domingo, 2 de novembro de 2014

21º Domingo Depois de Pentecostes

02 de Novembro de 2014 (CC) / 20 de Outubro (CE)
S. Megalomártir Artemio; 
S. Gerásimo, o Anacoreta do Monte Athos; S. Gerásimo da Cefalônia e S. Matrona
4º Modo



Artêmio era um distinto político bizantino e fiel cristão. Constantino, o Grande, reconhecendo seus talentos morais e políticos, o nomeou duque de Alexandria. Quando Artêmio soube que Juliano torturava os cristãos em Antioquia, lembrou-se do salmo de David: «Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça». (Salmo 50,14). Assim foi que Artêmio, com a força que Deus lhe concedeu, foi para Antioquia e, ao chegar, pode comprovar pessoalmente as perseguições ilegais aos cristãos, censurando a atitude de Juliano. Este, não esperando por uma reação como esta de um alto dignitário, ordena então que seja aprisionado e açoitado, o que o fazem com toda a crueldade. Depois disso, Artêmio foi apedrejado, o que lhe resultou na fratura de vários ossos. Finalmente, decapitado, entregou seu espírito a Deus. As relíquias de Santo Artêmio foram guardadas por uma piedosa senhora de nome Aristi que, mais tarde, as transferiu para a Igreja do Santo Profeta e Precursor João Batista, em Constantinopla.


MATINAS

JOÃO 21:1-14


Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se assim: 
Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé, chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram, e subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam. E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não conheceram que era Jesus. Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não. E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes. Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar. E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão quase duzentos côvados), levando a rede cheia de peixes. Logo que desceram para terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora apanhastes. Simão Pedro subiu e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes e, sendo tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? sabendo que era o Senhor. Chegou, pois, Jesus, e tomou o pão, e deu-lhes e, semelhantemente o peixe. E já era a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dentre os mortos.



LITURGIA

Tropárion da Ressurreição

Quando Te entregaste a morte ó Vida Imortal,/ aniquilaste os infernos pelo esplendor de Tua divindade;/ e quando ressuscitaste os mortos das profundezas da terra,/ todas as potências celestes exclamaram:/ Ó Cristo nosso Deus, ó Autor da Vida Senhor, glória a Ti

Kondáquion da Ressurreição

Tu Te levantaste da tumba, ó Salvador Onipotente,/ e o inferno, vendo esta maravilha, estremeceu de medo,/ e os mortos ressuscitaram de seus túmulos./ Adão e toda a Criação se alegram Contigo,/ e o mundo, ó Salvador meu, Te louva para sempre. 

Hino à Virgem
Ó Admirável Protetora dos Cristãos e nossa medianeira ante o Criador/ Não despreze as súplicas de nenhum de nós, pecadores,/ Mas, apressa-te a auxiliarmos como Mãe Bondosa que és,/ Pois, te invocamos com fé:/ Roga por nós junto de Deus,? Tu que defendes sempre àqueles que te veneram.

Tropárion de São Artêmio Modo II 

Em seus sofrimentos, ó Senhor, / Teu mártir Artêmio recebeu de Ti, ó nosso Deus, coroa imperecível,/ pois, tomado de Teu poder, / aviltou os torturadores e esmagou a débil ousadia dos demônios./ Por suas súplicas, salva, Senhor, as nossas almas.

Glória ao Pai † e ao Filho e ao Espírito Santo.


Kondáquion de São Artêmio Modo II

Fiéis reunidos, louvemos com hinos, como é justo, / o piedoso e coroado mártir, aquele que ganhou o troféu da vitória sobre o inimigo, / maior entre os mártires, o que concede milagres em abundância, / e intercede ao Senhor a nosso favor.

Theotokion


Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém


Teus méritos são glorificados acima de toda a razão, ó Mãe de Deus, na pureza selada, preservaste a tua virgindade, verdadeiramente mãe, és reconhecida que deste à luz o verdadeiro Deus roga a Ele que salve as nossas almas!


Prokímenon

O Senhor é minha força e meu vigor

Ele foi a minha salvação. (Sl 118,14)

O Senhor severamente me castigou,

mas não me entregou à morte. (Sl 118, 18)

EPÍSTOLA: GÁLATAS 2:16-20

Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma. Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.

ALELUIA


Aleluia, aleluia, aleluia!

O Senhor te ouça no dia da tribulação; 

te proteja o nome do Deus de Jacó! 


Aleluia, aleluia, aleluia!

Salva, Senhor, o teu povo 
e abençoa a tua herança! 


Aleluia, aleluia, aleluia!



EVANGELHO: LUCAS 16:19-31


Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.




COMENTÁRIOS

“O Rico Opulento e o Pobre Lázaro” 

"Havia um homem rico que se vestia de púrpura". E visto que se faz menção do nome, parece tratar-se mais de uma história que de uma parábola. Com toda intenção o Senhor nos apresentou aqui a um rico que desfrutou dos prazeres deste mundo, e que agora, no inferno, sofre o tormento de uma fome que não se saciará jamais; e, não sem motivo apresenta, como associados aos seus sofrimentos, aos seus cinco irmãos, a saber, os cinco sentidos do corpo, unidos por uma espécie de irmandade natural, os quais estavam abrasando no fogo de uma infinidade de prazeres abomináveis; e, pelo contrário, colocou a Lázaro no seio de Abraão, como em um porto tranquilo e em um abrigo de santidade, para ensinar-nos que não devemos deixar-nos levar pelos prazeres presentes nem, permanecendo nos vícios ou vencidos pelo tédio, determinar uma fuga da ascese. 

