sábado, 17 de dezembro de 2016

26º Sábado Depois de Pentecostes

17 de Dezembro de 2016 (CC) / 04 de Dezembro (CE)
São João Damasceno, mon. († 749);
Santas Megalomártires Bárbara e Juliana;
Santo Ícone da Mãe de Deus de Três Mãos
Sem Jejum (Festa da Metrópole)
Modo 8





Depois que a grande cidade de Damasco, metrópole da Síria caiu sob os muçulmanos no ano 635, os cristãos foram submetidos a muitas desvantagens em ralação aos demais cidadãos, obrigados a pagar tributos aos seus dominadores árabes. Na época do Califa Abdul-Malek (685-705), todos os assuntos relacionados aos cristãos era de responsabilidade de Sérgio Mansur, homem de confiança do Califa, e que vinha de uma das importantes famílias cristãs da cidade. Por volta do ano 675, nasceu um homem temente a Deus e de muita sinceridade, nosso Santo Pai João, «a Arpa do Espírito Santo». Desde sua infância foi educado num ambiente onde predominavam as virtudes da caridade, do amor ao próximo, do socorro aos mais necessitados, sobretudo na pessoa de seu pai que investiu sua riqueza no resgate e libertação dos prisioneiros cristãos. João cresceu em idade e sabedoria, ao lado de seu irmão Cosme (cf. 14 oct) que, tendo perdido seus pais, foi recebido em adoção por Sérgio. A educação dos meninos foi então confiada ao monge Cosme, um erudito italiano resgatado dos árabes por Sérgio. Cosme os instruiu na filosofia em todas as ciências de seu tempo. Viva inteligência e modéstia nas atitudes lhes propiciou um rápido progresso nos estudos, especialmente nas artes, poesia e música. Assim, ao final de alguns anos, o mestre reconheceu que já não mais o que ensinar aos seus alunos, obtendo assim a permissão de Sérgio para retirar-se à Lavra de São Savas, onde desejava viver o resto de seus dias. 
Tendo adquirido um perfeito conhecimento do árabe e do grego, João juntou-se ao seu pai adotivo na administração, mostrando sua grande capacidade nestas tarefas, o que lhe garantiu que, após a morte de Sérgio, fosse nomeado como seu sucessor pelo Califa Walid (705-715). 

Mãe de Deus de Três Mãos 
Quando Leão III, o Saurio (717-741) começou a perseguir a Igreja Cristã no Imério Romano, atacando a piedosa devoção aos santos ícones, São João lançou uma defesa vigorosa da fé através de suas muitas cartas que escreveu em Damasco aos seus correspondentes no império, estabelecendo as bases teológicas da veneração dos santos ícones com base nas Sagradas Escrituras e nos escritos dos Santos Padres. Assim fazendo, João atraiu sobre si o ódio de Leão que tentou livrar-se dele por meio de uma falsa carta não João, aparentemente, sugeria ao imperador que tomasse Damasco. Tal carta foi apresentada ao Califa que, furioso por seu conteúdo, ordenou a seu conselheiro que João tivesse sua mão direita decepada. Na tarde deste mesmo dia João depositou sua mão decepada diante do ícone da Mãe de Deus e, em lágrimas, por várias horas suplicou à soberana do mundo que pudesse ter de volta a sua mão. Caindo em ligeiro sono, viu que o ícone ganhava vida, e que a Virgem o consolava. Ao despertar, ficou perplexo e maravilhado ao ver sua mão direita restaurada. Desde aquele momento, fez votos de dedicar-se inteiramente ao louvor à Virgem Mãe de Deus e ao nosso Salvador, e à defesa da Santa Fé Ortodoxa. Renunciou sua posição na administração, distribuiu sua fortuna e partiu para Jerusalém com Cosme para tornar-se monge na Lavra São Savas. O abade colocou João sob a orientação de um ancião experimentado nas virtudes e muito austero, que lhe proibiu logo o contato com tudo o que estivesse relacionado com a filosofia, ciências, poesia, música ou leituras, dedicando-se a ele mesmo e sem queixar-se das tarefas domésticas, a fim de desenvolver as virtudes da obediência e humildade.  Certo dia, no entanto, apesar da proibição de seu pai espiritual, João ficou comovido pelas súplicas de alguém que havia perdido seu pai espiritual, compondo para seu consolo um hino que é usado até os nossos dias. Quando seu pai espiritual soube deste seu ato de desobediência, pediu a João que recolhesse com as mãos todo o lixo do monastério, o que João, sem dizer uma palavra, tratou de fazê-lo. Dias depois, a Mãe de Deus apareceu ao ancião e lhe pediu que, dali em diante, deixasse seu discípulo compor hinos e poemas que podiam mesmo superar os salmos de Davi e as Odes dos santos Profetas, dada a sua beleza e doçura.  
João, inspirado pelo Espírito Santo, como o doce som de uma harpa, deu voz, com perfeita harmonia, a um grande número de hinos que expressam a mais profunda percepção teológica do Pai da Igreja: escreveu o cânon que é cantado na Páscoa e compôs a maior parte de “Octoechos” (Oito tons) da Ressurreição. É também de sua autoria os maravilhosos cânones e as sublimes homilias de muitas das Festas do Senhor, da Mãe de Deus e dos Santos.  
Além de seus dons poéticos, Deus também lhe brindou com a graça da expressão teológica. Sem acrescentar nada aos dogmas e à doutrina formulada pelos primeiros pais, como: Gregório, o Teólogo, Basílio, o Grande, João Crisóstomo, Gregório de Nissa, Máximo, o Confessor, São João Damasceno, num trabalho de três parte intitulado «A Fonte do Conhecimento», parte da essência da fé cristã com impressionante concisão e clareza de expressão, de tal modo que, todo o trabalho pode ser considerado como selo e glória máxima da grande época patrística. A terceira seção, «Sobre a Fé Ortodoxa», é um excepcional acontecimento na tradição cristã e, para os cristãos ortodoxos, é a fonte mais fidedigna em relação a tudo o que diz respeito aos dogmas da fé. João revela os erros das heresias que desviam, para a esquerda e para a direita, a sã doutrina do caminho que conduz ao céu, especialmente em suas contribuições na luta iconoclasta. Em três extensos tratados, compostos entre 726 e 730, indicou claramente as profundas bases teológicas e a necessidade de veneração dos santos ícones e relíquias, ou seja, uma autêntica proclamação da realidade da encarnação do Filho de Deus e da deificação de nossa natureza na pessoa dos Santos. Tendo adiquirido uma verdadeira sabedoria através da humildade e austeridade nos exercícios ascéticos, este filósofo do Espírito Santo adormeceu sua alma na paz do Senhor no dia 04 de dezembro de 749 (ou 753). A caverna, no monastério de São Savas,  onde viveu algum tempo como anacoreta, é venerada até os dias atuais.

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
Gálatas 3:8-12

Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão. Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá.

Lucas 12:32-40 

Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos. Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais.


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COMENTÁRIO



Que Claro É o Sentido Desta Imagem! 

Eis aqui mais uma vez um desses grandes mandamentos do Senhor, que arranca aos discípulos do Verbo da nuvem opaca que os envolvia, e os leva ao céu com um grande impulso. Ele nos exorta a vencer o sono, a buscar a vida do alto, a ter nosso espírito acordado constantemente, a tirar de nossos olhos o entorpecimento das coisas enganadoras e mentirosas. Falo desse entorpecimento e desse sono, que fixam aos homens no erro, e lhes tecem imagens de sonhos: honras, riquezas, poder, grandezas, prazeres, êxito, vantagens, notoriedade, objetivos ruins que perseguem aturdidamente uma raiva e teimosice ridículas. Esses pretendidos bens, tão fugitivos como o tempo, não têm mais que fachada de realidade, e a própria ilusão se desmorona rapidamente: parece que nascem para nada mais que morrer, como as ondas que as águas levantam; inchadas por uma rajada de vento erguem por um instante a crista que o ar tinha levantado; depois voltam a cair com ele, e então o olhar não vê nada mais que o tranquilo espelho do mar.

Para aniquilar tais sonhos, o Senhor nos pede para superar este pesado sono. Assim já não deixaremos escapar a firmeza das realidades perseguindo freneticamente o nada. O Senhor nos compromete a velar nestes termos: Tenham a cintura cingida e as lâmpadas acesas. A luz que ilumina o nosso olhar lança de nossos olhos o sono; o cinto que aperta os nossos rins mantém os nossos corpos alertas, expressa um esforço que não tolera nenhuma preguiça. Que claro é o sentido desta imagem! Cingir os rins da temperança é viver à luz de uma consciência pura; a lâmpada da sinceridade ilumina a vida, faz resplandecer a verdade, tem a alma em vigilância, a torna impermeável a ilusão, estranha a futilidade de todas essas pobres fantasias. Vivemos segundo as exigências do Verbo? Então entraremos numa vida semelhante à dos anjos... 

