sexta-feira, 7 de abril de 2017

Grande Festa da Anunciação

6ª Sexta-feira da Grande Quaresma
07 de Abril de 2017 (CC) / 25 de Março (CE)
Novo Hieromartir Tikon, Patriarca de Moscou e Toda a Rússia (†1925)
Ss. Mártires Pelágia, Theodósia e Dula de Nicomedia, que padeceram sob Valentiniano.  
Modo 8




A Anunciação (ou Evangelismos em grego) à Mãe de Deus (Theotokos) é uma das Grandes Festas do Igreja Ortodoxa, comemorada em 25 de março. Este é um dos dois únicos dias durante a Quaresma em que se é permitido comer peixe (o outro é o Domingo de Ramos).  

De acordo com o Evangelho de Lucas 1:26-38, o Arcanjo Gabriel apareceu a Maria para anunciar-lhe que ela iria conceber e dar à luz um filho, mesmo "não conhecendo homem algum". Conforme a Santa Tradição,  Maria tinha apenas quinze anos, quando fora visitada pelo Arcanjo Gabriel. 
Desde o princípio, a festa foi estabelecida no dia 25 de março, porque circulava a opinião de que Jesus se havia encarnado coincidindo com o equinócio de primavera, tempo em que, segundo as concepções mais antigas, foi criado o mundo e o primeiro homem. Isto o comenta mais extensamente Anastácio, o Antioqueno (+599) em sua Homilia sobre a Anunciação, 6-7.

Teologicamente falando, desde Santo Irineu, que fazia parte do círculo de discípulos do Apóstolo João, a Virgem é vista como sendo a Segunda Eva, e a Encarnação do Verbo (o Segundo Adão), como o evento que reinaugura a Criação do mundo, ou seja, da nova humanidade. São Máximo, o Confessor (+622), retoma este tema, o da concepção de Cristo, o segundo Adão, e a recriação do mundo por Deus, na Encarnação, com vistas à Ressurreição, plenitude de todo o criado.  
Normalmente a festa da Anunciação se dá durante a temporada de Quaresma, mas em alguns anos, cai no mesmo dia em que a Páscoa, o que resulta numa exuberante festa chamada de Kyriopascha. Atualmente, a Kyriopascha só é possível nas igrejas que observam o tradicional Calendário Juliano, também conhecido como Velho Calendário; também ela é possível no Calendário Gregoriano. No entanto, nas Igrejas que usam o Novo Calendário (Juliano Revisado), devido a metodologia utilizada para poder preservar a data da Páscoa e ao mesmo tempo se  adaptar ao Calendário Ocidental (Gregoriano), se torna impossível a existência da Kyriopascha. E aqui reside uma das mais graves críticas ao Novo Calendário, pois sepulta a Festa mais exuberante da Ortodoxia.

Fato curioso é que a última Kyriopascha Ortodoxa se deu no ano de 1991, no qual se deu o colapso da União Soviética, e resultou na libertação dos povos Ortodoxos da Europa Oriental. A próxima será em 2075, 2086 e 2159. A última Kyriopascha no Calendário Gregoriano foi em 1951, e a próxima será em 2035, 2046 e 2103.  O primeiro ano em que a Kyriopascha em ambos os Calendários, Juliano e Gregoriano acontecerão juntas é 6700, seguido de 6779 e 6863. 

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
MATINAS 


Lucas 1:39-49,56

39 Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, 40 entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel. 41 Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, 42 e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! 43 E donde me provém isto, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? 44 Pois logo que me soou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim.  45 Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas. 46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, 47 e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador; 48 porque atentou na condição humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49 porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome. 56 E Maria ficou com ela cerca de três meses; e depois voltou para sua casa.

LITURGIA


Tropárion da Anunciação Modo 4
Hoje é o prelúdio de nossa Salvação
e a manifestação do Mistério
preparado desde a eternidade:
o Filho de Deus torna-se Filho da Virgem
e o Arcanjo Gabriel anuncia a graça.
Por isso, com ele clamamos à Mãe de Deus:
«Rejubila-te, ó Cheia de Graça, o Senhor é contigo!»

Kondákion da Festa
Nós, teus servos, ó Mãe de Deus,
te conferimos os lauréis da vitória,
penhor de nossa gratidão,
como a um general que combateu por nós
e nos salvou de terríveis calamidades.
E, como tens um poder invencível,
livra-nos dos perigos de toda espécie
para que te aclamemos: Rejubila-te, Virgem e Esposa!

Hebreus 2:11-18

11 Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12 Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. 13 E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. 14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.

Lucas 1:24-38


24 E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu, e por cinco meses se ocultou, dizendo: 25 Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens. 26 E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. 29 E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. 30 Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. 31 E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. 32 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. 34 E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? 35 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. 36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; 37 Porque para Deus nada é impossível. 38 Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.



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COMENTÁRIO


Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestar veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem:
1. Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: “Bendita és tu...”, igualmente também se dirige à Criança: “Bendito é o Fruto do teu ventre”; 

2. Aquela que profetiza se enche de humildade diante do que lhe é inefável, e, assim, Isabel diz: “Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?”; 

3. Faz com que ela profetize acerca do que não entende. Isabel não poderia entender como o mortal poderia gerar o Eterno;  

4. Louva Àquela que Deus santificou: “Bem aventurada aquela que creu...”. Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza: 

a. Louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe concedeu, sendo ela uma humilde serva e; b. Anunciando a veneração que doravante todas as gerações lhe prestariam.
A maioria dos Protestantes não consegue enxergar este sentido do texto, porque são despossuídos de uma mente litúrgica. Como sua experiência se centraliza e se apoia unicamente na razão discursiva, reduz a expressão “Bem Aventurada” - aplicada à Virgem  - a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarias. 

Tal abordagem assemelha-se às visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só́ enxergam as suas utilidades, mas não conseguem exaurir sua alma, como faz um artista. Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao próprio Cristo, o Senhor; pois se as fórmulas “Bendita", "Bem Aventurada”, forem despidas de seus sentidos cúlticos e reduzidas a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: “Bendito o Fruto do Teu ventre”.

A partir da visita de Maria a Isabel, a Igreja entende que foi o próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus.

Pe. Mateus (Antonio Eça)   

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