quarta-feira, 15 de outubro de 2014

19ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

15 de Outubro de 2014 (CC) / 02 de Outubro (CE)
São Cipriano († 257)


São Cipriano era um homem nobre e muito rico, filósofo em Cartagena da Líbia e viveu nos anos do imperador Décio. Converteu-se à fé cristã já adulto, aos quarenta anos de idade, tendo vivido até então como um pagão. Conta-se que depois de sua conversão, encontrou a paz e a felicidade, o que sempre havia buscado, mas que, por diversas circunstâncias, não havia podido alcançar. E esta felicidade, entre outras coisas, a viu clara ao entregar sua vida aos pobres do Evangelho. Esta é a principal constante na vida de todos os santos. Tal era o prestígio que Cipriano desfrutava entre os fiéis de Cartago que, dois anos apenas depois que se tornou um cristão, o elegeram bispo e chefe da Igreja na África. Entretanto, a perseguição aos cristãos pelo imperador Décio teve início e, os mesmos fiéis que tanto o amavam aconselharam-no a esconder-se. E assim, salvou sua vida, pelo menos por algum tempo Sim, porque, algum tempo depois, teve início uma nova onda de perseguição aos cristãos, desta vez sob Valeriano, e Cipriano foi preso e desterrado depois. Mais tarde teve de apresentar-se em Cartago onde morreu no dia 02 de outubro do ano 257.




LITURGIA


Filipenses 1:12-20

E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda. Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte.

Lucas 6:46-7:1

E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha. Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa. E, depois de concluir todos estes discursos perante o povo, entrou em Cafarnaum.




A Bondade e Justiça Humanas Não São Boas 
Comparadas Com a Bondade e Justiça Divinas


São João Cassinano
Quantas coisas são qualificadas de boas no Evangelho! Dá-se o qualificativo de bom à árvore, a um tesouro, a um homem, a um servo: “A árvore boa não pode dar frutos ruins. O homem bom tira do bom tesouro de seu coração coisas boas. Muito bem, servo bom e fiel”. É incontestável que em todos estes casos se trata de uma bondade real, não imaginária. No entanto, se dirigirmos o olhar para a bondade de Deus, nenhum deles poderá tornar-se digno do qualificativo de “bom”. Assim o afirma o Senhor: “Ninguém é bom a não ser Deus”.

Frente a ele, os próprios apóstolos – a quem o mérito de sua eleição lhes situa em muitos aspectos acima da bondade comum dos homens – são declarados maus. Na realidade, a eles se direcionam estas palavras: “Portanto, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas para vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus, dará coisas boas para quem as pede!”

Portanto, se nossa bondade se transforma em malícia ao considerar a bondade celestial, nossa justiça, comparada à justiça divina vem a ser semelhante, como diz Isaías, a um lenço imundo: “Toda a nossa justiça é como um lenço imundo”. E se apelamos para um testemunho ainda mais evidente, eis aqui o que nos dizem os preceitos de vida da Lei: Ela – se afirma – foi dada por anjos, através de um mediador. E dela também diz São Paulo: “Portanto, a Lei é santa; e o preceito é santo, justo e bom”. Porém, a palavra divina proclama que não são bons frente à perfeição evangélica: “Foi-lhes dado preceitos que não são bons, e mandamentos nos quais não encontrarão a vida”. Ouvi ainda a São Paulo, que afirma que toda a glória da Lei se eclipsa ante a luz que reflete o Novo Testamento, até ao ponto de que frente ao esplendor do Evangelho já não merece ser glorificado: O que em outra época foi glorificado, deixa de ser glorificado frente a esta insigne glória.

A Escritura segue esta trajetória e este mesmo estilo, quando, com sinal inverso, coloca na balança os pecados dos homens. Assim, em comparação com os ímpios, justifica aos que pecaram menos, dizendo: “Tu justificaste a Sodoma”. E ainda: “Qual foi o pecado de Sodoma, tua irmã?” E também: “Israel, o infiel, parece justo em comparação da pérfida Judá.”

O mesmo acontece com todas as virtudes enumeradas mais acima. São boas e preciosas em si mesmas, porém obscurecem ante a claridade da “teoria”[1]. É que, por mais que os santos se ocupem em boas obras, muitas vezes estão envoltas em cuidados terrenos que diminuem e retardam da contemplação daquele sublime bem.

São João Cassiano (séc. V)



[1] O termo “teoría” significa “contemplação de Deus”.

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