04 de Novembro de 2015 (CC) / 22 de Outubro (CE)
Milagroso Ícone da Mãe de Deus de Kazan
Santo Abércio, bispo de Hierápolis († c. 170)
Modo 5
O Ícone de Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego, teria sido pintado, segundo os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem de meio corpo da Virgem carregando o Menino Jesus, que se encontra quase de pé numa atitude de benção para com sua mãe, para quem Ele ergue Sua mão direita.
O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho. Sob a cobertura está o desenho e as cores se conservam perfeitamente, o que se leva a considerá-lo não unicamente como uma peça de altíssimo valor religioso, mas também uma verdadeira obra de arte.
A lâmina que recobre a imagem data do século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que deste modo quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem.
No dia 1 de outubro de 1552, festa da «Proteção da Virgem» o exército do Czar Ivan, o Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino Tártaro. O Czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da Anunciação.
No ano de 1579 Kazan foi assolada por um violento incêndio que destruiu a metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a Virgem aparece a uma menina de nove anos. Manda-lhe escavar as ruínas porque ali encontraria o Sagrado Ícone.
No dia 8 de julho de 1579, é encontrada entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de 1612 quando é transportada para a cidade de Moscou.
Em 1790 o Czar Pedro, o Grande, a invoca como «Protetora e Estandarte» na batalha de Poltava, contra Carlos XII da Suécia. Após a vitória russa o ícone é entronizado na Catedral de Moscou, sendo em seguida transferida para São Petersburgo e colocada num santuário a ela especialmente dedicado.
Na noite de 29 de junho de 1904, durante uma revolta popular, desaparece junto a outros tesouros do Santuário. Em 1970, cerca de sessenta anos depois, reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Neste contexto, foi comprado pelo «Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima» organização católica de devoção à Virgem de Fátima. Prosseguindo sua caminhada foi entronizado na Capela Bizantina, em Fátima, Portugal e, em 1993, foi entregue ao papa por esta organização.
O bispo de Roma conservou o ícone na capela de seu apartamento, esperando a oportunidade de encontrar-se com o patriarca Alexis II para devolvê-lo, pois este, enquanto chefe atual da Igreja ortodoxa russa, era considerado seu legítimo proprietário.
Em 28 de agosto de 2004, o Papa João Paulo II, manifestando o desejo de promover as relações fraternas com a Igreja Ortodoxa Russa, devolveu ao Patriarcado de Moscou este que é um dos ícones mais venerados pelos ortodoxos através da história.
Abércio Marcelo viveu no segundo século, na Frigia Salutaris, e era bispo de Hierópolis. Aos setenta anos de idade realizou uma peregrinação a cidade de Roma e, retornando desta viagem, passou pela Síria, Mesopotâmia, visitando lá a cidade de Nísibis. Por todos os lugares por onde passou encontrou fervorosos cristãos que haviam sido purificados pelo batismo e se nutriam do Corpo e do Sangue de Cristo. O santo bispo, através de sua pregação e milagres, levou tantos à conversão que lhe foi dado o título de «Igual-aos-apóstolos». Sua fama chegou aos ouvidos do imperador Marco Aurélio que mandou que viesse à Roma, pois sua filha era vítima de possessão. Santo Abércio realizou com muito êxito o exorcismo na jovem, ordenando ao demônio que lhe atormentava que transportasse a pedra de um altar do hipódromo romano até a sua cidade episcopal, onde seria utilizada na construção de sua sepultura. O nome de Abércio figura na liturgia grega desde o século X. Seu adormecimento em Cristo aconteceu quando contava 72 anos de idade.
1 Tessalonicenses 2:1-8
Porque vós mesmos, irmãos, bem sabeis que a nossa entrada para convosco não foi vã; mas, mesmo depois de termos antes padecido, e sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate. Porque a nossa exortação não foi com engano, nem com imundícia, nem com fraudulência; mas, como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações. Porque, como bem sabeis, nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem houve um pretexto de avareza; Deus é testemunha; e não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros, ainda que podíamos, como apóstolos de Cristo, ser-vos pesados; antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos.
Lucas 9:44-50
Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos, porque o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens. Mas eles não entendiam esta palavra, que lhes era encoberta, para que a não compreendessem; e temiam interrogá-lo acerca desta palavra. E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si, e disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo será grande. E, respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco. E Jesus lhe disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós.
COMENTÁRIO
“Em Nome de Cristo”
João diz a Jesus: Mestre, vimos um homem que expulsava demônios em teu nome, e não o permitimos porque não é dos nossos. João que amava com extraordinário fervor ao Senhor, e por isso era digno de ser amado por ele, pensava que devia ser privado do benefício aquele que não tinha o ofício. Porém, o Senhor lhe ensinou que ninguém deve ser afastado do bem que em parte possui, mas deve ser convidado para aquilo que ainda não possui. E prossegue dizendo:
“Não o proibais. Ninguém que realize milagres em meu nome falará mal de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor”.
