domingo, 4 de dezembro de 2016

Festa da Entrada da Santíssima Mãe de Deus no Templo

24º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES
04 de Dezembro de 2016 (CC) / 21 de Novembro (CE)
Jejum da Natividade
Modo 7






ENTRADA DA SANTÍSSIMA THEOTOKOS NO TEMPLO

Os justos Joaquim e Ana, mesmo antes do nascimento de sua filha Maria, tinham prometido dedicar a Deus a criança que Ele lhes havia concedido.  
Quando a Santíssima Virgem Maria era ainda uma jovem menina, eles a levaram ao Templo, acompanhada por virgens com lamparinas, e a colocaram no primeiro degrau da escada. De acordo com a antiga tradição, Maria subiu os quinze degraus do Templo sozinha. No topo da escada o Sumo Sacerdote a encontrou e, cheio do Espírito Santo, conduziu-a não só até o altar, mas mesmo até o Santo dos Santos onde, de acordo com a Lei, o próprio Sumo Sacerdote só podia entrar uma vez por ano. O povo ficou assombrado com essa entrada, e os anjos de Deus maravilharam-se também. 
Os Cristãos celebram esse evento em 21 de novembro como um portento de reconciliação do homem com Deus através do poder de Cristo. 
Esta festa litúrgica é celebrada nas Igrejas do Oriente desde o século VI, quando foi inaugurada uma igreja na cidade de Jerusalém em 543. Pouco a pouco foi se transformando em comemoração local para, gradativamente, estender-se por todo Oriente e implantar-se em Constantinopla, entre os séculos VII e VIII. Contribuíram para isto alguns Patriarcas como Germano e Tarásios. Embora não seja testificada pelo Evangelho, mas apenas embasada na Tradição viva da Igreja Primitiva, é celebrada com tanta piedade como as demais festas marianas do calendário litúrgico. 
A Igreja, celebrando esta festa, não quer recordar a entrada de Maria no Templo, simplesmente como fato histórico, mas quer enaltecer, mais uma vez, as virtudes de Maria que são modelos a serem seguidos por todos nós cristãos. 
A Apresentação de Maria no Templo nos apresenta dois Evangelhos ricos em significados: no Orthros, Maria declama seu "Magnificat" e, na Liturgia, Jesus visita Marta e Maria.  
Reza a Tradição que Maria, ao ser apresentada, contava com três anos de idade; e desde então se doou a Deus de maneira plena, tornando-se disponível à sua vontade. Desde o início ela foi a "Serva do Senhor" (Lc 1:38) a Quem amou e serviu com todas as forças. 
Maria preparou-se desde pequena para "tornar-se ela própria "templo" do Altíssimo. O anjo Gabriel anunciou tal realidade dizendo: "Não temas Maria, pois encontraste graça aos olhos de Deus". E a sua resposta é um célebre poema que enaltece a humildade e destrona o orgulho. 
A humildade, a simplicidade, a singeleza e a sinceridade são características frequentes em uma criança. Maria apresentou, portanto, tais atributos, os quais não a abandonaram com o seu crescimento, mas, antes, se tornaram permanentes. 
O silêncio de Maria e suas orações frequentes acolheram a vontade de Deus com amor, pois produziram dedicação. Maria cooperou na obra da Redenção dando seu "Sim", não de maneira passiva, mas numa operosa atividade. O seu "Sim" foi mantido e acentuado em toda a vida, até mesmo no Calvário onde, também ela, ofereceu seu Filho que se oferecia por nossa Salvação. 
Escolhida para ser mãe, pôs-se a serviço e se declarou serva. O mundo está cansado de palavras, de gestos ruidosos. Maria faz. No silêncio, realiza aos poucos sua parte.  
Maria é a nova Eva que gerou pelo seu "sim" o novo Adão. A primeira Eva foi a mulher do primeiro Adão e a ele prestava seus serviços como esposa dedicada, mas, porque fraca e desobediente, pecou. A Nova Eva é mãe do Novo Adão, que por amor e profundo respeito a Ele, doou-se por inteira; e porque fiel e obediente, trouxe ao mundo o perdão e a redenção. Onde havia abundado o pecado, pelo "Sim" de Maria a Graça superabundou. 
Maria é modelo de fé adulta, esclarecida, consciente. Uma fé que enfrenta todas as dificuldades, sem duvidar da presença de Deus em sua vida.  
A Festa da Entrada da Virgem Maria no Templo acontece um pouco antes da Natividade do Senhor. É um convite a uma mais profunda e esmerada preparação para que possamos viver este tempo de graça em plenitude.  
Arcipreste D. Sokolof






