domingo, 26 de março de 2017

Domingo de São João Clímaco

4º Domingo da Grande Quaresma
26 de Março de 2017 (CC) / 13 de Março (CE)
Traslado das relíquias de São Nicéforo, Patriarca de Constantinopla (847)
Modo 7



São João Clímaco nasceu por volta de 579 e morreu no Egito, no ano 649. Aos 60 anos foi eleito abade do Mosteiro do Sinai. Seu nome "Clímaco" é um codinome derivado da obra escrita em grego, intitulada "Klimax tou Paradeisou". Sua obra ficou tão afamada que rapidamente o autor era referido como "João da Escada" ou, "João Clímaco".

Escreveu esta obra quando ainda era abade. Em 30 capítulos ou 30 degraus, como preferia chamar, explicava quais os vícios perigosos para os monges e quais as grandes virtudes que os distinguiam. O próprio João Clímaco comparava sua obra à escada de Jacó ou também aos 30 anos da vida de Jesus.

A obra encontrou aceitação e rápida divulgação: atesta-se a existência de 33 manuscritos gregos, muitas traduções latinas, siríacas, armênias, eslavas e árabes. Junto à obra, como apêndice, está um importante documento que orienta os abades a exercer santamente sua autoridade dentro do monastério.

Para São João Clímaco, o ideal monástico é uma vida hesycasta onde trava-se uma guerra invisível e constante contra os maus pensamentos para que eles não atrapalhem a vida de oração do monge. Ele era um bom conhecedor dos Antigos Padres - dos solitários do deserto egípcio aos Padres da Palestina. Considerava a vida monástica como necessária para a vida da Igreja, não só como um apostolado, mas como exemplo de vida a ser seguida.

Para João Clímaco, os monges devem influenciar a Igreja por viverem uma vida angelical, embora ainda possuíssem um corpo material e corruptível. Dizia que o chamado à vida monástica é para poucos e não para todos.

Traslado das relíquias de São Nicéforo, Patriarca de Constantinopla 
Este santo é comemorado no dia 02 de junho. Depois que o imperador Constantino IV e a imperatriz Irene restabeleceram a veneração das santas imagens, o jovem Nicéforo lhes foi apresentado e, de pronto, por suas grandes qualidades, conquistou-lhes a simpatia. Na corte, distinguiu-se por sua oposição aos iconoclastas, tendo sido secretário no Segundo Concílio de Nicéia e comissário imperial. Mesmo sendo em brilhante orador, filósofo, músico, com todas as qualidades de um estadista, sempre teve uma forte inclinação para a vida religiosa, isolada, e mesmo estando envolvido nos assuntos públicos, construiu um monastério num lugar isolado próximo ao Mar Negro. 
Após a morte de Tarasios, patriarca de Constantinopla, não foi encontrado ninguém mais apto a sucedê-lo que Nicéforo. Sendo leigo, houve algumas objeções à sua eleição, qualificando-a como contrária aos cânones, e só a pedido expresso do imperador, pode ser persuadido a ser ordenado sacerdote e a aceitar o cargo. Durante a sua consagração, realizada em 12 de Abril, no ano 802, manteve em mãos o tratado que ele havia escrito em defesa do veneração aos ícones e, no final da cerimônia, depositou-o ao lado do altar, como uma promessa de que seria sempre defensor da tradição da Igreja. Não demorou muito tempo até que o novo patriarca tivesse de enfrentar-se novamente com os que lhe eram hostis. 
Suas principais obras foram uma Apologia para o ensino ortodoxo em relação com os santos ícones e outro extenso tratado em duas partes: a primeira, uma defesa da Igreja contra a acusação de idolatria; e a segunda, conhecida como «Antiherética», uma refutação aos escritos de Constantino V sobre as imagens sagradas. Além de vários outros tratados, a maioria sobre a iconoclastia, deixou duas obras históricas conhecidas como Breviarium e Cronografia;  a primeira é uma breve história do reinado, de Mauricio à Constantino IV e Irene; a outra, uma crônica com os principais acontecimentos, desde o início do mundo. Na compilação dos concílios é possível ainda encontrar-se os dezessete cânones de Nicéforo, sendo que no segundo declara ilícito viajar aos domingo sem necessidade. 
Em 2 de junho do ano 828 o santo morreu, e em 13 de Março do  ano 846, por ordem da Imperatriz Teodora e do Patriarca São Metódio, os restos mortais de São Nicéforo foram transferidos da Ilha de Prokenesis para Constantinopla, tendo sido depositado Igreja dos Santos Apóstolos.  

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (VII)

João 20:1-10

1 No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro.  2 Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram. 3 Saíram então Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4 Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais ligeiro do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro; 5 e, abaixando-se viu os panos de linho ali deixados, todavia não entrou. 6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro e viu os panos de linho ali deixados, 7 e que o lenço, que estivera sobre a cabeça de Jesus, não estava com os panos, mas enrolado num lugar à parte. 8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu e creu. 9 Porque ainda não entendiam a escritura, que era necessário que ele ressurgisse dentre os mortos. 10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.