Trata-se, portanto, desse Lázaro que é pobre neste mundo, porém rico diante de Deus, ou daquele outro homem que, segundo o apóstolo, é pobre de palavra mas rico de fé – na verdade, nem toda pobreza é santa, nem toda riqueza repreensível, mas do mesmo modo que a luxúria contamina as riquezas, assim a santidade recomenda a pobreza –, ou do homem apostólico que conserva íntegra sua fé, que não busca a beleza nas palavras, nem a reserva de argumentos, nem tampouco as luxuosas vestes da frase, posto que este tal já recebeu a sua apropriada recompensa quando lutou contra os hereges maniqueus: Marcião, Sabélio, Ário, Fotino..., reprimindo os desejos da carne que, como foi dito, serve de incentivo aos cinco sentidos, a saber, desse que recebeu a recompensa que lhe foi prometida, quando lhe foi entregue, em pagamento, riquezas superabundantes e um soldo perpétuo. 

E não é que creiamos que seja errado sustentar que esta passagem se refere à crença de que Lázaro recolhe da mesa dos ricos, esse Lázaro cujas úlceras, segundo o texto, davam repulsa ao rico epulão, que entre banquetes luxuosos e convites cheios de perfumes não podia suportar o mau odor dessas chagas que os cachorros lambiam àquele que sentia fastio até do odor do ar e da própria natureza; e de fato não existe dúvida que a arrogância e o orgulho dos ricos têm sinais próprios para manifestar-se. E de tal maneira estes se esquecem que são homens, que, como se estivessem acima da natureza humana, encontram nas misérias dos pobres um incentivo para as suas paixões, riem-se do necessitado, insultam ao mendigo e saqueiam a esses mesmos dos quais deviam se compadecer. 

O que quiser pode aderir, como um novo Lázaro, aos dois pontos de vista. 

Santo Ambrósio, bispo Bispo de Milão (séc. IV)
Tratado ao Evangelho de São Lucas.



“Neste Mundo Dois Corações, Porém Acima Um Só Examinador” 

"Havia certo homem rico"; e em seguida acrescenta: "e havia certo mendigo chamado Lázaro". É uma verdade que, entre o povo, conhecem-se mais os nomes dos ricos que dos pobres. Por que, pois, o Senhor ao ocupar-se do rico e do pobre nos diz o nome do segundo e passa no silêncio o nome do rico, senão para demonstrar-nos que Deus exalta aos humildes e, pelo contrário, desconhece aos orgulhosos? Então, aqueles que se ensoberbeceram pelo dom de fazer milagres, lhes será dito no dia do juízo: "Nunca vos conheci. Apartai-vos obradores da iniquidade". Pelo contrário, a Moisés se diz: "te conheci pelo nome". E, portanto, do rico se diz certo homem, e do pobre: um pobre, chamado Lázaro, que é como se dissesse: conheço ao pobre humilde e desconheço ao rico orgulhoso; àquele lhe conheço pela aprovação, porém a este não o conheço, em virtude do juízo de reprovação. 

Devemos ter presente, ademais, caríssimos irmãos, quanta consideração nos dispensa o Criador. Às vezes se faz uma coisa com mais de um objeto, ou seja, com vários fins. Considerai ao pobre Lázaro coberto de feridas, estendido frente à porta do rico. O Senhor com este único fato formou dois juízos: Talvez o rico tivesse tido alguma desculpa se Lázaro, pobre e enfermo, não tivesse se encontrado frente a sua porta, se tivesse estado longe dela, se não tivesse tido conhecimento de sua miséria. 

Por outro lado, se o rico não tivesse se apresentado ante os olhos do pobre enfermo, este talvez sofresse muito menos, porque não teria sido tentado pelas riquezas daquele. Mas, ao colocar o pobre coberto de chagas frente à porta daquele que estava cercado de riquezas e prazeres, impôs o máximo de condenação ao rico que não se compadeceu frente à presença do pobre coberto de chagas; e por outro lado provou ao pobre, tentando-lhe continuamente com as riquezas do primeiro. 

De quantas tentações não se veria acometido este pobre enfermo e doente, ao ver-se necessitado, carecendo de pão, mal de saúde e considerando por outro lado o rico gozando de boa saúde e desfrutando de todo tipo de satisfações; ao ver-se fatigado pela dor e pelo frio, enquanto aquele gozava e vestia a púrpura e outros tecidos preciosos; ao considerar-se consumido pelas chagas enquanto que o rico dissipava os bens que recebera; ao ver-se sem nada, enquanto o outro não queria socorrer-lhe? 

Julgamos que deve ter sido muito grande o número de tentações que sofreu o pobre Lázaro, em quem somente a pobreza já era uma pena grandíssima, mesmo que tivesse gozado de saúde; ou lhe tivesse bastado à enfermidade para sofrimento, mesmo que tivesse disposto de imensos bens de fortuna. Porém, para que o pobre fosse mais bem provado, ao mesmo tempo se juntaram nele a pobreza e as enfermidades; e, também, via ao rico sempre acompanhado por muitos servos, ao passo que ele, no meio de sua pobreza e de suas indisposições, por ninguém era visitado. E que não era visitado por ninguém, o atestam os cachorros, os quais livremente lhe lambiam as chagas. 

Então, Deus onipotente, ao permitir que Lázaro permanecesse frente à porta do rico, formou dois juízos, isto é, que o rico ímpio e avaro aumentasse a si mesmo o castigo de sua condenação; e o pobre Lázaro, atacado por multidão de tentações, adquirisse maiores méritos. Continuamente estava vendo aquele em quem não havia caridade, e via também a este a quem estava provando. Neste mundo dois corações, porém acima um só examinador, o qual, provando um, lhe preparava para a glória, e tolerando outro lhe dispunha para a pena. 

São Gregório Magno, Papa de Roma (séc. VI)
Sermões sobre os evangelhos.

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