Santo Inácio, o Teóforo, bispo de Antioquia, hieromártir († 107);
Santo Ícone da Mãe de Deus Socorro dos Afadigados
Jejum da Natividade (Vinho e azeite são permitidos)
4º Modo
Santo Ícone da Mãe de Deus Socorro dos Afadigados
Jejum da Natividade (Vinho e azeite são permitidos)
4º Modo
Discípulo dos Apóstolos, Pai dos bispos, vigoroso guerreiro na vanguarda dos vitoriosos mártires, Santo Inácio foi três vezes coroado e brilha reluzente no firmamento dos amigos de Deus. O significado de seu nome é “fogo” (ignis em latim). O amor por Cristo ardeu tão fortemente depois de seu Batismo que foi codinominado “Cristóforos” (portador de Cristo). Codinome que, sem vanglória, não titubeou em aplicar a si mesmo, já que todos os cristãos, após o batismo, se tornam “portadores de Cristo” e revestidos do Espírito Santo.
Inácio conheceu os apóstolos em sua juventude e, juntamente com Policarpo, foi iniciado nos mais profundos mistérios da fé por São João, o Apóstolo e Evangelista. Mais tarde, foi Inácio quem sucedeu Evdus, como segundo bispo de Antioquia, capital da Síria, e a maior cidade do Oriente, cuja sede episcopal foi fundada pelo apóstolo Pedro. Durante as perseguições aos cristãos, no governo de Domiciano (81-96), Santo Inácio alentou muitos cristãos confessos a suportar suas tormentosas tribulações, na esperança de ganhar a vida eterna; consolou os prisioneiros, compartilhou desejo de unir-se a Cristo para sempre, em sua morte. Porém, Santo Inácio, bispo temerário, não fora aprisionado nesse tempo, a tal ponto de se sentir desiludido pelo fato de as perseguições terem acabado sem que Deus o tivesse chamado a confessar sua fé como verdadeiro discípulo de Cristo. Nos anos de paz que se seguiram, Santo Inácio ocupou-se em organizar a Igreja, mostrando que a graça que veio sobre os apóstolos no dia de Pentecostes, continuava no ministério episcopal, ainda que os doze primeiros já tivessem sido chamados para a eternidade. Exortou que todas as Igrejas permaneçam na unidade e que seus membros amem o bispo de sua Igreja que é a imagem terrena do único e verdadeiro Bispo e Sumo Sacerdote, Jesus Cristo.
Unidos pela fé no Salvador Crucificado e Ressuscitado, unidos em um mesmo coração que brota do amor e esperança comum, os fiéis devem reunir-se freqüentemente, especialmente no dia do Senhor, para celebrar em assembléia a Eucaristia com o seu bispo, sacerdotes e diáconos. Assim, todos repartem o mesmo pão que é o remédio contra a morte que dá a imortalidade, a vida eterna em Cristo. Disse ele:
«Onde está o bispo, aí está o Cristo; onde está o bispo aí está a Igreja, a segurança da vida eterna e a promessa da comunhão com Deus».
Na época das perseguições em Antioquia, no governo de Trajano (98-117), Santo Inácio se apresentou voluntariamente diante dele e confessou sua fé em um só Deus, criador e filântropo, em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito. Com desprezo, Trajano lhe perguntou:
«Eras discípulo do Crucificado, na época de Pôncio Pilatos?»
Santo Inácio respondeu:
«Sim, sou discípulo daquele que apagou meus pecados na Cruz, que derrotou o demônio e seus símbolos sob seus pés.»
O imperador ainda perguntou:
«Por que te chamas portador de Deus?»
Respondeu-lhe:
«Porque trago Cristo vivente dentro de mim».
Trajano então ordenou:
«Que seja então o portador do Crucificado nas prisões de Roma, e que lá sejas jogado aos leões para diversão do povo».
Como São Paulo e muitos outros mártires, o servo de Deus Inácio se encheu de alegria e fervorosamente beijou as pesadas correntes que carregava, chamando-as de «minhas preciosas pérolas espirituais».
Durante o longo caminho até Roma, soube que os fiéis daquela cidade pretendiam evitar seu martírio. Enviou então uma mensagem, rogando-lhes que se contivessem, e que não interviessem, pois,
«suplico ser um discípulo… Meu desejo terreno foi crucificado; não há mais fogo em mim por amar as coisas materiais. Porém há em mim uma água vivente que murmura e diz em meu interior ‘venha ao Pai’».
