15 de Maio de 2018 (CC) / 02 de Maio (CE)
Santo Atanásio, o Grande, Arcebispo de Alexandria († 373)
Modo 5
«Cristo ressuscitou dos mortos,
Pisoteando a morte com Sua morte,
E outorgando a vida
Aos que jaziam nos sepulcros!»
Desde a época dos Apóstolos, tem surgido ininterruptamente na Igreja os Santos Padres e Mestres Espirituais. Costumava-se denominar «Padres da Igreja», principalmente os bispos que se sobressaíam por sua santidade de vida e que deixavam algo escrito. Já os que não eram considerados santos eram chamados de «Mestres da Igreja». Os padres e Mestres da igreja deixaram registrados em suas obras as tradições dos apóstolos que elucidavam o ensinamento verdadeiro da Fé e da vida cristã. Foram defensores da Ortodoxia nos momentos difíceis da Igreja, quando tiveram de enfrentar as heresias e os falsos mestres. Em tais circunstâncias, suas atitudes eram consideradas exemplos de vida espiritual a serem seguidos. O século IV é tido como o mais célebre pelo surgimento dos grandes mestres defensores da fé, que lutaram contra as heresias arianas. (Os arianos negavam a natureza divina de Jesus Cristo).
O primeiro a lutar contra esta heresia foi Santo Atanásio, o grande (293-373). Homem de dons extraordinários, Santo Atanásio foi educado sob a direção dos arcebispos Pedro e Alexandro de Alexandria. Santo Antônio, o Grande, fundador do monaquismo egípcio, também teve influência em sua formação. Aprofundou-se nos estudos das Sagradas Escrituras, nas obras dos primeiros escritores religiosos e nos antigos clássicos, o que lhe facilitou chegar ao importante cargo de arquidiácono do Arcebispo Alexandro. Ajudou o arcebispo a combater as heresias arianas e colaborou muito próximo ao Arcebispo Alexandro, acompanhando-o ao Primeiro Concílio Ecumênico, destacando-se pela firmeza e eloquência em sua participação. Ninguém se opôs de maneira tão abalizada ao arianismo como ele.
Quase um ano depois, o arquidiácono Atanásio foi elevado à cátedra arquiepiscopal de Alexandria. Apesar de sua pouca idade (28 anos) o Arcebispo Atanásio dirigiu com muita solidez sua Arquidiocese: visitou as igrejas, os monastérios, e se fez próximo dos bispos; consagrou Frumêncio como bispo de Absínia, visitou os monastérios em outras regiões do Egito e esteve com Santo Antônio, o Mestre da Juventude.
Firme, mas dócil, inflexível na defesa da verdade, porém benévolo com os que erravam, era dono de um extraordinário tato quando tratava com intelectuais de profunda sagacidade racional. Por sua excelente formação, granjeou rapidamente o respeito e afeto de todos.
