domingo, 10 de agosto de 2025

9º Domingo Depois de Pentecostes

 
25 de Agosto 2025 (CC) / 12 de Agosto (CE)
Synaxis dos Santos do Mosteiro de Valaam 
(Festa movida para o domingo após 6 de agosto).
Synaxis dos santos de Kemerovo 
(Festa movida para o domingo antes de 18 de agosto).
Santos Mártires Fócio e Aniceto, († 305).
Tom 8



"Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo" (Mt 20,26). Esta era a principal qualidade dos Apóstolos e entre os 70 discípulos do Senhor; e em Prócoro, Nicanor, Timão e Parmena, esta condição estava presente. Foram dos primeiros diáconos da Igreja Cristã de Jerusalém e a Santa Igreja os comemora juntos em 28 de Julho, embora tenham morrido em tempo e lugares diferentes. O ofício principal destes Apóstolos consistia em organizar e servir à mesa aos membros mais pobres da Igreja, particularmente, aos órfãos e viúvas. Também ajudavam na pregação da Palavra de Deus. 
"Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição diária. Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram: ‘Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus, para administrar. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra’. Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, PRÓCORO, Nicanor, TIMÃO, PÁRMENAS e Nicolau, prosélito de Antioquia" (At 6,1-6). 
Prócoro seguiu depois com São João, o Teólogo, para a Ásia Menor, onde foi eleito e consagrado Arcebispo de Nicomédia, cumprindo seu ofício episcopal com um perfeito espírito de diaconia (serviço). Timon sofreu o martírio e morte na Arábia, para onde tinha sido enviado para propagar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os outros dois, Nicanor e Parmena, morreram em Jerusalém, cumprindo ali o ofício diaconal para o qual haviam sido escolhidos. Nos funerais, mereceram serem considerados iguais aos demais apóstolos, e toda a Igreja sofreu muito com aquela grande perda.
Ícone da Mãe de Deus Hodegetria de Smolensk
O ícone de Smolensk da Mãe de Deus, chamado "Hodegetria", que em russo significa "Putevoditel'nitsa" ou "Guia do Caminho", foi de acordo com a tradição da Igreja escrita pelo santo evangelista Lucas durante a vida terrena da Santíssima Mãe de Deus. O santo hierarca Dimitrii de Rostov sugere que esta imagem foi escrita a pedido de Teófilo, o governador de Antioquia. De Antioquia, a imagem sagrada foi transferida para Jerusalém. De lá, a imperatriz Eudokia, esposa de Arcádio, deu em Constantinopla a Pulquéria, irmã do imperador, que colocou o ícone sagrado na igreja de Blakhernai.
O imperador grego Constantino IX Monomachos (1042-1054), – em 1046 tendo dado sua filha Anna em casamento ao príncipe Vsevolod Yaroslavich, filho de Yaroslav, o Sábio, – abençoou-a em seu caminho com este ícone. Após a morte do príncipe Vsevolod, o ícone foi para seu filho Vladimir Monomakh, que o transferiu no início do século XII para a igreja da catedral de Smolensk em homenagem à Dormição (Uspenie) da Santíssima Mãe de Deus. A partir desse momento, o ícone recebeu o título de Smolensk Hodegetria.
No ano de 1238, ao falar do ícone, o guerreiro ortodoxo abnegado Merkurii à noite penetrou no acampamento de Batu e matou muitos inimigos, cujo número também era seu guerreiro mais poderoso. Tendo aceitado na luta um fim de mártir, ele foi enumerado pela Igreja para as fileiras dos santos (Comm. 24 de novembro).
No século XIV Smolensk passou para a posse dos príncipes lituanos. A filha do príncipe Vitovt, Sophia, foi dada em casamento ao Grande Príncipe de Moscou Vasilii Dimitrievich (1398-1425). Em 1398, ela trouxe consigo para Moscou o ícone de Smolensk da Mãe de Deus. Eles colocaram a imagem sagrada na catedral da Anunciação do Kremlin, no lado direito das portas reais. Em 1456, a pedido dos habitantes de Smolensk com o bispo Misail à frente, o ícone estava solenemente na procissão da igreja retornado a Smolensk, e em Moscou restaram duas cópias dele. Um foi colocado na catedral da Anunciação e o outro – “medida por medida” – foi colocado no mosteiro Novodevichei, fundado em memória do retorno de Smolensk à Rússia. O mosteiro foi construído em Devichei Pole (Campo da Virgem), onde "com muitas lágrimas" os moscovitas entregaram o ícone sagrado a Smolensk. Em 1602, uma cópia exata foi escrita do ícone milagroso (em 1666, juntamente com o ícone antigo, eles enviaram uma nova cópia a Moscou para restauração), que eles colocaram na torre da muralha da fortaleza de Smolensk, sobre os portões de Dneprovsk, sob um edifício especialmente construído. manto-cobertura. Depois, em 1727, foi ali construída uma igreja de madeira, e em 1802 – uma igreja de pedra.
A nova cópia assumiu o poder de sepultura da imagem antiga e, quando os exércitos russos deixaram Smolensk em 5 de agosto de 1812, levaram o ícone consigo para defesa das forças inimigas. Na véspera da Batalha de Borodino eles levaram esta imagem pelo acampamento, para encorajar e inspirar os soldados para o grande feito. A antiga imagem da Smolensk Hodegetria, levada para a catedral de Uspensk, no dia da batalha de Borodino, estava em procissão com os ícones Iversk e Vladimir da Mãe de Deus através dos bairros Belo e Kitai e as paredes do Kremlin, e depois o enviaram aos doentes e feridos no palácio de Lefortovo. Após a saída de Moscou, o ícone foi levado para Yaroslavl'.
Assim, antigamente, esses ícones-irmãos foram preservados, e a Mãe de Deus através de Suas imagens defendeu a terra natal. Após a vitória sobre as forças inimigas, o ícone de Hodegetria, juntamente com sua cópia glorificada, foi devolvido a Smolensk.
A celebração em homenagem a esta imagem maravilhosa em 28 de julho foi estabelecida no ano de 1525 em memória do retorno de Smolensk à Rússia.
Existem muitos exemplares venerados do Smolensk Hodegetria, para os quais a celebração é marcada neste dia. Há também um dia de celebração para o ícone de Smolensk, glorificado no século XIX, – 5 de novembro, quando esta imagem por ordem do comandante-chefe do exército russo M. I. Kutuzov foi devolvida a Smolensk. Em memória da expulsão do inimigo da Pátria, em Smolensk foi estabelecido para celebrar este dia anualmente.
O ícone sagrado da Hodegetria Mãe de Deus – é uma das principais coisas sagradas da Igreja Russa. Os crentes receberam e recebem dela uma abundante ajuda da graça. A Mãe de Deus através de sua santa imagem intercede por nós e nos fortalece, guiando no caminho da salvação, e nós clamamos a ela: "Tu para os povos fiéis - és a Bendita Hodegetria, Tu és a afirmação - o louvável de Smolensk e toda a terra russa. Alegra-te, Hodegetrix, salvação para os cristãos!"


