Tom 5
Em 1616, o sanguinário governante persa Shah Abbas I, invadiu a Geórgia com um enorme exército. Seu objetivo era nivelar o país completamente, para não deixar um único edifício em pé. O exército do Xá sequestrou centenas de milhares de georgianos cakhetianos* e os enviou para a Pérsia para serem vendidos como escravos. Ele, também, estabeleceu uma população Turco-otamana nas regiões recém-despovoadas da Geórgia. Em colaboração com o Xá, muitos povos Lezgin do norte montanhoso do Cáucaso se mudaram para o sul para ocupar as casas dos georgianos exilados.
O viajante italiano do século XVII, Pietro Della Valle descreveu deste modo o exílio georgiano na Pérsia:
“Seria muito longo para narrar tudo o que se passou nesta miserável migração, quantos assassinatos, quantas mortes causadas por privações, quantas seduções, estupros, e atos de violência, quantas crianças afogadas pelos próprios pais ou lançadas nos rios pelo desespero; algumas arrancadas à força do seio da mãe porque pareciam fracas demais para viver, e jogadas à beira do caminho e abandonadas ali para servir de comida para as feras ou pisoteado pelos cavalos e camelos do exército, que marchavam durante um dia inteiro em cima de cadáveres; quantos filhos separados de seus pais, esposas de seus maridos, irmãs de seus irmãos e levados para países distantes sem esperança de se encontrarem novamente. Por todo o acampamento, homens e mulheres eram vendidos, nesta ocasião, muito mais baratos que os animais, por causa do grande número deles”.**
Os exilados georgianos na Pérsia incluíam um grande número de clérigos. Muitos deles celebravam os Ofícios Divinos em segredo e inspiravam o povo a permanecer fiel a Deus. Os descobertos foram punidos severamente. Muitos georgianos foram martirizados pela fé cristã durante o exílio persa. Não apenas pesquisadores georgianos, mas historiadores e viajantes de outras nacionalidades atestam a verdade disso. Além disso, os georgianos étnicos que atualmente residem em territórios anteriormente persas, continuam a comemorar seus ancestrais tombados até hoje. Fazem peregrinações aos locais onde os seus antepassados foram martirizados e ali preparam festas em honra da sua memória. Um desses sítios foi chamado de “Ascensão”.
Da língua, da pátria e da fé, apenas a língua permanece viva entre os georgianos nos antigos territórios persas. A maioria perdeu contato com sua pátria e com a fé cristã. Aqueles afortunados o suficiente para poder retornar à Geórgia, retornam à Fé Ortodoxa. Em 2001, quando o Patriarca Ilia II visitou os georgianos étnicos no Irã, ele os presenteou com um monte de areia georgiana. Com grande emoção os georgianos espalharam o solo sobre o terreno onde seus ancestrais foram martirizados.
Em 18 de setembro de 2003, o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa da Geórgia, declarou todos os martirizados nas mãos dos muçulmanos nos séculos XVII e XVIII, dignos de serem contados entre os santos. O dia da sua comemoração foi marcado na Festa da Santa Ascensão, em homenagem ao lugar onde muitos deles foram martirizados.
* Os Cakhetianos são um subgrupo etnográfico da Geórgia, conhecidos por serem grandes produtores e bebedores de vinho), que falam o dialeto cakhetiano da língua georgiana e possuidores de uma cultura muito pitoresca.
** Citado por David Marshall Lang; "Lives and Legends of the Georgian Church"; Londres: George Allen & Unwin Ltd., 1956, p. 170.)
Comemoração de São Talileu
A primeira aparição da Santa Cruz se deu ante o imperador Constantino o Grande, com um vitorioso emblema escrito: «Com este sinal vencerás». Logo houve outra aparição em Jerusalém, por volta do ano 346, sendo Patriarca, Kirilos e o Monarca, Constantino, filho de Constantino o Grande. Esta visão aconteceu em 7 de março; era a hora terceira quando, no céu, surgiu repentinamente o sinal da Gloriosa Cruz formada por uma luz brilhante sobre o monte Gólgota, alcançando até o monte das Oliveiras. Esta aparição causou grande admiração entre todos aqueles que se encontravam em Jerusalém. Jovens, mulheres e crianças correram alegremente às igrejas para agradecer e glorificar a Deus que os abençoou e lhes concedeu a Cruz como arma e escudo protetor contra o diabo.
São Talileu era médico e tratava gratuitamente os doentes. Os gregos lhe chamavam, por isso “o Misericordioso” e lhe tinham entre os santos “desinteressados”.
