quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Circuncisão de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo

32ª Quarta-feira Depois de Pentecostes
14 de Janeiro de 2015 (CC) 01 de Janeiro (CE)
São Basílio, o Grande Arcebispo de Cesárea da Capadócia
6º Modo


Narra o Evangelho que após 8 dias do nascimento de Jesus, Maria e José levaram o Menino até o Templo para oferecê-lo ao Senhor e cumprir o preceito da Circuncisão, conforme prescrevia as leis religiosas do povo judeu. Após a primeira parte da narrativa, observa-se um corte cronológico na harmonia dos acontecimentos, para destacar o encontro de Jesus com os Doutores da Lei, no Templo de Jerusalém.

Essas duas narrativas unidas, a princípio tão distantes temporalmente, e tão próximas quanto ao objetivo de sublinhar a dupla natureza do Messias, se fundem numa leitura única. O menino foi levado para circuncisão pois era plenamente humano e estava sujeito às leis sócio- religiosas; no entanto, com 12 anos revelava sua sabedoria extraordinária que tinha uma fonte não humana. Ele era o VERBO de Deus que inicia suas reflexões com aqueles mais ilustres e doutos. «O mundo foi feito por Ele, mas o mundo não O conheceu» (Jo 1,10-11).

Primeiramente, Jesus tinha sido reconhecido como Senhor pelos pastores que vieram prestar-lhe adoração. Eles representavam os marginalizados, pobres, os esquecidos: os verdadeiros destinatários da Boa Nova. Depois foi reconhecido pelo profeta Simeão no templo, onde a profecia de Malaquias se cupria: «De repente, vai chegar ao Templo o Senhor que vós procurais, o mensageiro da Aliança que vós desejais» (Mq 3,1). Simeão revelou com a sua profecia que a Salvação não seria só para Israel, mas para todos os povos. Israel foi o lugar da espera e da realização das profecias, mas a Salvação trazida pelo Messias não se restringiria somente à sua área geográfica. O messias é a luz que iluminaria a todos os povos. Abre-se o horizonte universal do anúncio e da prática do Evangelho. 
Tropárion Modo 1
Ó Senhor misericordioso, 
Tu que és Deus por natureza, 
tomaste sem alteração uma forma humana 
e cumpriste a lei recebendo voluntariamente a circuncisão da carne, 
a fim de abolir as figuras e eliminar as trevas de nossas paixões. 
Glória pois, à tua bondade, 
glória à tua misericórdia; 
glória, ó Verbo, à tua indizível condescendência!

Kondákion da Festa
O Senhor de todos recebe a circuncisão 
e, em sua bondade, corta as faltas dos mortais 
e concede hoje a salvação ao mundo. 
Alegra-se também nas alturas o pontífice do Criador, 
o astro luminoso, o íntimo de Cristo, o divino Basílio.
São Basílio, o Grande Arcebispo de Cesárea da Capadócia 
Nasceu em Cesaréia, na Capadócia, no ano 330. Foi o autor dos primeiros escritos sobre o Espírito Santo e dedicou-se à vida monástica . Escreveu duas Regras que são seguidas até hoje. Em 370 foi nomeado bispo de Cesaréia da Capadócia, num contexto de diversos cismas e ameaças à fé cristã. Mas foi firme e um grande defensor da Igreja e devido a isso tem o nome de «o Grande». Foi o criador de uma imensa obra a serviço dos pobres, fundando hospitais, asilos, casas de repouso, escolas de artesanato etc.

As coleções litúrgicas bizantinas apresentam três anáforas, uma das quais é atribuída a São Basílio, usada em liturgias muito especiais, devido sua profundidade teológica e extensão dos textos. Existe também uma anáfora Alexandrina de S. Basílio mais breve em grego, em copta, árabe e etíope. As versões siríaca, Armênia, georgiana, eslava e uma outra versão árabe seguem a fórmula bizantina, anterior aos manuscritos gregos.

São Basílio faleceu em 1º de janeiro de 379, na Cesaréia de Capadócia.

São Gregório Nazianzeno e Gregório Nisseno proferiram brilhantes elogios em seu funeral que influenciaram a sua hagiografia. 
Tropárion de São Basílio
A tua voz se espalhou por toda terra que aceitou a tua palavra, 
pela qual explicaste divinamente as verdades dogmáticas, 
esclareceste a natureza dos seres e ordenaste os costumes. 
Ó Pai justo, revestido do sacerdócio real, 
roga a Cristo Deus pela salvação de nossas almas!