Porém, o período de paz em suas atividades pastorais durou apenas dois anos. Teve início um período de grandes provações e infortúnios. Os seguidores de Ário, liderados pelo bispo Eusébio de Nicomédia, muito próximo dos Imperadores e amigo de Ário desde a época da escola de Antioquia, procuravam por todos os meios restituir Ário ao seio da Igreja. Para tanto, contavam ainda com a influência de Constância, irmã do Imperador Constantino. Estavam todos decididos a acatar o retorno da Ário por acreditar que ele estivesse arrependido de seus desvios na fé. Santo Atanásio, percebendo a pretensão e a trama dos falsos mestres, negou-se decididamente a receber o heresiarca que não reconhecia a natureza divina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desde então, o arcebispo Atanásio passou a ser vítima de forte perseguição, lançando-se contra ele as piores calúnias. Acusavam-no de ganância, de se relacionar com os inimigos do Império, de ter assassinado um bispo de nome Arsênio, decepando sua mão por praticar bruxarias etc. Alguns acreditaram nestas mentiras e Santo Atanásio teve que defender-se a si próprio em Juízo. Lá seus inimigos levaram ao Juiz uma mão, como se a tivessem encontrado. Contudo, toda esta farsa foi desmontada quando Arsênio se apresentou em Juízo, mostrando que tinha suas mãos perfeitas, como o Senhor as criou. Os acusadores de Santo Atanásio ficaram furiosos ameaçando vir sobre ele. Isto aconteceu na época do imperador Constantino, um defensor da Igreja. Os imperadores que o sucederam – Constâncio, o ariano e Juliano, o apóstata, perseguiram abertamente Santo Atanásio, mas nada puderam contra ele diante de sua inquebrantável firmeza. Alguns de seus cooperadores que partilhavam do mesmo ideal na defesa da fé e na luta contra os arianos – Oséias, bispo de Córdoba e Libério, bispo de Roma, por terem sido presos e afastados de suas cátedras, esmoreceram e aceitaram fazer algumas concessões aos arianos. Somente Santo Atanásio permaneceu firme na fé e na luta contra as heresias arianas. Durante quase seus 50 anos a serviço da Igreja, Santo Atanásio foi expulso cinco vezes de Alexandria, cerca de 20 anos esteve desterrado e preso; até os últimos instantes de sua vida lutou contra os hereges e, zelosamente, buscava restabelecer a paz e a unidade de pensamento no interior da Igreja.
Em meio aos esforços e preocupações de sua vida acética escreveu muitas obras com preciosos ensinamentos, defendendo a ortodoxia da fé. Suas obras foram publicadas em russo em quatro tomos. Até os dias de hoje os seus escritos, em linguagem metafórica e de grande riqueza, têm vultuoso significado e força. O valente arcebispo faleceu com a idade de 75 anos.
Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
Atos 17:19-28
19 E, tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas 20 Pois tu nos trazes aos ouvidos coisas estranhas; portanto queremos saber o que vem a ser isto. 21 Ora, todos os atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam, de nenhuma outra coisa se ocupavam senão de contar ou de ouvir a última novidade. 22 Então Paulo, estando de pé no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos; 23 Porque, passando eu e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio. 24 O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; 25 nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; 26 e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; 27 para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós; 28 porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração.
João 12:19-36
19 De sorte que os fariseus disseram entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que o mundo inteiro vai após ele. 20 Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos. 21 Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galileia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus. 22 Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus. 23 Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. 24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. 25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará. 27 Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora. 28 Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. 29 A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou. 30 Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós. 31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. 32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. 33 Isto dizia, significando de que modo havia de morrer. 34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? 35 Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. 36 Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles.
O que significa: Se o grão de trigo não cai na terra e morre? Ele fala da crucificação. Para que não se perturbassem ao ver que ele se condenava à morte, justamente quando os gentios se aproximavam dele, lhes diz: “É precisamente isto o que os fará vir até mim; isto é o que estenderá o anúncio”. Em seguida, como não conseguia persuadi-los totalmente com suas palavras, os estimula colocando-lhes diante da experiência e lhes diz: “O mesmo acontece com o trigo, que quando morre aí é que frutifica. Se nas sementes acontece isso, muito mais acontecerá em mim”. Porém, os discípulos não entenderam suas palavras. E o evangelista repete com frequência este dado, para escusá--los, visto que logo se dispersarão. Também Paulo fez alusão ao grão de trigo quando falou da ressurreição.
