domingo, 3 de abril de 2016

Domingo da Veneração da Cruz

3º DOMINGO DA GRANDE QUARESMA
03 de Abril de 2016 (CC) - 21 de Março (CE)

São Tiago, o confessor († Séc. VIII); Serapião e Cirilo, bispos de Catânia

 Modo 3
Jejum (vinho e azeite permitidos)





No calendário Litúrgico há duas datas nas quais veneramos a Santa Cruz, tamanha é a relevância e o simbolismo deste instrumento de morte que se transformou em instrumento de vida e salvação para os cristãos: 14 de setembro (festa principal) e no Terceiro Domingo da Quaresma. 
A Santa Cruz transformou-se, no decorrer dos acontecimentos da vida da Igreja, no arquétipo da ação salvífica de Deus e no modelo de resposta do homem. Deus salva os homens pela Cruz, através de seu Filho que, obediente à vontade do Pai, a abraçou restaurando aos homens a dignidade filial perdida. 
Os primeiros cristãos, conforme relata São Paulo em suas cartas, começavam a descobrir as riquezas do mistério da morte de Jesus na cruz, quando à luz da Ressurreição a vislumbravam como meio de salvação e não como instrumento de perdição. Já que o Senhor havia morrido numa cruz, em obediência à vontade do Pai, ela foi acolhida como sinal de humildade e sujeição aos desígnios de Deus. A resposta do homem ante a vontade divina passou a ser dada de maneira consistente: a fé no Ressuscitado movia os corações a uma plena compreensão do plano salvífico. 
São Paulo não se limitou apenas a ensinar sobre o poder que tem a Cruz de libertar os homens do pecado, do egoísmo e da morte. Ele foi além dessas verdades estendendo o seu significado. Deu à Cruz a dimensão de Redenção, vendo nela o meio necessário para que fosse selada a Nova Aliança entre Deus e os homens. 
Todo cristão, por participar do amor e da obediência de Cristo na Cruz, morre para o pecado que o impede de amar a Deus e aos homens de forma plena e livre. Santo Inácio de Antioquia (+117) e São Policarpo (+165)lembravam os sofrimentos de Cristo constantemente em suas pregações, para enfatizar a todos os cristãos que no escândalo da Cruz se ocultava o profundo amor de Deus pelos homens. Na cruz trilhava-se o caminho para se chegar à Ressurreição. Por isso, os cristãos do Oriente veneram a Cruz como símbolo da vitória sobre a morte. 
Todo sofrimento, angústia, desespero e morte tornam-se secundários diante da magnitude da Ressurreição. O Cristão Ortodoxo contempla a Cruz resplandecente, mergulhado no espírito pascal: o Senhor não terminou sua missão na Cruz, mas fez dela um instrumento de passagem para se chegar à Vida. 
A Cruz para um cristão que esteja imbuído deste espírito torna-se fonte de bênçãos. A loucura da Cruz de Cristo ganha a dimensão do amor infinito e totalmente oblativo. Hoje em dia são muitos os que tem dificuldade em compreender a teologia da Cruz. Parecem fugir dela por medo de sofrer. O sofrimento e a dor fazem parte da humanidade. Sofremos ao nascer, sofremos durante a vida e a morte virá com muito ou pouco sofrimento, mas virá com ele. Não podemos mudar esta realidade que nos é inerente por natureza. Como cristãos podemos mudar a compreensão que damos ao sofrimento. 
A Cruz, antes vista como horror e escândalo, passou a ser compreendida como instrumento de salvação. Para que cheguemos a este amadurecimento espiritual é necessário o encontro com o Senhor Crucificado que padeceu os horrores da dor, para que Ele mesmo nos conduza às alegrias da Ressurreição.
Venerar a Cruz é venerar a história humana. Contemplar a Cruz é contemplar os seres humanos nos mais diversos continentes do mundo. Venerar a Cruz gloriosa e vivificante é restabelecer à história humana sua grandeza na História da Salvação. A Cruz sem Deus revela o abandono e a morte. A Cruz com Deus é sinal de esperança e vida nova. 
Neste terceiro Domingo da Quaresma a Igreja nos convida a refletir sobre a dimensão que damos à Cruz e ao sofrimento em nossas vidas. Nossa postura frente à Cruz e ao sofrimento humano deve assemelhar-se à postura de Maria e a de João, o discípulo do amor. Estavam em pé diante do Crucificado, contemplando Aquele que era a Ressurreição e a Vida. Mesmo sem entender o que estava acontecendo conservavam tudo isso no coração. Não procuravam uma explicação racional e uma lógica que os fizessem compreender o sofrimento de Jesus. A lógica que os fazia silenciar e aceitar os desígnios de Deus era a obediência e a entrega à vontade do Pai. 
Quando racionalmente procuramos explicações para o sofrimento e a cruz, fatalmente cairemos em subjetivismos perigosos que nos poderão levar a erros e a desvios da Fé Apostólica. O homem por si só não pode explicar os mistérios de Deus. A lógica Divina não obedece os parâmetros racionais humanos. A Cruz para a Igreja é sinal e instrumento de Salvação. Por isso, os Cristãos Ortodoxos a veneram gloriosa e vivificante, despida dos sentimentos mórbidos que poderiam ofuscar a sua magnitude. O sofrimento, as dores e a morte que o Senhor sofreu por meio dela, por mais terríveis que pudessem ser, fez dela veículo da nossa salvação. 
Em entrevista à Revista 30 Dias, assim se expressou o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, referindo-se a relação existente entre a Igreja e a Cruz: 
«A Igreja deve apoiar a sua força na sua fraqueza humana, na loucura da Cruz (escândalo para os Judeus, loucura para os Gregos), e a sua esperança na ressurreição de Cristo. Privada de todo poder mundano, perseguida e entregue cotidianamente à morte, a Igreja faz com que surjam santos, que guardam a Graça de Deus em vasos de argila, que vivem dentro da luz da Transfiguração e são conduzidos por Deus ao martírio e ao sacrifício.» 
Um cristão, à Luz da Ressurreição, carrega sua cruz subindo o Calvário para a Santidade. O madeiro que sustentou o corpo do Senhor Crucificado tornou-se Árvore da Vida, pois nele foi selado o Novo Testamento, a Nova Aliança. Deus pôs no santo Lenho da Cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde viera a morte. 
Durante o Rito de veneração à Santa e Vivificante Cruz, entoa-se um canto que nos convida a contemplar o madeiro sagrado que nos deu a vitória sobre o mau: 
«Vinde, fiéis! Adoremos o Madeiro que dá a vida, 
no qual Cristo, o Rei da Glória, 
estendeu voluntariamente, seus braços, 
restaurando em nós a felicidade primitiva. 
Vinde,adoremos a Cruz 
que nos dá a vitória sobre o mal.» 
Mais forte é o significado da segunda parte deste mesmo hino que nos faz compreender a dimensão e a grandeza da Cruz de Cristo: 
«Hoje, a Cruz é exaltada 
e o mundo se liberta do erro. 
Hoje, renova-se a Ressurreição de Cristo, 
regozijam-se os confins da terra..." 
Na Cruz renova-se a Ressurreição. Pela Cruz a Vida nos é possível. Pela Cruz a Santidade é uma realidade presente. Basta o encontro com o Senhor e nossa entrega total a Vontade de Deus. 
O silêncio e a meditação nos auxiliarão, nesta Quaresma, a ver na Cruz e no sofrimento riquezas espirituais nunca antes vislumbradas por nós, mas já vividas pelos santos. Meditando sobre a Cruz à luz da Ressurreição, "adoramos a tua Cruz, ó Mestre e glorificamos a tua Santa ressurreição." 

