quarta-feira, 19 de novembro de 2014

24ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

19 de Novembro de 2014 (CC) / 06 de Novembro (CE)
São Paulo, o Confessor, Patriarca de Constantinopla († 351); Barlaam, o Milagroso de Khutyin; Venerável Lucas, do Mosteiro de Pechersk


Quando Santíssimo Patriarca Alexandre jazia em seu leito de morte, os fiéis entristecidos lhe perguntaram a quem eles deveriam ter como o principal pastor do rebanho espiritual de Cristo. Ele disse: "Se desejais um pastor que vos ensine e que seja ele mesmo um resplendor da virtude, escolhei a Paulo; mas se quiserdes um homem de conveniência, adornado externamente, escolhei Macedonius.'' O povo escolheu Paulo. Infelizmente, isso não foi aceito pelos hereges arianos e pelo Imperador Constâncio II, que estava então em Antioquia. Paulo foi logo deposto e fugiu para Roma com Santo Atanásio, o Grande. 

Em Roma, o Papa Juliano e o Imperador Constante* os recebeu calorosamente, apoiando-o em sua Fé Ortodoxa. O Imperador Constante e o Papa Juliano fizeram com que o Trono Patriarcal de Paulo lhe fosse devolvido, mas quando o Imperador Constante morreu,  os arianos assumiram novamente o poder, e o Patriarca Paulo foi banido para o Cáucaso, na Armênia. Uma vez, quando Paulo estava comemorando a Divina Liturgia no exílio, ele foi atacado pelos arianos e estrangulado com o seu homophorion, no ano 351. 

Em 381, durante o reinado do Imperador Teodósio, as relíquias de Paulo foram transferidas para Constantinopla, e no ano 1236 elas foram levadas para Veneza, onde ainda repousam. Seus dois sacerdotes prediletos, Marciano e Martírio (25 de outubro), padeceram logo após o Patriarca.

* Constante foi o terceiro e mais jovem filho de Constantino e Fausta, segunda esposa de Constantino. A partir de 337, ele foi co-imperador com seus irmãos Constâncio II e Constantino II. Na divisão administrativa do império ocorrida após a morte de Constantino, coube a ele a Itália, Ilíria e a África.



1 Tessalonicenses 4:1-12

Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais. Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo. Quanto, porém, ao amor fraternal, não necessitais de que vos escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis uns aos outros porque também já assim o fazeis para com todos os irmãos que estão por toda a Macedônia. Exortamo-vos, porém, a que ainda nisto aumenteis cada vez mais. E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado; para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e não necessiteis de coisa alguma.

Lucas 12:48-58

Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá. Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso? Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se! Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; Porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra. E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede. E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede. Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo? E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo? Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão.




REFLEXÃO


Santo Ambrósio

Eu vim para pôr fogo na terra, e que devo querer senão que se acenda? 

Devo receber um batismo, e como me angustio até que isso se cumpra! Nos parágrafos anteriores ele nos expressou seu desejo de ver-nos vigilantes, esperando a qualquer momento a vinda do Senhor da salvação, com medo de que por relaxamento ou negligência, diferindo do trabalho do dia a dia, esse tal, alcançado pela própria morte ou pelo dia do juízo futuro, perca a recompensa de seu esforço.

Ainda que a apresentação geral do preceito vá dirigida a todos, porém, o sentido da comparação seguinte parece estar dirigida aos dispensadores, a saber, os bispos, pelo qual devem saber que, ao fim da vida, se farão credores de um grande castigo se, preocupados pelos prazeres do século, governam com negligência a casa do Senhor e o povo a eles confiado.

Porém, como o proveito daqueles que são colhidos do erro por temor da punição é mínimo, e escasso também o acúmulo de seus méritos – porque é certamente de muito maior valor a caridade e o amor –, o Senhor aguça o nosso interesse para merecer a sua graça e nos inflama no desejo de possuir a Deus, dizendo-nos: 

"Eu vim para pôr fogo na terra": 

Mas não um fogo que destrói os bens, mas esse que faz germinar a boa vontade e enriquece os vasos de ouro da casa de Deus, destruindo o feno e a palha; esse fogo divino que queima os desejos terrenos, elaborados pelos prazeres mundanos, os quais devem perecer como obra da carne; esse fogo, enfim, o que ardia com força dentro dos ossos dos profetas, como diz esse grande santo que foi Jeremias: 

"O que arde dentro de meus ossos é como um fogo abrasador."

De fato, o fogo do que está escrito: 

"Arderá um fogo diante dele, é o fogo do Senhor". 

E ainda o próprio Senhor é esse fogo, como ele mesmo disse: 

"Eu sou o fogo que queima e não consome." 

Porque o fogo do Senhor é uma luz eterna, e é com este fogo que se acendem essas lâmpadas das quais disse mais acima: 

"Estejam vossos rins cingidos e vossas lâmpadas acesas". 

E posto que o dia desta vida seja como uma noite, é necessária uma lâmpada. Também Emaús e Cléofas foram testemunhas deste fogo que o Senhor lhes tinha infundido, quando disseram: 

"Não ardiam os nossos corações no caminho enquanto ele nos explicava as Escrituras?"

Realmente, eles aprenderam com clareza qual é a ação própria deste fogo, que ilumina o mais íntimo do coração. Por isso, talvez, o Senhor virá ao fim com o sinal de fogo, com objetivo de destruir todos os vícios no momento da ressurreição, encher os desejos de cada qual com sua presença e lançar luz sobre os méritos e sobre os mistérios.

