21 de Setembro
2012 (CC) / 08 de Setembro (CE)
Natividade da
Santíssima Mãe de Deus e sempre Virgem Maria
APOLITIKION (4º TOM)
Tua natividade, ó Mãe de Deus, anunciou a alegria ao mundo inteiro;
Pois
de ti nasceu o sol da justiça, o Cristo nosso Deus,
O qual, abolindo a
maldição, nos deu a bênção,
E destruindo a morte, deu-nos a vida eterna.
MATINAS
Lucas 1:39-49, 56
39 Naqueles dias levantou-se
Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá,
40 entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel.
41 Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha
no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, 42 e
exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do
teu ventre! 43 E donde me provém isto, que venha visitar-me a
mãe do meu Senhor? 44 Pois logo que me soou aos ouvidos a voz
da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim.
45 Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as
coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas. 46 Disse então
Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, 47 e o meu espírito
exulta em Deus meu Salvador; 48 porque atentou na condição
humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão
bem-aventurada, 49 porque o Poderoso me fez grandes coisas; e
santo é o seu nome. 56 E Maria ficou com ela cerca de três
meses; e depois voltou para sua casa.
COMENTÁRIO
Isabel e João Batista, movidos pelo
Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestar veneração à Santa Mãe
de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a
chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. A
narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel
e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o
Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem:
1.
Primeiramente usa - em relação à
Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: “Bendita és tu...”, igualmente também se dirige à Criança: “Bendito é o Fruto do teu ventre”; Enche
de humildade o profeta diante do que lhe é inefável, assim, Isabel diz: “Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu
Senhor?”; Faz com que profetize acerca do que não entende. Isabel sem
entender como o mortal poderia gerar o Eterno; Louva Àquela que Deus
santificou: “Bem aventurada aquela que creu...”.
2. Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios
levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza: Louvando
o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe
concedeu, sendo ela uma humilde serva e; Anunciando a veneração que
doravante todas as gerações lhe prestariam.
3. A maioria dos Protestantes não consegue enxergar este sentido do texto,
porque são despossuídos de uma mente litúrgica. Como sua experiência se
centraliza e se apoia unicamente na razão discursiva, reduz a expressão “Bem Aventurada” aplicada à Virgem a uma
simples declaração sobre o estado de sua alma, ignorando completamente toda a
cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular,
desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era
esposa do Sumo Sacerdote Zacarias.
Tal abordagem assemelha-se as
visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a
peculiaridade de cada um, só enxergam as suas utilidades, mas não conseguem
exaurir sua alma, como faz um artista.
Este reducionismo não atinge
somente à Santa Virgem, mas, também, ao próprio Cristo, o Senhor; pois se a
fórmula “Bendita, Bem Aventurada” for
despida do seu sentido cúltico e reduzida a uma mera afirmação, isto significa
que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência
ao Menino-Deus quando afirmaram: “Bendito
o Fruto do Teu ventre”.
A partir da visita de Maria a
Isabel, a Igreja entende que foi o próprio Espírito Santo que inaugurou e
instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus.
Pe. Mateus (Antonio Eça)
LITURGIA
Filipenses 2:5-11
5 Tende em vós aquele sentimento
que houve também em Cristo Jesus, 6 o qual, subsistindo em
forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,
7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo,
tornando-se semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de
homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de
cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe
deu o nome que é sobre todo nome; 10 para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor,
para glória de Deus Pai.
Lucas 10:38-42;
11:27-28
38 Ora, quando iam de caminho, entrou
Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa.
39 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos
pés do Senhor, ouvia a sua palavra. 40 Marta, porém, andava
preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que
minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.
41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e
perturbada com muitas coisas; 42 entretanto poucas são
necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada. 27 Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher
dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te
trouxe e os peitos em que te amamentaste. 28 Mas ele respondeu:
Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam.
COMENTÁRIO
Nesta composição de textos do Evangelho de São Lucas, a Sagrada Tradição
procura nos ensinar de forma clara e inequívoca a postura de fé que nos leva a
alcançar a bem-aventurança plena em Deus, e as deformações que nos impedem de
alcançar tal objetivo. A partir de quatro mulheres este cenário é construído.
As duas personagens bem-aventuradas chamam-se Maria (um dos significados do
nome Maria é “mulher que ocupa o primeiro
lugar”). A primeira Maria em questão é a irmã de Lázaro (aquele a quem
Jesus ressuscitara) e, a segunda, Maria, a Mãe do Senhor.
Maria, a irmã de Lázaro, soube escolher o que realmente é bom, a única
coisa que vale a pena, e objeto de sua escolha não lhe seria tirado. Qual foi,
portanto, sua escolha? Sentar-se aos pés de Jesus para ouvi-lo. O “ouvir” na cultura hebraica vai além de
significar “audição”, tendo mais o
sentido de guardar, observar. Aquele que ouve a Lei é o que a observa. Maria de
Lázaro considerou todas as coisas suas como secundárias e aquietou-se, sentando
para dar ouvidos a Jesus. Tal atitude é profundamente incompreendida e difícil
de ser aceita no mundo contemporâneo, marcado pela competitividade,
produtividade e pragmatismo. A postura e a escolha de Maria, a irmã de Lázaro,
segundo Cristo afirma, irão reverberar por todas a gerações.
