domingo, 9 de agosto de 2020

9º Domingo de Depois de Pentecostes

09 de Agosto de 2020 (CC) / 27 de Julho (CE)S. 
Pantaleimon, Megalomártir e médico († e. 305).
Tom 8




São Panteleimon nasceu em Nicomídia, na região da Ásia menor, Vifínia. Seu pai, um importante pagão, chamou-o de Pantaleão o que significa "pelo tudo é leão." Sua mãe, a bem-aventurada Evvula, o educava nos princípios da religião cristã, mas morreu quando ele era ainda um menino. Pantaleão entrou para uma escola de pagãos e depois estudou as artes medicinais com um importante médico. Ele foi apresentado ao imperador Maximiliano Galério (286-305) o qual deixou Pantaleão na sua corte na condição do médico palaciano. 
Naquele tempo na Nicomídia escondiam-se os presbíteros Hermolaus, Jermip e Iermocrat, que ficaram vivos após a queima dos cristãos no templo da cidade. O sacerdote Hermolaus notou o jovem médico e explicou-lhe os princípios básicos da religião cristã. Pantaleão começou a frequentar a casa do presbítero e recebeu o dom de Deus de curar as doenças invocando o nome de Cristo. Vendo certa vez na rua uma criança morta devido a mordida de cobra, Pantaleão começou a pedir ao Senhor para ressuscitar o morto. A criança reviveu. Depois deste milagre Pantaleão aceitou o batismo e foi renomeado de Panteleimon, o que significa "todo misericordioso." Certa vez lhe trouxeram um cego e Panteleimon na presença de seu pai começou a rezar a Jesus Cristo pela cura do infeliz e o cego foi curado. Vendo este milagre, seu pai se converteu e recebeu o santo batismo. Panteleimon tratava de graça aos que se dirigiam a ele: alguns com remédios, outros com orações. Isto provocou o ciúme dos médicos e eles denunciaram ao imperador que Panteleimon era cristão.

Maximiano persuadia Panteleimon a oferecer o sacrifício aos ídolos, mas ele se recusou e na presença de todos curou um paralítico. Irado, Maximiano mandou executar o que fora curado e a Panteleimon mandou torturar. Após as torturas Panteleimon permaneceu intacto. Depois foram trazidos ao tribunal os presbíteros Hermolaus, Iermip e Iermocrate e logo decapitados. Enfim cortaram também a cabeça de São Panteleimon e de sua ferida juntamente com o sangue jorrou o leite. Ele morreu martirizado em 305. A oliveira a qual fora amarrado São Panteleimon, durante as torturas cobriu-se de azeitonas. O imperador mandou derrubar a árvore, cortar em pedaços e queimar junto com o corpo do mártir. Mas o corpo atirado à fogueira permaneceu intacto e foi sepultado nas proximidades.

Os que presenciaram descreveram a vida, os sofrimento e a morte de São Panteleimon. Seus santos restos mortais foram distribuídos por todo o mundo cristão. Sua cabeça está guardada no mosteiro russo de São Panteleimon, em Afon. No dia da memória do grande mártir Panteleimon em Nicomídia reúnem-se milhares de pessoas, cristãos ortodoxos e heterodoxos — armênios, católicos e até maometanos. Trazem centenas de doentes, muitos dos quais recebem a cura pelas orações do santo. Na metropolia da Nicomídia guardam-se milhares de manuscritos — gregos, turcos, armênios e italianos, dos que receberam as curas. O nome do grande mártir Panteleimon se invoca durante a execução do sacramento da benção dos santos óleos, durante o ofício pelo doente e durante a benção das águas, e os médicos consideram-no seu padroeiro. 

Leituras Comemorativas 

Lucas 21:12-19 Matinas
2 Timóteo 2:1-10
João 15:17-16:2 





Oração Antes de Ler as Escrituras 

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (IX)

João 20:19-31

19 Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco. 20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor. 21 Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. 22 E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos. 24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25 Diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei. 26 Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco. 27 Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. 28 Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu! 29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. 30 Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; 31 estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

LITURGIA

Tropárion da Ressurreição
Tu desceste do alto dos Céus, ó Deus misericordioso,
e aceitaste estar sepultado durante três dias,
a fim de nos libertares de nossas paixões.
Glória a Ti, Senhor, nossa vida e nossa Ressurreição!

