05 de Novembro de 2013 (CC) / 23 de Outubro (CE)
S. Tiago, “irmão” do Senhor, bispo de Jerusalém, apóstolo [dos 70],
mártir († 62).
Filipenses 2:17-23
17 Contudo, ainda que eu seja derramado
como libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com
todos vós; 18 e pela mesma razão folgai vós também e regozijai-vos
comigo. 19 Ora, espero no Senhor Jesus enviar-vos em breve
Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo as vossas
notícias. 20 Porque nenhum outro tenho de igual sentimento, que
sinceramente cuide do vosso bem-estar. 21 Pois todos buscam o que
é seu, e não o que é de Cristo Jesus. 22 Mas sabeis que provas deu
ele de si; que, como filho ao pai, serviu comigo a favor do evangelho.
23 A este, pois, espero enviar logo que eu tenha visto como há de ser o meu
caso;
Lucas 11:1-10
1 Estava Jesus em certo lugar orando e,
quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar,
como também João ensinou aos seus discípulos. 2 Ao que ele lhes
disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu
reino; 3 dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; 4 e
perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos
deve; e não nos deixes entrar em tentação, [mas livra-nos do mal.]
5 Disse-lhes também: Se um de vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à
meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, 6 pois que
um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe
oferecer; 7 e se ele, de dentro, responder: Não me incomodes; já
está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso
levantar-me para te atender; 8 digo-vos que, ainda que se levante
para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua importunação, se
levantará e lhe dará quantos pães ele precisar. 9 Pelo que eu vos
digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
10 pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate,
abrir-se-lhe-á.
HOMILIA SOBRE A
ORAÇÃO
Por São João
Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla
Duas razões me convidam a
admirar - e mais ainda a estimar - os bem-aventurados servos de Deus:
primeiramente, porque eles colocaram todas as suas esperanças de salvação na
santidade da oração; em segundo lugar, porque eles conservaram por escrito os
hinos e as orações que ofereciam a Deus com alegria e temor, e que nos
transmitiram seu tesouro com a finalidade de inspirar o mesmo zelo a toda
posteridade. É conveniente, portanto, que os costumes dos mestres passem aos
discípulos, é conveniente que os ouvintes dos profetas tornem-se imitadores de
sua justiça a fim de que nós consagremos a nossa vida à oração, a honrar e a
servir a Deus, dirigindo-nos a Ele - com uma alma inocente e pura - por nossa
vida, nossa saúde, nossas riquezas, e pelo aumento da graça.
O que a luz do sol é para o
corpo, a oração é para a alma. Se é uma infelicidade para o cego não ver o sol,
que infelicidade não será para o Cristão não rezar incessante, e não atrair a
luz de Cristo para a alma? E, entretanto, quem não consideraria com surpresa e
admiração a caridade que Deus nos demonstra e a honra que Ele concede aos
homens de a Ele se voltarem pela oração e com Ele conversarem? Pois é
verdadeiramente com Deus que nós falamos durante a oração, a qual, além disso,
nos reúne aos anjos e nos eleva bem acima da nossa bruta condição.
A oração é o ato dos Anjos.
Ela supera mesmo a sua dignidade, pois a dignidade angélica é inferior à
dignidade do encontro com Deus. Esta inferioridade, por consequência, os anjos
nos ensinam pelo profundo temor com que eles oferecem suas orações a Deus;
ensinando a nós mesmos, quando nos aproximarmos de Deus, a estar diante dEle
com temor e alegria; com temor, pois nós poderemos ser indignos da oração; com
alegria, pois devemos ser preenchidos desta honra incomparável que nos é
concedida: uma raça mortal sendo admitida a um favor tão alto como conversar
com Deus, e de se elevar por este meio acima da corrupção e da morte. Mortais
por nossa natureza, mas, pela familiaridade com Deus nós nos aproximaremos de
uma condição imortal. Assim, qualquer um que fale frequentemente com Deus
torna-se certamente mais forte que a morte e a corrupção.