Este santo foi martirizado em Aegae na Cilícia. Conta-se que nasceu no Líbano e que era filho de um general romano. Teria exercido a medicina em Anazarbus. Quando estourou a perseguição de Numeriano, Talileu se refugiou em um olival onde foi capturado. Conduzido à costa da Aegae, foi amarrado de pés e mãos atirado ao mar. Mesmo assim, teria conseguido chegar vivo à costa, sendo aí decapitado.
São Talileu é associado a muitos outros mártires, entre eles Alexander e Asterio, soldados que foram os responsáveis pela execução do mártir ou, pelo menos, testemunharam o seu martírio.
Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
MATINAS (III)
Marcos 16:9-20
Fragmento 71 - Naquela época, tendo Jesus ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham estado com ele, os quais estavam tristes, e chorando. E, ouvindo eles que vivia, e que tinha sido visto por ela, não o creram. E depois manifestou-se de outra forma a dois deles, que iam de caminho para o campo. E, indo estes, anunciaram-no aos outros, mas nem ainda estes creram. Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém.
LITURGIA
Primeira Antífona.
1. Povos todos batei palmas, aclamai a Deus com hinos de louvor.
Refrão: Pelas orações da Mãe de Deus, Ó Salvador, salva-nos!
2. Pois, o Senhor, o Deus Altíssimo É temível em toda a terra
3. Ele submeteu os povos sob o nosso jugo, e as nações por debaixo dos nossos pés.
4. Por entre aclamações o Senhor ascendeu, o Senhor se elevou ao toque da trombeta.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, eternamente agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Segunda Antífona
1. Grande É o Senhor e mui Digno de louvor na cidade do nosso Deus.
Refrão: Salva-nos, ó Filho de Deus, Tu que em glórias ascendeste aos céus: nós que a Ti cantamos: Aleluia!
2. Deus É reconhecido em Sua fortaleza.
3. Perante Ele vem a congregação dos reis.
Glória ao Pai † e ao Filho e ao Espírito Santo, eternamente agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Terceira Antífona
1. Escutai, ó povos todos; dai ouvidos, ó habitantes do universo.
Tropárion: Subiste glorioso ao céu, ó Cristo nosso Deus,/ enchendo de júbilo os discípulos/ pela promessa do Espírito Santo,/ e confirmando-os por Tua bênção,/ porque És o Filho de Deus, o Redentor do mundo.
2. Homens todos: ricos e pobres.
3. Minha boca falará sabedoria, a meditação do meu coração compreenderá.
4. Inclinarei os meus ouvidos às parábolas, decifrarei enigmas com a salmodia.
Glória ao Pai † e ao Filho e ao Espírito Santo, eternamente agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Atos 1:1-12
Fragmento 1A - O primeiro livro que te escrevi, Teófilo, acerca de tudo o que Jesus fez e o que ensinou desde o início até o dia em que ascendeu, dando mandamentos pelo Espírito Santo aos Apóstolos, a que Ele escolhera, aos quais Se revelou vivo, depois de Seu sofrimento, com muitas provas fiéis, durante quarenta dias aparecendo a eles e falando sobre o Reino de Deus. E, reunindo-os, ordenou-lhes: não saissem de Jerusalém, mas esperassem pelo Prometido do Pai, sobre Quem de mim ouvistes, porque João batizou com água, e vós, em poucos dias depois disso, sereis batizados com o Espírito Santo. E, estando eles perguntaram-Lhe, dizendo: Senhor, será neste tempo em que restaurarás o reino a Israel? Ele lhes disse: Não vos pertence saber os tempos ou estações que o Pai colocou em Seu poder, mas recebereis poder quando o Espírito Santo vier sobre vós, e você sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, e em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra. E, tendo dito isso, enquanto eles olhavam, Jesus foi elevado aos céus e uma nuvem o escondeu de seus olhos. E, enquanto olhavam para o céu, durante Sua partida, dois homens apareceram-lhes em vestes brancas e disseram: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Este Jesus, elevado diante de vós ao céu, virá da mesma maneira que você O viste subir. Então eles voltaram a Jerusalém da montanha chamada Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, na distância da jornada do sábado.
Lucas 24:36-53
Canto da Comunhão
Subiu Deus por entre aclamações,
o Senhor, ao som das trombetas.
Aleluia, aleluia, aleluia!