Comemoração de São Tiago, o Confessor.

Desde muito jovem, Tiago (Jacó) levava uma vida piedosa, trilhando os caminhos da santidade, devotando-se de todo o coração à fé e à doutrina da Igreja. Foi eleito bispo na época da Iconoclastia ou iconoclasmo. Pouco tempo depois, passou a viver recluso, e tal era a austeridade que se impunha que chegou até mesmo a privar-se do pão. Apesar de tantas privações sua fé nunca esmaeceu. Perseverou com firmeza até o ultimo momento de sua vida, recordando-nos assim as palavras do Apóstolo São Paulo em sua segunda Carta à Timóteo: «Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo» (2Tm. 2,3). Assim padeceu como um bravo soldado do SENHOR.


MATINAS (VII)

João 20:1-10

1 No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro. 2 Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram. 3 Saíram então Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4 Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais ligeiro do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro; 5 e, abaixando-se viu os panos de linho ali deixados, todavia não entrou. 6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro e viu os panos de linho ali deixados, 7 e que o lenço, que estivera sobre a cabeça de Jesus, não estava com os panos, mas enrolado num lugar à parte. 8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu e creu. 9 Porque ainda não entendiam a escritura, que era necessário que ele ressurgisse dentre os mortos. 10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.   



LITURGIA

Primeira Antífona

1. Manifesta sobre nós a luz do Teu Rosto, ó Senhor!  (Salmo 4:7b) 
Deste um sinal aos que Te temem, para que pudessem escapar do arco. (Salmo 59: 6)

Pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos Senhor!

2. Subiste às alturas, levando cativo o cativeiro (Salmo 67: 19a) 
Tú me outorgaste a herança dos que temem o Teu Nome. (Salmo 60: 6b)

Pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos Senhor!

Glória ao Pai † e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém

Pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos Senhor!

