Cristina nasceu na cidade de Tiro. Ela era filha de Urban, o vice-imperial, um adorador de ídolos. A razão pela qual seus pais lhe deram o nome de Christina é desconhecida, mas continha em si o mistério do seu futuro seguimento de Cristo. Até a idade de onze anos ela não sabia nada de Cristo. Quando chegou a essa idade, seu pai a fez viver no topo de uma torre alta, a fim de protegê-la do mundo, por causa de sua extraordinária beleza. Ele planejava que ela lá crescesse até atingir a maturidade plena. Todos os confortos da vida lhe foram oferecidos: escravos para servi-la, ouro e ídolos de prata, aos quais poderia lhes oferecer sacrifícios diariamente.
No entanto, a alma do jovem Cristina estava triste neste ambiente isolado e idólatra. Olhando pela janela todos os dias o sol e toda a beleza do mundo, e novamente à noite para as constelações de estrelas refulgentes, Cristina chegou a uma firme crença no Único Deus vivo através de seu próprio entendimento natural. Deus misericordioso, vendo seu desejo pela verdade, enviou o seu anjo para rastrear o sinal da cruz em cima de Cristina. O anjo chamou-a noiva de Cristo, e instruiu-a plenamente no conhecimento das coisas divinas.
Então, Cristina quebrou todos os ídolos em seus aposentos, provocando uma selvagem fúria em seu pai. Ele a trouxe a julgamento e entregou para ser torturada e presa, com a intenção de tê-la decapitado no dia seguinte. Naquela noite Urban, que tinha estado em plena saúde, vomitava sua alma e foi para a cova ante sua filha. Depois disso, dois deputados imperiais, Dion e Julian, continuaram a torturar esta santa virgem. A resistência corajosa de Cristina e os milagres operados pelo poder de Deus converteu muitos pagãos de Tiro ao cristianismo. Durante a tortura de Christina, Dion de repente caiu morto no meio do povo. O sucessor de Dion, Julian, extraiu os seios e a língua de Cristina. A mártir jogou sua língua cortada no rosto de Julian, e ele imediatamente ficou cego. Finalmente, o seu sofrimento por Cristo terminou sob a espada afiada, mas sua vida continua unida ao Imortal e aos anjos. Santa Cristina padeceu gloriosamente no século III.
Tropárion da Santa Mártir Cristina Modo 4A Tua Cordeirinha Cristina altissonantemente exclama a Ti: /«Eu te amo, ó meu noivo, / e, procurando-Te, atravesso muitas lutas: / Estou crucificada e sepultada Contigo no Teu batismo; / e por amor a Ti padeço / para que eu possa Contigo reinar./ Eu morro por Ti para Contigo viver. / Aceita-me como sacrifício imaculado, / posto que me sacrifico por amor a Ti.» / E pelas súplicas de Santa Marina, salva as nossas almas, / posto que És misericordioso.
Bóris e Gleb, Os santos Grão-Duques Martires
Os grão-duques Boris e Gleb eram filhos do semelhante aos apóstolos grão-duque Vladimir e princesa Anna de Bizâncio. Desde a infância eles se destacavam pela sua religiosidade. Dos anais, sabe-se que o grão-duque Bóris gostava muitos dos cânticos da igreja. Santo grão-duque Vladimir sentia muita ternura pelos dois, devido a sua abnegação à Santa Fé e pela seu amor fraterno muito carinhoso de um pelo outro.
Ainda durante sua vida o grão-duque Boris recebeu a administração do ducado de Rostov, e Glieb, o de Murmansk. Ambos aplicaram grandes esforços na divulgação da fé cristã em seus ducados em meio de rudes pagãos. São Gleb é considerado o iluminador da região de Murmansk-Riazan, onde desde os tempos antiquíssimos e até hoje, conserva-se sua memória, como primeiro pregador do cristianismo e o protetor do país.