Tropárion do Santo Grande Mártir e Médico Panteleimon Tom 3
Ó Santo Médico e padecente Panteleimon, roga ao Deus misericordioso, // que conceda às nossas almas a remissão das transgressões.

Kondákion da Ressurreição
Ressuscitando do túmulo, Tu despertaste os mortos / e levantaste Adão, / e Eva dançou de alegria na Tua Ressurreição, / e os confins da terra eclodiram em festejos triunfais /na Tua Ressurreição dentre os mortos, // ó Tu Que És misericordiosíssimo.

Glória ao Pai e ao Filho e ao espírito Santo...

Kondákion, Tom 5
Imitando o Misericordioso, / e recebendo Dele a graça da cura, / Ó portador da paixão e mártir de Cristo Deus, / por tuas súplicas cura as nossas enfermidades espirituais, / sempre afastando as tentações do inimigo // daqueles que clamam fielmente: Salva-nos, Senhor!

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.

Prokímenon

Fazei votos, e pagai-os
ao Senhor vosso Deus. (Sl. 75:11)

Conhecido É Deus em Judá, 
grande É o Seu Nome em Israel. (Sl. 75:1)

1 Coríntios 3:9-17

9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. 10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. 11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. 12 E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. 14 Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. 15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá prejuízo; mas o tal será salvo, todavia, como que pelo fogo. 16 Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós.

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!

Vinde, regozijemo-nos no Senhor,

cantemos as glórias de Deus, nosso Salvador!

Aleluia, aleluia, aleluia!

Apresentamo-nos diante d'Ele com louvor, 

e celebremo-lo com salmos! 


Aleluia, aleluia, aleluia!

Mateus 14:22-34

22 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. 23 Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. 24 Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. 25 À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. 26 Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. 27 Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. 28 Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. 29 Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. 31 Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? 32 E logo que subiram para o barco, o vento cessou. 33 Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus. 34 Ora, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré. 

COMENTÁRIO

Esta é a segunda vez que Cristo permite aos Seus discípulos passar por uma tempestade (ver 8:23-27). Na primeira vez Cristo estava com eles; aqui Ele os havia despedido em paz. Desta forma, Cristo reforça a fé apostólica de que Ele estará sempre com eles no meio das tempestades da vida. 

A fé de Pedro lhe permite andar sobre a água. Note que Pedro não pede para andar sobre as águas em si, mas para chegar até Jesus; seu desejo não é o de fazer milagres, mas de estar com o Senhor. Pedro é capaz de participar deste milagre divino, enquanto mantém seu foco em Cristo. Assim que fica distraído, começa a afundar. 

Em 14:31 O termo grego para dúvidas, aqui, significa "vacilar", ou seja, a causa do afundamento de Pedro não era a tempestade, mas a dúvida "hesitação."; portanto, Cristo não repreende o vento, mas Pedro.

Esta é a primeira vez que os discípulos confessam que Jesus É o Filho de Deus. Sabendo que só Deus pode ser adorado, eles confessam a divindade de Cristo por adorá-Lo. O barco é um símbolo da Igreja.

† † †


HOMILIAS


“Coragem! Sou Eu!”

Se em alguma ocasião chegássemos a tombar no recife das tentações, recordemos que foi Jesus quem nos mandou subir na barca da prova, e que quer que lhe precedamos na margem oposta. Pois é impossível, para quem não passou pela tentação das ondas e do vento contrário, chegar àquela margem. Assim, quando nos víssemos cercados por múltiplas dificuldades, e mediante um esforço moderado tivéssemos de certa forma conseguido esquivar-se delas, imaginemos que nossa barca se encontra em mar aberto, sacudida pelas ondas que desejariam fazer-nos naufragar na fé ou em alguma outra virtude. Porém, quando víssemos que é o espírito do mal que ataca-nos, então temos de concluir que o vento nos é contrário.