Que desculpa terão os que não creem na ressurreição? Porque cada dia podemos vê-la nas sementes, nas plantas e nas gerações humanas. Primeiro é necessário que a semente se corrompa, para que a partir disso ocorra a brotação. Falando de forma geral, quando é Deus quem realiza algo, não se necessitam mais explicações. Como ele nos criou do nada? Isto o digo aos cristãos que professam crer nas Escrituras. Porém, acrescentarei algo mais do raciocínio humano. Alguns homens são maus; outros são bons. Dos que são maus, muitos chegaram à idade avançada com prosperidade, enquanto que aos bons lhes aconteceu tudo ao contrário. Então quando, em que momento cada um receberá o que merece? Tu insistes dizendo: “Sim!, porém os corpos não ressuscitam”. Estes não ouvem a Paulo que diz: É necessário que o corruptível se revista da imortalidade. Ele não fala da alma, pois a alma não é corruptível; e a ressurreição é própria de quem morreu; e é o corpo que morreu.
Mas por que não admites a ressurreição da carne? Será, por acaso, impossível para Deus? Afirmá-lo seria recorrer ao extremo da necessidade. Mas não convém? Por que não convém que este elemento corruptível, que padeceu os sofrimentos e a morte, participe das coroas?
Se não conviesse, nos princípios nem sequer teria sido criado o corpo, nem Cristo teria assumido nossa carne. Porém, que ele de fato a assumiu e ressuscitou, ouve como ele mesmo o afirma: Coloca aqui teus dedos e vede que os espíritos não têm carne nem ossos. Por que ressuscitou a Lázaro desta forma, se era melhor ressuscitar sem corpo? Por que colocou a ressurreição no número dos milagres e dos benefícios? Por que para a ressuscitada lhe proporcionou alimentos? Em consequência, caríssimos, que os hereges não vos enganem. Existe a ressurreição, existe o juízo. Os negam todos os que não querem dar contas de suas obras. É necessário que a ressurreição seja como foi a de Cristo. Ele é primícia e o primogênito dentre os mortos.
Cristo foi a primícia deste trigo, ele é o único que escapou da maldição, precisamente quando desejou tornar-se maldição por nós. E mais: venceu até mesmo os agentes da corrupção, retornando por si mesmo à existência livre entre os mortos. Realmente ressuscitou derrotando a morte e subiu ao Pai como dom ofertado, qual primícia da natureza humana renovada na incorruptibilidade. Verdadeiramente, Cristo não entrou em um santuário construído por homens – imagem do autêntico –, mas sim no próprio céu, para dispor-se diante de Deus, intercedendo por nós.
Que Cristo seja aquele pão de vida descido do céu; e que também perdoe os pecados e liberte aos homens de suas transgressões oferecendo-se a si mesmo a Deus Pai como vítima de agradável odor, o poderás compreender perfeitamente se, com os olhos do espírito, o contemplas como aquele novilho sacrificado e como aquele bode imolado pelos pecados do povo. Cristo realmente ofereceu sua vida por nós, para cancelar os pecados do mundo.
Portanto, assim como no pão vemos a Cristo como vida e doador da vida, no novilho o vemos imolado, oferecendo-se novamente a Deus Pai em odor de suavidade; e na figura do bode o contemplamos transformado em pecado por nós e em vítima pelos pecados, da mesma forma podemos considerá-lo como um feixe de trigo. O que pode representar este feixe, eu vos explicarei em poucas palavras.
O gênero humano pode ser comparado às espigas de um campo: nasce de certo modo da terra, desenvolve-se buscando seu crescimento normal, e é ceifado quando a morte o colhe. O próprio Cristo falou disto aos seus discípulos, dizendo: Vocês não dizem que ainda faltam quatro meses para a colheita? Eu porém vos digo: Levantai os olhos e contemplai os campos que já estão maduros para a ceifa; o ceifeiro já está recebendo o salário e armazenando fruto para a vida eterna.
Os habitantes da terra podem, portanto, comparar-se, e com razão, à messe dos campos. E Cristo, modelado conforme nossa natureza, nasceu da Santíssima Virgem assim como uma espiga de trigo. Na realidade, é o próprio Cristo quem se dá o nome de grão de trigo: Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece infecundo; porém, se morre, dá muito fruto. Por esta razão Cristo se tornou para nós anátema, ou seja, em algo consagrado e ofertado ao Pai, à maneira de um feixe ou como as primícias da terra. Uma única espiga, porém, não considerada isoladamente, mas unida a todos nós que, como um feixe formado de muitas espigas, formamos um só molho.