Oração Antes de Ler as Escrituras 

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (9)

João 20:19-31

Fragmento 65A – Naquele primeiro dia da semana, ao entardecer daquele dia, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-Se no meio e disse-lhes: “Paz seja convosco”. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor. Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: “Paz seja convosco; assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”. E havendo dito isso, soprou sobre eles, e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos”. Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Diziam-lhe, pois, os outros discípulos: “Vimos o Senhor”. Ele, porém, lhes respondeu: “Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei”. Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-Se no meio deles e disse: “Paz seja convosco”. Depois disse a Tomé: “Chega aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no Meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente”. Respondeu-Lhe Tomé: “Senhor meu, e Deus meu!” Disse-lhe Jesus: “Porque Me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”. Jesus, na verdade, operou na presença de Seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu Nome.

LITURGIA

Tropárion da Ressurreição, 8º Tom
Tu desceste do alto dos Céus, Ó Deus misericordioso, / e aceitaste estar sepultado durante três dias, / a fim de nos libertares de nossas paixões. // Senhor, nossa via e ressurreição, glória a Ti!

Tropárion de São Mateus, no 3º Tom (Santo Patrono)
Com zelo seguiste a Cristo, o Mestre, / Que em Sua bondade apareceu aos homens na Terra, / E da alfândega te chamou para Apóstolo / e Pregador do Evangelho ao universo, /por isto honramos tua preciosa memória. / Ó divinamente eloquente, Mateus. /Roga ao Deus misericordioso // que nos conceda a remissão das transgressões e a salvação das nossas almas!

