30ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

30 de Dezembro de 2020 (CC) 17 de Dezembro (CE)

Santo Profeta Daniel e os três Jovens: Ananias, Azarias e Mizael († séc. a.C. VI).

Jejum da Natividade  

Tom 4

Nos anos posteriores a 600 aC, Jerusalém foi conquistada pelos babilônios e o templo construído por Salomão foi destruído; e muitos dentre o povo israelita foram levados para o cativeiro babilônico. Entre os cativos estavam também os ilustres jovens Daniel, Ananias, Azarias e Misael. O Imperador da Babilônia, Nabucodonosor, deu ordens para instruí-los na sabedoria dos caldeus, e os vestiu com elegância na sua corte. Mas, apegando-se aos mandamentos da sua fé, recusaram o luxo e levaram uma vida de continência,  sustentando-se apenas com vegetais e água. O Senhor lhes concedeu sabedoria, e a Daniel - o dom da perspicácia e da interpretação dos sonhos. O santo Profeta Daniel, tendo preservado a fé sagrada no Único Deus e confiando em Sua ajuda onipotente, em ultrapassou em sabedoria a todos os astrólogos e feiticeiros caldeus, e tornou-se confidente do Imperador Nabucodonosor. 

De fato, Daniel, desde sua juventude fora completamente dedicado a Deus, e ainda em sua adolescência recebeu de Deus o dom de grande discernimento. Sua fama entre os judeus na Babilônia começou quando ele denunciou dois anciãos lascivos e injustos juízes judeus, e salvou a casta Susanna de uma morte injusta. Mas, sua fama entre os babilônios começou a partir do dia em que decifrou e interpretou o sonho do rei Nabucodonosor. Por isso, o rei fez dele um príncipe de sua corte. Uma vez, Nabucodonosor teve um sonho estranho, que o aterrorizou, mas, ao despertar esqueceu os detalhes da visão. Os sábios babilônios pareciam impotentes para saber o que o Imperador tinha sonhado. Então, o santo Profeta Daniel deu glória diante de todos ao poder do Verdadeiro Deus, revelando não só o conteúdo do sonho, como, também, seu significado profético. Depois disso Daniel foi elevado pelo Imperador à condição de príncipe no reino da Babilônia. 

Ananias, Azarias e Misael

Durante estes tempos, o Imperador Nabucodonosor deu ordens para erigir uma enorme estátua de si mesmo, decretando que todos à concedessem as honras dignas de um deus. Por sua recusa em fazer isto, os três santos rapazes - Ananias, Azarias e Misael - foram lançados para dentro de uma fornalha de fogo ardente. As chamas cresceram sobre a fornalha de 49 côvados, consumindo os caldeus que próximos à ela estavam postados em pé, no entanto, os santos jovens caminharam entre as chamas, oferecendo oração e salmodia ao Senhor (Daniel 3: 26-90). O Anjo do Senhor ao apareceu e resfriou as chamas, e os jovens permaneceram ilesos. O Imperador, ao ver isto, ordenou-lhes que saíssem, e se converteu ao Verdadeiro Deus. 

No tempo do Imperador Balthasar, o Santo Profeta Daniel interpretou uma inscrição misteriosa que aparecera na parede do palácio feita por uma mão invisível, enquanto o Imperador e seus convidados se banqueteavam, comendo e bebendo com seus convidados com os vasos consagrados retirados do Templo em Jerusalém,  (Dan.5: 1-31). Esta fora, pois, a inscrição aparecida: 

«MENE, MENE, TEQUEL, UFARSIM».

«MENE: Contou Deus o teu reino, e o acabou.TEQUEL: Pesado foste na balança, e foste achado em falta.PERES: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas. 

Então mandou Belsazar que vestissem a Daniel de púrpura, e que lhe pusessem uma cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem a respeito dele que havia de ser o terceiro no governo do seu reino. Naquela noite foi morto Balthasar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, ocupou o reino, sendo da idade de sessenta e dois anos» (Daniel 5:25-31). 

Sob o Imperador Persa Dario, Daniel foi caluniado por seus inimigos, e foi jogado em uma cova com leões famintos, mas eles não tocaram nele, e ele permaneceu ileso. O Imperador Dario, então, ao regozijar-se com Daniel, deu ordens em todo o seu reino de adorar o Deus de Daniel, "visto que Ele É o Deus Vivo e Sempiterno, e Seu Reino é ilimitado e Sua soberania é sem fim". 6: 1-29). 

O santo Profeta Daniel sofria profundamente por seu povo, que então estava padecendo um castigo justo por uma multidão de pecados e ofensas, por transgredir as leis de Deus, resultando no grave Cativeiro Babilônico e na destruição de Jerusalém. Daniel orava: 

«Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias» (Daniel 9:18).  

Por sua vida justa e por causa da oração por redenção da iniquidade de seu Povo, fora revelado ao Santo Profeta o destino da nação de Israel e o destino de todo o mundo.  

Durante a interpretação do sonho do Imperador Nabucodonosor, o Profeta Daniel declarou sobre os reinos substituindo uns aos outros e sobre o grande reino final - o Reino de nosso Senhor Jesus Cristo (Dan.2: 44). A visão profética sobre as setenta semanas (Dn 9: 24-27) conta o mundo sobre os sinais da Primeira e Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo e está relacionado com esses eventos (Daniel 12: 1-12). 