VÉSPERAS


Êxodo 40:1-5, 9-10, 16, 34-35; 1 Reis 7:51; 8:1, 3-7, 9-11; Ezequiel 43:27-44:4

† † †

MATINAS

Lucas 1:39-49, 56

39 Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, 40 entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel. 41 Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, 42 e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! 43 E donde me provém isto, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?    44 Pois logo que me soou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim.    45 Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.    46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, 47 e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador;    48 porque atentou na condição humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49 porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome... 56 E Maria ficou com ela cerca de três meses; e depois voltou para sua casa.   


COMENTÁRIO

Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestar veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. 
A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem: 
1.     Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: 
“Bendita és tu...”, 
igualmente também louva à Criança: 
“Bendito é o Fruto do teu ventre”; 
Enche de humildade a profetiza diante do que lhe é inefável, pois, assim, Isabel diz: 
“Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?”; 
Faz com que profetize acerca do que não entende: Isabel sem entender como o mortal poderia gerar o Eterno; louva Àquela que Deus santificou: 
“Bem aventurada aquela que creu...”. 
2.     Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza: Louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe  concedeu, sendo ela uma humilde serva e anuncia a veneração que doravante todas as gerações lhe prestariam: 
"Eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada..." (Lc 1:48; Sl 45:17)
A maioria dos Protestantes não consegue enxergar este sentido do texto, porque são despossuídos de uma alma litúrgica. Como suas experiências se centralizam e se apoiam unicamente na razão discursiva, reduz a expressão “Bem Aventurada” - aplicada à Virgem - a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, e não à uma atitude cultiva por parte de Isabel e seu filho fetal João Batista, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarias. 
Tal abordagem assemelha-se às visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só enxergam as suas utilidades: O lenhador de forma geral enxergará apenas os tipos de madeira que a floresta fornece, e o botânico se concentrará na sua biodiversidade; mas, ambos, dificilmente conseguirão exaurir a "alma" da floresta, como faz um artista, que contempla o todo e as realidades que inspiram. 
Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao próprio Cristo, o Senhor; pois se a fórmula “Bendita, Bem Aventurada” for despida do seu sentido cúltico e reduzida a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: “Bendito o Fruto do Teu ventre”. 
A partir da visita de Maria a Isabel, a Igreja entende que foi o próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus. 
Pe. Mateus (Antonio Eça)
† † †

LITURGIA


Tropárion da Mãe de Deus - Modo 4
Hoje é o prelúdio da boa vontade de Deus / e da profecia da salvação dos homens. / A Virgem aparece abertamente no templo de Deus / e anuncia Cristo para todos. / Por isso, altissonantes supliquemos-lhe: / Alegra-te, ó, tu // cumprimento da providência do Criador.

Kontakion da Festa Modo 4
O mais puro templo do Salvador, / a Câmara Nupcial, Preciosa e Virgem, / o Tesouro Sagrado da glória de Deus, / nos conduz neste dia trouxe para a casa do Senhor, / trazendo consigo a graça que está no Divino Espírito / A Ela os anjos de Deus entoam hino: // Pois Ela é o tabernáculo celestial!

Hebreus 9:1-7

1 Ora, também o primeiro pacto tinha ordenanças de serviço sagrado, e um santuário terrestre. 2 Pois foi preparada uma tenda, a primeira, na qual estavam o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; a essa se chama o santo lugar; 3 mas depois do segundo véu estava a tenda que se chama o santo dos santos, 4 que tinha o incensário de ouro, e a arca do pacto, toda coberta de ouro em redor; na qual estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha brotado, e as tábuas do pacto; 5 e sobre a arca os querubins da glória, que cobriam o propiciatório; das quais coisas não falaremos agora particularmente. 6 Ora, estando estas coisas assim preparadas, entram continuamente na primeira tenda os sacerdotes, celebrando os serviços sagrados; 7 mas na segunda só o sumo sacerdote, uma vez por ano, não sem sangue, o qual ele oferece por si mesmo e pelos erros do povo...   