Em 1015, após a morte de São Vladimir o grão-ducado foi tomado pelo Sviatopolk que foi apelidado de Furioso. Temendo a adversidade dos santos irmãos, ele resolveu matá-los. São Bóris estava naquele tempo com seu exército junto do rio Alta. O exército oferecia-lhe a ir contra Kiev e tomar o poder do grão-ducado, mas São Bóris não quis destruir os laços sagrados das relações de parentesco e indignado recusou a oferta. Entretanto Sviatopolk informando o São Bóris sobre a morte do pai, traiçoeiramente oferecia-lhe manter relações de bem-querença, prometendo-lhe aumentar sua propriedade, enviando-lhe juntamente os assassinos. Na noite de 24 de julho, os assassinos chegaram à tenda de Bóris e escutando o canto dos salmos vindo de dentro, resolveram esperar quando Bóris adormecesse. Assim que o Santo grão-duque se deitou na cama, os assassinos invadiram a tenda e cravaram o corpo do santo com as lanças assim como o de seu criado Jorge, que era húngaro e tentava proteger o seu amo com o próprio corpo. O mártir, ainda respirando, foi envolto com o pano da tenda e levado a Sviatopolk, que ao saber que São Bóris ainda estava vivo, mandou dois variagues traspassar com a espada seu coração. O corpo do santo grão-duque secretamente foi trazido para Vishgorod e aí sepultado na igreja de São Basílio.
Após o assassinato de São Bóris, Sviatopolk mandou atrás de São Gleb, que estava na ocasião próximo de Smolensk, para trazê-lo à presença do pai supostamente adoentado gravemente. O jovem grão-duque já avisado sobre a maldade de Sviatopolk com lágrimas rezava pela alma do pai e irmão quando os assassinos chegaram a ele, mandados por Sviatopolk. Goracer que encabeçava os assassinos mandou o seu próprio cozinheiro, que era descendente de turcos, esfaquear o grão-duque. Isto ocorreu 5 de setembro de 1015.
Em 1019 após a ocupação do Kiev por Iaroslav Vladimirovich (filho de Vladimir), graças à preocupação deste grão-duque, o corpo de São Gleb foi encontrado, trazido para Vishgorod e sepultado junto do corpo de São Bóris. Logo no túmulo dos grão-duques começaram a acontecer milagres. Quando a igreja de São Basílio se queimou, os restos mortais dos grão-duques foram transladados para recém-construída igreja em sua homenagem em Vishgorod. Durante a abertura dos caixões dos grão-duques, o metropolita João com os sacerdotes viram o milagre: os corpos dos santos apareceram brancos como a neve, os seus rostos reluziam com a luz celestial, tanto que o metropolita e todo povo se espantavam, sentindo um aroma especial.
Em 1240 durante a ocupação de Kiev, pelo Batii, os restos mortais dos Santos Boris e Gleb desapareceram. A memória de ambos os grão-duques mártires se honra na Rússia desde os tempos antigos, o que se testemunha, entre outras coisas pelos numerosos mosteiros e igrejas em sua homenagem, que permaneceram até hoje, em vários cantos da Rússia.
O povo russo via nos santos grão-duques mártires, os seus protetores que rezavam por ele. Os anais estão cheios de narrativas sobre as curas milagrosas que aconteceram ao pé dos restos mortais dos santos e sobre as vitórias que celebravam com sua ajuda (por exemplo: do Riurik Rostislavich sobre o Konchak; do santo Alexandre de Neva sobre os alemães).
TropárionOs verdadeiros mártires e obedientes à verdade do evangelho de Cristo
O bem-aventurado Bóris com o bondoso Gleb,
Não resistiram a seu inimigo, pois este era seu irmão,
Que matando seus corpos não pode tocar as suas almas.
Que chore então o raivoso amante do poder,
enquanto vos alegrais junto dos anjos perante a Santíssima Trindade.
Orai, ó Santos Mártires, por vossa dinastia,
pela existência que agrade a Deus
E que os filhos da Rússia se salvem.
Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
MATINAS (IX)
João 20:19-31
19 Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco. 20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor. 21 Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. 22 E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos. 24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25 Diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei. 26 Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco. 27 Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. 28 Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu! 29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. 30 Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; 31 estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
LITURGIA
Tropário da Ressurreição
Tu desceste do alto dos Céus, ó Deus misericordioso,
e aceitaste estar sepultado durante três dias,
a fim de nos libertares de nossas paixões.
Glória a Ti, Senhor, nossa vida e nossa Ressurreição!
Kondákion da Ressurreição
Ressuscitando do túmulo, Tu acordaste os mortos
e levantaste Adão,
e Eva dançou de alegria na Tua Ressurreição,
e os confins da terra eclodiram em festejos triunfais
na Tua Ressurreição dentre os mortos,
ó Tu Que És misericordiosíssimo.