São Daniel intercedeu por seu povo perante o sucessor de Dario, o Imperador Ciro, que o estimou muito e decretou a liberdade para o povo israelita. Daniel e seus companheiros Ananias, Azarias e Misael, sobreviveram até a velhice, mas morreram em cativeiro.

Segundo a São Cirilo de Alexandria (com. 9 de junho), Daniel e os três jovens viveram até a velhice na Babilônia e foram decapitados por causa da verdadeira fé, sob o Imperador persa Chambyses. Quando Ananias foi decapitado, Azarias estendeu seu manto e pegou sua cabeça, após isso, Misael pegou cabeça Azarias e Daniel pegou a cabeça de Misael. Um anjo de Deus trouxe seus corpos para a Judéia, para o Monte Gebal, e colocou-os sob uma rocha. Segundo a tradição, estes quatro servos agradáveis a Deus ressurgiram na época da morte do Senhor Jesus Cristo, e apareceram a muitos e novamente adormeceram. Daniel é contado entre os quatro grandes profetas (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel). Ele viveu e profetizou 500 anos antes de Cristo. 

Tropárion - Tom 2

Grandes são os prodígios da fé:
Os Três Santos Jovens alegraram-se nas chamas
como se estando em águas refrescantes;
E ante o profeta Daniel,
Os leões se tornam como ovelhas ante seu pastor.
Por suas orações, ó Cristo Deus, salve as nossas almas!   

Kondákion - Tom 6 

Não adorastes a imagem de escultura, 

Ó Jovens três vezes abençoados, 

Mas armados com a essência imaterial de Deus, 

Fostes glorificados em uma prova de fogo. 

Em meio a chamas insuportáveis ​​clamastes a Deus, dizendo: 

Apressa-te, ó compassivo! Vem depressa em nosso auxílio, 

Pois Tu És misericordioso, 

E tudo podes fazer conforme Teu querer!   

Oração Antes de Ler as Escrituras

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Hebreus 10:1-18 

Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Doutra maneira, teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência de pecado. Nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz comemoração dos pecados, porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados. Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, Mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram. Então disse: Eis aqui venho(No princípio do livro está escrito de mim),Para fazer, ó Deus, a tua vontade. Como acima diz: Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei).

Marcos 8:30-34

E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele. E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria. E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou a repreendê-lo. Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens. E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.

† † †

REFLEXÃO

Teodoreto de Ciro (séc. V)

Jesus chega espontaneamente à paixão que dele estava escrita e que mais de uma vez havia anunciado aos seus discípulos, censurando a Pedro em certa ocasião por ter aceito de má vontade este anúncio da paixão, e demonstrando finalmente que através dela seria salvo o mundo. Por isso, ele mesmo apresentou-se aos que vinham prender-lhe, dizendo: Eu sou a quem buscais. E quando o acusavam não respondeu, e, tendo a oportunidade de esconder-se, não o quis fazer; por mais que em várias outras ocasiões em que o buscavam para prendê-lo, desapareceu.

Ademais, chorou sobre Jerusalém, que com sua incredulidade preparava sua própria calamidade e predisse sua ruína definitiva e a destruição do templo. Também sofreu com paciência que alguns homens duplamente desprezíveis lhe batessem na cabeça. Foi esbofeteado, cuspido, injuriado, atormentado, flagelado e, finalmente, levado para a crucifixão, deixando que o crucificassem entre dois ladrões, sendo desta forma contado entre os homicidas e malfeitores, degustando também o vinagre e o fel da vinha perversa, coroado de espinhos em vez de palmas e ramos, vestido de púrpura por deboche e golpeado com uma vara, atravessado por uma lança no lado e, finalmente, sepultado.

Com todos estes sofrimentos buscava a nossa salvação. Porque todos aqueles que se fizeram escravos do pecado deviam sofrer o castigo de suas obras; porém ele, isento de todo pecado, ele, que caminhou até o fim pelo caminho da justiça perfeita, sofreu o suplício dos pecadores, apagando na cruz o decreto da antiga maldição. Cristo – diz São Paulo – nos resgatou da maldição da lei, tornando-se um maldito por nós, porque diz a Escritura: Maldito todo aquele que pende de uma árvore. E com a coroa de espinhos pôs fim ao castigo de Adão, ao qual foi dito após o pecado: Maldito o solo por tua culpa: brotarão para ti abrolhos e espinhos.

Com o fel, carregou sobre si a amargura e os desgostos desta vida mortal e passível; com o vinagre, assumiu a natureza deteriorada do homem e a reintegrou ao seu estado primitivo. A púrpura foi sinal de sua realeza; a vara, indício da debilidade e fragilidade do poder do diabo; as bofetadas que recebeu anunciavam nossa liberdade, ao tolerar as injúrias, os castigos e golpes que nós tínhamos merecido.

Seu lado foi aberto, como o de Adão, porém não saiu dele uma mulher que com seu erro gerou a morte, mas uma fonte de vida que vivifica ao mundo com uma dupla torrente: um deles nos renova no batistério e nos veste a túnica da imortalidade; o outro alimenta na sagrada mesa aos que nasceram de novo pelo batismo, como o leite amamenta aos recém-nascidos.

† † †