quantos  seguem o Cristo de Deus: devemos nos sentir como estrangeiros e peregrinos nesta terra, como se nada possuímos e nada ambicionando deste mundo, pois, não diz a Palavra Divina que a os Ministros do Altar vivem da Fé, mas, sim:

«O justo viverá pela fé» (Hab. 2:4);

Portanto, todo aquele que busca o Reino de Deus e a sua justiça, busca viver por esta Fé, que nos ensina que a fonte do nosso sustento não é o nosso trabalho secular, pois, se este nos faltar, a Fonte não se esgota. E, em outra parte diz:

«Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pela comida que permanece para a vida eterna» (João 6:27); e, ainda mais:

«Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes». (1 Timóteo 6:8)

Por isto, devemos gastar o mínimo das nossas energias no que «nos dá segurança» neste mundo, para que possamos investir ao máximo as nossas forças naquilo que nos garante a segurança no mundo que há de vir.

Qualquer que rejeita esta orientação de vida, é cego, tolo e segue a receita do fracasso existencial, pois edifica sua casa sobre a areia.

Pe. Mateus (Antonio Eça)