Pois bem, esta realidade é necessária para a nossa utilidade e proveito, e complementa o símbolo do mistério. Pois Cristo Jesus é único, mas pode ser considerado – e realmente o é – como um feixe cingido, pois que contém em si a todos os crentes, com uma união preferentemente espiritual. Do contrário, como poderia São Paulo ter escrito: Ressuscitou-nos com Cristo Jesus e nos assentou com ele no céu? Sendo ele um de nós, comungamos com ele em um mesmo corpo e, mediante a carne, alcançamos a união com ele. E esta é a razão pela qual, em outra passagem, ele mesmo dirige a Deus, Pai celestial, estas palavras: Pai, este é o meu desejo: que todos sejam um, como tu, ó Pai, está em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós.
João 12:19-36
19 De sorte que os fariseus disseram entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que o mundo inteiro vai após ele. 20 Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos. 21 Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galileia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus. 22 Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus. 23 Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. 24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. 25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará. 27 Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora. 28 Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. 29 A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou. 30 Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós. 31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. 32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. 33 Isto dizia, significando de que modo havia de morrer. 34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? 35 Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. 36 Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles.
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REFLEXÃO
O que significa: Se o grão de trigo não cai na terra e morre? Ele fala da crucificação. Para que não se perturbassem ao ver que ele se condenava à morte, justamente quando os gentios se aproximavam dele, lhes diz: “É precisamente isto o que os fará vir até mim; isto é o que estenderá o anúncio”. Em seguida, como não conseguia persuadi-los totalmente com suas palavras, os estimula colocando-lhes diante da experiência e lhes diz: “O mesmo acontece com o trigo, que quando morre aí é que frutifica. Se nas sementes acontece isso, muito mais acontecerá em mim”. Porém, os discípulos não entenderam suas palavras. E o evangelista repete com frequência este dado, para escusá--los, visto que logo se dispersarão. Também Paulo fez alusão ao grão de trigo quando falou da ressurreição.
Que desculpa terão os que não creem na ressurreição? Porque cada dia podemos vê-la nas sementes, nas plantas e nas gerações humanas. Primeiro é necessário que a semente se corrompa, para que a partir disso ocorra a brotação. Falando de forma geral, quando é Deus quem realiza algo, não se necessitam mais explicações. Como ele nos criou do nada? Isto o digo aos cristãos que professam crer nas Escrituras. Porém, acrescentarei algo mais do raciocínio humano. Alguns homens são maus; outros são bons. Dos que são maus, muitos chegaram à idade avançada com prosperidade, enquanto que aos bons lhes aconteceu tudo ao contrário. Então quando, em que momento cada um receberá o que merece? Tu insistes dizendo: “Sim!, porém os corpos não ressuscitam”. Estes não ouvem a Paulo que diz: É necessário que o corruptível se revista da imortalidade. Ele não fala da alma, pois a alma não é corruptível; e a ressurreição é própria de quem morreu; e é o corpo que morreu.
Mas por que não admites a ressurreição da carne? Será, por acaso, impossível para Deus? Afirmá-lo seria recorrer ao extremo da necessidade. Mas não convém? Por que não convém que este elemento corruptível, que padeceu os sofrimentos e a morte, participe das coroas?
Se não conviesse, nos princípios nem sequer teria sido criado o corpo, nem Cristo teria assumido nossa carne. Porém, que ele de fato a assumiu e ressuscitou, ouve como ele mesmo o afirma: Coloca aqui teus dedos e vede que os espíritos não têm carne nem ossos. Por que ressuscitou a Lázaro desta forma, se era melhor ressuscitar sem corpo? Por que colocou a ressurreição no número dos milagres e dos benefícios? Por que para a ressuscitada lhe proporcionou alimentos? Em consequência, caríssimos, que os hereges não vos enganem. Existe a ressurreição, existe o juízo. Os negam todos os que não querem dar contas de suas obras. É necessário que a ressurreição seja como foi a de Cristo. Ele é primícia e o primogênito dentre os mortos.