Kondákion de São Basílio
Foste um sustentáculo firme para a Igreja 
e fizeste de teu poder um abrigo para todos nós,
confirmando-nos por teus ensinamentos, 
ó justo Basílio, esclarecedor dos mistérios celestes. 



MATINAS

João 10:1-9

1 Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. 2 Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3 A este o porteiro abre; e as ovelhas ouvem a sua voz; e ele chama pelo nome as suas ovelhas, e as conduz para fora. 4 Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz;    5 mas de modo algum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. 6 Jesus propôs-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que era que lhes dizia. 7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. 9 Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens.   



LITURGIA DE SÃO BASÍLIO

Colossenses 2:8-12

8 Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo; 9 porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, 10 e tendes a vossa plenitude nele, que é a cabeça de todo principado e potestade, 11 no qual também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo;    12 tendo sido sepultados com ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos;   

Lucas 2:20-21, 40-52

20 E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora dito. 21 Quando se completaram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido. 40 E o menino ia crescendo e fortalecendo-se, ficando cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. 41 Ora, seus pais iam todos os anos a Jerusalém, à festa da páscoa. 42 Quando Jesus completou doze anos, subiram eles segundo o costume da festa; 43 e, terminados aqueles dias, ao regressarem, ficou o menino Jesus em Jerusalém sem o saberem seus pais; 44 julgando, porém, que estivesse entre os companheiros de viagem, andaram caminho de um dia, e o procuravam entre os parentes e conhecidos;    45 e não o achando, voltaram a Jerusalém em busca dele. 46 E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. 47 E todos os que o ouviam se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. 48 Quando o viram, ficaram maravilhados, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que procedeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos. 49 Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai? 50 Eles, porém, não entenderam as palavras que lhes dissera. 51 Então, descendo com eles, foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava todas estas coisas em seu coração. 52 E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.



REFLEXÃO

São Cirilo de Alexandria, doutor da Igreja (séc. V)


“Ao assumir a condição de escravo, Cristo, de certo modo, foi contado entre os servos”

Acabamos de ver ao Emanuel recostado em um presépio como um menino recém-nascido, envolto em panos conforme o costume humano, porém divinamente celebrado pelo santo exército dos anjos. Serão eles os encarregados de anunciar aos pastores o seu nascimento, pois Deus Pai concedeu aos espíritos celestes este altíssimo privilégio: serem os primeiros em anunciar a Cristo.

Também acabamos de ver hoje como Cristo se submete às leis mosaicas; ainda mais, temos visto como Deus, o legislador, se submetia como um homem comum a suas próprias leis. Esta é a razão pela qual o sapientíssimo Paulo nos dá esta lição: quando éramos menores estávamos escravizados pelo rudimentar do mundo. Porém, quando se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar aos que estavam sob a lei.

Assim, Cristo resgatou da maldição da lei aos que estavam debaixo dela, porém não aos que eram observantes da lei. E como os resgatou? Cumprindo-a, ou dito de outra forma, mostrando-se morígero e obediente em tudo a Deus Pai, a fim de reparar os pecados de prevaricação cometidos em Adão. Pois está escrito que assim como pela desobediência de um só homem todos foram estabelecidos como pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos justos. Portanto, submeteu como nós a cerviz ao jugo da lei, e o fez por razões de justiça.

Convinha, na realidade, que ele cumprisse toda a justiça. Pois ao assumir realmente a condição de servo, ficava, por sua humanidade, inscrito no número dos súditos: pagou, como muitos, aos que cobravam o imposto das duas dracmas, e mesmo quando por sua qualidade de Filho era naturalmente livre e isento do tributo.

Contudo, ao ver-lhe observar a lei, cuidado, não te escandalizes nem o classifique entre os servos, a ele que é livre; esforça-te mais em penetrar a profundidade do plano divino. Ao cumprir-se, pois, os oito dias, em cuja data e por prescrição da lei, era costume praticar a circuncisão da carne, impuseram-lhe um nome, e precisamente o nome de Jesus, que significa salvação do povo.

