quarta-feira, 4 de maio de 2016

Quarta-feira Luminosa

04 de Maio de 2016 (CC) / 21 de Abril (CE)
São Januário, bispo de Benevento




São Januário nasceu em Nápoles, no ano 270 d.C. Nada se sabe ao certo sobre os primeiros anos de sua vida. Em 302 foi ordenado sacerdote, e por sua piedade e virtude foi escolhido, pouco depois, para Bispo de Benevento. Sua caridade, infatigável zelo e solicitude pastoral desterraram de sua diocese a indigência, tendo ele socorrido a todos os necessitados e aflitos. Quando em 304, o imperador romano Diocleciano desencadeou em todo o Império cruel perseguição contra o Cristianismo, obrigando os fiéis a oferecer sacrifícios às divindades pagãs, Januário teve muitas ocasiões de manifestar o valor de seu zelo, socorrendo os cristãos, não só nos limites de sua diocese, mas em todas as cidades circunvizinhas. Penetrava nos cárceres, estimulando seus irmãos na fé e perseverança final, alcançando também, naquela ocasião, grande número de conversões. O êxito de seu apostolado não tardou a despertar atenção de Dracônio, governador da Campânia, que o mandou prender. Diante do tribunal, São Januário foi reprovado pelo pró-cônsul Timóteo, que lhe apresentou a seguinte alternativa: «Ou ofereces incenso aos deuses, ou renuncias à vida». 
«Não posso imolar aos demônios, pois tenho a honra de sacrificar todos os dias ao verdadeiro Deus»” – respondeu com vigor o santo, referindo-se à celebração eucarística. Irado, o pró-cônsul ordenou que o santo Bispo fosse lançado imediatamente numa fornalha ardente. Mas Deus quis renovar em favor de seu fiel servo o milagre dos três jovens israelitas, atirados também nas chamas, de que fala o Antigo Testamento. São Januário saiu desta prova do fogo ileso, para grande surpresa dos pagãos. O tirano, atribuindo o prodígio a artes mágicas, ordenou que São Januário e mais seis outros cristãos fossem conduzidos a Puzzoles, onde seriam lançados às feras na arena. No dia marcado para o suplicio, o povo lotou o anfiteatro da cidade. No centro da arena, São Januário encorajava os companheiros, mal terminara de falar foram libertados leões, tigres e leopardos famintos, que correram em direção às vítimas. Mas, em lugar de despedaçá-las, prostraram-se diante do Bispo de Benevento e começaram a lamber-lhes os pés. Ouviu-se então um grande murmúrio no anfiteatro, que reconhecia não existir outro verdadeiro Deus senão o dos cristãos. Muitos pediram clemência. Mas o pró-cônsul, cego de ódio, mandou decapitar aqueles cristãos, sendo executada a ordem na praça Vulcânia. Os corpos dos mártires foram conduzidos pelos fiéis às suas respectivas cidades. Segundo relataram as crônicas, uma piedosa mulher recolheu em duas ampolas o sangue que escorria do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benavento. Os restos mortais do Bispo mártir foram transladados para sua cidade natal — Nápoles — em 432. No ano 820 voltaram para Benavento. Em 1497 retornaram definitivamente para Nápoles, onde repousam até hoje, em majestosa Catedral gótica.



Atos 2:22-36

22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; 23 a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos; 24 ao qual Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela. 25 Porque dele fala Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado; 26 por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e além disso a minha carne há de repousar em esperança; 27 pois não deixarás a minha alma no hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; 28 fizeste-me conhecer os caminhos da vida; encher-me-ás de alegria na tua presença. 29 Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. 30 Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que faria sentar sobre o seu trono um dos seus descendentes - 31 prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no hades, nem a sua carne viu a corrupção. 32 Ora, a este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. 33 De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. 34 Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, 35 até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. 36 Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. 

João 1:35-51

35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos 36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus! 37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus. 38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde pousas? 39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar, e que seguiram a Jesus. 41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo). 42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). 43 No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galileia, e achando a Felipe disse-lhe: Segue-me. 44 Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. 45 Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. 46 Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê. 47 Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo! 48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. 49 Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel. 50 Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás. 51 E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem. 

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COMENTÁRIO

Santo Ambrósio, bispo de Milão (séc. IV)



Diz a Sabedoria: Os maus me buscarão e não me encontrarão. E não é que o Senhor recusasse ser achado pelos homens, ele que se oferecia a todos, até mesmo aos que não o buscavam, mas porque era buscado com ações tais que os tornava indignos de encontrá-lo. Mas, por outro lado, Simeão, que o aguardava, o encontrou.