Tanta é a condescendência do Senhor, que testifica ter em seu coração um grande desejo de infundir-nos a devoção, de consumar em nós a perfeição e levar ao fim, em nosso favor, sua paixão. Este Senhor, que nada tinha que devesse estar sujeito à dor, quis angustiar-se por nossos sofrimentos, e no momento da morte se deixou levar por uma tristeza, que não era causada pelo medo a sua própria morte, mas motivada pelo atraso de nossa redenção; e por isso está escrito: 

"E estou angustiado até que se cumpra!" 

O qual nos explica claramente que ele, que se angustia até que se cumpra seu desejo, está seguro de que o realizará.

Mas também disse em outro lugar: 

"Minha alma está triste até a morte". 

O Senhor não está triste pela morte, mas até a morte, porque o que lhe angustia não é o temor a ela, mas o sentimento de sua condição corporal. Porém, ele que se fez carne, teve também tudo o que era próprio da carne, como o ter fome, sede, angústia, tristeza, ainda que a divindade não conheça alteração por estas impressões. Ao mesmo tempo nos ensinou que, na luta contra a dor, a morte corporal é uma liberação do sofrimento e não uma consequência da dor.


Santo Ambrósio, Bispo de Milão (séc. IV)





Eusébio


Jesus é a paz e veio para reconciliar as coisas do céu e da terra. Se isto é verdade, como podemos compreender o que o próprio Salvador diz no Evangelho: 

"Não creiam que vim trazer paz à terra?" 

Porém, o que a neve pode aquecer ou o fogo esfriar?

É possível que a paz não procure a paz? Como a paz em pessoa pode dizer: "Não creiam que vim trazer paz à terra"; quando se diz dessa paz que é Cristo: Eu vim para reconciliar as coisas do céu e da terra, e ainda diz o Evangelho: 

"Não vim para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele?

Se alguém deseja instruir-se sobre o Senhor, que rejeite os pensamentos de seu próprio coração e mantenha alerta o olhar purificado de seu espírito. O propósito de Deus, ao enviar o seu Filho, era salvar os homens. E a missão que ele devia cumprir era estabelecer a paz no céu e na terra.

Por que desde então não há paz? Por razão da debilidade dos que não foram capazes de aceitar o resplendor da luz verdadeira. Cristo proclama a paz; assim o afirma o Apóstolo Paulo quando diz: "Ele é a nossa paz", a saber, a paz unicamente daqueles que têm uma atitude de fé e de aceitação.

Porém, como é possível que Cristo não trouxesse paz à terra? Uma filha crê, e seu pai continua infiel. Visto que a mesma pregação da paz realiza a divisão, que associação pode haver entre crente e incrédulo?

O filho se converte, o pai continua na incredulidade. A oposição é inevitável. Onde se proclama a paz, se estabelece a divisão. E é uma divisão salutar, porque nos salvamos pela paz. E não se trata de uma interpretação puramente pessoal, é exatamente o que escutamos dos lábios do Senhor: "Não creiam que vim trazer paz à terra". E ainda mais enérgico, acrescenta: 

"Não vim trazer a paz, mas a espada."

Como? Não a paz, mas a espada? Vim para defrontar o homem com seu pai. Escolho ao filho e isto desagrada ao seu pai. Observa o tom das palavras. Porque se refere ao fio da espada, diz: "Não creiam que vim trazer paz à terra..."

Proclamo a paz, sim, mas a terra não a aceita. Não era esse o propósito do semeador, porém esperava o fruto da terra.


Santo Eusébio de Cesareia (séc. IV)






São João Damasceno


O primeiro batismo, o do dilúvio, foi para a aniquilação do pecado.

O segundo, através do mar e da nuvem, sem dúvida é um símbolo: a nuvem, do Espírito, e o mar, da água.

O terceiro é legal: porque todo homem impuro se banhava com água, e também eram lavadas as vestes, e assim entravam no acampamento.

O quarto é o de João. Existia como introdução, pois trazia à conversão aqueles que se batizavam para que cressem em Cristo. Dizia: 

"Eu batizo com água; mas aquele que vem depois de mim vos batizará no Espírito e no fogo". 

Assim, João preparava com água em antecipação do Espírito.

O quinto é o batismo do Senhor, aquele com o qual ele foi batizado. Mas ele se batiza não porque necessite de purificação, mas para ganhar a minha purificação, para esmagar as cabeças dos dragões sob a água, para lavar o pecado e sepultar sob a água o velho Adão inteiro, para santificar o batismo, para cumprir a lei, para revelar o mistério da santa Trindade e para tornar-se tipo e modelo em relação com o batizar-se. Ademais, também nós somos batizados no perfeito batismo do Senhor, naquele que se realiza mediante a água e o Espírito. Porém, se diz que Cristo batiza com fogo, já que derramou sobre os apóstolos a graça do Espírito em forma de línguas de fogo, como afirma o próprio Senhor:

"João batizou com água, vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo e no fogo dentro de poucos dias." Ou (seja), é um batismo através do fogo futuro.

O sexto, verdadeiramente trabalhoso, é através da conversão e das lágrimas.

O sétimo é aquele através do sangue e do martírio, no qual foi batizado o próprio Cristo por nossa causa. De modo que é um batismo muito venerável e feliz enquanto não se suja com segundas manchas.

O oitavo e último, que não é salvador, mas destruidor da maldade, porque a maldade e o pecado já não têm direito de cidadania. É, ao contrário, o castigo sem fim.


São João Damasceno, Monge (séc. VIII)



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