Do mesmo modo que não temos
nada em comum com as trevas quando somos iluminados pelos raios do sol, assim
aquele que goza da familiaridade de Deus deve ser necessariamente superior à
morte. A honra deslumbrante com a qual nós somos gratificados nos conduz à
imortalidade. Se as pessoas que possuem a consideração do Imperador não podem
cair na indigência; ainda com maior razão é impossível que as almas que
conversam com Deus sejam submetidas à morte. A morte para a alma é a impiedade
e uma vida de prevaricações, por consequência, a vida para a alma consistirá em
servir a Deus e em uma conduta relacionada a este serviço. Ora, a oração
santifica a nossa vida, torna-a digna do culto de Deus, e acumula em nossa alma
admiráveis riquezas. Vós que estais encantados com a virgindade, vós que
preferiríeis uma união casta e honrosa, se vos falta domar o ressentimento,
praticar a doçura, expulsar a inveja, ou praticar outra virtude, se a oração
vos guia e vos aplaina o caminho, vós começareis com facilidade e prontidão,
uma carreira de piedade. Esta se realizará, somente, se for pedido a Deus, pela
oração, a castidade, a justiça, a doçura e a bondade que não foram ainda
alcançadas.
“Pedi,
dizia Nosso Senhor, e vos será dado, buscai e achareis, batei e a porta se
abrirá; pois todo aquele que pede recebe, aquele que busca encontra, e a porta
se abre àquele que bate. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este
lhe pedir pão? E se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois
que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai
celeste dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem.” (MT VII, 7 , LUC XI 10-13).
São por estas palavras, são
por estas esperanças que o Senhor do Universo nos convida a rezar. Fica a nossa
parte então, para obedecer a Deus, de passar nossa vida dizendo orações e
louvores, e de nos ligarmos mais estreitamente ao culto de Deus que à nossa
própria vida. Aquele que não reza, e que não deseja gozar sempre destes
encontros, é um cadáver, que não tem nem alma nem sentimento. Um dos sinais
mais evidentes de estupidez é, de fato, não entender a grandeza desta
dignidade, de não amar e de não considerar como a morte da alma a indiferença em
oferecer a Deus as homenagens devidas. Assim como o corpo separado da alma é
somente cadáver e podridão, assim nosso coração quando não se abandona à oração
é somente um cadáver miserável e infecto.
Que a privação da oração
deve ser considerada mais amarga que a morte, o grande profeta Daniel nos ensinou
de forma bem clara, ele que preferira morrer que passar três dias sem rezar. E
não foi por impiedade que o rei dos persas lhe impôs esta ordem, mas unicamente
para ter três dias inteiros para seu próprio culto. Sem a assistência divina,
nenhum bem entraria em nossas almas. Deus, pela sua assistência, partilha
nossas penas e as torna mais leves, quando Ele vê que nós amamos a oração, que
nós imploramos a Ele assiduamente, e que esperamos obter por esta via toda
espécie de bens.
Quando eu vejo uma alma que
não ama a oração e que não tem por ela uma afeição viva e ardente, é uma prova
para mim que não há nada de grande nesta alma. Quando eu vejo, ao contrário,
que não se sacia nunca de honrar a Deus, e que coloca entre o número de suas
grandes infelicidades a de não poder rezar constantemente, eu descubro nesta
alma o culto sólido de todas as virtudes e o templo mesmo de Deus. Se, segundo
o sábio Salomão, a veste de um homem, sua conduta, seu sorrir, publicam o que
ele é, com maior razão as orações e a piedade serão um índice de uma justiça
perfeita: vestes espirituais e divinas, elas espalham em nós a graça e a
beleza. Elas ordenam a vida de cada um de nós, não permitindo que nenhum
sentimento de malicia ou de loucura reine em nossos corações; elas nos enchem
de temor a Deus e das honras que Ele nos concede; nos ensinam a espantar todas
as ilusões do espírito perverso, a afugentar os pensamentos indignos e
vergonhosos, e nos inspiram a todo o desprezo dos prazeres. É o único orgulho
que convém aos servos de Cristo de se negar a servir à ignomínia, e de
conservar sua alma pura e livre.
