segunda-feira, 30 de abril de 2018

4ª Segunda-feira da Páscoa

30 de Abril de 2018 (CC) / 17 de Abril (CE)
Santo Mártir Simeão, Bispo da Pérsia, Khusdazades, Ananios, Fúkcios, Azates, Askitria e mais 1257 mártires († 341); São Macário, Metropolita de Corinto; Venerável Zósimas, Higúmeno de Solovetsk; Místico Dipnos; Acácio, Bispo de Melitine. ESR Alexander de Svirsk; Mártir Adriano; Agapito, Papa de Roma; Donan, Higúmeno de Eigg e outros Mártires com ele. 
Modo 3






«Cristo ressuscitou dos mortos,

Pisoteando a morte com Sua morte,
E outorgando a vida
Aos que jaziam nos sepulcros!»


O Sacerdote Simeão, Bispo da Pérsia, padeceu durante o tempo de uma perseguição contra os cristãos sob o Imperador Persa, Sapor II (310-381). Simeão era o bispo de Selêucia (Keziphon). Eles acusaram o santo de estar em colaboração com o Imperador Grego e de atividades subversivas contra o Imperador Persa.

No ano 344, o Imperador emitiu um edital, que impôs um grave imposto sobre os cristãos. Quando alguns deles se recusaram a pagá-lo (o que foi entendido como sendo uma rebelião), o Imperador deflagrou uma feroz perseguição contra os cristãos. Eles levaram São Simeão a julgamento em grilhões de ferro como um suposto inimigo do Reino Persa, juntamente com os dois Presbíteros mártires, Habdelai e Ananios. O santo bispo nem sequer se curvou perante o Imperador, que perguntou, por que não lhe mostrou o respeito obrigatório. O santo respondeu:

«Outrora eu me inclinava à tua dignidade, mas, agora, que sou trazido perante ti para renunciar ao meu Deus e deixar a minha fé, não tornarei a me inclinar a ti».

O Imperador o incitou a adorar ao sol, e em caso da recusa ele ameaçara apagar o cristianismo na terra. Mas, nem os apelos e nem as ameaças podiam abalar o santo bravamente firme, e o levaram para a prisão. Ao longo do caminho, o eunuco Khusdazades, um conselheiro do Imperador, avistou o santo. Ele se levantou e fez uma reverência ao bispo, mas o santo se afastou dele em atitude de censura, uma vez que ele era um ex-cristão, que por medo do Imperador, agora adorava o sol. O eunuco se arrependeu de todo o seu coração, substituiu o seu traje fino por trajes grosseiros e, sentado às portas da corte, clamou amargamente:

«Ai de mim, quando estiver diante do meu Deus, de Quem sou cortado. Aqui estava Simeão, e ele virou as costas para mim.»

O Imperador Sapor soube do sofrimento de seu amado tutor e perguntou-lhe o que havia acontecido. Ele disse abertamente ao imperador, que lamentava amargamente sua apostasia e não adoraria mais o sol, mas somente o Único Deus Verdadeiro. O imperador ficou surpreso com a repentina decisão do ancião, e lisonjeiramente o encorajou a não abjurar os deuses que seus pais tinham reverenciado. Mas, Khusdazades estava inflexível, e o condenaram à morte por execução. O único pedido do mártir Khusdazades foi que os arautos da cidade anunciassem que ele não morrera por crimes contra o Imperador, mas por ser cristão. O imperador concedeu seu pedido.

São Simeão também fora informado sobre o fim do Mártir Khusdazades, e com lágrimas ofereceu ação de graças ao Senhor. Quando o trouxeram uma segunda vez ante o Imperador, São Simeão rejeitou outra vez adorar os deuses pagãos e confessou sua fé em Cristo. O enfurecido Imperador deu ordens, diante dos olhos do santo, de decapitar todos os cristãos na prisão. Sem medo, os cristãos foram à execução, abençoados pelo santíssimo Hierarca, e eles mesmos puseram as suas cabeças sob a espada. Assim também foi decapitado o companheiro de São Simeão, o Sacerdote Habdelai. Quando o Presbítero Ananios colocou a cabeça no cadafalso, todo o seu corpo estremeceu. Então, um dos dignitários, São Fúkcios, um cristão secreto, assustou-se de que Ananios renunciasse a Cristo, e clamou em voz alta:

«Não temais, ancião, a visão da decapitação, e tu verás imediatamente a Divina Luz de nosso Senhor Jesus Cristo».

