domingo, 5 de novembro de 2017

22º Domingo Depois de Pentecostes

5º DOMINGO DE SÃO LUCAS
05 de Novembro de 2017 (CC) / 23 de Outubro (CE)
S. Tiago, «irmão» do Senhor, Bispo de Jerusalém, Apóstolo [dos 70], mártir († 62);
Jacó de Nóvgorod, Taumaturgo; Inácio, Patriarca de Constantinopla.
Modo 5



Antes de tudo, é necessário que se distinga São Tiago, irmão do Senhor, do apóstolo Tiago, filho de Alfeu, um dos Doze, cuja memória a Igreja celebra em 9 de outubro. São Tiago, cuja festa comemoramos no dia de hoje, é o que nos mencionado em (Mt 13,15) e (Mc 6,3) como um dos 4 irmãos do Senhor. Os outros três são: José, Simão e Judas.

Acerca da relação entre estes «irmãos» com o Senhor Jesus Cristo, eles eram filhos de José de um casamento anterior, já que José era viúvo quando ficou noivo de Maria. Ao que parece, nenhum dos «irmãos» creram n’Ele logo de início, conforme menciona claramente São João, o Teólgo (João 7:1-5). Mas, o que foi que transformou São Tiago a ponto de se apresentar, em sua carta como o «Servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo» (cf. carta a ele atribuída, Tg 1:1). Não o sabemos com certeza, mas o Santo Apóstolo Paulo cita em sua primeira epístola aos Coríntios que Jesus se manifestou a São Tiago depois da sua ressurreição (1Cor 15:7). Dos textos bíblicos, sabemos que Tiago foi um dos representantes mais destacados da Igreja de Jerusalém. São Paulo, em sua carta aos Gálatas (Gl 1:19-2,9) faz menção a ele como um dos três «pilares» da Igreja nesta cidade. 
Também em Atos dos Apóstolos, quando os Apóstolos se reuniram com os anciãos para decidirem se os gentios convertidos deveriam aceitar a circuncisão ou não, São Tiago falou como «cabeça» da comunidade de Jerusalém, e foi ele quem proclamou o parecer do conselho. A São Tiago é atribuída a primeira das sete cartas pastorais (que não é dirigida a uma determinada cidade ou pessoa) que fazem parte do Novo Testamento. De acordo com os exegetas, a carta de Tiago foi escrita entre os anos 50 e 60 (d.C). 
Esta carta contém uma coleção de ensinamentos e instruções sobre a conduta cristã e a vida pastoral: A paciência na tribulação, a fé, o amor ao trabalho, o controle da língua, o perigo do dinheiro entre outras coisas. Isto é o que nos informa o Novo Testamento sobre Tiago. 
A tradição, porém, nos faz também menção a ele, entre estas, que Tiago era conhecido, em vida, como «o Justo»; que desde a sua infância havia sido separado para Deus; que nunca se alimentava de manteiga, nem provava vinho; que seu cabelo «não conhecia a tesoura» (em sinal de sua separação para Deus); que permaneceu casto durante toda a sua vida; que seus joelhos ficaram endurecidos como pedra pelas prostrações excessivas para a oração. Os Apóstolos o elegeram por unanimidade como o primeiro bispo de Jerusalém, e assim permaneceu durante 30 anos, atraindo durante este tempo, muitos judeus e gentios à fé em Jesus Cristo. Certa vez foi visto pregando do telhado de uma casa, ou mesmo no templo, e dizia: 
«O Filho do homem está sentado à direita do Todo-Poderoso, e virá sobre as nuvens para julgar o mundo com bondade». 
E, enquanto o povo aclamava: «Hosana ao Filho de Davi», os fariseus e os fanáticos dos judeus empurravam para baixo o Justo, apedrejando-o em seguida. Um deles bateu violentamente com um pau em sua cabeça, com o que se consumou o seu martírio, e se lhe abriram as portas da vida. Suas virtudes, conhecidas de todos, fez com que os judeus mais eminentes atribuíssem o cerco e destruição de Jerusalém em 70 dC. ao assassinato de São Tiago. 
Apóstolo, Bispo, Mártir e irmão do Senhor, interceda junto de Deus por todos nós. Amém! 
 

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (XI)

João 21:15-25

E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras. E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.

LITURGIA

Tropárion da Ressurreição 
Fiéis, cantemos e adoremos o Verbo Co-Eterno ao Pai e ao Espírito Santo, / nascido para nossa salvação, da sempre Virgem Maria, / pois Ele aceitou livremente sofrer a morte na Cruz/ para dar a vida a todos os mortos//, pela Sua gloriosa Ressurreição.