COMEMORAÇÃO DE SÃO JOÃO CLÍMACO (DA ESCADA)

Tropárion da Ressurreição
Pela Tua Cruz, destruíste a morte, / abriste as portas do Paraíso ao ladrão, / converteste em alegria o pranto das Miróforas / e lhes disseste que aos Apóstolos anunciassem / que ressuscitaste dos mortos, ó Cristo Deus, // revelando ao mundo a grande misericórdia. 

Kondákion da Ressurreição
O domínio da morte já não pode submeter o homem, / pois Cristo, descendo, aboliu e destruiu o seu poder, / o Hades está vencido, e os profetas se alegram, clamando em uníssono: / «O Salvador apareceu àqueles que têm fé! // Corram, Fiéis, para a Ressurreição!» 

Theotókion
Como templo da nossa ressurreição, / ó Toda-gloriosa retira do túmulo e da desolação aqueles que esperam em ti, / tu nos salvaste da escravidão do pecado, / gerando a nossa Salvação, // permanecendo sempre virgem.

Tropárion do Quarto Domingo da Grande Quaresma: Venerável João Clímaco Modo 1
Tu provaste ser um homem livre habitando o deserto, / um anjo em um corpo, / e um operador de prodígios, / Ó nosso Pai João, por quem em Deus fomos gerados, / pelo jejum, a vigília e a oração, obtiveste dons celestiais, / que curaram os doentes e as almas daqueles que recorrem a ti com fé. / Glória Àquele que te fortaleceu, / glória Ao que te coroou, / glória a Quem, por meio de ti // opera curas para todos.


Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

Kondákion de São João Clímaco Modo 1
Ó Sábio, ofertando em teu livro, frutos de aprendizagem de perene esplendor,  / tu deleitas os corações daqueles que o estudam seriamente. / Pois ele é uma escada cujos degraus conduzem da terra para as gloriosas habitações celestes, // as almas que com fé te veneram.

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Kondákion Modo I

O Coro dos Patriarcas honra a tua santa memória / com louvores e hinos, ó Nicéforo, / posto que de ti herdaram a alma e a sua tradução, ó Glorioso/. Por isso, hoje a santa Igreja, glorificando a Cristo Rei, // exalta Àquele que é o Único monte da humanidade.

Prokímenon

O Senhor dará poder ao Seu povo 
O Senhor abençoará Seu povo com a paz.

Oferecei ao Senhor, ó filhos de Deus,
Oferecei ao Senhor tenros cordeiros.

Efésios 5:9-19

9 (Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade); 10 Aprovando o que é agradável ao Senhor. 11 E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. 12 Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. 13 Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. 14 Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. 15 Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, 16 Remindo o tempo; porquanto os dias são maus. 17 Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. 18 E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; 19 Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração...


Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!
É bom exaltar o Senhor
E cantar louvores ao teu Nome, ó Altíssimo (Sl 91:1) 

Aleluia, aleluia, aleluia!
Proclamar pela manhã o Teu amor
E aTua fidelidade pela noite (Sl 91:2). 


Aleluia, aleluia, aleluia! 

Mateus 4:25-5:12

25 E seguia-o uma grande multidão da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão. 1 E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; 2 E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: 3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; 4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; 5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; 8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; 9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; 10 Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. 12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

Hirmos
Ó cheia de graça, em ti rejubila-se toda a Criação. 
A assembleia dos anjos e o gênero humano te glorificam,
ó templo santificado, paraíso espiritual e glória das virgens,
na qual Deus se encarnou e da qual tornou-se Filho
Aquele que é nosso Deus antes dos séculos.
Porque fez de teu seio um trono
e as tuas entranhas, mais vastas do que os céus.
Ó cheia de graça, em ti rejubila-se toda a Criação e te glorifica!


† † †

MEDITAÇÃO

A comemoração litúrgica chama hoje nossa atenção sobre São João Clímaco, pois esse padre, que viveu no século VII, realizou em sua vida o ideal de penitência que deveríamos manter sob a vista durante a Quaresma. “Honremos João, orgulho dos ascetas...”, é o que cantamos às Vésperas. Durante as Matinas, nós dizemos ao Santo: “Ao emagrecer teu corpo pela abstinência, tu renovaste a força de tua alma, enriquecendo-a de glória celeste”. No entanto, a Igreja dá à doutrina de São João Clímaco uma interpretação correta, quando proclama que a ascese não tem nenhum sentido nem nenhum valor se não for uma expressão de amor e quando, ainda em Vésperas, ela dirige ao Santo as seguintes palavras: “...pois a todos (nós) tu clamaste: Amai O Senhor e encontrareis a graça para sempre, pois nada é preferível ao Seu Amor...”

Nós continuamos, durante a Liturgia, a leitura da Epístola aos Hebreus (Hb. 6, 13-20). Ela nos fala da paciência e da permanência de Abraão e da realização final das promessas que Deus havia feito ao Patriarca. É impossível a Deus mentir. É por isso que, como Abraão, nós somos “encorajados”- nós que encontramos um refúgio - a agarrar fortemente a esperança que nos é oferecida.

