domingo, 14 de agosto de 2022

9º Domingo de Depois de Pentecostes

 
14 de Agosto 2022 (CC) / 01 de Agosto (CE)
Início do Jejum da Dormição da Santa Theotókos
Procissão da Transposição da Venerável Cruz do Senhor
Festa do Misericordiosíssimo Salvador e da Santíssima Mãe de Deus;
Os Sete Macabeus, sua mãe Salomé e Eleazar, o Sacerdote († 166 a.C).
Tom 6


No grego Chasoslov (Orologion) de 1897 é explicado assim a derivação desta festa: 
"Por causa das doenças, que muitas vezes ocorridas em todos os lugares em agosto, desde a antiguidade costumava-se fazer em Constantinopla, uma procissão com a Venerável Madeira da Cruz ao longo das estradas e ruas para a santificação dos lugares, e para afastar as doenças". 
Na véspera (31 de julho), a Cruz era retirada do tesouro imperial para se posta sobre a mesa sagrada da Grande Igreja em honra à Santa Sofia (à Sabedoria de Deus). Desde esta festa até à da Dormição da Santíssima Mãe de Deus, fazia-se Lítia por toda a cidade, onde a Cruz ficava disponível para que todo o povo a venera-se. 
Na Igreja Russa, esta festa é combinada também com uma lembrança do Batismo da Rus', em 1º de agosto de 988. Em 1627, o Patriarca de Moscou e de toda a Rus', Filaret, ordenou que "no dia da procissão da Venerável Cruz ocorra uma procissão da igreja para a santificação da água e para o esclarecimento do povo, em todas as cidades e lugares". 
O conhecimento do dia do atual Batismo de Rus' foi preservado nas Crônicas do século XVI: "O Batismo do Grande Príncipe Vladimir de Kiev e todos os Rus' foi em 1º de agosto". 
Na prática, agora, da Igreja Russa, o serviço de uma pequena Santificação da Água em 1º de agosto é feito antes ou depois da Liturgia. Juntamente com a Bênção das Águas, é feita uma Bênção do Mel (ou seja, primeiro mel para o Salvador: "Salvador da Água", "Orvalho do Salvador" [aparentemente no lugar do vinagre e do fel oferecidos a Ele na Cruz?] ). E a partir deste dia o mel recém-colhido é abençoado e provado. 
A Festa do Misericordiosíssimo Salvador e da Santíssima Mãe de Deus
A Festa do Misericordiosíssimo Salvador e da Santíssima Mãe de Deus foi estabelecida por ocasião dos portentosos milagres operados pelos Ícones do Salvador  da Santa Mãe de Deus e da Venerável Cruz, por ocasião de uma batalha entre o santo Príncipe Andrei Bogoliubsky (1157- 1174)  e os búlgaros do Volga, em 1164.
 
Este é o primeiro dos três dias da Festa do Misericordiosíssimo Salvador, comemorados em agosto. O segundo - é a Transfiguração (Preobrazhenie, Metamorphosis) de nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo (comemorada em 06 de agosto.). O terceiro - é a transferência de Edessa para Constantinopla do Ícone Aqueropita (Não-Feito-Por-Mão) do Senhor Jesus Cristo (Comemorado em 16 de agosto, na Pós-Festa da Dormição da Santíssima Mãe de Deus.). Estas três festas, por assim dizer, estão atreladas ao Jejum da Dormição da Mãe de Deus.  
Leituras Comemorativas 
1 Coríntios 1:18-24
João 19:6-11; 13-20; 25-28; 30-35


Os Sete Macabeus, sua mãe Salomé e Eleazar, o Sacerdote  
Todos eles padeceram para preservar a pureza da fé de Israel sob o rei Antíoco, chamado por alguns "Epiphanios", o "Iluminado" e por outros "Epimanis", ou seja, "um louco".

Por causa dos grandes pecados de Jerusalém e, especialmente, a disputa sobre a autoridade sacerdotal e crimes cometidos por ocasião desta luta, Deus permitiu que uma grande calamidade acontecesse na Cidade Santa. Depois disso, Antíoco queria por todos os meios impor aos judeus a idolatria dos helenos no lugar de sua fé no Único Deus Vivo, não medindo esforços para alcançar esse objetivo.

Antíoco contou com a ajuda de alguns altos sacerdotes traiçoeiros e outros anciãos de Jerusalém que resolveram colaborar. Em uma ocasião, o Rei Antíoco chegou a Jerusalém e ordenou que todos os judeus comessem a carne de suínos, o que é proibido pela Lei de Moisés. Comer carne de porco era um sinal evidente que o que dela se alimentava repudiava a fé de Israel. O Sumo Sacerdote Eleazar, que também fora um dos setenta e dois tradutores do Antigo Testamento para a língua grega (a Septuaginta), não se submeteu à ordem do rei. Por isso, Eleazar foi torturado e queimado vivo.