André o encontrou e disse a Simão: Encontramos ao Messias (que significa Cristo). Também Felipe diz a Natanael: Aquele sobre quem Moisés na lei e os profetas escreveram, o encontramos: É Jesus, filho de José, de Nazaré. E com a finalidade de mostrar-lhe qual é o caminho para encontrar a Jesus, lhe diz: Vem e verás. Portanto, quem busca a Cristo, acorra não com passos corporais, mas com a disposição da alma; que o veja não com os olhos da face, mas com os interiores do coração; porque ao eterno não se vê com os olhos da face, visto que aquilo que se enxerga é temporal; o que não se vê é eterno.

E Cristo não é temporal, mas nascido do Pai antes dos tempos, como Deus que é e verdadeiro Filho de Deus; e como poder sempiterno e supratemporal, ao qual nenhum limite temporal é capaz de circunscrever; como vida metatemporal, a quem jamais o dia da morte poderá surpreender-lhe. Porque o seu morrer foi um morrer ao pecado de uma vez para sempre; e seu viver é um viver para Deus.

Ouves o que o apóstolo diz? Ao pecado, morreu de uma vez para sempre. Uma vez Cristo morreu por ti, pecador: não voltes a pecar depois do batismo. Morreu uma vez por toda a coletividade, e uma vez – e não frequentemente – morre por cada indivíduo em particular. És pecador, ó homem: por isso o Pai todo-poderoso fez ao seu Cristo pecado. O fez homem para que carregasse nossos pecados. Por mim, pois, morreu o Senhor Jesus ao pecado: para que nós, mediante ele, obtivéssemos a justificação de Deus. Por mim morreu, para ressuscitar por mim. Morreu uma vez e uma vez ressuscitou. E tu morreste com ele, com ele fostes sepultado, e com ele, no batismo, ressuscitaste: cuida para que, uma vez morto, não voltes mais a morrer. Doravante, já não morrerás ao pecado, mas ao perdão: não aconteça que, tendo ressuscitado, morras uma segunda vez. Porque Cristo, uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre mais, a morte já não tem domínio sobre ele. Então a morte lhe tinha dominado? Sim, visto que ao dizer: a morte já não tem domínio sobre ele, revela o domínio da morte. Não te ponhas a perder este benefício, ó homem! Por ti Cristo se submeteu ao domínio da morte, a fim de libertar-te do jugo da dominação. Ele acatou a servidão da morte, para conceder-te a liberdade da vida eterna.

Portanto, aquele que busca a Cristo, busca igualmente sua tribulação, e não evita a paixão. No perigo clamei ao Senhor, e ele me escutou colocando-me a salvo. É boa, pois, a tribulação que nos faz dignos de que o Senhor nos escute colocando-nos a salvo. Ser escutado pelo Senhor já é uma graça. Por isso, quem busca a Cristo, não recusa a tribulação; quem não a evita é encontrado pelo Senhor. E não a evita quem medita os mandamentos do Senhor com a adesão cordial e com as obras.



“O VERBO MESTRE E O VERBO PEDAGOGO”

São Clemente de Alexandria (séc. III)


Estabelecemos para vocês, meus filhos, uma base de verdade, fundamento inquebrantável de conhecimento do sagrado templo do grande Deus; uma bela exortação, um desejo de vida eterna que se alcança por uma obediência digna do Verbo, e que foi fundamentada no terreno da inteligência.

Das três coisas que há no homem: costumes, ações e paixões, o “Verbo Protréptico”[4] se encarregou dos costumes; guia da religião, permanece como substrato ao edifício da fé, qual quilha[5] de uma nave. Graças a ele abjuramos alegres de nossas velhas crenças, e nos rejuvenescemos para alcançar a salvação, cantando com o profeta: Que bom é Deus para Israel, para aqueles que têm um coração reto.

Um Verbo preside também as nossas ações: o “Verbo Conselheiro”; e um Verbo cura nossas paixões: o “Verbo Consolador”. Porém, é sempre o mesmo Verbo, o que arranca ao homem de seus costumes naturais e mundanos, e o que, como pedagogo, o conduz à única salvação da fé em Deus.

Bem, o guia celestial, o Verbo, recebia o nome de protréptico porque nos exortava à salvação – esta é a denominação especial que o Verbo recebe encarregado de estimular-nos, tomando o todo o nome da parte; toda religião é, de fato, protréptica, já que gera no espírito o desejo da vida presente e da futura.