Contudo, quando suportando o vento contrário tivessem transcorrido as três vigílias da noite, isto é, das trevas que acompanham a tentação, lutando intrepidamente de acordo com as nossas forças, procurando escapar ao naufrágio da fé – a primeira vigília representa o pai das trevas e do pecado; a segunda seu filho, “o adversário”, em revolta contra tudo o que traz o nome de Deus ou o que é objeto de adoração; a terceira, o espírito inimigo do Espírito Santo –, estejamos seguros que, vindo a quarta vigília, quando a noite vai adiantada e está prestes a amanhecer, o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas para acalmar o nosso mar agitado. E quando víssemos que o Verbo nos aparece, talvez nos assustemos antes de percebermos de que estamos na presença do Salvador, e, crendo ver um fantasma, gritaremos atemorizados, mas ele nos dirá em seguida: Coragem, sou eu, não tenham medo!

E se entre nós se encontrar outro Pedro, mais fortemente comovido pelas palavras de coragem do Senhor, esse Pedro em caminho para uma perfeição que ainda não alcançou, descendo da barca – como fugindo da tentação que o acometia – em um primeiro momento andou querendo aproximar-se de Jesus sobre as águas; porém, sendo a sua fé ainda insuficiente, e agitado pela dúvida, sentirá a força do vento, sentirá medo e começará a afundar. Mas não afundará, porque gritando se dirigirá a Jesus suplicando: Senhor, salva-me! E imediatamente, também a este Pedro que lhe suplica dizendo: Senhor, salva-me, o Verbo lhe estenderá a mão e socorrerá a este homem, agarrando-o no preciso momento em que começava a afundar, e lançando-lhe em face sua pouca fé e o ter duvidado. Contudo, observa que não lhe disse: “Incrédulo”, mas: homem de pouca fé, e que acrescentou: Por que duvidaste?, como alguém que, apesar de ter um pouco de fé, vacila e não se comporta de modo contrário.

Momentos depois, tanto Jesus como Pedro subiram na barca e o vento se acalmou. Os que estavam na barca, percebendo de que perigos foram salvos, o adoraram dizendo: Realmente és o Filho de Deus.

Orígenes (séc. III)

† † †



“Senhor, Salva-Me, Porque Estou Afundando”

O Evangelho que nos foi proclamado e que recolhe o episódio de Cristo, o Senhor, andando sobre as ondas do mar, e do Apóstolo Pedro, que ao caminhar sobre as águas vacilou sob a ação do temor, duvidando se afundava e confiando novamente saiu flutuando, nos convida a ver no mar um símbolo do mundo atual, e no Apóstolo Pedro a figura da única Igreja.

Na realidade, Pedro em pessoa – ele, o primeiro na ordem dos apóstolos e generosíssimo no amor a Cristo – com frequência responde em nome de todos. Quando o Senhor Jesus perguntou quem dizia o povo que ele era, enquanto os demais discípulos lhe informam sobre as distintas opiniões que circulavam entre os homens, ao insistir o Senhor em sua pergunta e dizer: E vós, quem dizeis que eu sou?, Pedro respondeu: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo. A resposta a deu um em nome de muitos, a unidade em nome da pluralidade.

Contemplando a este membro da Igreja, tratemos de discernir nele o que procede de Deus e o que procede de nós. Deste modo não vacilaremos, mas estaremos fundamentados sobre a pedra, estaremos firmes e estáveis contra os ventos, as chuvas e os rios, isto é, contra as tentações do mundo presente. Observai, pois, nesse Pedro que então era nossa imagem: algumas vezes confia, outras vacila; algumas vezes lhe confessa imortal e outras teme que morra. Por isso, porque a Igreja tem membros seguros, tem também inseguros, e não pode subsistir sem seguros nem sem inseguros. Naquilo que Pedro disse: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo, representa os que são seguros; no fato de tremer e vacilar, não querendo que Cristo padecesse, temendo a morte e não reconhecendo a Vida, representa aos inseguros da Igreja. Assim, portanto, naquele único apóstolo, ou seja, em Pedro, o primeiro e principal entre os apóstolos, no qual estava prefigurada a Igreja, deviam estar representados os dois tipos de fiéis, ou seja, os seguros e os inseguros, já que sem eles não existe a Igreja.