† † †
HOMILIA DA ASCENSÃO DE CRISTO
Por Protopresbítero George Dion Dragas*
A Ascensão como o auge das Festas do Senhor:
Como brilhante e maravilhosa é esta festa! É o auge de todas as festas do Senhor, porque com ela o sagrado propósito da Encarnação do Indizível Verbo de Deus se conclui, conforme a Divina economia. Para que o Filho e Verbo de Deus feito homem, foi submetido a paixão, a morte, a ressurreição e a ascensão ...? Todos estes eventos aconteceram de modo que a natureza humana não permanecesse prostrada, mas se elevasse para o céu, para que se tornasse divinizada e glorificada, de acordo com o projeto original do Criador. Esta, então, era a finalidade para a qual o Filho de Deus se dignou a assumir em Sua Santíssima pessoa (hipóstase) a nossa natureza humana, que havia caído de sua condição original, a fim de renová-la com a sua crucificação e ressurreição e erguê-la para as alturas celestiais com sua gloriosa ascensão, apresentando-a a Deus, o Pai, como o troféu radiante de Sua vitória.
A Ascensão como o triunfo da natureza humana:
Na Ascensão de Cristo, Deus o Pai aceitou as primícias de nossa humanidade, e se agradou não só por causa da dignidade d’Aquele que a ofereceu, mas também pela pureza da oferta . Esta, então, é a vitória perfeita contra o pecado. Este é o triunfo da natureza humana. A natureza humana não poderia ter descido para um ponto mais baixo do que a que chegou após a queda de Adão, mas também não poderia ascender a um ponto mais alto do que aquele em que o novo (ou último) Adão a ergueu com sua ascensão!
A Ascensão que o benefício final oferecido por Deus ao homem:
O que a mente poderia apreender das dimensões reais deste evento? A natureza desamparada e frágil ser humano, a natureza que fugiu de Deus e foi exilada do paraíso, a natureza rasteira, miserável condenada e escravizada dos seres humanos torna-se hoje mais gloriosa do que a dos anjos, projetada para sentar-se com Cristo no seio do Pai, agora é adorada por toda a criação visível e invisível! Que linguagem há que possa louvar a magnitude desta celebração ou descrever dignamente a maravilha da beneficência de Deus aos seres humanos? Hoje, a desejada entrada no paraíso, a Jerusalém celeste, é aberta aos descendentes do exilado Adão. Hoje, a restauração do novo Israel na Terra Prometida é realizada.
A Ascensão como a vitória final de Cristo para o homem:
Hoje, no Monte das Oliveiras o Céu e a Terra se beijam e anjos e seres humanos estão unidos. Aqui, o coro dos Apóstolos cumprimenta seu doce Mestre com alegria em sua partida, e as Ordens dos Anjos saúdam o Rei dos Céus com alegria inefável. Aqui, o cativeiro, é levado cativo pelo Vencedor da morte com a sua ascensão às alturas, ou seja, as almas dos justos que foram redimidos, têm seus olhos em seu Redentor com sentimentos de euforia e alegria. Aqui também, a Sua Mãe, a Virgem pura, se despede do seu Filho amado, o Qual sobe ao Céu, onde Deus, o Pai acolhe o seu Filho unigênito e O faz sentar sentar à Sua direita. Aqui, no prestigioso Monte das Oliveiras, também nós somos chamados a elevar nossas mentes e nos tornarmos testemunhas oculares dos eventos grandes e maravilhosos que ocorreram, tendo como nosso guia Lucas, o teólogo, o único entre os Evangelistas a narrar – de forma breve, mas no melhor estilo das narrativas sacerdotais - a solene e gloriosa ascensão de nosso Senhor e Deus e Salvador Jesus Cristo.
Por que a Ascensão ter lugar 40 dias após e não imediatamente após a Ressurreição?
O Senhor da vida, rompeu os laços da morte por sua ressurreição e se reuniu com seus discípulos durante 40 dias; ressurreição que se tornou para eles inconteste por meio de várias provas. Cristo não subiu ao céu no dia em que ressuscitou, porque um evento como esse teria levantado dúvidas e perguntas. Se ele tivesse feito isso, muitos dos incrédulos estariam em condições de projetar o argumento de que a ressurreição era mais um sonho de aspirações piedosas que facilmente surgem e desaparecem mais facilmente. Por este motivo, então, Cristo permaneceu por 40 dias sobre a terra, e apareceu aos seus discípulos várias vezes, mostrando-lhes as marcas de suas feridas, explicando-lhes as profecias que Ele cumpriu em sua vida e sofrimentos como homem, e até mesmo comeu com eles.
* O Protopresbítero George Dion Dragas é um proeminente mestre e escritor Ortodoxo da atualidade. Padre George ensina Patrística na Escola Ortodoxa Grega de Teologia Santa Cruz em Brookline, Massachusetts (EUA).
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