domingo, 25 de março de 2012

4º DOMINGO DA GRANDE QUARESMA

23 de Março de 2012 (CC) / 10 de Março (CE) – Modo 8
S. Teófanes de Sigriana, mon. († 817) S. Gregório, o Interlocutor, Papa de Roma († 604).

COMEMORAÇÃO DE SÃO JOÃO CLÍMACO (DA ESCADA) 


MATINAS (VIII)

João 20:11-18

     11 Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava, abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro,    12 e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.    13 E perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu- lhes: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.    14 Ao dizer isso, voltou-se para trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus.    15 Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.    16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, virando-se, disse-lhe em hebraico: Raboni! - que quer dizer, Mestre.    17 Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.    18 E foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: Vi o Senhor! - e que ele lhe dissera estas coisas.   


LITURGIA

Hebreus 6:13-20

     13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,    14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.    15 E assim, tendo Abraão esperado com paciência, alcançou a promessa.    16 Pois os homens juram por quem é maior do que eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda contenda.    17 assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento;    18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta;    19 a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do véu;    20 aonde Jesus, como precursor, entrou por nós, feito sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.   

Marcos 9:17-31

     17 Respondeu-lhe um dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo;    18 e este, onde quer que o apanha, convulsiona-o, de modo que ele espuma, range os dentes, e vai definhando; e eu pedi aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.    19 Ao que Jesus lhes respondeu: Ó geração incrédula! até quando estarei convosco? até quando vos hei de suportar? Trazei-mo.    20 Então lho trouxeram; e quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o convulsionou; e o endemoninhado, caindo por terra, revolvia-se espumando.    21 E perguntou Jesus ao pai dele: Há quanto tempo sucede-lhe isto? Respondeu ele: Desde a infância;    22 e muitas vezes o tem lançado no fogo, e na água, para o destruir; mas se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.    23 Ao que lhe disse Jesus: Se podes! - tudo é possível ao que crê.    24 Imediatamente o pai do menino, clamando, [com lágrimas] disse: Creio! Ajuda a minha incredulidade.    25 E Jesus, vendo que a multidão, correndo, se aglomerava, repreendeu o espírito imundo, dizendo: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele, e nunca mais entres nele.    26 E ele, gritando, e agitando-o muito, saiu; e ficou o menino como morto, de modo que a maior parte dizia: Morreu.    27 Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu; e ele ficou em pé.    28 E quando entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram à parte: Por que não pudemos nós expulsá-lo?    29 Respondeu-lhes: Esta casta não sai de modo algum, salvo à força de oração [e jejum.]    30 Depois, tendo partido dali, passavam pela Galileia, e ele não queria que ninguém o soubesse;    31 porque ensinava a seus discípulos, e lhes dizia: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, que o matarão; e morto ele, depois de três dias ressurgirá.   




MEDITAÇÃO

A comemoração litúrgica chama hoje nossa atenção sobre São João Clímaco, pois esse padre, que viveu no século VII, realizou em sua vida o ideal de penitência que deveríamos manter sob a vista durante a Quaresma. “Honremos João, orgulho dos ascetas...”, é o que cantamos às Vésperas. Durante as Matinas, nós dizemos ao Santo: “Ao emagrecer teu corpo pela abstinência, tu renovaste a força de tua alma, enriquecendo-a de glória celeste”. No entanto, a Igreja dá à doutrina de São João Clímaco uma interpretação correta, quando proclama que a ascese não tem nenhum sentido nem nenhum valor se não for uma expressão de amor e quando, ainda em Vésperas, ela dirige ao Santo as seguintes palavras: “...pois a todos (nós) tu clamaste: Amai O Senhor e encontrareis a graça para sempre, pois nada é preferível ao Seu Amor...”

Nós continuamos, durante a Liturgia, a leitura da Epístola aos Hebreus (Hb. 6, 13-20). Ela nos fala da paciência e da permanência de Abraão e da realização final das promessas que Deus havia feito ao Patriarca. É impossível a Deus mentir. É por isso que, como Abraão, nós somos “encorajados”- nós que encontramos um refúgio - a agarrar fortemente a esperança que nos é oferecida.