Por fim, todo mundo entende
com facilidade, acredito, a impossibilidade absoluta de praticar a virtude sem
a oração, e de praticá-la durante toda a vida. E como praticar a virtude, se
não se vai se prostrar frequentemente aos pés Daquele que as entrega e doa?
Como desejar sinceramente ser casto e justo, se não se é feliz de estar com
Aquele que nos concede estas virtudes e ainda outras? Eu quero vos mostrar
brevemente que, fôssemos cobertos de pecados, a oração logo nos purificaria
deles. Após isto, o que poderia haver de mais nobre, mais divino que a oração,
pois que ela é para os doentes espirituais um soberano remédio?
Em primeiro lugar, são os
Ninivitas que nos aparecem como aqueles que foram livres pela oração dos
inumeráveis crimes contra Deus. Desde que a oração penetrou em seus corações,
ela trouxe consigo a justiça e da cidade arrancou - em um momento - a impureza,
a iniquidade e as prevaricações nas quais ela estava mergulhada; mais forte que
os costumes inveterados, a oração aí estabeleceu o reino das leis celestes e
implantou consigo a castidade, a humanidade, a mansidão e o cuidado dos pobres.
Eis o cortejo sem o qual a oração não habitaria em uma alma: em todas as almas
onde ela estabelece sua morada, ela traz consigo toda a justiça, ela as prepara
para a virtude, banindo o vício. Se alguém entrou na Cidade de Nínive,
conhecendo o que ela era em outros tempos, certamente não a reconheceu. Veja-se
como a passagem de uma vida de crimes à piedade foi rápida. Assim como uma
mulher pobre e coberta de farrapos não seria reconhecida se fosse reencontrada
em seguida coberta de ricas vestes, logo alguém que viu antigamente Nínive em
sua indigência e pobreza de tesouros espirituais, iria ignorar o que foi esta
cidade, onde a oração renovou a moral e todos os costumes, e que por ela foi
introduzida na virtude. Igualmente, também houve uma mulher, que após passar
toda sua vida na impureza e na imoralidade, somente por se jogar aos pés de
Cristo, obteve a salvação.
Mas a oração não se limita
a apagar os pecados, ela conjura os perigos e os males presentes. Davi, rei e
profeta igualmente admirável, obteve pela oração numerosas e difíceis vitórias.
Entregando aos seus soldados esta única arma, a oração, e lhes permitindo vencer na segurança e na calma. Os outros
reis confiavam suas esperanças de vitória à habilidade e à experiência dos
generais e dos arqueiros, na sua infantaria e nos seus cavaleiros; mas o grande
rei Davi dava como escudo ao seu exército as santas orações: ele não voltava
seu olhar sobre o orgulho de seus generais e dos chefes de sua infantaria e de
sua cavalaria; ele não acumulava riquezas e nem se preocupava com as armas: era
do Céu que ele esperava todas as armas divinas. Pois a oração é em verdade um
arsenal divino e celeste, e não há necessidade de outros meios para proteger
eficazmente os que se abandonam à conduta de Deus. Constantemente, a habilidade
e a coragem da infantaria, a experiência e a artimanha dos arqueiros são
desconcertadas pela vigilância do inimigo, pela força dos adversários, por
vários outros meios. Quanto à oração, é uma arma irresistível, um escudo
impenetrável, que repele um soldado e milhares de legiões com a mesma
facilidade. Este Davi triunfou sobre Golias, e se precipitou sobre ele como um
demônio terrível - não pela espada ou por meio de armas - mas pela oração.
Assim, a oração é para os reis uma arma temível contra os demônios.
Assim o rei Ezequias
triunfou na guerra contra os persas sem mesmo ter posto o exército na campanha,
somente utilizando a oração contra a multidão dos seus inimigos. Também ele
escapou da morte se prostrando com uma piedade tocante diante do Senhor, de
modo que somente a oração chamou este príncipe à vida.
O exemplo do publicano nos
prova ainda que a oração purifica com facilidade a alma pecadora; pois, tendo
pedido a Deus o perdão de suas faltas, ele o obteve logo. Nós aprendemos ainda
pelo exemplo do leproso, que se apresentando diante de Deus, foi curado imediatamente.