Tropárion dos Santos Mártires, Tom 4
Em seus sofrimentos, ó Senhor, / Teu mártires receberam uma coroa imperecível de Ti, nosso Deus; / pois, possuídos de Teu poder, / eles anularam os algozes e esmagaram a débil audácia dos demônios. // Por suas súplicas, ó Senhor, salve as nossas almas.

Kondákion da Ressurreição, Tom 8
Ressuscitado do túmulo Tu despertaste os mortos, / e ergueste Adão e Eva dançou de alegria na Tua ressurreição; / e os confins da terra mantiveram festas triunfais // na Tua ressurreição dentre os mortos, Ó Tu que És muito misericordioso.

Tom 4: Deixando os laços da alfândega para adquirir o jugo da Justiça, / tu te revelaste um sábio comerciante, rico da sabedoria do Alto. / Proclamaste a Palavra da Verdade, /e pela narrativa da hora do Juízo // despertaste as almas indolentes.

Glória ao Pai e ao Filho e ao espírito Santo...

Tom 2: Com hinos de louvor, ó, Fiéis, / exaltemos, todos, os guerreiros de Deus, / o par de jugos da majestade de Cristo; / e que todos nós que amamos as lutas dos mártires, / coroemos com nossos hinos de canto os firmes arautos da piedade, // que verdadeiramente eram amigos e amantes do nosso Deus.

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.

Tom 6: Ó Admirável Protetora dos Cristãos e nossa Medianeira ante o Criador / não desprezes as súplicas de nenhum de nós, pecadores. / Mas, apressa-te a auxiliar-nos como Mãe Bondosa que és, / pois, te invocamos com fé. / Roga por nós, junto de Deus; // tu que defendes sempre aqueles que te veneram.

Prokímenon, no 8º Tom

R. Fazei votos e pagai-os ao Senhor vosso Deus. (Sl. 75:11)

V. Conhecido É Deus em Judá, grande É o Seu Nome em Israel (Sl. 75:1)

1 Coríntios 3:9-17

Fragmento 128 - Irmãos, nós somos cooperadores de Deus, vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este Fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá prejuízo; mas o tal será salvo, todavia, como que pelo fogo. Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós.

Aleluia no 8º Tom:

Aleluia, Aleluia, Aleluia! (3x)

Vinde, alegremo-nos no Senhor, brademos com júbilo a Deus, nosso Salvador.

Cheguemo-nos diante do Seu semblante com ações de graças,
e com salmos a Ele festejemos com júbilo.

Mateus 14:22-34

Fragmento 59 - Naquela ocasião, Jesus obrigou os Seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante d’Ele para o outro lado, enquanto Ele despedia as multidões. Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. Os discípulos, porém, ao vê-Lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; Sou Eu; não temais. Respondeu-Lhe Pedro: Senhor, se És Tu, manda-me ir ter Contigo sobre as águas. Disse-lhe Ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? E logo que subiram para o barco, o vento cessou. Então os que estavam no barco adoraram-No, dizendo: Verdadeiramente Tu És Filho de Deus. Ora, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré.

† † †


HOMILIAS


“Coragem! Sou Eu!”

Se em alguma ocasião chegássemos a tombar no recife das tentações, recordemos que foi Jesus quem nos mandou subir na barca da prova, e que quer que lhe precedamos na margem oposta. Pois é impossível, para quem não passou pela tentação das ondas e do vento contrário, chegar àquela margem. Assim, quando nos víssemos cercados por múltiplas dificuldades, e mediante um esforço moderado tivéssemos de certa forma conseguido esquivar-se delas, imaginemos que nossa barca se encontra em mar aberto, sacudida pelas ondas que desejariam fazer-nos naufragar na fé ou em alguma outra virtude. Porém, quando víssemos que é o espírito do mal que ataca-nos, então temos de concluir que o vento nos é contrário.