O Evangelho (Mc. 9, 16-30) descreve a cura de um filho mudo, possuído pelo demônio, que o pai conduz a Jesus. O Senhor diz ao pai: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”. O pai do menino clama em lágrimas: “Eu creio Senhor! (porém) ajuda a minha incredulidade”. Nós não poderíamos encontrar uma melhor fórmula para expressar ao mesmo tempo a existência de nossa fé e a fraqueza dessa fé. Porém somos nós capazes de chorar com lágrimas ardentes quando dizemos à Nosso Salvador: “Eu creio... mas ajuda a minha incredulidade!”? Jesus tem piedade do pai. Ele aceita aquela fé. Ele cura o filho. Os discípulos, indo ter com o Mestre em particular, perguntam-lhe porque não puderam eles mesmos expulsar o demônio. Jesus responde: “Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum”. Não vamos nós, porém, acreditar, que, uma abstinência prolongada e a repetição de algumas orações sejam suficientes para dar esta força que os discípulos ainda não possuíam. A oração e o jejum, no sentido mais profundo dessas palavras, significam uma renúncia radical a si próprio, a fixação da alma nessa atitude de confiança e de humildade que tudo espera da misericórdia de Deus, a submissão de nossa vontade à vontade do Senhor, a colocação de nosso ser inteiro nas mãos do Pai. Aquele que pela graça de Deus atinge este estado pode expulsar os demônios. Não poderíamos nós tentar dar ao menos os primeiros passos nesse caminho? Se tentarmos, seremos surpreendidos pelo resultado que obteremos.

Em seu livro, João descreve o caminho do monge, desde a renúncia ao mundo até a perfeição do amor. É um caminho que se desenvolve através de trinta degraus, cada um dos quais está ligado ao seguinte. O caminho pode ser resumido em três fases sucessivas: a primeira se expressa na ruptura com o mundo, em vista de voltar ao estado da infância evangélica. Portanto, o essencial não é a ruptura, mas a ligação com aquilo que Jesus disse, ou seja, o regressar à verdadeira infância em sentido espiritual, o tornar-se como as crianças.

João comenta: "Um bom fundamento é formado por três bases e por três colunas: inocência, jejum e castidade". O desapego voluntário das pessoas e dos lugares queridos permite à alma entrar em comunhão mais profunda com Deus. Esta renúncia leva à obediência, que é o caminho para a humildade diante das humilhações que nunca faltarão por parte dos irmãos.

A segunda fase do caminho é constituída pelo combate espiritual contra as paixões. Cada degrau da escada está ligado a uma paixão principal, que é definida e diagnosticada, com a indicação da terapia e com a proposta da virtude correspondente.

A luta contra as paixões reveste-se de positividade, não permanece algo negativo graças à imagem do "fogo" do Espírito Santo: "Todos aqueles que empreendem este bom combate, duro e árduo saibam que vieram lançar-se num fogo, se verdadeiramente desejam que o fogo imaterial habite neles". O fogo do Espírito Santo, que é fogo do amor e da verdade. Só a força do Espírito Santo assegura a vitória.

A última fase do caminho é a perfeição cristã, que se desenvolve nos últimos sete degraus da Escada. Estes são os degraus mais altos da vida espiritual. Dos primeiros três: simplicidade, humildade e discernimento, João, considera mais importante o último, ou seja, a capacidade de discernir.

Cada comportamento deve ser submetido ao discernimento. Aqui entra-se no núcleo vivo da pessoa e trata-se de despertar no eremita, no cristão, a sensibilidade espiritual e o "sentido do coração", dons de Deus: "Como guia e regra em cada coisa, depois de Deus, temos que seguir a nossa consciência". Deste modo alcança-se o estado de tranquilidade da alma, de paz interior, que prepara para a oração, que em João é dúplice: a "oração corpórea" e a "oração do coração".

A primeira é própria de quem se deve fazer ajudar por atitudes do corpo: estender as mãos, bater ao peito, etc.; a segunda é espontânea, porque é efeito do despertar da sensibilidade espiritual, dom de Deus a quem se dedica à oração corpórea.

Em João ela adquire o nome de "oração de Jesus" e é constituída pela invocação exclusiva do nome de Jesus, uma invocação contínua como a respiração: "A memória de Jesus seja uma só com a tua respiração, e então conhecerás a utilidade da paz interior". No final, a oração torna-se muito direta, simplesmente a palavra "Jesus", que se faz uma só com a nossa respiração.

O último degrau da escada é dedicado à suprema "trindade das virtudes": a fé, a esperança e, sobretudo, a caridade. Da caridade, João fala também como amor humano. João está convencido de que uma intensa experiência deste amor faz progredir a alma muito mais que a dura luta contra as paixões, porque o seu poder é grande. Todavia, a caridade é vista também em estreita relação com a esperança. A força da caridade é a esperança.

A esperança nos torna capaz de viver a caridade, de suportarmos os cansaços e as decepções de todos os dias, de sermos bons para com os outros, sem esperar uma recompensa.


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