Se Deus dá a cura imediatamente ao corpo doente, com maior razão ele a dará
misericordiosamente à alma sofredora: tanto a alma sobressai em excelência
sobre o corpo que Deus atende com mais solicitude. Seria fácil de citar uma
infinidade de traços antigos e recentes, caso quiséssemos enumerar todos os
homens que deveram sua salvação à oração.
Uma destas pessoas
negligentes, que não têm nenhum zelo nem fervor na oração, colocará talvez
objeções a estas palavras do Salvador:
“Nem
todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (MAT VII, 21).
Se eu pretendesse que a
oração bastasse para a nossa salvação, com muita razão me oporiam estas
palavras: como eu reconheço na oração a fonte de todos os bens, o fundamento e
a raiz de toda a vida virtuosa, que não se vá usar estas palavras para se
justificar da negligência. Da mesma forma a castidade - sozinha e privada dos
outros bens - não saberia nos salvar, nem mesmo o cuidado com os pobres, nem a
bondade, nem qualquer outra virtude; é preciso que todas elas permaneçam em
nossas almas. Ora, é a oração que lhes serve de fundamento e principio. Assim
como a solidez de um vaso e de um
edifício depende da solidez das partes inferiores, assim nossa vida recebe sua
consistência da oração: sem a oração nada de bom, nada de útil à salvação nos
seria concedido. É por esta razão que Paulo não cessa de nos exortar com
insistência:
“Sede
perseverantes e vigilantes na oração, acompanhada de ações de graças. Orai sem
cessar em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a
vontade de Deus em Jesus Cristo. Rezai continuamente pelo Espírito,
multiplicando invocações e súplicas. Perseverais em vossas vigílias, suplicando
pelos cristãos” (Col IV 2 IThess V 17 18 Eph VI 18).
Por estas presentes e
divinas palavras, o grande apóstolo nos convida à oração. Pois que nós somos
seus discípulos, não cessemos, durante nossas vidas, de rezar e de regar
continuamente nossas almas com seu frescor, pois a oração não nos é menos
indispensável, a nós homens, que a água é para as árvores. Nem as árvores,
podem produzir frutos se elas não bebem por meio de suas raízes, assim, nós
mesmos, não poderemos produzir o fruto precioso da piedade fora das águas da
oração. Também é preciso que, ao levantar do leito, ofereçamos a Deus nossos
louvores, e que o ofereçamos do mesmo modo no momento da refeição ou à hora de
dormir: preferencialmente, a todo o tempo nós deveríamos oferecer a Deus uma
oração e observar esta regra durante o dia inteiro. No inverno, consagremos à
oração a maior parte da noite, dobremos os nossos joelhos com temor e
recolhimento profundo, e procuremos a alegria no culto divino.
Como - eu vos pergunto -
vós olhareis o sol, sem antes ter adorado Aquele que envia aos vossos olhos
esta luz tão doce? Como podeis comer sem
ter adorado o autor e distribuidor de tantos bens? Com qual esperança
abordareis o tempo noturno, e a quais sonhos esperareis se, em lugar de
revestir a armadura da oração, vós vos jogais sem nenhum cuidado no sono?
Tornar-vos-eis facilmente em brinquedo e vítima dos demônios perversos, que
rondam sem parar e esperam a ocasião em que
poderão nos surpreender, e retirar rapidamente de nosso meio aquele que
não possui as armas da oração. Quando eles nos veem protegidos pela oração,
logo se afugentam, como se fossem bandidos e malfeitores percebendo a espada do
soldado suspendida sobre suas cabeças. Quando encontram alguém desnudado da
oração, eles o agarram, o carregam e o precipitam no pecado, nos desastres e em
todos os males.
Que o temor destes perigos
nos determine a sempre nos munirmos das armas defensivas dos louvores e
orações, afim de que Deus, tendo piedade de todos nós, nos faça merecedores do
Reino dos Céus, pelo seu Filho único ao qual seja a glória e o poder pelos
séculos dos séculos. Amém.
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