domingo, 9 de fevereiro de 2020

Domingo do Publicano e do Fariseu

09 de Fevereiro de 2020 (CC) - 27 de Janeiro (CE)
S. João Crisóstomo – Traslado das relíquias (438)
Novos Mártires e Confessores da Rússia
Tom 1



Incomparável mestre João, depois de sua morte recebeu o epíteto de Crisóstomo (“Boca de Ouro”) por seu maravilhoso dom na oratória. Contudo, sua piedade e inominável valor são atributos que o fazem mais glorioso e um dos maiores pastores da Igreja. 
As relíquias de São João Crisóstomo passaram 30 anos em uma igreja da Capadócia, em Komana, onde o Grande Mestre passou por tantas provas no exílio. No ano 438, seu corpo foi exumado e transladado para Constantinopla. O imperador Teodósio II e sua irmã Santa Pulqueria acompanharam o cortejo, juntamente com o Patriarca Proclos que havia sido seu discípulo, pedindo perdão pelos pecados de seus antecessores que tanto perseguiram São João. O corpo de São João Crisóstomo foi depositado na Igreja dos Santos Apóstolos de Constantinopla. Na Igreja Ortodoxa ele é um dos três santos Patriarcas e Doutores Universais, com São Basílio e São Gregório Nazianzeno. 
Leituras Comemorativas João10:1-9 MatinasHebreus 7:26-8:2João 10:9-16 

Oração Antes de Ler as Escrituras 
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

MATINAS (1)

Mateus 28:16-20

E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

LITURGIA

Bem-aventuranças em 12 Versos:

1. (T 4) Pela comida o inimigo tirou Adão do paraíso; / mas pela cruz Cristo resgatou o ladrão que clamou: // Lembra-te de mim quando vieres em Tua
reino!

2. (T 4) Com Adão e o ladrão, eu venero os Teus sofrimentos e glorifico a Tua ressurreição; e que cheio de esplendor suplico: Lembra-te de mim quando vieres em Teu Reino!

3. (T 4) Ó, Tu que És sem pecado: Por Tua própria vontade Foste crucificado e posto num túmulo. E como Deus ressuscitaste, e ergueste Contigo a Adão, que exclama: Lembra-te de mim quando vieres em Teu Reino!

4. (T 4) Erguendo o templo do Teu corpo pela Tua ressurreição ao terceiro dia, ó Cristo Deus, Tu ergueste Adão e seus descendentes, que suplicam: Lembre-se de mim quando vieres no Teu Reino! 

5. (T 4) De uma multidão de paixões o humilde pode se soerguer, mas, o orgulhoso de coração despenca gravemente do alto de suas virtudes. Fujamos, Fiéis, dos seus maus caminhos.

6. (T 4) A vanglória nada traz para si das riquezas da justiça, mas a humildade dispersa uma multidão de paixões. Concede, ó Salvador, que possamos buscar a humildade, nos juntando ao Publicano.
7. (T 4) Como o publicano, batemos no peito e compulsivamente suplicamos: “Ó Deus Sê misericordioso para conosco, pecadores”, para que, como ele, possamos obter perdão.

8. (T 4) Ó Fiéis, cresçamos em zelo e mansidão, e passemos nossos dias em humildade, com corações compungidos, clamores e oração, para que possamos receber de Deus o perdão.

9. (T 3) Lembra-Te, ó Senhor, / dos terríveis tormentos / que os Novos Mártires por Ti padeceram, / ressoando, agora, em nossa geração; // e aceita seus pedidos pelar nossa salvação.

10. (T 3) Ó Justo Juiz, / que abriste o reino dos céus / aos Confessores da Igreja da Rússia. / Atenta, ó Senhor, para estes justos, // e escuta suas orações pela salvação de nossas almas.

11. (T 3) Ó Santíssima e Divina Trindade, / resgata-nos do cativeiro. / O pecado se multiplicou em nossa terra, / porém, em lutas, os novos mártires resplandeceram a luz, e a Ti, ó Deus trinamente Santo, eles rezam pela salvação de nossas almas.

12. (T 3) Ó Virgem Maria, pura e graciosa, reúna os dispersos, erga os fracos de coração, conclama aos que negaram a Fé e converte-os; e com todos os Novos Santos, implora a Cristo Salvador, o perdão e a salvação de nossas almas.

Tropárion da Ressurreição
Apesar da pedra do túmulo ter sido selada pelos judeus, / e o Teu puríssimo Corpo guardado pelos soldados, / Tu ressuscitaste ao terceiro dia, ó Salvador nosso, / dando a vida ao mundo. / Por isso, ó Autor da Vida, / os Poderes Celestes Te aclamaram, dizendo: / “Glória à Tua Ressurreição, ó Cristo! / Glória à Tua Realeza! // Glória à Tua Providência, ó Amigo do homem.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

Kondákion da Ressurreição

Como Deus, Tu ressuscitaste gloriosamente do túmulo, / ressuscitando o mundo Contigo; / a natureza humana Te canta como Deus,/ pois a morte foi dissipada./ Adão rejubila, Mestre;/ e Eva, doravante liberta das suas cadeias, proclama na alegria:// Ó Cristo, Tu És Aquele que concede a todos os homens a ressurreição!

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém

Hino à Virgem

Ó Admirável Protetora dos cristãos ...

Prokímenon


Seja a Tua misericórdia, Senhor, sobre nós, 
como em Ti esperamos. (Sl. 32:22)

Regozijai-vos no Senhor, vós, justos, pois aos retos convém o louvor.

2 Timóteo 3:10-15

10 Tu, porém, tens observado a minha doutrina, procedimento, intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança, 11 as minhas perseguições e aflições, quais as que sofri em Antioquia, em Icônio, em Listra; quantas perseguições suportei! e de todas o Senhor me livrou. 12 E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições. 13 Mas os homens maus e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. 14 Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, 15 e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. 

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!
É Deus Quem me reveste de fortaleza,
E Quem atrai os povos para Mim.

Aleluia, aleluia, aleluia!
Ele fortalece a Davi, Seu ungido,
E à sua descendência para sempre.

Aleluia, aleluia, aleluia! 

Lucas 18:10-14

10 Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. 11 O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: Ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. 12 Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador! 14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado.

† † †

Homilia

“Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano”, disse o nosso Senhor Jesus Cristo. Na realidade estes dois homens representam a todos nós. Eles são a reinvenção de Caim e Abel que se apresentam perante Deus para ofertar. A oferta de um foi rejeitada e a do outro aceita. Estes dois irmãos se apresentaram ante a Face do Pai, trazendo algo em comum e também uma realidade distinta. O que tinham eles em comum? A filiação de Adão, a mesma genética, e portanto herdaram uma natureza morta, sujeita a paixões e inimizades para com Deus. O que os distinguia? A disposição de alma em alimentar esta natureza herdada e o outro na de buscar curá-la.

Quem são o Fariseu e o Publicano? O primeiro representa a principal doença que mata a semente da Fé outrora semeada no coração; o segundo, o antídoto para ela.

O fariseu, na fala de Cristo, é aquele em quem está a dimensão da hipocrisia. “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lc 12:1). A palavra grega “hipokrisis (hypo=máscara, krisis=resposta, discernimento”) aponta para o teatro de máscaras. Hipócritas (“hipokrite”) eram os atores que atuavam mascarados, portanto, revelando faces que não eram os seus verdadeiros rostos. Assim, conforme a etimologia da palavra, hipócrita é quem esconde o que pensa ou que é, por trás de um rosto que não é o seu.

A hipocrisia é uma atitude herdada dos nossos primeiros pais, no Éden, quando pecaram. Eles, para que suas nudezes não fossem descobertas, se esconderam por entre as árvores do jardim (Gn 3:8). Em seus desesperos e loucura não consideravam que de Deus não podiam se esconder. Na hipocrisia o espirito maligno obscurece o nosso entendimento, percepção e bom senso. Desta realidade, São Paulo nos fala na leitura da Epístola de hoje, dizendo, que “os homens maus e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2Tm 3:13). Em geral, a hipocrisia é um recurso da alma passional para evitar uma perda ou assegurar um ganho, e no engano das paixões, se esquece de ponderar o que nos adverte o Senhor: “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (João 12:25). O maior perigo da hipocrisia é que ela é contagiosa. Jesus a chamou de “fermento dos fariseus”. Em sua reprovação a esses farsantes, Ele diz: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós” (Mt 23:15).