O Evangelho (Mc. 9, 16-30) descreve a cura de um filho mudo, possuído pelo demônio, que o pai conduz a Jesus. O Senhor diz ao pai: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”. O pai do menino clama em lágrimas: “Eu creio Senhor! (porém) ajuda a minha incredulidade”. Nós não poderíamos encontrar uma melhor fórmula para expressar ao mesmo tempo a existência de nossa fé e a fraqueza dessa fé. Porém somos nós capazes de chorar com lágrimas ardentes quando dizemos à Nosso Salvador: “Eu creio... mas ajuda a minha incredulidade!”? Jesus tem piedade do pai. Ele aceita aquela fé. Ele cura o filho. Os discípulos, indo ter com o Mestre em particular, perguntam-lhe porque não puderam eles mesmos expulsar o demônio. Jesus responde: “Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum”. Não vamos nós, porém, acreditar, que, uma abstinência prolongada e a repetição de algumas orações sejam suficientes para dar esta força que os discípulos ainda não possuíam. A oração e o jejum, no sentido mais profundo dessas palavras, significam uma renúncia radical a si próprio, a fixação da alma nessa atitude de confiança e de humildade que tudo espera da misericórdia de Deus, a submissão de nossa vontade à vontade do Senhor, a colocação de nosso ser inteiro nas mãos do Pai. Aquele que pela graça de Deus atinge este estado pode expulsar os demônios. Não poderíamos nós tentar dar ao menos os primeiros passos nesse caminho? Se tentarmos, seremos surpreendidos pelo resultado que obteremos.

Em seu livro, João descreve o caminho do monge, desde a renúncia ao mundo até a perfeição do amor. É um caminho que se desenvolve através de trinta degraus, cada um dos quais está ligado ao seguinte. O caminho pode ser resumido em três fases sucessivas: a primeira se expressa na ruptura com o mundo, em vista de voltar ao estado da infância evangélica. Portanto, o essencial não é a ruptura, mas a ligação com aquilo que Jesus disse, ou seja, o regressar à verdadeira infância em sentido espiritual, o tornar-se como as crianças.

João comenta: "Um bom fundamento é formado por três bases e por três colunas: inocência, jejum e castidade". O desapego voluntário das pessoas e dos lugares queridos permite à alma entrar em comunhão mais profunda com Deus. Esta renúncia leva à obediência, que é o caminho para a humildade diante das humilhações que nunca faltarão por parte dos irmãos.

A segunda fase do caminho é constituída pelo combate espiritual contra as paixões. Cada degrau da escada está ligado a uma paixão principal, que é definida e diagnosticada, com a indicação da terapia e com a proposta da virtude correspondente.

A luta contra as paixões reveste-se de positividade, não permanece algo negativo graças à imagem do "fogo" do Espírito Santo: "Todos aqueles que empreendem este bom combate, duro e árduo saibam que vieram lançar-se num fogo, se verdadeiramente desejam que o fogo imaterial habite neles". O fogo do Espírito Santo, que é fogo do amor e da verdade. Só a força do Espírito Santo assegura a vitória.

A última fase do caminho é a perfeição cristã, que se desenvolve nos últimos sete degraus da Escada. Estes são os degraus mais altos da vida espiritual. Dos primeiros três: simplicidade, humildade e discernimento, João, considera mais importante o último, ou seja, a capacidade de discernir.

Cada comportamento deve ser submetido ao discernimento. Aqui entra-se no núcleo vivo da pessoa e trata-se de despertar no eremita, no cristão, a sensibilidade espiritual e o "sentido do coração", dons de Deus: "Como guia e regra em cada coisa, depois de Deus, temos que seguir a nossa consciência". Deste modo alcança-se o estado de tranquilidade da alma, de paz interior, que prepara para a oração, que em João é dúplice: a "oração corpórea" e a "oração do coração".

A primeira é própria de quem se deve fazer ajudar por atitudes do corpo: estender as mãos, bater ao peito, etc.; a segunda é espontânea, porque é efeito do despertar da sensibilidade espiritual, dom de Deus a quem se dedica à oração corpórea.

Em João ela adquire o nome de "oração de Jesus" e é constituída pela invocação exclusiva do nome de Jesus, uma invocação contínua como a respiração: "A memória de Jesus seja uma só com a tua respiração, e então conhecerás a utilidade da paz interior". No final, a oração torna-se muito direta, simplesmente a palavra "Jesus", que se faz uma só com a nossa respiração.