Por essa explosão ele se traiu. O Imperador deu ordens para arrancar a língua de São Fúcio e lhe tirar a pele. Juntamente com São Fúkcios foi martirizado sua filha, Askitria. São Simeão foi último a ser martirizado pelo carrasco, e com uma oração, pôs a cabeça no cadafalso ( 17 de abril de 341). As execuções perduraram da Semana Pascal até 23 de Abril. Também viria a padecer como mártir, São Azates, o Eunuco, um oficial próximo ao Imperador. As fontes indicam que 1.000 mártires aceitaram o sofrimento, e depois ainda outros 100 ou 150 mais.

Santo Acácio, Bispo De Melitene
Acácio levou vida ascética no lugar onde nasceu, isto é, em Melitene, na Armênia. O bem-aventurado Otreius, o bispo daquela cidade, que participou do Segundo Concílio Ecumênico (Constantinopla, 381 dC), que estabeleceu o ensinamento Ortodoxo sobre o Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Uma em Essência e Sem Divisão. Otreius ordenou Acácio presbítero. Após a morte de Otreius, Acácio tornou-se bispo. Ele participou do Terceiro Concílio Ecumênico (Éfeso, 431 dC), que condenou a blasfêmia de Nestorius contra Cristo, a qual consistia em negar à Santíssima Virgem, o título de «Mãe de Deus». Juntamente com São Cirilo de Alexandria, Acácio com zelo lutou pela pureza da Fé Ortodoxa.

São Acácio serviu devotamente a Igreja. Ele instruiu adultos e crianças na Sagrada Escritura e na Fé Ortodoxa. Entre seus alunos estava um tal luminar da Igreja como o Monge Euthymios o Grande (Comemorado em 20 de janeiro). Acácio era portador de abundante graça de Deus e operava muitos milagres. Após longo e zeloso serviço a Deus, Acácio repousou em paz no ano 435 dC

São Agapito, Papa de Roma 
Santo Agapito, Papa de Roma, era um zeloso adepto da Ortodoxia. Pela sua vida piedosa ganhou a estima geral e foi elevado ao trono papal no ano 535.

O rei gótico Teodorico, o Grande, enviou o Papa Agapito a Constantinopla para negociações de paz. Ao longo do caminho Santo Agapito encontrou um homem que era coxo e sem palavras. Ele o curou de sua claudicação e, depois de participar dos Santos Mistérios, o mudo falou. Em Constantinopla, o santo curou um mendigo cego. Ele, também, participou do Concílio Local, onde, zelosamente, defendeu o ensino ortodoxo contra o herege Severo.

Santo Agapito morreu em Constantinopla no ano 536.

Os Veneráveis Zózimo e Savvatii 
Savvatii e Zózimo foram os co-fundadores da comunidade monástica situada na Ilha Solovki (Solovetsk) no Mar Branco.

Zózimo, foi um grande luminar do norte russo. Nasceu na diocese de Novgorod, na vila de Tolvui, perto do Lago Onega. Desde seus primeiros anos, foi criado em piedade, e após a morte de seus pais Gavriil e Varvara, ele deu suas posses e recebeu a tonsura monástica.

Em busca de um lugar solitário, o monge partiu para as margens do Mar Branco e na foz do Suma encontrou-se com o Monge Germano (Com. 30 de julho), que lhe contou sobre uma desolada ilha marítima, onde antigamente passara seis anos com o Monge Savvatii (Comemorado em 27 de Setembro).