São eles, na verdade, que esperam o Senhor no regresso das núpcias e que se sentam às portas do céu com os olhos bem abertos, a fim de que o rei da glória possa aí passar de novo, quando voltar das núpcias e regressar à beatitude que está acima dos céus. Saindo de lá como um esposo sai da câmara nupcial, de acordo com o texto do saltério, ele uniu a si, como uma virgem, pela regeneração sacramental, a nossa natureza que se tinha prostituído com os ídolos, restituindo-lhe a sua incorruptibilidade virginal.

Tendo já acabado as núpcias, uma vez que a Igreja foi desposada pelo Verbo... e introduzida na câmara dos mistérios, os anjos esperavam o regresso do rei da glória à beatitude que é própria da sua natureza. É por isso que o texto diz que a nossa vida deve ser semelhante à dos anjos, para que, tal como eles, vivamos longe do vício e da ilusão, para estarmos prontos para acolher a parusia do Senhor e, vigiando também nós as portas das nossas moradas, estejamos prontos a obedecer quando ele voltar e bater à porta.

São Gregório de Nissa (séc. IV)


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Digna-te Acender Tu Mesmo Nossas Lâmpadas

Quão venturosos são os servos a quem o Senhor, ao chegar, os encontre vigiando! Feliz aquela vigília na qual se espera ao próprio Deus e Criador do universo, que supera tudo e tudo preenche. Oxalá se dignasse o Senhor despertar-me do sono de minha indolência, a mim que, mesmo sendo desprezível, sou seu servo! Oxalá me inflamasse no desejo de seu amor incomensurável e me incendiasse com o fogo de sua divina caridade! Resplandecente com ela, brilharia mais que os astros, e todo o meu interior arderia continuamente com este fogo divino! 

Oxalá meus méritos fossem tão abundantes que minha lâmpada ardesse sem cessar durante a noite, no templo de meu Senhor e iluminasse a todos que entram na casa de meu Deus! Concede-me, Senhor, suplico-te em nome de Jesus Cristo, teu Filho e meu Deus, um amor que nunca diminua, para que com ele minha lâmpada sempre brilhe e não se apague nunca, e suas chamas sejam para mim fogo ardente e para os demais luz brilhante. 

Senhor Jesus Cristo, dulcíssimo Salvador nosso, digna-te acender tu mesmo nossas lâmpadas, para que brilhem sem cessar em teu templo e de ti, que és a luz perene, elas recebam a luz perfeita com a qual se ilumine a nossa obscuridade, e se afastem de nós as trevas do mundo. 

Peço-te, meu Jesus, que acendas tão intensamente a minha lâmpada com teu esplendor que, à luz de uma claridade tão intensa, possa contemplar o santo dos santos que está no interior daquele grande templo, no qual tu, pontífice eterno dos bens eternos, penetraste; que ali, Senhor, eu te contemple continuamente e possa assim desejar-te, amar-te e querer-te somente a ti, para que a minha lâmpada, em tua presença, esteja sempre flamejante e ardente. 

Peço-te, Salvador amantíssimo, que te manifestes a nós, que chamamos a tua porta, para que, conhecendo-te, amemos somente a ti e unicamente a ti; que tu seja nosso único desejo, que dia e noite meditemos somente em ti, e em ti unicamente pensemos. Alumia em nós um imenso amor para contigo, que corresponde à caridade com a qual Deus deve ser amado e querido; que esta nossa dileção para ti invada todo o nosso interior e nos penetre totalmente, inunde todos os nossos sentimentos a tal ponto, que já não possamos amar nada fora de ti, o único eterno. Assim, por muitas que sejam as águas da terra e do firmamento, nunca chegarão a extinguir em nós a caridade, segundo aquilo que diz a Escritura: As águas torrenciais não poderão apagar o amor. 

Que isto chegue a realizar-se, ao menos parcialmente, por teu dom, Senhor Jesus Cristo, a quem pertence à glória pelos séculos dos séculos. Amém.” 


São Columbano (séc. VII)



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