Marta representa a fé periférica, dispersa pelos cuidados imediatos (que
ela considera mais importante do que a “inércia”
da contemplação). Nesta postura, as coisas Divinas são secundarizadas e seu
maior valor consiste em oferecer suporte que viabilize as concretizações dos
anseios por seguridade e satisfação pessoal. Para muitos que partilham a fé de
Marta, os exercícios espirituais são coisas muito pesadas e com os quais não se
deve perder tempo.
No segundo texto São Lucas apresenta Maria, Mãe de Jesus, o maior modelo
de bem-aventurança a partir da contraposição de Cristo à exaltação que uma
mulher entre a multidão faz de Sua Mãe. Longe de negar a bem-aventurança de Sua
Mãe – antes a enaltece por inferência – Cristo corrige a distorção da percepção
dessa mulher que entende que o privilégio de gerar a Cristo estava dissociado
da fé que habitava na Santa Virgem. O seu ventre só pode abrigar Verbo da Vida e
os seus seios O amamentar por causa de sua disposição em dizer “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em
mim a sua palavra” (Lc. 1:38); porque guardava no seu coração os desígnios
de Deus (Lc. 2:19, 51), mesmo que estes lhe reservassem uma espada que traspasse
sua alma (Lc. 2:35). Sendo, assim, ninguém melhor do que Maria se torna modelo
dos que gozam de bem-aventurança por ouvir a palavra de Deus, e a observar.
A advertência de Jesus serve para orientar a Igreja quanto ao verdadeiro
espírito da devoção à Sua Mãe e a vivência dos Divinos mistérios. Venerar a
Virgem por uma disposição meramente romântica e da emoção que existe quando
estamos diante da meiguice e da ternura, não nos conduz, por si só, à salvação.
Isto seria reduzir o Divino à categoria do idolátrico. Os ídolos nos comovem na
medida em que representam nossas emoções e dos anseios que projetamos; ao passo
que o Divino nos arremete para dimensões onde toda a ciência, sabedoria e
capacidade de verbalizar humanas cessam, restando-nos nada mais que o silêncio.
Por isto na Igreja Ortodoxa não existe “Mariologia”, devoção ao coração de Maria ou grupos organizados
para este fim. Tudo que diz respeito à Santa Mãe de Deus está contido no
Mistério de Cristo, cuja manifestação terrena é indissociável de Sua Mãe, posto
que é unicamente dela que Ele herda a carne humana. Assim, o seu genoma é o de
Maria, suas características físicas e psicológicas dela são herdadas, e o
sangue vertido na Cruz, dela foi recebido. Por isto, seus últimos cuidados de
vida, mesmo na dor dilacerante da crucifixão, são dedicados para ela (João
19:26,27).
Entender que este episódio se constitui um despojamento de conteúdo da
devoção à Virgem, seria entender que o texto do Evangelho de Lucas foi
elaborado contraditoriamente pelo Evangelista. Seria um contrassenso de São
Lucas, depois de tanto empenho em apresentar narrativas peculiares ao
nascimento de Cristo e à Sua infância que fazem ressaltar a exaltação da
Virgem: A reverência e as palavras de graça que um dos mais sublimes Arcanjos dirige
a Maria, o cântico e o júbilo proféticos que irrompem dos lábios de Isabel e do
fetal João Batista, além do cântico da própria Maria e das profecias do velho
Simeão. Toda beleza e esplendor destas narrativas cairiam por terra se Jesus em
sua observação à palavra da anônima mulher objetivasse despir sua Mãe de
veneração.
Na verdade esta palavra antitética de Cristo se insere, dentro do
contexto do Evangelho de Lucas, numa característica de Cristo em apresentar os
mistérios de Deus em relação a consortes que - a Deus ou aos Seus mistérios - se
assemelham por contradição, como, por exemplo, nas parábolas do Administrador
Infiel (16:1-9), do Amigo Inoportuno (11:5-8) e do Juiz Iníquo (18:1-8).
Pe. Mateus (Antonio Eça)
ORAÇÃO
Salve,
agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. Ouve, filha, e
olha, e inclina os teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa do teu pai. Então o rei se afeiçoará da tua formosura,
pois ele é teu Senhor; adora-o. E a filha de Tiro estará ali com presentes; os
ricos do povo suplicarão o teu favor. A filha do rei é toda ilustre lá dentro;
o seu vestido é entretecido de ouro. Levá-la-ão ao rei com vestidos bordados;
as virgens que a acompanham a trarão a ti. Com alegria e regozijo as trarão;
elas entrarão no palácio do rei. Em lugar de teus pais estarão teus filhos;
deles farás príncipes sobre toda a terra. Farei lembrado o teu nome de geração
em geração; por isso os povos te louvarão eternamente.
Lucas 1:28; Salmo 45:10-17
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