Retornando à Antioquia, Antíoco levou consigo os sete filhos de Salomé, chamados os Macabeus, e também a mãe deles. Os nomes dos sete irmãos Macabeus eram: Avim, Antonius, Eleazar, Gurius, Eusebon, Achim e Marcellus. Diante dos olhos de sua mãe, o ímpio rei torturava os seus filhos, um por um, rasgando a pele de seus rostos e, depois, lançando-os no fogo. Todos eles suportavam bravamente a tortura e morte sem renegar sua fé. Finalmente, quando a mãe viu seu último filho, o caçula de apenas três anos no fogo, ela mesma saltou para as chamas e foi consumida pelo fogo, entregando sua alma a Deus.

Todos estes dignamente padeceram por causa da fé no Único Deus Vivo, cerca de 180 anos antes de Cristo.  
Leituras Comemorativas 
Hebreus 11:33-12:2 
Mateus10:32-36;11:1

Oração Antes de Ler as Escrituras 

Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (IX)

João 20:19-31

19 Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco. 20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor. 21 Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. 22 E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos. 24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25 Diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei. 26 Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco. 27 Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. 28 Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu! 29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. 30 Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; 31 estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

LITURGIA

Tropárion da Ressurreição, 8º Tom
Tu desceste do alto dos Céus, Ó Deus misericordioso, / e aceitaste estar sepultado durante três dias, / a fim de nos libertares de nossas paixões. // Senhor, nossa via e ressurreição, glória a Ti!

Tropárion, Tom 1
Salva, Senhor, o Teu povo / e abençoa a Tua herança! / Concede à Tua Igreja a vitória sobre o mau // e guarda oTeu povo pela Tua Cruz

Tropárion, Tom 1
Pelas dores dos santos, / que padeceram por Ti, ó Senhor, / atenta e cure todas as nossas enfermidades, // nós Te rogamos, Ó Tu que amas a humanidade.

Kondákion da Ressurreição, Tom 8
Ressuscitado do túmulo Tu despertaste os mortos, / e ergueste Adão e Eva dançou de alegria na Tua ressurreição; / e os confins da terra mantiveram festas triunfais // na Tua ressurreição dentre os mortos, Ó Tu que És muito misericordioso.

Glória ao Pai e ao Filho e ao espírito Santo...

Kondákion, Tom 2
Ó Sete pilares da sabedoria de Deus / E candelabro de sete braços da Luz Divina, / fostes grandes mártires diante dos mártires, ó Macabeus supremamente sábios. / Com eles rogai ao Deus de todos // para que se salve aqueles que te veneram.

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.

Kondákion, Tom 4
Ó Tu que foste levantado voluntariamente na Cruz, / conceda Tuas misericórdias sobre a nova comunidade em homenagem a Ti, ó Cristo Deus; / alegra com Teu poder os cristãos ortodoxos, / concedendo-lhes a vitória sobre os inimigos; // que eles tenham como Tua ajuda a arma da paz, o troféu invencível.

Prokímenon, no 6º Tom

R. Salva, ó Senhor, o Teu povo / e abençoa a Tua herança.

V. A Ti, Ó Senhor, clamarei, Ó meu Deus: não Te cales para comigo.

Coro: Salva, Senhor, o Teu povo e abençoa a Tua herança.

No 4º Tom

O Senhor foi maravilhoso nos Santos da Terra; / neles realizou todos os Seus desígnios.

1 Coríntios 3:9-17

9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. 10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. 11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. 12 E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. 14 Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. 15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá prejuízo; mas o tal será salvo, todavia, como que pelo fogo. 16 Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós.

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!

Vinde, regozijemo-nos no Senhor,

cantemos as glórias de Deus, nosso Salvador!

Aleluia, aleluia, aleluia!

Apresentamo-nos diante d'Ele com louvor, 

e celebremo-lo com salmos! 


Aleluia, aleluia, aleluia!

Mateus 14:22-34

22 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. 23 Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. 24 Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. 25 À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. 26 Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. 27 Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. 28 Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. 29 Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. 31 Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? 32 E logo que subiram para o barco, o vento cessou. 33 Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus. 34 Ora, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré. 

Canto de Comunhão
 
Louvai ao Senhor, vós, cidadãos dos céus,
Louvai-O no mais alto dos Céus! (Sl. 148:1) 

Seus sons se espalharam por toda a terra,
E as suas palavras chegaram aos confins do mundo. (Sl 18:5)

Aleluia, aleluia, aleluia! (3x)

† † †


HOMILIAS


“Coragem! Sou Eu!”