Tu, que pela nossa salvação nasceste da Virgem, / sofreste a crucifixão, ó Misericordioso, e com a morte venceste a morte, / como Deus, revelando a Ressurreição; / não abandones a nós, criaturas de Tuas mãos! / Mostra a Tua bondade pela humanidade, / atende as preces da Tua Mãe, que roga por nós, ó Misericordioso, // e salva, ó Salvador, nosso povo desolado!
Tropárion da Santa Mártir Christina Modo 4
A Tua Cordeirinha Cristina altissonantemente exclama a Ti: /«Eu te amo, ó meu noivo, / e, procurando-Te, atravesso muitas lutas: / Estou crucificada e sepultada Contigo no Teu batismo; / e por amor a Ti padeço / para que eu possa Contigo reinar./ Eu morro por Ti para Contigo viver. / Aceita-me como sacrifício imaculado, / posto que me sacrifico por amor a Ti.» / E pelas súplicas de Santa Marina, salva as nossas almas, / posto que És misericordioso.
Glória ao †Pai e ao Filho e ao espírito Santo...
Kondákion de Santa Cristina Modo 4
Tendo ciência que eras uma resplandecente pomba com asas de ouro, / tu te elevaste às alturas do céu, ó honorável Cristina./ Por isso, com fé celebramos a tua gloriosa festa, / inclinando-nos diante do santuário de tuas relíquias, / De onde a cura divina para as almas e os corpos se fluem em abundância.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.
Prokimenon
Fazei votos, e pagai-os
ao Senhor vosso Deus. (Sl. 75:11)
Conhecido É Deus em Judá,
grande É o Seu Nome em Israel. (Sl. 75:1)
1 Coríntios 3:9-17
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. 10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. 11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. 12 E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. 14 Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. 15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá prejuízo; mas o tal será salvo, todavia, como que pelo fogo. 16 Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós.
Aleluia
Aleluia, aleluia, aleluia!
Vinde, regozijemo-nos no Senhor,
cantemos as glórias de Deus, nosso Salvador!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Apresentamo-nos diante d'Ele com louvor,
e celebremo-lo com salmos!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Mateus 14:22-34
22 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. 23 Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. 24 Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. 25 À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. 26 Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. 27 Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. 28 Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. 29 Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. 31 Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? 32 E logo que subiram para o barco, o vento cessou. 33 Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus. 34 Ora, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré.
COMENTÁRIO
Esta é a segunda vez que Cristo permite aos Seus discípulos passar por uma tempestade (ver 8:23-27). Na primeira vez Cristo estava com eles; aqui Ele os havia despedido em paz. Desta forma, Cristo reforça a fé apostólica de que Ele estará sempre com eles no meio das tempestades da vida.
A fé de Pedro lhe permite andar sobre a água. Note que Pedro não pede para andar sobre as águas em si, mas para chegar até Jesus; seu desejo não é o de fazer milagres, mas de estar com o Senhor. Pedro é capaz de participar deste milagre divino, enquanto mantém seu foco em Cristo. Assim que fica distraído, começa a afundar.
Em 14:31 O termo grego para dúvidas, aqui, significa "vacilar", ou seja, a causa do afundamento de Pedro não era a tempestade, mas a dúvida "hesitação."; portanto, Cristo não repreende o vento, mas Pedro.
Esta é a primeira vez que os discípulos confessam que Jesus É o Filho de Deus. Sabendo que só Deus pode ser adorado, eles confessam a divindade de Cristo por adorá-Lo. O barco é um símbolo da Igreja.
† † †
HOMILIAS
“Coragem! Sou Eu!”
Se em alguma ocasião chegássemos a tombar no recife das tentações, recordemos que foi Jesus quem nos mandou subir na barca da prova, e que quer que lhe precedamos na margem oposta. Pois é impossível, para quem não passou pela tentação das ondas e do vento contrário, chegar àquela margem. Assim, quando nos víssemos cercados por múltiplas dificuldades, e mediante um esforço moderado tivéssemos de certa forma conseguido esquivar-se delas, imaginemos que nossa barca se encontra em mar aberto, sacudida pelas ondas que desejariam fazer-nos naufragar na fé ou em alguma outra virtude. Porém, quando víssemos que é o espírito do mal que ataca-nos, então temos de concluir que o vento nos é contrário.