Kondákion da Ressurreição 
Tu, ó meu Salvador, desceste ao Inferno, /e partiste em pedaços os portões, como Todo-Poderoso, / e como Criador, ressuscitaste os mortos, / e destruíste, ó Cristo, o aguilhão da morte, / e libertou Adão da maldição, ó Tu Que amas a humanidade. / Por isso, nós todos clamamos:// Salva-nos, ó Senhor.

Theotókion
Alegra-te, ó Mãe de Deus, porta do Senhor! Alegra-te, amparo e proteção para os que te procuram! Alegra-te, ó noiva, que em teu ventre geraste teu Criador e Deus! Roga, sem cessar, por aqueles que glorificam O que nasceu de ti.

Tropárion de São Tiago, Irmão do Senhor Modo 2
Como discípulo do Senhor, / tu recebeste o Evangelho, ó justo São Tiago, / e como mártir, permaneceste inflexível. / Enquanto Irmão do Senhor, tens o apoio junto dele, / como bispo, tu tens o poder da súplica. / Roga, pois a Cristo Deus que salve as nossas almas!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

Kondákion Modo 4
O Verbo de Deus, o Unigênito do Pai, / que veio a nós nos últimos tempos, / te apresentou como o primeiro Pastor e Mestre do povo de Jerusalém, / e servidor fiel dos mistérios do Espírito, ó Justo Tiago. / Por isto, todos nós te honramos, ó Apóstolo!

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Prokímenon

Tu nos guardas, Senhor,
E nos livras da vingança eterna. (Sl. 11:8)

Salva-nos, Senhor, pois não há mais santos. (Sl. 11:1)

Gálatas 6:11-18

Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão. Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus. Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém.

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!
Eu cantarei eternamente as Tuas misericórdias, Senhor;
Anunciarei a Tua verdade de geração em geração.

Aleluia, aleluia, aleluia!
Pois disseste: «A misericórdia elevar-se-á como um edifício eterno 
E nos céus a Tua verdade será solidamente estabelecida».

Aleluia, aleluia, aleluia!

Lucas 16:19-31

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lhe lamber as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, Pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

† † †

HOMILIAS



“Deus Aceita os Dons Para o Seu Templo, 
Lhe Agradam, No Entanto, Muito Mais As Oferendas Que Se Dão Aos Pobres”

Desejas honrar o corpo de Cristo? Não o desprezes, pois, quando o contemples nu nos pobres, nem o honres aqui, no templo, com lenços de seda, se ao sair o abandonas em seu frio e nudez. Porque o mesmo que disse: Isto é o meu corpo, e com sua palavra trouxe à realidade o que dizia, afirmou também: Tive fome e não me destes de comer, e mais adiante: Sempre que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, a mim o deixastes de fazer. O templo não necessita de vestes e lenços, mas pureza de alma; os pobres, porém, necessitam que com muita dedicação nos preocupemos com eles.

Reflitamos, portanto, e honremos a Cristo com aquela mesma honra com que ele deseja ser honrado; pois, quando se quer honrar a alguém, devemos pensar na honra que lhe agrada, e não no que nos satisfaz. Também Pedro quis honrar ao Senhor quando não permitiu deixar-se lavar os pés, mas o que ele queria impedir não era a honra que o Senhor desejava, mas sim o contrário. Assim, tu deves prestar ao Senhor a honra que ele mesmo te indicou, distribuindo tuas riquezas aos pobres. Pois Deus certamente não tem necessidade de taças de ouro, mas, ao contrário, deseja almas de ouro.

Não digo isto com intenção de proibir a entrega de dons preciosos para os templos, mas que, junto com estes dons e até mesmo acima deles, deve-se pensar na caridade para com os pobres. Porque, se Deus aceita os dons para o seu templo, lhe agradam, no entanto, muito mais as oferendas que se dão aos pobres. De fato, da oferenda feita ao templo somente tira proveito quem a fez; mas da esmola tira proveito tanto quem a faz como quem a recebe. O dom dado para o templo pode ser motivo de vanglória; a esmola, entretanto, somente é sinal de amor e caridade.

