São Cipriano († 257)
São Cipriano era um homem nobre e muito rico, filósofo em Cartagena da Líbia e viveu nos anos do imperador Décio. Converteu-se à fé cristã já adulto, aos quarenta anos de idade, tendo vivido até então como um pagão. Conta-se que depois de sua conversão, encontrou a paz e a felicidade, o que sempre havia buscado, mas que, por diversas circunstâncias, não havia podido alcançar. E esta felicidade, entre outras coisas, a viu clara ao entregar sua vida aos pobres do Evangelho. Esta é a principal constante na vida de todos os santos. Tal era o prestígio que Cipriano desfrutava entre os fiéis de Cartago que, dois anos apenas depois que se tornou um cristão, o elegeram bispo e chefe da Igreja na África. Entretanto, a perseguição aos cristãos pelo imperador Décio teve início e, os mesmos fiéis que tanto o amavam aconselharam-no a esconder-se. E assim, salvou sua vida, pelo menos por algum tempo Sim, porque, algum tempo depois, teve início uma nova onda de perseguição aos cristãos, desta vez sob Valeriano, e Cipriano foi preso e desterrado depois. Mais tarde teve de apresentar-se em Cartago onde morreu no dia 02 de outubro do ano 257.
LITURGIA
Filipenses 1:12-20
E quero, irmãos, que
saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do
evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda
a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no
Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais
confiadamente, sem temor. Verdade é que também alguns pregam a Cristo por
inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo
por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões.
Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que
importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com
fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda. Porque sei
que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito
de Jesus Cristo, segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada
serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como
sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte.
Lucas 6:46-7:1
E por que me chamais,
Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim e ouve as
minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É
semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os
alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente
naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha. Mas o
que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra,
sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a
ruína daquela casa. E, depois de concluir todos
estes discursos perante o povo, entrou em Cafarnaum.
A Bondade e Justiça Humanas Não São
Boas
Comparadas Com a Bondade e Justiça Divinas
Comparadas Com a Bondade e Justiça Divinas
São João Cassinano |
Quantas coisas são qualificadas de boas no Evangelho!
Dá-se o qualificativo de bom à árvore, a um tesouro, a um homem, a um servo: “A árvore boa não pode dar frutos ruins. O
homem bom tira do bom tesouro de seu coração coisas boas. Muito bem, servo bom
e fiel”. É incontestável que em todos estes casos se trata de uma bondade
real, não imaginária. No entanto, se dirigirmos o olhar para a bondade de Deus,
nenhum deles poderá tornar-se digno do qualificativo de “bom”. Assim o afirma o Senhor: “Ninguém
é bom a não ser Deus”.
Frente a ele, os próprios apóstolos – a quem o mérito
de sua eleição lhes situa em muitos aspectos acima da bondade comum dos homens
– são declarados maus. Na realidade, a eles se direcionam estas palavras: “Portanto, se vós, sendo maus, sabeis dar
coisas boas para vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus, dará
coisas boas para quem as pede!”
Portanto, se nossa bondade se transforma em malícia ao
considerar a bondade celestial, nossa justiça, comparada à justiça divina vem a
ser semelhante, como diz Isaías, a um lenço imundo: “Toda a nossa justiça é como um lenço imundo”. E se apelamos para
um testemunho ainda mais evidente, eis aqui o que nos dizem os preceitos de
vida da Lei: Ela – se afirma – foi dada por anjos, através de um mediador. E
dela também diz São Paulo: “Portanto, a
Lei é santa; e o preceito é santo, justo e bom”. Porém, a palavra divina
proclama que não são bons frente à perfeição evangélica: “Foi-lhes dado preceitos que não são bons, e mandamentos nos quais não
encontrarão a vida”. Ouvi ainda a São Paulo, que afirma que toda a glória
da Lei se eclipsa ante a luz que reflete o Novo Testamento, até ao ponto de que
frente ao esplendor do Evangelho já não merece ser glorificado: O que em outra
época foi glorificado, deixa de ser glorificado frente a esta insigne glória.
A Escritura segue esta trajetória e este mesmo estilo,
quando, com sinal inverso, coloca na balança os pecados dos homens. Assim, em
comparação com os ímpios, justifica aos que pecaram menos, dizendo: “Tu
justificaste a Sodoma”. E ainda: “Qual foi o pecado de Sodoma, tua irmã?”
E também: “Israel, o infiel, parece justo
em comparação da pérfida Judá.”
O mesmo acontece com todas as virtudes enumeradas mais
acima. São boas e preciosas em si mesmas, porém obscurecem ante a claridade da “teoria”[1].
É que, por mais que os santos se ocupem em boas obras, muitas vezes estão
envoltas em cuidados terrenos que diminuem e retardam da contemplação daquele
sublime bem.
São João Cassiano (séc. V)
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