Contudo, quando suportando o vento contrário tivessem transcorrido as três vigílias da noite, isto é, das trevas que acompanham a tentação, lutando intrepidamente de acordo com as nossas forças, procurando escapar ao naufrágio da fé – a primeira vigília representa o pai das trevas e do pecado; a segunda seu filho, “o adversário”, em revolta contra tudo o que traz o nome de Deus ou o que é objeto de adoração; a terceira, o espírito inimigo do Espírito Santo –, estejamos seguros que, vindo a quarta vigília, quando a noite vai adiantada e está prestes a amanhecer, o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas para acalmar o nosso mar agitado. E quando víssemos que o Verbo nos aparece, talvez nos assustemos antes de percebermos de que estamos na presença do Salvador, e, crendo ver um fantasma, gritaremos atemorizados, mas ele nos dirá em seguida: Coragem, sou eu, não tenham medo!

E se entre nós se encontrar outro Pedro, mais fortemente comovido pelas palavras de coragem do Senhor, esse Pedro em caminho para uma perfeição que ainda não alcançou, descendo da barca – como fugindo da tentação que o acometia – em um primeiro momento andou querendo aproximar-se de Jesus sobre as águas; porém, sendo a sua fé ainda insuficiente, e agitado pela dúvida, sentirá a força do vento, sentirá medo e começará a afundar. Mas não afundará, porque gritando se dirigirá a Jesus suplicando: Senhor, salva-me! E imediatamente, também a este Pedro que lhe suplica dizendo: Senhor, salva-me, o Verbo lhe estenderá a mão e socorrerá a este homem, agarrando-o no preciso momento em que começava a afundar, e lançando-lhe em face sua pouca fé e o ter duvidado. Contudo, observa que não lhe disse: “Incrédulo”, mas: homem de pouca fé, e que acrescentou: Por que duvidaste?, como alguém que, apesar de ter um pouco de fé, vacila e não se comporta de modo contrário.

Momentos depois, tanto Jesus como Pedro subiram na barca e o vento se acalmou. Os que estavam na barca, percebendo de que perigos foram salvos, o adoraram dizendo: Realmente és o Filho de Deus.

Orígenes (séc. III)

† † †



“Senhor, Salva-Me, Porque Estou Afundando”

O Evangelho que nos foi proclamado e que recolhe o episódio de Cristo, o Senhor, andando sobre as ondas do mar, e do Apóstolo Pedro, que ao caminhar sobre as águas vacilou sob a ação do temor, duvidando se afundava e confiando novamente saiu flutuando, nos convida a ver no mar um símbolo do mundo atual, e no Apóstolo Pedro a figura da única Igreja.

Na realidade, Pedro em pessoa – ele, o primeiro na ordem dos apóstolos e generosíssimo no amor a Cristo – com frequência responde em nome de todos. Quando o Senhor Jesus perguntou quem dizia o povo que ele era, enquanto os demais discípulos lhe informam sobre as distintas opiniões que circulavam entre os homens, ao insistir o Senhor em sua pergunta e dizer: E vós, quem dizeis que eu sou?, Pedro respondeu: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo. A resposta a deu um em nome de muitos, a unidade em nome da pluralidade.

Contemplando a este membro da Igreja, tratemos de discernir nele o que procede de Deus e o que procede de nós. Deste modo não vacilaremos, mas estaremos fundamentados sobre a pedra, estaremos firmes e estáveis contra os ventos, as chuvas e os rios, isto é, contra as tentações do mundo presente. Observai, pois, nesse Pedro que então era nossa imagem: algumas vezes confia, outras vacila; algumas vezes lhe confessa imortal e outras teme que morra. Por isso, porque a Igreja tem membros seguros, tem também inseguros, e não pode subsistir sem seguros nem sem inseguros. Naquilo que Pedro disse: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo, representa os que são seguros; no fato de tremer e vacilar, não querendo que Cristo padecesse, temendo a morte e não reconhecendo a Vida, representa aos inseguros da Igreja. Assim, portanto, naquele único apóstolo, ou seja, em Pedro, o primeiro e principal entre os apóstolos, no qual estava prefigurada a Igreja, deviam estar representados os dois tipos de fiéis, ou seja, os seguros e os inseguros, já que sem eles não existe a Igreja.