Por volta do ano de 1436, os eremitas, felizmente fazendo a viagem pelo mar, desembarcaram nas ilhas de Solovetsk. Deus abençoou o lugar de seu assentamento com uma visão para o Monge Zózimo de uma bela igreja no céu. Os monges com suas próprias mãos construíram celas e um recinto, e eles começaram a cultivar e semear a terra. Uma vez no final do outono, o Monge Germano partiu para o continente para obter provisões necessárias. Por causa do tempo do outono ele não fora capaz de retornar. O Monge Zózimo permaneceu todo o inverno sozinho na ilha. Ele sofreu muitas tentações na luta com os demônios. A morte por fome o ameaçou, mas, miraculosamente dois estranhos apareceram e deixaram-lhe um suprimento de pão, farinha e óleo. Na Primavera, o Monge Germano retornou a Solovetsk juntamente com o pescador Mark, e trouxe suprimentos de comida e equipamento para redes de peixe.

Quando vários eremitas se reuniram na ilha, o Monge Zózimo construiu para eles uma pequena igreja de madeira em honra da Transfiguração do Senhor, juntamente com um refeitório. A pedido do Monge Zózimo  um Higúmeno foi enviado de Novgorod para o recém-formado mosteiro com um Antimênsion para a igreja. Assim ocorreu o início do conhecido monastério de Solovetsk. Nas severas condições da remota ilha, os monges sabiam organizar sua economia. Mas os higúmenos, enviados de Novgorod a Solovetsk, não podiam resistir à vida em condições inusitadamente duras, e assim os irmãos escolheram como higúmeno o Monge Zósimas.

São Zózimo possuía o dom da clarividência e, pouco antes de sua morte, o monge preparou um túmulo, no qual foi sepultado além do altar da igreja da Transfiguração († 17 de abril de 1478). Mais tarde, sobre suas relíquias foi construída uma capela. Suas relíquias juntamente com as relíquias do Monge Savvatii foram transferidas em 8 de agosto de 1566 para uma capela consagrada em sua memória na catedral da Transfiguração.

Muitos milagres foram testemunhados, quando o Monge Zózimo com o Monge Savvatii apareceu a pescadores perecendo nas profundezas do mar.

O Monge Zózimo é também patrono da apicultura, sendo-lhe próprio o apelido que recebeu de «Guardião das Abelhas». Ele também é venerado pelo pronto socorro que doentes recebiam por suas intercessões. As muitas igrejas hospitalares dedicadas a ele testemunham o grande poder curativo de sua oração diante de Deus.

São Zózimo morreu em 1478 dC, e São Savvatii em 1435 dC.

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 

Atos 10:1-16

1 Um homem em Cesaréia, por nome Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, 2 piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, e que fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus, 3 cerca da hora nona do dia, viu claramente em visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e lhe dizia: Cornélio! 4 Este, fitando nele os olhos e atemorizado, perguntou: Que é, Senhor? O anjo respondeu-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus; 5 agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro; 6 este se acha hospedado com um certo Simão, curtidor, cuja casa fica à beira-mar. Ele te dirá o que deves fazer. 7 Logo que se retirou o anjo que lhe falava, Cornélio chamou dois dos seus domésticos e um piedoso soldado dos que estavam a seu serviço; 8 e, havendo contado tudo, os enviou a Jope. 9 No dia seguinte, indo eles seu caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado para orar, cerca de hora sexta. 10 E tendo fome, quis comer; mas enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase, 11 e via o céu aberto e um objeto descendo, como se fosse um grande lençol, sendo baixado pelas quatro pontas sobre a terra, 12 no qual havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu. 13 E uma voz lhe disse: Levanta-te, Pedro, mata e come. 14 Mas Pedro respondeu: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. 15 Pela segunda vez lhe falou a voz: Não chames tu comum ao que Deus purificou. 16 Sucedeu isto por três vezes; e logo foi o objeto recolhido ao céu.

