domingo, 4 de novembro de 2018

23º Domingo Depois de Pentecostes

04 de Novembro de 2018 (CC) / 22 de Outubro (CE)
Milagroso Ícone da Mãe de Deus de Kazan
Santo Abércio, bispo de Hierápolis († c. 170)
Modo 6




O Ícone de Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego, teria sido escrito, segundo os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem de meio corpo da Virgem carregando o Menino Jesus, que se encontra quase de pé numa atitude de benção para com sua mãe, para quem Ele ergue Sua mão direita. 
O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho. Sob a cobertura está o desenho e as cores se conservam perfeitamente, o que se leva a considerá-lo não unicamente como uma peça de altíssimo valor religioso, mas também uma verdadeira obra de arte. 
A lâmina que recobre a imagem data do século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que deste modo quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem. 
No dia 1 de outubro de 1552, festa da «Proteção da Virgem» o exército do Czar Ivan, o Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino Tártaro. O Czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da Anunciação. 
No ano de 1579 Kazan foi assolada por um violento incêndio que destruiu a metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a Virgem aparece a uma menina de nove anos. Manda-lhe escavar as ruínas porque ali encontraria o Sagrado Ícone. 
No dia 8 de julho de 1579, é encontrada entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de 1612 quando é transportada para a cidade de Moscou. 
Em 1790 o Czar Pedro, o Grande, a invoca como «Protetora e Estandarte»na batalha de Poltava, contra Carlos XII da Suécia. Após a vitória russa o ícone é entronizado na Catedral de Moscou, sendo em seguida transferido para São Petersburgo e colocado num santuário a ele especialmente dedicado. 
Na noite de 29 de junho de 1904, durante uma revolta popular, desaparece junto a outros tesouros do Santuário. Em 1970, cerca de sessenta anos depois, reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Neste contexto, foi comprado pelo «Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima» organização católica de devoção à Virgem de Fátima. Prosseguindo sua caminhada foi entronizado na Capela Bizantina, em Fátima, Portugal e, em 1993, foi entregue ao Papa por esta organização. 
O bispo de Roma conservou o ícone na capela de seu apartamento, esperando a oportunidade de encontrar-se com o Patriarca Alexis II para devolvê-lo, pois este, enquanto chefe atual da Igreja Ortodoxa Russa, era considerado seu legítimo proprietário.  
Em 28 de agosto de 2004, o Papa João Paulo II, manifestando o desejo de promover as relações fraternas com a Igreja Ortodoxa Russa, devolveu ao Patriarcado de Moscou este que é um dos ícones mais venerados pelos Ortodoxos através da história. 


Leituras Comemorativas 
Lucas 1:39-49 Matinas 
Filipenses 2:5-11
Lucas 10:38-42; 11:27-28 
Comemoração de Santo Abércio 
Abércio Marcelo viveu no segundo séclo, na Frigia Salutaris, e era Bispo de Hierópolis.  Aos setenta anos de idade realizou uma peregrinação a cidade de Roma e, retornando desta viagem, passou pela Síria, Mesopotâmia, visitando lá à cidade de Nísibis. Por todos os lugares por onde passou encontrou fervorosos cristãos que haviam sido purificados pelo batismo e se nutriam do Corpo e do Sangue de Cristo.
O santo bispo, através de sua pregação e milagres, levou tantos à conversão que lhe foi dado o título de «Igual-aos-apóstolos». Sua fama chegou aos ouvidos do Imperador Marco Aurélio que mandou que viesse à Roma, pois sua filha era vítima de possessão. Santo Abércio realizou com muito êxito o exorcismo na jovem, ordenando ao demônio que lhe atormentava que transportasse a pedra de um altar do hipódromo romano até a sua cidade episcopal, onde seria utilizada na construção de sua sepultura. O nome de Abércio figura na liturgia grega desde o século X. Seu adormecimento em Cristo aconteceu quando contava 72 anos de idade.
 

 
Oração Antes de Ler as Escrituras 
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (I)

Mateus 28:16-20

E os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

LITURGIA

Tropário da Ressurreição
Estando os Poderes angélicos diante do teu túmulo, / os guardas ficaram como mortos / e Maria, em pé, diante do sepulcro, / procurava o Teu puríssimo Corpo. / Tu despojaste o Inferno, sem ser por ele atingido, / e foste ao encontro da Virgem, dando-nos a vida. / Ó Senhor, ressuscitado dentre os mortos, // glória a Ti!

Kondáquion da Ressurreição
Ressuscitando todos os mortos do vale de trevas / lá embaixo com uma mão sustentadora de vida, / Cristo nosso Deus, o Doador de vida / decidiu conceder a Ressurreição a essa nossa massa mortal. / Pois Ele é o Salvador de todos, //a Ressurreição, a vida e o Deus do mundo todo.

Hino à Virgem
Ó Admirável Protetora dos Cristãos / e nossa Medianeira ante o Criador, / Não desprezes as súplicas de nenhum de nós, pecadores, / Mas, apressa-te a auxiliar-nos como Mãe bondosa que és, / Pois, te invocamos com fé: / Roga por nós junto de Deus, // Tu que defendes sempre àqueles que em ti esperam.

Theotokion
Clamando com a Tua bendita Mãe, / voluntariamente, viste padecer, irradiando na cruz, / desejaste encontrar Adão, dizendo aos anjos: / Alegrem-se comigo, porque foi encontrado o dracma perdido, // Deus nosso, que com sabedoria tudo consolidaste, glória a Ti!

Prokímenon

Salva, Senhor, o Teu Povo 
e abençoa a Tua Herança. (Sl 27: 9)

Clamo a Ti, Senhor, meu Rochedo,
presta ouvido aos meus rogos. (Sl 27: 1)

Efésios 2:4-10

Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!
Quem habita ao abrigo do Altíssimo
e vive à sombra do Senhor Onipotente. (Sl 90:1)   

Aleluia, aleluia, aleluia!
Diz ao Senhor: sois meu refúgio e proteção,
sois o meu Deus no qual confio inteiramente. (Sl 90:2)

Aleluia, aleluia, aleluia!

Lucas 16:19-31

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

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HOMILIAS


“Deus Aceita os Dons Para o Seu Templo, 
Lhe Agradam, No Entanto, Muito Mais As Oferendas Que Se Dão Aos Pobres”

Desejas honrar o corpo de Cristo? Não o desprezes, pois, quando o contemples nu nos pobres, nem o honres aqui, no templo, com lenços de seda, se ao sair o abandonas em seu frio e nudez. Porque o mesmo que disse: Isto é o meu corpo, e com sua palavra trouxe à realidade o que dizia, afirmou também: Tive fome e não me destes de comer, e mais adiante: Sempre que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, a mim o deixastes de fazer. O templo não necessita de vestes e lenços, mas pureza de alma; os pobres, porém, necessitam que com muita dedicação nos preocupemos com eles.

Reflitamos, portanto, e honremos a Cristo com aquela mesma honra com que ele deseja ser honrado; pois, quando se quer honrar a alguém, devemos pensar na honra que lhe agrada, e não no que nos satisfaz. Também Pedro quis honrar ao Senhor quando não permitiu deixar-se lavar os pés, mas o que ele queria impedir não era a honra que o Senhor desejava, mas sim o contrário. Assim, tu deves prestar ao Senhor a honra que ele mesmo te indicou, distribuindo tuas riquezas aos pobres. Pois Deus certamente não tem necessidade de taças de ouro, mas, ao contrário, deseja almas de ouro.

Não digo isto com intenção de proibir a entrega de dons preciosos para os templos, mas que, junto com estes dons e até mesmo acima deles, deve-se pensar na caridade para com os pobres. Porque, se Deus aceita os dons para o seu templo, lhe agradam, no entanto, muito mais as oferendas que se dão aos pobres. De fato, da oferenda feita ao templo somente tira proveito quem a fez; mas da esmola tira proveito tanto quem a faz como quem a recebe. O dom dado para o templo pode ser motivo de vanglória; a esmola, entretanto, somente é sinal de amor e caridade.

De que serviria adornar a mesa de Cristo com taças de ouro se o próprio Cristo morre de fome? Dá primeiro de comer ao faminto, e em seguida, com o que te sobrar, ornamentarás a mesa de Cristo. Queres fazer oferenda de taças de ouro e não és capaz de dar um copo de água? E de que serviria recobrir o altar com lenços bordados de ouro, quando negas ao próprio Senhor a veste necessária para cobrir a sua nudez? O que ganhas com isso? Diz-me se não: Se vês a um faminto com necessidade do alimento indispensável e, sem preocupar-te com a sua fome, o levas para contemplar uma mesa adornada com baixela de ouro, te agradecerá por isso? Não se indignará ainda mais contigo? Ou, se, vendo-o vestido de farrapos e morto de frio, sem lembrar-te de sua nudez, levantas em sua honra monumentos de ouro, afirmando que com estes presentes o está honrando, ele não pensará que queres zombar de sua indigência com a mais sarcástica de tuas ironias?

Pensa, portanto, que é isto o que fazes com Cristo, quando o contemplas errante, peregrino e sem teto e, sem recebê-lo, te dedicas a adornar o pavimento, as paredes e as colunas do templo. Prende lâmpadas com correntes de prata, e te negas a visitá-lo quando ele está acorrentado na prisão. Com isto que estou dizendo não pretendo proibir o uso de tais adornos, mas afirmo que é absolutamente necessário fazer um sem descuidar do outro; mais: exorto-vos a que sintais a maior preocupação pelo irmão necessitado do que pela decoração do templo. Realmente ninguém estará condenado por omitir este segundo; mas os castigos do inferno, o fogo inextinguível e a companhia dos demônios estão destinados para aqueles que descuidem do primeiro. Portanto, ao decorar o templo, procurai não desprezar o irmão necessitado, porque este templo é muito mais precioso que aquele outro.


São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V)


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“O Rico Epulão E O Pobre Lázaro”

Havia um homem rico que se vestia de púrpura. E visto que se faz menção do nome, parece tratar-se mais de uma história que de uma parábola. Com toda intenção o Senhor nos apresentou aqui a um rico que desfrutou dos prazeres deste mundo, e que agora, no inferno, sofre o tormento de uma fome que não se saciará jamais; e, não sem motivo apresenta, como associados aos seus sofrimentos, aos seus cinco irmãos, a saber, os cinco sentidos do corpo, unidos por uma espécie de irmandade natural, os quais estavam abrasando no fogo de uma infinidade de prazeres abomináveis; e, pelo contrário, colocou a Lázaro no seio de Abraão, como em um porto tranquilo e em um abrigo de santidade, para ensinar-nos que não devemos deixar-nos levar pelos prazeres presentes nem, permanecendo nos vícios ou vencidos pelo tédio, determinar uma fuga da ascese.

Trata-se, portanto, desse Lázaro que é pobre neste mundo, porém rico diante de Deus, ou daquele outro homem que, segundo o apóstolo, é pobre de palavra, mas rico de fé – na verdade, nem toda pobreza é santa, nem toda riqueza repreensível, mas do mesmo modo que a luxúria contamina as riquezas, assim a santidade recomenda a pobreza –, ou do homem apostólico que conserva íntegra sua fé, que não busca a beleza nas palavras, nem a reserva de argumentos, nem tampouco as luxuosas vestes da frase, posto que este tal já recebeu a sua apropriada recompensa quando lutou contra os hereges maniqueus: Marcião, Sabélio, Ário, Fotino..., reprimindo os desejos da carne que, como foi dito, serve de incentivo aos cinco sentidos, a saber, desse que recebeu a recompensa que lhe foi prometida, quando lhe foi entregue, em pagamento, riquezas superabundantes e um soldo perpétuo.

E não é que creiamos que seja errado sustentar que esta passagem se refere à crença de que Lázaro recolhe da mesa dos ricos, esse Lázaro cujas úlceras, segundo o texto, davam repulsa ao rico epulão, que entre banquetes luxuosos e convites cheios de perfumes não podia suportar o mau odor dessas chagas que os cachorros lambiam àquele que sentia fastio até do odor do ar e da própria natureza; e de fato não existe dúvida que a arrogância e o orgulho dos ricos têm sinais próprios para manifestar-se. E de tal maneira estes se esquecem que são homens, que, como se estivessem acima da natureza humana, encontram nas misérias dos pobres um incentivo para as suas paixões, riem-se do necessitado, insultam ao mendigo e saqueiam a esses mesmos dos quais deviam se compadecer.

O que quiser pode aderir, como um novo Lázaro, aos dois pontos de vista.


Santo Ambrósio, Bispo de Milão (Séc. IV)

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