Se em alguma ocasião chegássemos a tombar no recife das tentações, recordemos que foi Jesus quem nos mandou subir na barca da prova, e que quer que lhe precedamos na margem oposta. Pois é impossível, para quem não passou pela tentação das ondas e do vento contrário, chegar àquela margem. Assim, quando nos víssemos cercados por múltiplas dificuldades, e mediante um esforço moderado tivéssemos de certa forma conseguido esquivar-se delas, imaginemos que nossa barca se encontra em mar aberto, sacudida pelas ondas que desejariam fazer-nos naufragar na fé ou em alguma outra virtude. Porém, quando víssemos que é o espírito do mal que ataca-nos, então temos de concluir que o vento nos é contrário.

Contudo, quando suportando o vento contrário tivessem transcorrido as três vigílias da noite, isto é, das trevas que acompanham a tentação, lutando intrepidamente de acordo com as nossas forças, procurando escapar ao naufrágio da fé – a primeira vigília representa o pai das trevas e do pecado; a segunda seu filho, “o adversário”, em revolta contra tudo o que traz o nome de Deus ou o que é objeto de adoração; a terceira, o espírito inimigo do Espírito Santo –, estejamos seguros que, vindo a quarta vigília, quando a noite vai adiantada e está prestes a amanhecer, o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas para acalmar o nosso mar agitado. E quando víssemos que o Verbo nos aparece, talvez nos assustemos antes de percebermos de que estamos na presença do Salvador, e, crendo ver um fantasma, gritaremos atemorizados, mas ele nos dirá em seguida: Coragem, sou eu, não tenham medo!

E se entre nós se encontrar outro Pedro, mais fortemente comovido pelas palavras de coragem do Senhor, esse Pedro em caminho para uma perfeição que ainda não alcançou, descendo da barca – como fugindo da tentação que o acometia – em um primeiro momento andou querendo aproximar-se de Jesus sobre as águas; porém, sendo a sua fé ainda insuficiente, e agitado pela dúvida, sentirá a força do vento, sentirá medo e começará a afundar. Mas não afundará, porque gritando se dirigirá a Jesus suplicando: Senhor, salva-me! E imediatamente, também a este Pedro que lhe suplica dizendo: Senhor, salva-me, o Verbo lhe estenderá a mão e socorrerá a este homem, agarrando-o no preciso momento em que começava a afundar, e lançando-lhe em face sua pouca fé e o ter duvidado. Contudo, observa que não lhe disse: “Incrédulo”, mas: homem de pouca fé, e que acrescentou: Por que duvidaste?, como alguém que, apesar de ter um pouco de fé, vacila e não se comporta de modo contrário.

Momentos depois, tanto Jesus como Pedro subiram na barca e o vento se acalmou. Os que estavam na barca, percebendo de que perigos foram salvos, o adoraram dizendo: Realmente és o Filho de Deus.

Orígenes (séc. III)

† † †



“Senhor, Salva-Me, Porque Estou Afundando”

O Evangelho que nos foi proclamado e que recolhe o episódio de Cristo, o Senhor, andando sobre as ondas do mar, e do Apóstolo Pedro, que ao caminhar sobre as águas vacilou sob a ação do temor, duvidando se afundava e confiando novamente saiu flutuando, nos convida a ver no mar um símbolo do mundo atual, e no Apóstolo Pedro a figura da única Igreja.

Na realidade, Pedro em pessoa – ele, o primeiro na ordem dos apóstolos e generosíssimo no amor a Cristo – com frequência responde em nome de todos. Quando o Senhor Jesus perguntou quem dizia o povo que ele era, enquanto os demais discípulos lhe informam sobre as distintas opiniões que circulavam entre os homens, ao insistir o Senhor em sua pergunta e dizer: E vós, quem dizeis que eu sou?, Pedro respondeu: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo. A resposta a deu um em nome de muitos, a unidade em nome da pluralidade.

Contemplando a este membro da Igreja, tratemos de discernir nele o que procede de Deus e o que procede de nós. Deste modo não vacilaremos, mas estaremos fundamentados sobre a pedra, estaremos firmes e estáveis contra os ventos, as chuvas e os rios, isto é, contra as tentações do mundo presente. Observai, pois, nesse Pedro que então era nossa imagem: algumas vezes confia, outras vacila; algumas vezes lhe confessa imortal e outras teme que morra. Por isso, porque a Igreja tem membros seguros, tem também inseguros, e não pode subsistir sem seguros nem sem inseguros. Naquilo que Pedro disse: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo, representa os que são seguros; no fato de tremer e vacilar, não querendo que Cristo padecesse, temendo a morte e não reconhecendo a Vida, representa aos inseguros da Igreja. Assim, portanto, naquele único apóstolo, ou seja, em Pedro, o primeiro e principal entre os apóstolos, no qual estava prefigurada a Igreja, deviam estar representados os dois tipos de fiéis, ou seja, os seguros e os inseguros, já que sem eles não existe a Igreja.