Nele o amor de Cristo operou tão fortemente que, inspirado, disse com palavras de fogo:
«Perdoem-me irmãos, não me peçam para viver, não desejem que eu não morra. Permitam-me que eu seja um imitador da Paixão de meu Deus. Deixem-me ser alimento para as feras, pois assim me será possível encontrar-me com meu Deus. Sou trigo de Deus, e devo ser triturado pelos dentes das feras, convertendo-me em puro pão do Senhor, à semelhança de Cristo, verdadeiro Pão Eucarístico que se oferece a Si mesmo na perfeita Liturgia».
Este era o desejo de Santo Inácio. Quando o momento de sua prova final chegou, Santo Inácio entrou na arena como se adentrasse no Santo Altar para oficiar a liturgia na presença do fiéis. Assim, bispo e discípulo do Sumo Sacerdote de nossa Salvação, Jesus Cristo, sacerdote e vítima ao mesmo tempo, ofereceu-se a si mesmo complacentemente aos ferozes leões que se jogaram sobre ele e o devoraram lentamente, sem nada deixar, exceto os ossos maiores, como havia desejado. Estas preciosas relíquia foram devotamente reunidas pelos fiéis e levadas solenemente de volta a Antioquia. Os cristãos, venerando aquelas relíquias ao longo do caminho, seguiam rumo ao seu rebanho como se seguissem o seu pastor.
LITURGIA
Hebreus 11:8, 11-16
Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia... Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.
Marcos 10: 23-32
REFLEXÃO
São Basílio, o Grande
Aquele que crê no Senhor e acredita-se idôneo para ensinar, é preciso que primeiro aprenda a abster-se de todo pecado; depois a afastar-se de tudo o que, por agradável que possa parecer, por diversos motivos o distrai da obediência devida ao Senhor. Porque é impossível que quem cometa pecado, se enreda nos negócios desta vida ou anda preocupado pelas coisas necessárias para a vida, seja servo do Senhor, nem sequer discípulo daquele que não disse ao jovem: “Anda, vem comigo”, antes de ter-lhe ordenado vender todos os seus bens e dar o dinheiro aos pobres. Ainda mais: nem isto lhe ordenou, antes de ter confessado, ele mesmo: Tudo isso tenho observado.
Portanto, quem ainda não alcançou o perdão dos pecados, nem foi deles purificado pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas serve ao diabo e está acorrentado pelo pecado que mora nele, não pode servir ao Senhor, que afirmou com sentença sem apelação possível: "Quem comete pecado é escravo do pecado. O escravo não permanece na casa para sempre".
Ainda mais: o grande benefício da bondade divina, concedido mediante a encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, torna-se evidente ainda pelo que foi dito em outro lugar com estas precisas palavras: "Assim como pela desobediência de um só homem, todos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um só, todos serão constituídos justos". E em outro lugar – considerando a bondade de Deus em Cristo, e esta ainda mais admirável – diz: "Ao que não tinha pecado, Deus o fez expiar os nossos pecados, para que nós, unidos a ele, recebamos a salvação de Deus".
Dos textos aduzidos e de outros paralelos, e se não recebemos a graça de Deus em vão, torna-se absolutamente necessário que primeiramente temos de libertar-nos do domínio do diabo, que ao homem vendido ao pecado lhe induz a cometer o mau que não quer; e em segundo lugar que cada um, depois de ter renunciado a todas as realidades presentes e a si mesmo, e depois de ter-se afastado das preocupações da vida, se fará discípulo do Senhor, como ele mesmo disse: "Quem quiser vir após mim, que se negue a si mesmo, que tome a sua cruz e me siga; isto é, faça-se meu discípulo".
E quando foi concedido o perdão dos pecados, então o homem receberá daquele que nos redimiu, de Jesus Cristo nosso Senhor, a libertação do pecado, de maneira que possa aderir à Palavra. E nem mesmo então será alguém digno de seguir ao Senhor, que não disse ao jovem: “Anda, vem comigo”, sem antes ter-lhe dito: "Vende o que tens e dá o dinheiro para os pobres". Muito mais: nem mesmo isto o ordenou antes de ele ter-se confessado isento de qualquer transgressão, dizendo ter observado tudo o que o Senhor tinha dito.
Por conseguinte, nesta matéria é também necessário guardar uma ordem. Pois não nos ensina a desprezar somente os bens que por qualquer motivo possuamos e que nos são necessários para a vida, mas nos ordena desprezar também os direitos e as obrigações que por lei natural ou positiva estão vigentes entre nós; pois diz Jesus Cristo nosso Senhor: "Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim". O que também há de se entender com relação aos outros que nos são próximos, e evidentemente com muito mais razão dos estranhos e daqueles que não professam a nossa mesma fé. E acrescenta em continuação: "Quem não toma a sua cruz e me segue, não é digno de mim". E o apóstolo, que pôs em prática tudo isso, escreve para nossa instrução: "O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim".
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