Mas agora, atuando continuamente na qualidade de terapeuta e de conselheiro, aconselha ao que previamente se converteu e, o que é mais importante, promete a cura de nossas paixões. Demos-lhe, portanto, o único nome que naturalmente lhe corresponde: o de Pedagogo. O Pedagogo é educador prático, não teórico; seu objetivo é o desenvolvimento da alma, não a instrução; é guia de uma vida virtuosa, não erudita.

O mesmo Verbo é também Mestre, mas não o é ainda. O Verbo Mestre expõe e revela as verdades doutrinais; o Pedagogo, porém, na qualidade de prático nos exorta primeiro a levar uma vida moral, e já nos convida a pôr logo em prática nossos deveres ditando os preceitos que devem guardar-se intactos, e mostrando aos homens do amanhã o exemplo daqueles que anteriormente erraram o caminho.

Ambos os métodos são altamente eficazes: um conduz a obediência; é o gênero parenético; o outro, que reveste a forma de exemplo, subdivide-se, por sua vez – paralelamente – em dois modos de proceder: um consiste em que imitemos o bem e o prefiramos; o outro, em que nos afastemos dos maus exemplos, repelindo-os.

Disto se segue a cura das paixões. O Pedagogo, com exemplos consoladores, fortalece a alma; e, como se tratasse de doces remédios, com seus remédios, cheios de calor humano, cuida dos enfermos, conduzindo-lhes para o perfeito conhecimento da verdade. Saúde e conhecimento não são o mesmo; aquela se obtém pela cura; este, pelo estudo.

Um enfermo não poderia assimilar nada dos ensinamentos até que não estivesse completamente restabelecido; a prescrição que se dita aos aprendizes não tem o mesmo caráter que aquela que se dá aos que estão enfermos: aos primeiros, lhes é administrado para o seu conhecimento; aos segundos, para a sua cura.

Assim como os enfermos do corpo necessitam de um médico, do mesmo modo os enfermos da alma precisam do Pedagogo, para que sare nossas paixões. Então, vamos ao mestre, que nos guiará na tarefa de purificar nossa alma para a aquisição do conhecimento e para que seja capaz de receber a revelação do Verbo. Desta forma, o Verbo – que ama plenamente aos homens –, solícito de que alcancemos gradualmente a salvação, realiza em nós um bonito e eficaz programa educativo: primeiro, nos exorta; em seguida, nos educa como um pedagogo; finalmente, nos ensina.



“ENCONTRAMOS O MESSIAS”

Santo Atanásio de Alexandria (séc. IV)


André foi em busca de seu irmão Simão e partilhou com ele o tesouro de sua contemplação. Conduziu Pedro ao Senhor. Coisa surpreendente. André ainda não é discípulo e já é condutor de homens. Ensinando começa a aprender e adquire a dignidade de apóstolo. Encontramos o Messias. Após tantas noites de insônia à margem do Jordão, agora encontramos o objeto de nossos desejos.

Pedro foi rápido ao atender este chamado. Era o irmão de André e adiantou-se cheio de fervor com o ouvido atento. Tomando a Pedro consigo, André leva ao Senhor seu irmão segundo a natureza e o sangue, para que se beneficie de seu ensinamento. É a primeira façanha de André. Fez crescer o número de discípulos, apresentou Pedro, em quem Cristo encontrará o chefe de seus discípulos.

Isto é tão verdade que, quando, mais tarde, Pedro tenha uma conduta admirável, a deverá ao que André havia semeado. Porém, o louvor dirigido a um recai igualmente no outro. Porque os bens de um pertencem ao outro, e cada um deles se glorifica com os bens do outro.

Que alegria Pedro buscou para todos quando respondeu rapidamente a pergunta do Senhor, rompendo o silêncio embaraçoso dos discípulos! Segundo o povo, disse Jesus: quem é o filho do homem? Então, como se fosse a língua dos que tinham sido interrogados, e como se todos respondessem por ele, disse sozinho em nome de todos: tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.

Em uma frase proclamou ao Mestre o seu desígnio de salvação. Admirável harmonia das palavras. Aquelas que André utilizou para levar a Pedro, as subscreve o Pai desde o céu ao inspirar semelhantes a Pedro. André tinha dito: Encontramos o Messias. O Pai disse a Pedro: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.


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