Contudo, quando suportando o vento contrário tivessem transcorrido as três vigílias da noite, isto é, das trevas que acompanham a tentação, lutando intrepidamente de acordo com as nossas forças, procurando escapar ao naufrágio da fé – a primeira vigília representa o pai das trevas e do pecado; a segunda seu filho, “o adversário”, em revolta contra tudo o que traz o nome de Deus ou o que é objeto de adoração; a terceira, o espírito inimigo do Espírito Santo –, estejamos seguros que, vindo a quarta vigília, quando a noite vai adiantada e está prestes a amanhecer, o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas para acalmar o nosso mar agitado. E quando víssemos que o Verbo nos aparece, talvez nos assustemos antes de percebermos de que estamos na presença do Salvador, e, crendo ver um fantasma, gritaremos atemorizados, mas ele nos dirá em seguida: Coragem, sou eu, não tenham medo!
E se entre nós se encontrar outro Pedro, mais fortemente comovido pelas palavras de coragem do Senhor, esse Pedro em caminho para uma perfeição que ainda não alcançou, descendo da barca – como fugindo da tentação que o acometia – em um primeiro momento andou querendo aproximar-se de Jesus sobre as águas; porém, sendo a sua fé ainda insuficiente, e agitado pela dúvida, sentirá a força do vento, sentirá medo e começará a afundar. Mas não afundará, porque gritando se dirigirá a Jesus suplicando: Senhor, salva-me! E imediatamente, também a este Pedro que lhe suplica dizendo: Senhor, salva-me, o Verbo lhe estenderá a mão e socorrerá a este homem, agarrando-o no preciso momento em que começava a afundar, e lançando-lhe em face sua pouca fé e o ter duvidado. Contudo, observa que não lhe disse: “Incrédulo”, mas: homem de pouca fé, e que acrescentou: Por que duvidaste?, como alguém que, apesar de ter um pouco de fé, vacila e não se comporta de modo contrário.
Momentos depois, tanto Jesus como Pedro subiram na barca e o vento se acalmou. Os que estavam na barca, percebendo de que perigos foram salvos, o adoraram dizendo: Realmente és o Filho de Deus.
Orígenes (séc. III)
† † †
“Senhor, Salva-Me, Porque Estou Afundando”
O Evangelho que nos foi proclamado e que recolhe o episódio de Cristo, o Senhor, andando sobre as ondas do mar, e do Apóstolo Pedro, que ao caminhar sobre as águas vacilou sob a ação do temor, duvidando se afundava e confiando novamente saiu flutuando, nos convida a ver no mar um símbolo do mundo atual, e no Apóstolo Pedro a figura da única Igreja.
Na realidade, Pedro em pessoa – ele, o primeiro na ordem dos apóstolos e generosíssimo no amor a Cristo – com frequência responde em nome de todos. Quando o Senhor Jesus perguntou quem dizia o povo que ele era, enquanto os demais discípulos lhe informam sobre as distintas opiniões que circulavam entre os homens, ao insistir o Senhor em sua pergunta e dizer: E vós, quem dizeis que eu sou?, Pedro respondeu: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo. A resposta a deu um em nome de muitos, a unidade em nome da pluralidade.
Contemplando a este membro da Igreja, tratemos de discernir nele o que procede de Deus e o que procede de nós. Deste modo não vacilaremos, mas estaremos fundamentados sobre a pedra, estaremos firmes e estáveis contra os ventos, as chuvas e os rios, isto é, contra as tentações do mundo presente. Observai, pois, nesse Pedro que então era nossa imagem: algumas vezes confia, outras vacila; algumas vezes lhe confessa imortal e outras teme que morra. Por isso, porque a Igreja tem membros seguros, tem também inseguros, e não pode subsistir sem seguros nem sem inseguros. Naquilo que Pedro disse: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo, representa os que são seguros; no fato de tremer e vacilar, não querendo que Cristo padecesse, temendo a morte e não reconhecendo a Vida, representa aos inseguros da Igreja. Assim, portanto, naquele único apóstolo, ou seja, em Pedro, o primeiro e principal entre os apóstolos, no qual estava prefigurada a Igreja, deviam estar representados os dois tipos de fiéis, ou seja, os seguros e os inseguros, já que sem eles não existe a Igreja.