O último degrau da escada é dedicado à suprema "trindade das virtudes": a fé, a esperança e, sobretudo, a caridade. Da caridade, João fala também como amor humano. João está convencido de que uma intensa experiência deste amor faz progredir a alma muito mais que a dura luta contra as paixões, porque o seu poder é grande. Todavia, a caridade é vista também em estreita relação com a esperança. A força da caridade é a esperança.

A esperança nos torna capaz de viver a caridade, de suportarmos os cansaços e as decepções de todos os dias, de sermos bons para com os outros, sem esperar uma recompensa.



Fontes:
Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia - Eparquia do Brasil.
São João Clímaco, "A Escada da Ascensão Divina" (Boston: Holy Transfiguration Monastery, 1978)



A ESCADA DA DIVINA ASCENSÃO (OS TRINTA DEGRAUS DA ESCADA DE SÃO JOÃO CLÍMACO)


1º degrau: a renúncia à vida do mundo;

2º degrau: renúncia aos afetos terrenos;

3º degrau: fuga do mundo;

4º degrau: bem-aventurada e sempre louvável obediência;

5º degrau: verdadeira e sincera penitência;

6º degrau: pensamento da morte e dom de lágrimas;

7º degrau: a tristeza que produz alegria;

8º degrau: a doçura que triunfa a cólera;

9º degrau: esquecimento das injúrias;

10º degrau: fugir da maledicência, que seca a virtude da caridade;

11º degrau: amor ao silêncio, porque falar muito leva à vanglória;

12º degrau: fugir da mentira, que é ato de hipocrisia;

13º degrau: combater o enfado e a preguiça, uma vez que esta última destrói por si só todas as virtudes;

14º degrau: praticar a temperança, porque comer guloseimas é hipocrisia do estômago;

15º degrau: amor à castidade;

16º degrau: viver a pobreza, oposta à avareza;

17º degrau: não deixar o coração endurecer (isso causa a morte da alma);

18º degrau: sono e do canto público dos salmos;

19º degrau: fazer vigílias;

20º degrau: timidez pueril;

21º degrau: não praticar a vanglória;

22º degrau: fugir do orgulho;

23º degrau: fugir da blasfêmia;

24º degrau: doçura da alma, simplicidade;

25º degrau: humildade;

26º degrau: discernimento nos pensamentos;

27º degrau: vida interior e paz de alma;

28º degrau: oração, que é santa e fecunda fonte de virtudes;

29º degrau: recolhimento do espírito e repouso do corpo que lhe são necessários;

30º degrau: fé, esperança e caridade





São João Clímaco

São João Clímaco nasceu por volta de 579 e morreu no Egito, no ano 649. Aos 60 anos foi eleito abade do Mosteiro do Sinai. Seu nome "Clímaco" é um codinome derivado da obra escrita em grego, intitulada "Klimax tou Paradeisou". Sua obra ficou tão afamada que rapidamente o autor era referido como "João da Escada" ou, "João Clímaco".

Escreveu esta obra quando ainda era abade. Em 30 capítulos ou 30 degraus, como preferia chamar, explicava quais os vícios perigosos para os monges e quais as grandes virtudes que os distinguiam. O próprio João Clímaco comparava sua obra à escada de Jacó ou também aos 30 anos da vida de Jesus.

A obra encontrou aceitação e rápida divulgação: atesta-se a existência de 33 manuscritos gregos, muitas traduções latinas, siríacas, armênias, eslavas e árabes. Junto à obra, como apêndice, está um importante documento que orienta os abades a exercer santamente sua autoridade dentro do monastério.

Para São João Clímaco, o ideal monástico é uma vida hesycasta onde trava-se uma guerra invisível e constante contra os maus pensamentos para que eles não atrapalhem a vida de oração do monge. Ele era um bom conhecedor dos Antigos Padres - dos solitários do deserto egípcio aos Padres da Palestina. Considerava a vida monástica como necessária para a vida da Igreja, não só como um apostolado, mas como exemplo de vida a ser seguida.

Para João Clímaco, os monges devem influenciar a Igreja por viverem uma vida angelical, embora ainda possuíssem um corpo material e corruptível. Dizia que o chamado à vida monástica é para poucos e não para todos. Leia mais.


FONTE:
 BERARDINO, Ângelo, Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs,
Petrópolis - RJ - Vozes, 2002

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