Este é também o significado do que nos acabou de ser lido: Senhor, se és tu, manda-me ir até ti andando sobre a água. E, diante de uma ordem do Senhor, Pedro verdadeiramente caminhou sobre as águas, consciente de não poder fazê-lo por si mesmo. Pode a fé o que a humana fraqueza era incapaz de fazer. Estes são os seguros da Igreja. Ordene-o o Deus homem e o homem poderá o impossível. Vem – disse ele –, e Pedro desceu e começou a andar sobre as águas: pôde fazê-lo porque o havia ordenado a Pedra. Eis aqui do que Pedro é capaz em nome do Senhor; o que é que pode por si mesmo? Ao sentir a força do vento, ficou com medo, começou a se afundar e gritou: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Confiou no Senhor, pôde no Senhor; vacilou como homem, retornou ao Senhor. Em seguida estendeu a ajuda de sua destra, agarrou ao que estava afundando, censurou ao desconfiado: Que pouca fé!

Bom, irmãos, temos que terminar o sermão. Considerai o mundo como se fosse o mar: vento fortíssimo, tempestade violenta. Para cada um de nós, suas paixões são sua tempestade. Amas a Deus: andas sobre o mar, sob os teus pés ruge a agitação do mundo. Amas ao mundo: ele te engolirá. Ele sabe devorar, não suportar os seus adoradores. Porém, quando o sopro da concupiscência agita teu coração, para vencer tua sensualidade invoca sua divindade. E se teu pé vacila, se hesitas, se existe algo que não consegues superar, se começas a te afundar, diz: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Porque só te livra da morte da carne aquele que na carne morreu por ti. 

Bem-Aventurado Agostinho, Bispo de Hypona (Séc. V)

† † †


“A Insondável Profundidade De Deus”

Deus está em todas as partes, é imenso e está próximo de todos, conforme atesta de si mesmo: Eu sou – diz – um Deus próximo, e não distante. O Deus que buscamos não está longe de nós, já que está dentro de nós, se somos dignos de sua presença. Habita em nós como a alma no corpo, na condição de que sejamos seus membros sãos, de que estejamos mortos ao pecado. Então, habita verdadeiramente em nós aquele que disse: Habitarei e caminharei com eles. Se somos dignos de que ele esteja em nós, então somos realmente vivificados por ele, como seus membros vivos: Pois nele – como afirma o apóstolo – vivemos, nos movemos e existimos.

Quem, pergunto-me, será capaz de penetrar no conhecimento do Altíssimo se consideramos o inefável e incompreensível de seu ser? Quem poderá investigar as profundezas de Deus? Quem poderá gloriar-se de conhecer ao Deus infinito que tudo preenche e tudo envolve, que tudo penetra e tudo supera, que tudo abarca e tudo transcende? A Deus ninguém jamais o viu tal como é. Ninguém, portanto, tenha a presunção de perguntar-se sobre o indecifrável de Deus, o que foi, como foi, quem foi. Estas são coisas inefáveis, inescrutáveis, impenetráveis; limita-te a crer com simplicidade, porém com firmeza, que Deus é e será tal como foi, porque é imutável.

Quem é, portanto, Deus? O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus. Não questione mais a respeito de Deus; porque os que querem conhecer as profundezas insondáveis devem antes considerar as coisas da natureza. De fato, o conhecimento da Trindade divina se compara, com razão, à profundidade do mar, conforme aquela expressão do Eclesiastes: O que existe é distante e muito obscuro, quem o examinará? Porque, assim como a profundidade do mar é impenetrável aos nossos olhos, assim também a divindade da Trindade escapa a nossa compreensão. E, por isto, insisto, se alguém se esforça em saber o que deve crer, não pense que o compreenderá melhor dissertando do que crendo; ao contrário, ao ser buscado, o conhecimento da divindade se afastará ainda mais que antes daquele que pretenda alcançá-lo.

Busca, portanto, o conhecimento supremo, não com investigações verbais, mas com a perfeição de um bom comportamento; não com palavras, mas com a fé que procede de um coração simples e que não é fruto de uma argumentação baseada em uma sabedoria irreverente. Portanto, se buscas mediante o discurso racional ao que é inefável, ficarás muito longe, mais do que estavas; porém, se o buscas com fé, a sabedoria estará à porta, que é onde tem a sua morada, e ali será contemplada, pelo menos parcialmente. E também podemos realmente alcançá-la um pouco quando cremos naquele que é invisível, sem compreendê-lo; porque Deus há de ser crido tal como é, invisível, mesmo que o coração puro possa, em parte, contemplá-lo.

São Columba, de Iona (séc. VI)

† † †

Nenhum comentário:

Postar um comentário