Este é também o significado do que nos acabou de ser lido: Senhor, se és tu, manda-me ir até ti andando sobre a água. E, diante de uma ordem do Senhor, Pedro verdadeiramente caminhou sobre as águas, consciente de não poder fazê-lo por si mesmo. Pode a fé o que a humana fraqueza era incapaz de fazer. Estes são os seguros da Igreja. Ordene-o o Deus homem e o homem poderá o impossível. Vem – disse ele –, e Pedro desceu e começou a andar sobre as águas: pôde fazê-lo porque o havia ordenado a Pedra. Eis aqui do que Pedro é capaz em nome do Senhor; o que é que pode por si mesmo? Ao sentir a força do vento, ficou com medo, começou a se afundar e gritou: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Confiou no Senhor, pôde no Senhor; vacilou como homem, retornou ao Senhor. Em seguida estendeu a ajuda de sua destra, agarrou ao que estava afundando, censurou ao desconfiado: Que pouca fé!

Bom, irmãos, temos que terminar o sermão. Considerai o mundo como se fosse o mar: vento fortíssimo, tempestade violenta. Para cada um de nós, suas paixões são sua tempestade. Amas a Deus: andas sobre o mar, sob os teus pés ruge a agitação do mundo. Amas ao mundo: ele te engolirá. Ele sabe devorar, não suportar os seus adoradores. Porém, quando o sopro da concupiscência agita teu coração, para vencer tua sensualidade invoca sua divindade. E se teu pé vacila, se hesitas, se existe algo que não consegues superar, se começas a te afundar, diz: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Porque só te livra da morte da carne aquele que na carne morreu por ti. 

Bem-Aventurado Agostinho, Bispo de Hypona (Séc. V)

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“A Insondável Profundidade De Deus”

Deus está em todas as partes, é imenso e está próximo de todos, conforme atesta de si mesmo: Eu sou – diz – um Deus próximo, e não distante. O Deus que buscamos não está longe de nós, já que está dentro de nós, se somos dignos de sua presença. Habita em nós como a alma no corpo, na condição de que sejamos seus membros sãos, de que estejamos mortos ao pecado. Então, habita verdadeiramente em nós aquele que disse: Habitarei e caminharei com eles. Se somos dignos de que ele esteja em nós, então somos realmente vivificados por ele, como seus membros vivos: Pois nele – como afirma o apóstolo – vivemos, nos movemos e existimos.

Quem, pergunto-me, será capaz de penetrar no conhecimento do Altíssimo se consideramos o inefável e incompreensível de seu ser? Quem poderá investigar as profundezas de Deus? Quem poderá gloriar-se de conhecer ao Deus infinito que tudo preenche e tudo envolve, que tudo penetra e tudo supera, que tudo abarca e tudo transcende? A Deus ninguém jamais o viu tal como é. Ninguém, portanto, tenha a presunção de perguntar-se sobre o indecifrável de Deus, o que foi, como foi, quem foi. Estas são coisas inefáveis, inescrutáveis, impenetráveis; limita-te a crer com simplicidade, porém com firmeza, que Deus é e será tal como foi, porque é imutável.

Quem é, portanto, Deus? O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus. Não questione mais a respeito de Deus; porque os que querem conhecer as profundezas insondáveis devem antes considerar as coisas da natureza. De fato, o conhecimento da Trindade divina se compara, com razão, à profundidade do mar, conforme aquela expressão do Eclesiastes: O que existe é distante e muito obscuro, quem o examinará? Porque, assim como a profundidade do mar é impenetrável aos nossos olhos, assim também a divindade da Trindade escapa a nossa compreensão. E, por isto, insisto, se alguém se esforça em saber o que deve crer, não pense que o compreenderá melhor dissertando do que crendo; ao contrário, ao ser buscado, o conhecimento da divindade se afastará ainda mais que antes daquele que pretenda alcançá-lo.

Busca, portanto, o conhecimento supremo, não com investigações verbais, mas com a perfeição de um bom comportamento; não com palavras, mas com a fé que procede de um coração simples e que não é fruto de uma argumentação baseada em uma sabedoria irreverente. Portanto, se buscas mediante o discurso racional ao que é inefável, ficarás muito longe, mais do que estavas; porém, se o buscas com fé, a sabedoria estará à porta, que é onde tem a sua morada, e ali será contemplada, pelo menos parcialmente. E também podemos realmente alcançá-la um pouco quando cremos naquele que é invisível, sem compreendê-lo; porque Deus há de ser crido tal como é, invisível, mesmo que o coração puro possa, em parte, contemplá-lo.

São Columba, de Iona (séc. VI)

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