O mesmo afirma o sábio apóstolo:
"Contanto que Cristo seja anunciado, como pretexto ou como fidelidade, disso me alegro e me alegrarei."
Porém, ainda que se alegre por aqueles que anunciam a Cristo de forma não sincera, e se inclusive algumas vezes fazem milagres pela salvação de outros, aconselhando que não sejam impedidos, contudo, não podem ser justificados por tais milagres.
Ainda mais, naquele dia dirão: Senhor, Senhor, acaso não profetizamos em teu nome, e não expulsamos demônios em teu nome, e não realizamos milagres em teu nome?, e receberão esta resposta: Não vos conheço, apartai-vos de mim, vós que operais a iniquidade! Portanto, a respeito dos hereges e maus católicos devemos solenemente rejeitar não aquelas crenças e aqueles sacramentos que têm em comum conosco, não contra nós, mas as divisões que se opõem à paz e à verdade, pelas quais estão contra nós e não se mantêm em unidade com o Senhor.
"Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa." Lemos no Profeta Davi que muitos, como desculpa de seus pecados, pretendem que são justos os estímulos que os movem a pecar; de modo que, enquanto pecam voluntariamente, iludem-se de atuar por necessidade. O Senhor, que perscruta os corações e os rins, pode ver os pensamentos de cada um.
Ele disse:
"Quem recebe a um destes pequeninos em meu nome, recebe a mim."
Alguém poderia polemizar dizendo: “A pobreza me impede, minha miséria me impossibilita de recebê-lo”. Porém, o Senhor anula esta desculpa com um suavíssimo mandamento, para induzir-nos a oferecer de todo o coração ao menos um copo de água, mesmo que seja fria, como disse Mateus. E diz um copo de água fria, não quente, a fim de que não se busque uma desculpa alegando miséria ou falta de lenha para esquentar a água.
São Beda (séc. VIII)
“Não o Proibais”
Mestre, temos visto um homem que expulsava demônios em teu nome, e não o permitimos porque não é dos nossos. Este que fazia milagres em nome de Cristo e não estava no grupo dos discípulos de Jesus, na medida em que realizava milagres em seu nome, nessa mesma medida estava com eles e não contra eles; porém, na medida em que não aderia ao seu grupo, nessa mesma medida não estava com eles e estava contra eles. Mas como eles lhe proibiram de fazer aquilo no qual estava com eles, disse-lhes o Senhor: Não o proibais.
O que lhe deveriam proibir era o estar fora de sua companhia, para persuadir-lhe a unidade da Igreja, não aquilo em que estava com eles, valorizando o nome de seu Mestre e Senhor com a expulsão dos demônios. Assim atua a Igreja Católica ao não reprovar nos hereges os sacramentos comuns; no que a estes respeita, eles estão conosco e não contra nós. Porém, desaprova e proíbe a divisão e separação ou alguma sentença contrária à paz e à verdade; pois nisto estão contra nós nem recolhem conosco e, em consequência, dispersam...
"Porque quem não está contra nós, está a nosso favor. Quem vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa."
Com isto mostrou que tampouco aquele a quem João se referira, e de quem tomou origem este seu discurso, separava-se tanto do grupo dos discípulos que o censurasse, como fazem os hereges; o seu caso era frequente de homens que não se atrevem ainda a receber os sacramentos de Cristo e, contudo, favorecem ao nome cristão, até mesmo acolher a cristãos simplesmente porque são cristãos.
Deles diz que não perderão a sua recompensa; não porque já devam considerar-se seguros e protegidos pela benevolência que tem para com os cristãos, mesmo que não estejam lavados pelo batismo de Cristo nem estejam incorporados a sua unidade, mas porque já estão dirigidos pela misericórdia de Deus de tal maneira que chegam a essas obras e saem seguros deste mundo.
Realmente, estes, inclusive antes de unirem-se ao número dos cristãos, são mais úteis que aqueles outros que, já dizendo-se cristãos e imbuídos inclusive dos sacramentos cristãos, induzem tais coisas que arrastam consigo ao castigo eterno àqueles a quem desviam. A esses se dá o nome de “membros”; e, como se se tratasse de uma mão ou de um olho que é ocasião de pecado, manda arrancá-los do corpo, ou seja, da mesma sociedade da unidade, sendo melhor chegar à vida sem sua companhia que ir para a Geena com eles.
Separar-se deles consiste em não dar-lhes assentimento quando movem ao mal, isto é, quando são ocasião de pecado. E quando os bons com quem se relacionam chegam também a conhecer a dita perversidade, são afastados completamente da comum companhia e até da participação nos sacramentos divinos. Se, pelo contrário, apenas alguns a conhecem (a perversidade), enquanto que à maioria ainda é desconhecida esta maldade, hão de ser tolerados como se tolera a palha na eira antes do ancinho, de forma que nem se lhes dê assentimento, comungando assim em sua iniquidade, nem se abandone a sociedade por causa deles. Isto o fazem aqueles que têm sal em si mesmos e paz entre eles.
Bem-aventurado Agostinho, bispo de Hipona (séc. V)
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