Lucas 10:38-42; 11:27-28

38 Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. 40 Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. 41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; 42 entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. 27 Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste. 28 Mas ele respondeu: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam.   


COMENTÁRIO

“Esse é Meu Irmão, Minha Irmã e Minha Mãe”
São Lucas apresenta Maria, Mãe de Jesus, como o maior modelo de bem-aventurança a partir da contraposição de Cristo à exaltação que uma mulher entre a multidão faz de Sua Mãe. Longe de negar a bem-aventurança de Sua Mãe – antes a enaltece por inferência – Cristo corrige a distorção da percepção dessa mulher que entende que o privilégio de gerar a Cristo estava dissociado da fé que habitava na Santa Virgem. Ao seu ventre só foi possível abrigar o Verbo da Vida e aos seus seios O amamentar por causa de sua disposição de alma em dizer “eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a sua palavra” (Lc. 1:38); porque guardava no seu coração os desígnios de Deus (Lc. 2:19, 51), mesmo que estes lhe reservassem uma espada que traspasse sua alma (Lc. 2:35). Sendo, assim, ninguém melhor do que Maria se torna modelo dos que gozam de bem-aventurança por ouvir a palavra de Deus, e a observar. 
A advertência de Jesus serve para orientar a Igreja quanto ao verdadeiro espírito da devoção à Sua Mãe e a vivência dos Divinos mistérios. Venerar a Virgem por uma disposição meramente romântica e da emoção que existe quando estamos diante da meiguice e da ternura, não nos conduz, por si só, à salvação. Isto seria reduzir o Divino à categoria do idolátrico. Os ídolos nos comovem na medida em que representam nossas emoções e dos anseios que projetamos; ao passo que o Divino nos arremete para dimensões onde toda a ciência, sabedoria e capacidade de verbalizar humanas cessam, restando-nos nada mais que o silêncio. 
Por isto na Igreja Ortodoxa não existe “Mariologia”, devoção ao coração de Maria ou grupos organizados para este fim. Tudo que diz respeito à Santa Mãe de Deus está contido no Mistério de Cristo, cuja manifestação terrena é indissociável de Sua Mãe, posto que é unicamente dela que Ele herda a carne humana. Assim, o Seu Genoma, advém tão somente de Maria; suas características físicas e psicológicas dela são herdadas, e o sangue vertido na Cruz, dela foi recebido. Por isto, seus últimos cuidados de vida, mesmo na dor dilacerante da crucifixão, são dedicados para ela (João 19:26,27). 
Entender que este episódio se constitui um despojamento de conteúdo da devoção à Virgem, seria entender que o texto do Evangelho de Lucas foi elaborado contraditoriamente pelo Evangelista. Seria um contrassenso de São Lucas depois de tanto empenho em apresentar narrativas peculiares ao nascimento de Cristo e à Sua infância que fazem ressaltar a exaltação da Virgem: 
A reverência e as palavras de graça que um dos mais sublimes Arcanjos dirige a Maria; 
O cântico e o júbilo proféticos que irrompem dos lábios de Isabel e do fetal João Batista: 
do cântico da própria Maria e das profecias do velho Simeão. 
Toda beleza e esplendor destas narrativas cairiam por terra se Jesus - em sua observação à palavra da anônima mulher - objetivasse despir sua Mãe de veneração. No Apocalipse, a "Mulher vestida do Sol" que dá à luz o Cristo (Ap. 12:1-2,5), também gera filhos cujas características principais características são "a guarda dos mandamentos de Deus e do testemunho de Jesus Cristo" (Ap. 12:17). 
Na verdade esta palavra antitética de Cristo se insere, dentro do contexto do Evangelho de Lucas, numa característica de Cristo em apresentar os mistérios de Deus em relação a consortes que a Deus ou aos Seus mistérios se assemelham por contradição, como, por exemplo, nas parábolas do Administrador Infiel (16:1-9), do Amigo Inoportuno (11:5-8) e do Juiz Iníquo (18:1-8).


Pe. Mateus (Antonio Eça)


† † †

Nenhum comentário:

Postar um comentário