De que serviria adornar a mesa de Cristo com taças de ouro se o próprio Cristo morre de fome? Dá primeiro de comer ao faminto, e em seguida, com o que te sobrar, ornamentarás a mesa de Cristo. Queres fazer oferenda de taças de ouro e não és capaz de dar um copo de água? E de que serviria recobrir o altar com lenços bordados de ouro, quando negas ao próprio Senhor a veste necessária para cobrir a sua nudez? O que ganhas com isso? Diz-me se não: Se vês a um faminto com necessidade do alimento indispensável e, sem preocupar-te com a sua fome, o levas para contemplar uma mesa adornada com baixela de ouro, te agradecerá por isso? Não se indignará ainda mais contigo? Ou, se, vendo-o vestido de farrapos e morto de frio, sem lembrar-te de sua nudez, levantas em sua honra monumentos de ouro, afirmando que com estes presentes o está honrando, ele não pensará que queres zombar de sua indigência com a mais sarcástica de tuas ironias?

Pensa, portanto, que é isto o que fazes com Cristo, quando o contemplas errante, peregrino e sem teto e, sem recebê-lo, te dedicas a adornar o pavimento, as paredes e as colunas do templo. Prende lâmpadas com correntes de prata, e te negas a visitá-lo quando ele está acorrentado na prisão. Com isto que estou dizendo não pretendo proibir o uso de tais adornos, mas afirmo que é absolutamente necessário fazer um sem descuidar do outro; mais: exorto-vos a que sintais a maior preocupação pelo irmão necessitado do que pela decoração do templo. Realmente ninguém estará condenado por omitir este segundo; mas os castigos do inferno, o fogo inextinguível e a companhia dos demônios estão destinados para aqueles que descuidem do primeiro. Portanto, ao decorar o templo, procurai não desprezar o irmão necessitado, porque este templo é muito mais precioso que aquele outro.

São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V)



“O Rico Epulão E O Pobre Lázaro”

Havia um homem rico que se vestia de púrpura. E visto que se faz menção do nome, parece tratar-se mais de uma história que de uma parábola. Com toda intenção o Senhor nos apresentou aqui a um rico que desfrutou dos prazeres deste mundo, e que agora, no inferno, sofre o tormento de uma fome que não se saciará jamais; e, não sem motivo apresenta, como associados aos seus sofrimentos, aos seus cinco irmãos, a saber, os cinco sentidos do corpo, unidos por uma espécie de irmandade natural, os quais estavam abrasando no fogo de uma infinidade de prazeres abomináveis; e, pelo contrário, colocou a Lázaro no seio de Abraão, como em um porto tranquilo e em um abrigo de santidade, para ensinar-nos que não devemos deixar-nos levar pelos prazeres presentes nem, permanecendo nos vícios ou vencidos pelo tédio, determinar uma fuga da ascese.

Trata-se, portanto, desse Lázaro que é pobre neste mundo, porém rico diante de Deus, ou daquele outro homem que, segundo o apóstolo, é pobre de palavra, mas rico de fé – na verdade, nem toda pobreza é santa, nem toda riqueza repreensível, mas do mesmo modo que a luxúria contamina as riquezas, assim a santidade recomenda a pobreza –, ou do homem apostólico que conserva íntegra sua fé, que não busca a beleza nas palavras, nem a reserva de argumentos, nem tampouco as luxuosas vestes da frase, posto que este tal já recebeu a sua apropriada recompensa quando lutou contra os hereges maniqueus: Marcião, Sabélio, Ário, Fotino..., reprimindo os desejos da carne que, como foi dito, serve de incentivo aos cinco sentidos, a saber, desse que recebeu a recompensa que lhe foi prometida, quando lhe foi entregue, em pagamento, riquezas superabundantes e um soldo perpétuo.

E não é que creiamos que seja errado sustentar que esta passagem se refere à crença de que Lázaro recolhe da mesa dos ricos, esse Lázaro cujas úlceras, segundo o texto, davam repulsa ao rico epulão, que entre banquetes luxuosos e convites cheios de perfumes não podia suportar o mau odor dessas chagas que os cachorros lambiam àquele que sentia fastio até do odor do ar e da própria natureza; e de fato não existe dúvida que a arrogância e o orgulho dos ricos têm sinais próprios para manifestar-se. E de tal maneira estes se esquecem que são homens, que, como se estivessem acima da natureza humana, encontram nas misérias dos pobres um incentivo para as suas paixões, riem-se do necessitado, insultam ao mendigo e saqueiam a esses mesmos dos quais deviam se compadecer.

O que quiser pode aderir, como um novo Lázaro, aos dois pontos de vista.

Santo Ambrósio, Bispo de Milão (Séc. IV)

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