São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V)
“Cristo Brotou No Meio de Nós Como Uma Espiga de Trigo;
Morreu e Produz Muito Fruto”
Cristo foi a primícia deste trigo, ele é o único que escapou da maldição, precisamente quando desejou tornar-se maldição por nós. E mais: venceu até mesmo os agentes da corrupção, retornando por si mesmo à existência livre entre os mortos. Realmente ressuscitou derrotando a morte e subiu ao Pai como dom ofertado, qual primícia da natureza humana renovada na incorruptibilidade. Verdadeiramente, Cristo não entrou em um santuário construído por homens – imagem do autêntico –, mas sim no próprio céu, para dispor-se diante de Deus, intercedendo por nós.
Que Cristo seja aquele pão de vida descido do céu; e que também perdoe os pecados e liberte aos homens de suas transgressões oferecendo-se a si mesmo a Deus Pai como vítima de agradável odor, o poderás compreender perfeitamente se, com os olhos do espírito, o contemplas como aquele novilho sacrificado e como aquele bode imolado pelos pecados do povo. Cristo realmente ofereceu sua vida por nós, para cancelar os pecados do mundo.
Portanto, assim como no pão vemos a Cristo como vida e doador da vida, no novilho o vemos imolado, oferecendo-se novamente a Deus Pai em odor de suavidade; e na figura do bode o contemplamos transformado em pecado por nós e em vítima pelos pecados, da mesma forma podemos considerá-lo como um feixe de trigo. O que pode representar este feixe, eu vos explicarei em poucas palavras.
O gênero humano pode ser comparado às espigas de um campo: nasce de certo modo da terra, desenvolve-se buscando seu crescimento normal, e é ceifado quando a morte o colhe. O próprio Cristo falou disto aos seus discípulos, dizendo: Vocês não dizem que ainda faltam quatro meses para a colheita? Eu porém vos digo: Levantai os olhos e contemplai os campos que já estão maduros para a ceifa; o ceifeiro já está recebendo o salário e armazenando fruto para a vida eterna.
Os habitantes da terra podem, portanto, comparar-se, e com razão, à messe dos campos. E Cristo, modelado conforme nossa natureza, nasceu da Santíssima Virgem assim como uma espiga de trigo. Na realidade, é o próprio Cristo quem se dá o nome de grão de trigo: Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece infecundo; porém, se morre, dá muito fruto. Por esta razão Cristo se tornou para nós anátema, ou seja, em algo consagrado e ofertado ao Pai, à maneira de um feixe ou como as primícias da terra. Uma única espiga, porém, não considerada isoladamente, mas unida a todos nós que, como um feixe formado de muitas espigas, formamos um só molho.
Pois bem, esta realidade é necessária para a nossa utilidade e proveito, e complementa o símbolo do mistério. Pois Cristo Jesus é único, mas pode ser considerado – e realmente o é – como um feixe cingido, pois que contém em si a todos os crentes, com uma união preferentemente espiritual. Do contrário, como poderia São Paulo ter escrito: Ressuscitou-nos com Cristo Jesus e nos assentou com ele no céu? Sendo ele um de nós, comungamos com ele em um mesmo corpo e, mediante a carne, alcançamos a união com ele. E esta é a razão pela qual, em outra passagem, ele mesmo dirige a Deus, Pai celestial, estas palavras: Pai, este é o meu desejo: que todos sejam um, como tu, ó Pai, está em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós.
São Cirilo de Alexandria, Patriarca de Alexandria (séc. V)
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