Este é também o significado do que nos acabou de ser lido: Senhor, se és tu, manda-me ir até ti andando sobre a água. E, diante de uma ordem do Senhor, Pedro verdadeiramente caminhou sobre as águas, consciente de não poder fazê-lo por si mesmo. Pode a fé o que a humana fraqueza era incapaz de fazer. Estes são os seguros da Igreja. Ordene-o o Deus homem e o homem poderá o impossível. Vem – disse ele –, e Pedro desceu e começou a andar sobre as águas: pôde fazê-lo porque o havia ordenado a Pedra. Eis aqui do que Pedro é capaz em nome do Senhor; o que é que pode por si mesmo? Ao sentir a força do vento, ficou com medo, começou a se afundar e gritou: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Confiou no Senhor, pôde no Senhor; vacilou como homem, retornou ao Senhor. Em seguida estendeu a ajuda de sua destra, agarrou ao que estava afundando, censurou ao desconfiado: Que pouca fé!

Bom, irmãos, temos que terminar o sermão. Considerai o mundo como se fosse o mar: vento fortíssimo, tempestade violenta. Para cada um de nós, suas paixões são sua tempestade. Amas a Deus: andas sobre o mar, sob os teus pés ruge a agitação do mundo. Amas ao mundo: ele te engolirá. Ele sabe devorar, não suportar os seus adoradores. Porém, quando o sopro da concupiscência agita teu coração, para vencer tua sensualidade invoca sua divindade. E se teu pé vacila, se hesitas, se existe algo que não consegues superar, se começas a te afundar, diz: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Porque só te livra da morte da carne aquele que na carne morreu por ti. 

Bem-Aventurado Agostinho, Bispo de Hypona (Séc. V)

† † †


“A Insondável Profundidade De Deus”

Deus está em todas as partes, é imenso e está próximo de todos, conforme atesta de si mesmo: Eu sou – diz – um Deus próximo, e não distante. O Deus que buscamos não está longe de nós, já que está dentro de nós, se somos dignos de sua presença. Habita em nós como a alma no corpo, na condição de que sejamos seus membros sãos, de que estejamos mortos ao pecado. Então, habita verdadeiramente em nós aquele que disse: Habitarei e caminharei com eles. Se somos dignos de que ele esteja em nós, então somos realmente vivificados por ele, como seus membros vivos: Pois nele – como afirma o apóstolo – vivemos, nos movemos e existimos.

Quem, pergunto-me, será capaz de penetrar no conhecimento do Altíssimo se consideramos o inefável e incompreensível de seu ser? Quem poderá investigar as profundezas de Deus? Quem poderá gloriar-se de conhecer ao Deus infinito que tudo preenche e tudo envolve, que tudo penetra e tudo supera, que tudo abarca e tudo transcende? A Deus ninguém jamais o viu tal como é. Ninguém, portanto, tenha a presunção de perguntar-se sobre o indecifrável de Deus, o que foi, como foi, quem foi. Estas são coisas inefáveis, inescrutáveis, impenetráveis; limita-te a crer com simplicidade, porém com firmeza, que Deus é e será tal como foi, porque é imutável.

Quem é, portanto, Deus? O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus. Não questione mais a respeito de Deus; porque os que querem conhecer as profundezas insondáveis devem antes considerar as coisas da natureza. De fato, o conhecimento da Trindade divina se compara, com razão, à profundidade do mar, conforme aquela expressão do Eclesiastes: O que existe é distante e muito obscuro, quem o examinará? Porque, assim como a profundidade do mar é impenetrável aos nossos olhos, assim também a divindade da Trindade escapa a nossa compreensão. E, por isto, insisto, se alguém se esforça em saber o que deve crer, não pense que o compreenderá melhor dissertando do que crendo; ao contrário, ao ser buscado, o conhecimento da divindade se afastará ainda mais que antes daquele que pretenda alcançá-lo.

Busca, portanto, o conhecimento supremo, não com investigações verbais, mas com a perfeição de um bom comportamento; não com palavras, mas com a fé que procede de um coração simples e que não é fruto de uma argumentação baseada em uma sabedoria irreverente. Portanto, se buscas mediante o discurso racional ao que é inefável, ficarás muito longe, mais do que estavas; porém, se o buscas com fé, a sabedoria estará à porta, que é onde tem a sua morada, e ali será contemplada, pelo menos parcialmente. E também podemos realmente alcançá-la um pouco quando cremos naquele que é invisível, sem compreendê-lo; porque Deus há de ser crido tal como é, invisível, mesmo que o coração puro possa, em parte, contemplá-lo.

São Columba, de Iona (séc. VI)

† † † 


Nenhum comentário:

Postar um comentário