João 6:56-69

56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. 58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre. 59 Estas coisas falou Jesus quando ensinava na sinagoga em Cafarnaum. 60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? 61 Mas, sabendo Jesus em si mesmo que murmuravam disto os seus discípulos, disse-lhes: Isto vos escandaliza? 62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava? 63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. 64 Mas há alguns de vós que não creem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar. 65 E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido. 66 Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele. 67 Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? 68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. 69 E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus.

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COMENTÁRIOS


“Nosso Senhor Jesus Cristo Nos Alimenta Para a Vida Eterna”


Penso que o maná é sombra e tipo da doutrina e dos dons de Cristo, que procedem do alto e nada possuem de terreno; pelo contrário, antes estão em aberta oposição com esta carnal execração, e que na realidade são pasto não somente dos homens, mas também dos anjos. De fato, o Filho nos manifestou ao Pai em si mesmo, e por meio dele fomos instruídos na razão de ser da santa e consubstancial Trindade, e até nos introduziu no nobre caminho de todas as virtudes.

Na verdade, o reto e verdadeiro conhecimento destas realidades é alimento do espírito. Contudo, Cristo repartiu em abundância a doutrina à plena luz e de dia. Também o maná foi dado aos antepassados ao raiar do dia e à plena luz. Realmente em nós, os crentes, o dia já tem despontado, como está escrito, e o luzeiro nasceu em todos os corações, e saiu o sol de justiça, a saber, Cristo, o doador do maná inteligível. E que aquele maná sensível foi algo assim como uma figura, e este, em vez disso, o maná verdadeiro, Cristo mesmo assegura-nos com todas as garantias, quando diz aos judeus: Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.

Ele, pelo contrário, é o pão que desce do céu, para que o homem dele coma e não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Aquele que comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo. Nosso Senhor Jesus Cristo nos alimenta para a vida eterna tanto com os seus preceitos que estimulam a piedade como mediante seus místicos dons. Ele é, portanto, realmente em pessoa aquele maná divino e vivificante.

Aquele que dele comer não experimentará a futura corrupção e escapará da morte; mas não aqueles que comeram o maná sensível, pois o “tipo” não era portador de salvação, mas era unicamente figura da verdade. Deus, fazendo cair o maná do céu em forma de chuva, ordena que cada um recolha o que possa comer, e se quer, pode recolher também para aqueles que vivam na mesma tenda. Que cada um – diz – recolha o que possa comer e para todas as pessoas que vivam em cada tenda. Que ninguém guarde para amanhã. Devemos estar bem penetrados da doutrina divina e evangélica.

Portanto, Cristo distribui a graça igualmente para pequenos e grandes, e a todos alimenta igualmente para a vida; quer reunir os demais com os mais fracos, e que os fortes se sacrifiquem por seus irmãos até assumir sobre si os trabalhos deles, e fazer-lhes partícipes da graça celestial. Isto é o que – a meu juízo – ele disse aos próprios santos apóstolos: De graça recebestes, de graça dai. Portanto, aqueles que recolheram para si maná abundante, apressaram-se a reparti-lo entre os que viviam sob as mesmas tendas, isto é, na Igreja. Os discípulos realmente exortavam a todos e os estimulavam a coisas mais dignas; comunicavam a todos em abundância a graça que de Cristo alcançaram.

São Cirilo de Alexandria, Patriarca de Alexandria (séc. V)

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“Pela Carne Estar Unida Ao Verbo Vivificador, Ela Se Tornou Toda Vivificante”

O espírito é que vivifica; a carne de nada serve. Não foi com absoluta falta de inteligência que atribuístes à carne a incapacidade de vivificar; porque, quando se considera somente a natureza da carne em si mesma, evidentemente que não é vivificadora, já que não vivificará de jeito nenhum a coisa alguma das que existem, antes ela tem necessidade de quem a possa vivificar. Mas examinando com empenho o mistério da encarnação e aprendendo, então, quem é que habita nesta carne, estareis inteiramente em disposição de aceitar, a não ser que queirais contradizer ao próprio Espírito Santo que pode vivificar, ainda que por si a carne de nada sirva.