Cultivar a alma do Publicano é o grande antídoto para a hipocrisia e o caminho mais seguro para ser agradável a Deus: “Sacrifício a Deus é o espírito quebrantado; um coração compungido e humilhado Deus não o desprezará” (Sl. 50:17). O espírito humilde só é alcançado por quem cultiva o amor pela verdade (Cristo), porque a verdade liberta (João 8:32). A libertação que alcançamos na verdade, é que Ela nos revela a Deus e consequentemente a nós mesmos, “pois em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz” (Sl 35:9). Quem conhece a Deus busca a verdade e se aproxima da luz, sem subterfúgios. Nossos primeiros pais revelaram ignorância de Deus, pois, pondo o foco em si mesmos, conceberam a artimanha de se esconderem. Eles jamais poderiam imaginar que o Juíz É misericordioso e que julga segundo a verdade; e é por isto mesmo que levaria em consideração suas fraquezas e impotências frente as astúcias da serpente. A disciplina que Deus imporia sobre eles, seria para lhes ensinar a obediência, eficaz ferramenta contra as ciladas do diabo:

“A lei do Senhor é perfeita, convertendo almas; o testemunho do Senhor é fiel, instruindo até aos bebês. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é brilhante e ilumina os olhos” (Sl 18:7,8).

Em seus fracassos, Ele, o nosso Deus, os queria reerguer, pois fez para eles vestimentas e lhes prometeu, da carne mortal da mulher, suscitar um Descendente vivificante. Na Grande Festa da Teofania, a Igreja celebra tal revestimento cantando alegremente:

Vós todos que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo: Aleluia!

E na Páscoa, entoa exultante:

Cristo ressuscitou dos mortos, pisoteando a morte com a morte; e aos que estavam no túmulo Cristo deu a vida!

No Sacramento da Confissão, ficamos desnudos perante o Sacerdote, expomos nossas vergonhas Àquele que nos acolhe, porque seu amor é infinito (Sl 105). E por mãos mortais revestidas pela Graça (as mãos do Sacerdote), que ao nos cobrirem com a Estola, comunica-nos o perdão e o Dom Vivificante, concedendo-nos a bênção do recomeço. As Portas do Paraíso se abrem novamente, e na Eucaristia, nos alimentamos da Árvore da Vida. Somos trazidos de volta para o Éden para arar as terras do nosso coração e nelas cultivar os bons frutos. No Cânon de Santo André, na Oração de São Efraim, nos textos de São João Clímaco, temos um excelente arado.


Mas, o mundo no qual nos movemos em nossa exterioridade está tomado pelo maligno, por isto é terra árida, onde crescem espinhos e sobrevivem animais peçonhentos; um palco de ilusões, descaminhos e lágrimas. Por esta causa, um segundo recurso que a Misericórdia nos fornece são os Santos, os quais não são unicamente intercessores, mas, modelos, guias seguros que nos guiam pelas sendas do caminho da vida, nos livrando dos enganos e seduções do caminho da morte; pois eles, sendo em tudo semelhante a nós, sujeitos às mesmas paixões e fraquezas, manifestaram em si a Vida de Cristo.

Na Epístola que foi lida, São Paulo diz a Timóteo: “Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência...” (2Tm 3:10). E, em outro lugar, se referindo aos Santos, diz:

“Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hebreus 12:1,2). Comemorando esta graça, a Liturgia celebrada durante a semana, entoa:

“Salva-nos, ó Filho de Deus, que És glorificado em Teus Santos, a nós que a Ti cantamos: Aleluia!”

A cada Grande Quaresma devemos sepultar o fariseu que quer viver em nós, e mantê-lo pisoteado pela Cruz de Cristo; pois, via de regra, assim como Caim matou Abel, assim, também, a hipocrisia deseja constantemente assassinar a verdade. E se olharmos direito, não é este o combate que está no subterrâneo de todos os conflitos existentes na Igreja?

Que Deus, por Seu Espírito e misericórdia, pela graça vivificante que há em Cristo, nos faça ouvinte diligentes do conselho apostólico, que assim exorta:

“Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé... Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” (1Tm 1:19; 1:5)

Pe. Mateus (Antonio Eça)

* As citações dos Salmos obedecem às numerações da Bíblia dos LXX (Septuaginta).

† † †

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