Este é também o significado do que nos acabou de ser lido: Senhor, se és tu, manda-me ir até ti andando sobre a água. E, diante de uma ordem do Senhor, Pedro verdadeiramente caminhou sobre as águas, consciente de não poder fazê-lo por si mesmo. Pode a fé o que a humana fraqueza era incapaz de fazer. Estes são os seguros da Igreja. Ordene-o o Deus homem e o homem poderá o impossível. Vem – disse ele –, e Pedro desceu e começou a andar sobre as águas: pôde fazê-lo porque o havia ordenado a Pedra. Eis aqui do que Pedro é capaz em nome do Senhor; o que é que pode por si mesmo? Ao sentir a força do vento, ficou com medo, começou a se afundar e gritou: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Confiou no Senhor, pôde no Senhor; vacilou como homem, retornou ao Senhor. Em seguida estendeu a ajuda de sua destra, agarrou ao que estava afundando, censurou ao desconfiado: Que pouca fé!
Bom, irmãos, temos que terminar o sermão. Considerai o mundo como se fosse o mar: vento fortíssimo, tempestade violenta. Para cada um de nós, suas paixões são sua tempestade. Amas a Deus: andas sobre o mar, sob os teus pés ruge a agitação do mundo. Amas ao mundo: ele te engolirá. Ele sabe devorar, não suportar os seus adoradores. Porém, quando o sopro da concupiscência agita teu coração, para vencer tua sensualidade invoca sua divindade. E se teu pé vacila, se hesitas, se existe algo que não consegues superar, se começas a te afundar, diz: Senhor, salva-me, porque estou afundando! Porque só te livra da morte da carne aquele que na carne morreu por ti.
Bem-Aventurado Agostinho, Bispo de Hypona (Séc. V)
† † †
“A Insondável Profundidade De Deus”
Deus está em todas as partes, é imenso e está próximo de todos, conforme atesta de si mesmo: Eu sou – diz – um Deus próximo, e não distante. O Deus que buscamos não está longe de nós, já que está dentro de nós, se somos dignos de sua presença. Habita em nós como a alma no corpo, na condição de que sejamos seus membros sãos, de que estejamos mortos ao pecado. Então, habita verdadeiramente em nós aquele que disse: Habitarei e caminharei com eles. Se somos dignos de que ele esteja em nós, então somos realmente vivificados por ele, como seus membros vivos: Pois nele – como afirma o apóstolo – vivemos, nos movemos e existimos.
Quem, pergunto-me, será capaz de penetrar no conhecimento do Altíssimo se consideramos o inefável e incompreensível de seu ser? Quem poderá investigar as profundezas de Deus? Quem poderá gloriar-se de conhecer ao Deus infinito que tudo preenche e tudo envolve, que tudo penetra e tudo supera, que tudo abarca e tudo transcende? A Deus ninguém jamais o viu tal como é. Ninguém, portanto, tenha a presunção de perguntar-se sobre o indecifrável de Deus, o que foi, como foi, quem foi. Estas são coisas inefáveis, inescrutáveis, impenetráveis; limita-te a crer com simplicidade, porém com firmeza, que Deus é e será tal como foi, porque é imutável.
Quem é, portanto, Deus? O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus. Não questione mais a respeito de Deus; porque os que querem conhecer as profundezas insondáveis devem antes considerar as coisas da natureza. De fato, o conhecimento da Trindade divina se compara, com razão, à profundidade do mar, conforme aquela expressão do Eclesiastes: O que existe é distante e muito obscuro, quem o examinará? Porque, assim como a profundidade do mar é impenetrável aos nossos olhos, assim também a divindade da Trindade escapa a nossa compreensão. E, por isto, insisto, se alguém se esforça em saber o que deve crer, não pense que o compreenderá melhor dissertando do que crendo; ao contrário, ao ser buscado, o conhecimento da divindade se afastará ainda mais que antes daquele que pretenda alcançá-lo.
Busca, portanto, o conhecimento supremo, não com investigações verbais, mas com a perfeição de um bom comportamento; não com palavras, mas com a fé que procede de um coração simples e que não é fruto de uma argumentação baseada em uma sabedoria irreverente. Portanto, se buscas mediante o discurso racional ao que é inefável, ficarás muito longe, mais do que estavas; porém, se o buscas com fé, a sabedoria estará à porta, que é onde tem a sua morada, e ali será contemplada, pelo menos parcialmente. E também podemos realmente alcançá-la um pouco quando cremos naquele que é invisível, sem compreendê-lo; porque Deus há de ser crido tal como é, invisível, mesmo que o coração puro possa, em parte, contemplá-lo.
São Columba, de Iona (séc. VI)
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