Pois, por ela (a carne) estar unida ao Verbo vivificador, tornou-se toda vivificante, elevada à potência daquele que é superior; porque ela não forçou a vir ao seu próprio nível ao que não pode ser vencido (Verbo). E assim, por mais que a natureza da carne seja impotente – no que a ela diz respeito – para vivificar, porém, realizará isto tendo ao Verbo vivificador e levando em si toda a potência do Verbo. Portanto, é corpo daquele que é por natureza Vida, e não de qualquer um dos homens, a respeito do qual com razão valeria aquilo: A carne de nada serve. Porque isto não realizará em nós a carne de Paulo, por exemplo, nem a de Pedro, ou a de qualquer outro; a única exceção é a carne de Cristo, nosso Salvador, no qual habitou corporalmente toda a plenitude da divindade.

É certo que seria a coisa mais absurda que por um lado o mel colocasse sua própria qualidade no que por natureza não é doce e pudesse transformar em si aquilo com o qual se mistura, e pensar, por outro lado, que a natureza vivificante do Verbo não exalta a sua própria bondade ao corpo no qual habitou. Por conseguinte, de todos os outros é verdade o de que a carne de nada serve; falhará somente em Cristo, porque naquela carne habita a vida, a saber: o Unigênito.

E se chama a si mesmo espírito: Porque Deus é espírito; e segundo o bem-aventurado Paulo: Porque o Senhor é o Espírito. E não dizemos isto por negar que o Espírito Santo tenha subsistência própria, mas como se chama a si mesmo Filho do homem por ter-se feito homem, assim agora se nomeia por seu próprio espírito. Porque seu Espírito não lhe é indiferente.

As palavras que vos tenho dito são espírito e vida. Todo seu corpo está pleno com a potência vivificadora do Espírito. E assim já chama “espírito” a sua carne, não porque se desfaça do que é carne, mas porque ela está extremamente unida a ele, e por revestir toda sua força vivificante dele, devendo já ser chamada também espírito. E nada de estranho tem isto, nem há por que te escandalizes disso, pois se aquele que adere ao Senhor torna-se um só espírito com ele, como o próprio corpo dele não há de ser, com maior razão, declarado um com ele?

Portanto, com o que antecede quer significar isto: Por vossas reflexões percebo – ele diz; estais sem entender porque andais discutindo o que de mim tenha saído ou dito sobre o que é o corpo terreno por sua natureza vivificadora; contudo, não é esse o fim para onde se dirigem as minhas palavras, porque toda a explicação que eu vos fazia versava a respeito do Espírito divino e sobre a vida eterna. Pois não é a natureza da carne que torna vivificador ao espírito, mas a força do Espírito que torna ao corpo vivificador. Por isso as palavras que vos tenho dito são espírito, ou seja, espirituais e que tratam sobre o Espírito; e são vida, porque é vivificante e a respeito da vida por natureza.

E ele não diz isto por destruir a sua própria carne, mas ensinando-nos o que é a verdade. Assim, o que há pouco dissemos, o voltaremos a repetir pela utilidade que existe nisso: a natureza da carne, ela por si, não poderia vivificar; pois o que mais teria naquele que é por natureza Deus? Porém, não há de entender-se que em Cristo (a carne) está só e em si mesma; está unida ao Verbo, o qual é por natureza vida. Por isso, quando Cristo a chama vivificante, não atribui a ela o poder vivificar tanto como a si mesmo ou ao seu próprio Espírito. Porque por ele o seu próprio corpo é também vivificador, já que o transformou elevando-o a sua própria eficácia; porém a forma nem é compreensível para a mente nem pode expressá-lo a língua, mas somente deve ser honrado com silêncio e com fé, que excede à razão.

São Cirilo de Alexandria, Patriarca de Alexandria (séc. V)

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