Segunda Antífona

1. Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus. (Salmo 97: 3b)
Prostremo-nos ante o estrado dos Seus pés. (Salmo 98: 5b) 

Coro
Salva-nos, ó Filho de Deus, que ressuscitaste dentre os mortos, 
nós que a Ti cantamos: Aleluia!

2. Deus É o nosso Rei desde o princípio, Autor da salvação em meio à terra. (Salmo 73: 12) 
Excelso sobre nações, Excelso sobre a terra! (Salmo 45: 11b)

Salva-nos, ó Filho de Deus, que ressuscitaste dentre os mortos, 
nós que a Ti cantamos: Aleluia!

Glória ao Pai  e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém

Ó Filho Unigênito e Verbo de Deus...!

Terceira Antífona

1. Exaltai o Senhor nosso Deus, prostrai-vos ante o estrado de Seus pés. (Salmo 98: 5) 

Salva, Senhor, o Teu povo
e abençoa a Tua herança!
Concede à Tua Igreja a vitória sobre o mau
e guarda o Teu povo pela Tua Cruz.

2. Salva, Senhor, o Teu povo e abençoa a Tua herança! (Salmo 27: 9a) 

Salva, Senhor, o Teu povo
e abençoa a Tua herança!
Concede à Tua Igreja a vitória sobre o mau
e guarda o Teu povo pela Tua Cruz.

3. Pastoreia-os e os conduzi para sempre. (Salmo 27: 9b)

Salva, Senhor, o Teu povo
e abençoa a Tua herança!
Concede à Tua Igreja a vitória sobre o mau
e guarda o Teu povo pela Tua Cruz.

Tropárion Próprio Modo 4
Salva, Senhor, o Teu povo
e abençoa a Tua herança!
Concede à Tua Igreja a vitória sobre o mau
e guarda oTeu povo pela Tua Cruz.

Kondakion Próprio
Doravante, a espada de fogo não guardará mais a porta do Éden,
porque o madeiro da Cruz apagou-a de modo maravilhoso;
a morte foi vencida e a vitória dos infernos anulada.
E Tu, ó meu Salvador, te dirigiste aos que nele estavam,
dizendo: "entrai de novo no paraíso!"

Kondakion Final
Nós, teus servos, ó Mãe de Deus,
te conferimos os lauréis da vitória,
penhor de nossa gratidão,
como a um general que combateu por nós
e nos salvou de terríveis calamidades.
E, como tens um poder invencível,
livra-nos dos perigos de toda espécie
para que te aclamemos: salve, Virgem e Esposa!

TRISAGION

Ante a Tua Cruz nos prostramos, ó Senhor;
E a Tua Ressurreição glorificamos! (3x)

Glória ao Pai...

E a Tua Ressurreição glorificamos!

Ante a Tua Cruz nos prostramos, ó Senhor;
E a Tua Ressurreição glorificamos!


EPÍSTOLA (HEBREUS 4:14-5:6)

14 Tendo, portanto, um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. 15 Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer- se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. 16 Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno. 1 Porque todo sumo sacerdote tomado dentre os homens é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados, 2 podendo ele compadecer-se devidamente dos ignorantes e errados, porquanto também ele mesmo está rodeado de fraqueza. 3 E por esta razão deve ele, tanto pelo povo como também por si mesmo, oferecer sacrifício pelos pecados. 4 Ora, ninguém toma para si esta honra, senão quando é chamado por Deus, como o foi Arão. 5 assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei; 6 como também em outro lugar diz: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.   

EVANGELHO (MARCOS 8:34-9:1)



34 E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me. 35 Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á. 36 Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? 37 Ou que diria o homem em troca da sua vida? 38 Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também dele se envergonhará o Filho do homem quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos. 1 Disse-lhes mais: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que de modo nenhum provarão a morte até que vejam o reino de Deus já chegando com poder.

Hirmos

Ó cheia de graça, em ti rejubila-se toda a Criação./ 
A assembleia dos anjos e o gênero humano te glorificam, / ó templo santificado, paraíso espiritual e glória das virgens,/ na qual Deus se encarnou e da qual tornou-se Filho/ Aquele que é nosso Deus antes dos séculos./ Porque fez de teu seio um trono/ e as tuas entranhas, mais vastas do que os céus. / Ó cheia de graça, em ti rejubila-se toda a Criação e te glorifica!

Kinonikon

Ergue, Senhor, sobre nós
a luz do Teu Rosto! (Salmo 4:7a) 
Aleluia!


* No lugar de "Vimos a Luz Verdadeira...", entoa-se o Tropário da Cruz

Salva, Senhor, o Teu povo
e abençoa a Tua herança!
Concede à Tua Igreja a vitória sobre o mau
e guarda o Teu povo pela Tua Cruz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário