terça-feira, 5 de novembro de 2013

20ª Terça-feira Depois de Pentecostes

05 de Novembro de 2013 (CC) / 23 de Outubro (CE)
S. Tiago, “irmão” do Senhor, bispo de Jerusalém, apóstolo [dos 70], mártir († 62).



Filipenses 2:17-23

     17 Contudo, ainda que eu seja derramado como libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós;    18 e pela mesma razão folgai vós também e regozijai-vos comigo.    19 Ora, espero no Senhor Jesus enviar-vos em breve Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo as vossas notícias.    20 Porque nenhum outro tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso bem-estar.    21 Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.    22 Mas sabeis que provas deu ele de si; que, como filho ao pai, serviu comigo a favor do evangelho.    23 A este, pois, espero enviar logo que eu tenha visto como há de ser o meu caso;   

Lucas 11:1-10

     1 Estava Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.    2 Ao que ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino;    3 dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano;    4 e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação, [mas livra-nos do mal.]    5 Disse-lhes também: Se um de vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,    6 pois que um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe oferecer;    7 e se ele, de dentro, responder: Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para te atender;    8 digo-vos que, ainda que se levante para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.    9 Pelo que eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;    10 pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.




HOMILIA SOBRE A ORAÇÃO

Por São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla


Duas razões me convidam a admirar - e mais ainda a estimar - os bem-aventurados servos de Deus: primeiramente, porque eles colocaram todas as suas esperanças de salvação na santidade da oração; em segundo lugar, porque eles conservaram por escrito os hinos e as orações que ofereciam a Deus com alegria e temor, e que nos transmitiram seu tesouro com a finalidade de inspirar o mesmo zelo a toda posteridade. É conveniente, portanto, que os costumes dos mestres passem aos discípulos, é conveniente que os ouvintes dos profetas tornem-se imitadores de sua justiça a fim de que nós consagremos a nossa vida à oração, a honrar e a servir a Deus, dirigindo-nos a Ele - com uma alma inocente e pura - por nossa vida, nossa saúde, nossas riquezas, e pelo aumento da graça.

O que a luz do sol é para o corpo, a oração é para a alma. Se é uma infelicidade para o cego não ver o sol, que infelicidade não será para o Cristão não rezar incessante, e não atrair a luz de Cristo para a alma? E, entretanto, quem não consideraria com surpresa e admiração a caridade que Deus nos demonstra e a honra que Ele concede aos homens de a Ele se voltarem pela oração e com Ele conversarem? Pois é verdadeiramente com Deus que nós falamos durante a oração, a qual, além disso, nos reúne aos anjos e nos eleva bem acima da nossa bruta condição.

A oração é o ato dos Anjos. Ela supera mesmo a sua dignidade, pois a dignidade angélica é inferior à dignidade do encontro com Deus. Esta inferioridade, por consequência, os anjos nos ensinam pelo profundo temor com que eles oferecem suas orações a Deus; ensinando a nós mesmos, quando nos aproximarmos de Deus, a estar diante dEle com temor e alegria; com temor, pois nós poderemos ser indignos da oração; com alegria, pois devemos ser preenchidos desta honra incomparável que nos é concedida: uma raça mortal sendo admitida a um favor tão alto como conversar com Deus, e de se elevar por este meio acima da corrupção e da morte. Mortais por nossa natureza, mas, pela familiaridade com Deus nós nos aproximaremos de uma condição imortal. Assim, qualquer um que fale frequentemente com Deus torna-se certamente mais forte que a morte e a corrupção.

Do mesmo modo que não temos nada em comum com as trevas quando somos iluminados pelos raios do sol, assim aquele que goza da familiaridade de Deus deve ser necessariamente superior à morte. A honra deslumbrante com a qual nós somos gratificados nos conduz à imortalidade. Se as pessoas que possuem a consideração do Imperador não podem cair na indigência; ainda com maior razão é impossível que as almas que conversam com Deus sejam submetidas à morte. A morte para a alma é a impiedade e uma vida de prevaricações, por consequência, a vida para a alma consistirá em servir a Deus e em uma conduta relacionada a este serviço. Ora, a oração santifica a nossa vida, torna-a digna do culto de Deus, e acumula em nossa alma admiráveis riquezas. Vós que estais encantados com a virgindade, vós que preferiríeis uma união casta e honrosa, se vos falta domar o ressentimento, praticar a doçura, expulsar a inveja, ou praticar outra virtude, se a oração vos guia e vos aplaina o caminho, vós começareis com facilidade e prontidão, uma carreira de piedade. Esta se realizará, somente, se for pedido a Deus, pela oração, a castidade, a justiça, a doçura e a bondade que não foram ainda alcançadas.

“Pedi, dizia Nosso Senhor, e vos será dado, buscai e achareis, batei e a porta se abrirá; pois todo aquele que pede recebe, aquele que busca encontra, e a porta se abre àquele que bate. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem.”  (MT VII, 7 , LUC XI 10-13).

São por estas palavras, são por estas esperanças que o Senhor do Universo nos convida a rezar. Fica a nossa parte então, para obedecer a Deus, de passar nossa vida dizendo orações e louvores, e de nos ligarmos mais estreitamente ao culto de Deus que à nossa própria vida. Aquele que não reza, e que não deseja gozar sempre destes encontros, é um cadáver, que não tem nem alma nem sentimento. Um dos sinais mais evidentes de estupidez é, de fato, não entender a grandeza desta dignidade, de não amar e de não considerar como a morte da alma a indiferença em oferecer a Deus as homenagens devidas. Assim como o corpo separado da alma é somente cadáver e podridão, assim nosso coração quando não se abandona à oração é somente um cadáver miserável e infecto.

Que a privação da oração deve ser considerada mais amarga que a morte, o grande profeta Daniel nos ensinou de forma bem clara, ele que preferira morrer que passar três dias sem rezar. E não foi por impiedade que o rei dos persas lhe impôs esta ordem, mas unicamente para ter três dias inteiros para seu próprio culto. Sem a assistência divina, nenhum bem entraria em nossas almas. Deus, pela sua assistência, partilha nossas penas e as torna mais leves, quando Ele vê que nós amamos a oração, que nós imploramos a Ele assiduamente, e que esperamos obter por esta via toda espécie de bens.

Quando eu vejo uma alma que não ama a oração e que não tem por ela uma afeição viva e ardente, é uma prova para mim que não há nada de grande nesta alma. Quando eu vejo, ao contrário, que não se sacia nunca de honrar a Deus, e que coloca entre o número de suas grandes infelicidades a de não poder rezar constantemente, eu descubro nesta alma o culto sólido de todas as virtudes e o templo mesmo de Deus. Se, segundo o sábio Salomão, a veste de um homem, sua conduta, seu sorrir, publicam o que ele é, com maior razão as orações e a piedade serão um índice de uma justiça perfeita: vestes espirituais e divinas, elas espalham em nós a graça e a beleza. Elas ordenam a vida de cada um de nós, não permitindo que nenhum sentimento de malicia ou de loucura reine em nossos corações; elas nos enchem de temor a Deus e das honras que Ele nos concede; nos ensinam a espantar todas as ilusões do espírito perverso, a afugentar os pensamentos indignos e vergonhosos, e nos inspiram a todo o desprezo dos prazeres. É o único orgulho que convém aos servos de Cristo de se negar a servir à ignomínia, e de conservar sua alma pura e livre.

Por fim, todo mundo entende com facilidade, acredito, a impossibilidade absoluta de praticar a virtude sem a oração, e de praticá-la durante toda a vida. E como praticar a virtude, se não se vai se prostrar frequentemente aos pés Daquele que as entrega e doa? Como desejar sinceramente ser casto e justo, se não se é feliz de estar com Aquele que nos concede estas virtudes e ainda outras? Eu quero vos mostrar brevemente que, fôssemos cobertos de pecados, a oração logo nos purificaria deles. Após isto, o que poderia haver de mais nobre, mais divino que a oração, pois que ela é para os doentes espirituais um soberano remédio?

Em primeiro lugar, são os Ninivitas que nos aparecem como aqueles que foram livres pela oração dos inumeráveis crimes contra Deus. Desde que a oração penetrou em seus corações, ela trouxe consigo a justiça e da cidade arrancou - em um momento - a impureza, a iniquidade e as prevaricações nas quais ela estava mergulhada; mais forte que os costumes inveterados, a oração aí estabeleceu o reino das leis celestes e implantou consigo a castidade, a humanidade, a mansidão e o cuidado dos pobres. Eis o cortejo sem o qual a oração não habitaria em uma alma: em todas as almas onde ela estabelece sua morada, ela traz consigo toda a justiça, ela as prepara para a virtude, banindo o vício. Se alguém entrou na Cidade de Nínive, conhecendo o que ela era em outros tempos, certamente não a reconheceu. Veja-se como a passagem de uma vida de crimes à piedade foi rápida. Assim como uma mulher pobre e coberta de farrapos não seria reconhecida se fosse reencontrada em seguida coberta de ricas vestes, logo alguém que viu antigamente Nínive em sua indigência e pobreza de tesouros espirituais, iria ignorar o que foi esta cidade, onde a oração renovou a moral e todos os costumes, e que por ela foi introduzida na virtude. Igualmente, também houve uma mulher, que após passar toda sua vida na impureza e na imoralidade, somente por se jogar aos pés de Cristo, obteve a salvação.

Mas a oração não se limita a apagar os pecados, ela conjura os perigos e os males presentes. Davi, rei e profeta igualmente admirável, obteve pela oração numerosas e difíceis vitórias. Entregando aos seus soldados esta única arma, a oração, e lhes permitindo  vencer na segurança e na calma. Os outros reis confiavam suas esperanças de vitória à habilidade e à experiência dos generais e dos arqueiros, na sua infantaria e nos seus cavaleiros; mas o grande rei Davi dava como escudo ao seu exército as santas orações: ele não voltava seu olhar sobre o orgulho de seus generais e dos chefes de sua infantaria e de sua cavalaria; ele não acumulava riquezas e nem se preocupava com as armas: era do Céu que ele esperava todas as armas divinas. Pois a oração é em verdade um arsenal divino e celeste, e não há necessidade de outros meios para proteger eficazmente os que se abandonam à conduta de Deus. Constantemente, a habilidade e a coragem da infantaria, a experiência e a artimanha dos arqueiros são desconcertadas pela vigilância do inimigo, pela força dos adversários, por vários outros meios. Quanto à oração, é uma arma irresistível, um escudo impenetrável, que repele um soldado e milhares de legiões com a mesma facilidade. Este Davi triunfou sobre Golias, e se precipitou sobre ele como um demônio terrível - não pela espada ou por meio de armas - mas pela oração. Assim, a oração é para os reis uma arma temível contra os demônios.

Assim o rei Ezequias triunfou na guerra contra os persas sem mesmo ter posto o exército na campanha, somente utilizando a oração contra a multidão dos seus inimigos. Também ele escapou da morte se prostrando com uma piedade tocante diante do Senhor, de modo que somente a oração chamou este príncipe à vida.

O exemplo do publicano nos prova ainda que a oração purifica com facilidade a alma pecadora; pois, tendo pedido a Deus o perdão de suas faltas, ele o obteve logo. Nós aprendemos ainda pelo exemplo do leproso, que se apresentando diante de Deus, foi curado imediatamente. Se Deus dá a cura imediatamente ao corpo doente, com maior razão ele a dará misericordiosamente à alma sofredora: tanto a alma sobressai em excelência sobre o corpo que Deus atende com mais solicitude. Seria fácil de citar uma infinidade de traços antigos e recentes, caso quiséssemos enumerar todos os homens que deveram sua salvação à oração.

Uma destas pessoas negligentes, que não têm nenhum zelo nem fervor na oração, colocará talvez objeções a estas palavras do Salvador:

“Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (MAT VII, 21).

Se eu pretendesse que a oração bastasse para a nossa salvação, com muita razão me oporiam estas palavras: como eu reconheço na oração a fonte de todos os bens, o fundamento e a raiz de toda a vida virtuosa, que não se vá usar estas palavras para se justificar da negligência. Da mesma forma a castidade - sozinha e privada dos outros bens - não saberia nos salvar, nem mesmo o cuidado com os pobres, nem a bondade, nem qualquer outra virtude; é preciso que todas elas permaneçam em nossas almas. Ora, é a oração que lhes serve de fundamento e principio. Assim como a  solidez de um vaso e de um edifício depende da solidez das partes inferiores, assim nossa vida recebe sua consistência da oração: sem a oração nada de bom, nada de útil à salvação nos seria concedido. É por esta razão que Paulo não cessa de nos exortar com insistência:

“Sede perseverantes e vigilantes na oração, acompanhada de ações de graças. Orai sem cessar em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo. Rezai continuamente pelo Espírito, multiplicando invocações e súplicas. Perseverais em vossas vigílias, suplicando pelos cristãos” (Col IV 2 IThess V 17 18 Eph VI 18).

Por estas presentes e divinas palavras, o grande apóstolo nos convida à oração. Pois que nós somos seus discípulos, não cessemos, durante nossas vidas, de rezar e de regar continuamente nossas almas com seu frescor, pois a oração não nos é menos indispensável, a nós homens, que a água é para as árvores. Nem as árvores, podem produzir frutos se elas não bebem por meio de suas raízes, assim, nós mesmos, não poderemos produzir o fruto precioso da piedade fora das águas da oração. Também é preciso que, ao levantar do leito, ofereçamos a Deus nossos louvores, e que o ofereçamos do mesmo modo no momento da refeição ou à hora de dormir: preferencialmente, a todo o tempo nós deveríamos oferecer a Deus uma oração e observar esta regra durante o dia inteiro. No inverno, consagremos à oração a maior parte da noite, dobremos os nossos joelhos com temor e recolhimento profundo, e procuremos a alegria no culto divino.

Como - eu vos pergunto - vós olhareis o sol, sem antes ter adorado Aquele que envia aos vossos olhos esta luz tão doce?  Como podeis comer sem ter adorado o autor e distribuidor de tantos bens? Com qual esperança abordareis o tempo noturno, e a quais sonhos esperareis se, em lugar de revestir a armadura da oração, vós vos jogais sem nenhum cuidado no sono? Tornar-vos-eis facilmente em brinquedo e vítima dos demônios perversos, que rondam sem parar e esperam a ocasião em que  poderão nos surpreender, e retirar rapidamente de nosso meio aquele que não possui as armas da oração. Quando eles nos veem protegidos pela oração, logo se afugentam, como se fossem bandidos e malfeitores percebendo a espada do soldado suspendida sobre suas cabeças. Quando encontram alguém desnudado da oração, eles o agarram, o carregam e o precipitam no pecado, nos desastres e em todos os males.


Que o temor destes perigos nos determine a sempre nos munirmos das armas defensivas dos louvores e orações, afim de que Deus, tendo piedade de todos nós, nos faça merecedores do Reino dos Céus, pelo seu Filho único ao qual seja a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

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