Tal foi, de fato, o nome que Deus Pai escolheu para seu Filho, nascido de mulher segundo a carne. Pois foi certamente nesse momento, quando de maneira muito singular se levou a bom termo a salvação do povo: e não só de um povo, mas de muitos, ou melhor, de todas as nações e da universalidade da terra. Ao mesmo tempo foi circuncidado e lhe impuseram o nome, convertendo-se Cristo realmente em luz que ilumina as nações e, ao mesmo tempo, em glória de Israel. E embora existissem em Israel alguns injustos, obstinados e insensatos, apesar disso houve um resto que foi salvo e glorificado por Cristo. As primícias foram os discípulos do Senhor, cuja glória resplandece em todo o mundo. Outra glória de Israel é que Cristo, segundo a carne, procede de sua raça, se bem que, enquanto Deus, está acima de todos e é bendito pelos séculos. Amém.

Presta-nos, pois, um bom serviço o sábio evangelista ao relatar-nos tudo o que por nós e para nós suportou o Filho feito carne, sem fazer pouco caso em assumir a nossa pobreza, a fim de que o glorifiquemos como Redentor, como Senhor, como Salvador e como Deus, porque a ele e, com ele a Deus Pai, lhe é devida a glória e o poder, juntamente com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.


“Ele será um sinal de contradição”

E o que disse de Cristo o Profeta Simeão? Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição, visto que o Emanuel é posto para os alicerces de Sião por Deus Pai, sendo uma pedra escolhida, angular e preciosa. Aqueles, então, que confiaram nele não se envergonharam; mas aqueles que eram descrentes e ignorantes, e incapazes de compreender o mistério a respeito dele, caíram, e foram feitos em pedaços. Por Deus Pai novamente foi dito em outro lugar: eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, e aquele que crê nela não será confundido; mas aquele sobre quem ela cair, ele será esmagado. Mas o profeta tranquilizou aos israelitas dizendo: Só ao Senhor chameis de santo, é a ele que é preciso respeitar, a ele que se deve temer. Ele será a pedra de escândalo e a pedra de tropeço.

No entanto, porque Israel não santificou o Emanuel, que é Senhor e Deus, nem estava disposto a confiar nele, tropeçaram em uma pedra por causa da descrença, e ele foi feito em pedaços e caiu. Porém, muitos se reergueram, isto é, aqueles que abraçaram a fé nele. Por isso mudaram do legalismo para um ofício espiritual; tendo neles um espírito de serviço, foram enriquecidos com aquele Espírito que os torna livres, e que é o Espírito Santo: eles foram feitos participantes da natureza divina, considerados dignos da adoção filial, e de viver na esperança de alcançar a cidade que é do Alto, até mesmo a cidadania, ou seja: o Reino dos Céus.

E pelo sinal de contradição, ele significa a preciosa cruz, em nome da qual o sapientíssimo Paulo escreve: para os judeus é escândalo, e loucura para os pagãos. E novamente: Para os que estão perecendo é loucura; porém, para nós que somos salvos, é o poder de Deus para a salvação. O sinal, portanto, de contradição, se para aqueles que perecem lhes parece ser loucura, todavia, para aqueles que reconhecem o seu poder, ele é salvação e vida.

E Simeão ainda disse à santa Virgem: sim, uma espada transpassará a tua alma, significando pela espada a dor que ela sofreria por Cristo, visto que ela trouxe à luz o crucificado; e sem saber que ele seria mais forte do que a morte, e ressurgiria da sepultura. Ou tu podias imaginar que a virgem não sabia disso, quando vamos encontrar até mesmo os santos apóstolos, então, com pouca fé; pois em verdade o bem-aventurado Tomé, se ele não introduzisse suas mãos no seu lado após a ressurreição, e sentisse também as marcas dos pregos, iria desacreditar os outros discípulos que lhe diziam que Cristo ressuscitou e tinha-se manifestado a eles.

O evangelista com sabedoria, portanto, para o nosso benefício nos ensina tudo quanto o Filho, feito carne, consentiu padecer por nossa pobreza, suportar em nosso benefício e em nosso favor, para que possamos glorificá-lo como nosso Redentor e Senhor, nosso Salvador e nosso Deus: por quem e com quem a Deus Pai e pelo Espírito Santo sejam a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

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