10 de Setembro
2012 (CC) / 28 de Agosto (CE)
S. Moisés Etíope, anacoreta (séc. IV).
Gálatas
2:11-16
Depois,
passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também
comigo Tito. E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego
entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de
maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão. Mas nem ainda Tito,
que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se; E isto por
causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a
nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; Aos
quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho
permanecesse entre vós. E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais
tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem),
esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram; Antes, pelo
contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado,
como a Pedro o da circuncisão (Porque aquele que operou eficazmente em Pedro
para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para
com os gentios), E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como
as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão
comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão; Recomendando-nos
somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com
diligência.
E, chegando
Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes
que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas,
depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram
da circuncisão.
E os outros
judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar
pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente
conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu,
sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os
gentios a viverem como judeus? Nós somos judeus por natureza, e não pecadores
dentre os gentios. Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei,
mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos
justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras
da lei nenhuma carne será justificada.
Marcos 5:24-34
24 Jesus foi
com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. 25 Ora, certa mulher,
que havia doze anos padecia de uma hemorragia, 26 e que tinha sofrido bastante
às mãos de muitos médicos, e despendido tudo quanto possuía sem nada
aproveitar, antes indo a pior, 27 tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio
por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto; 28 porque dizia: Se
tão-somente tocar-lhe as vestes, ficaria curada. 29 E imediatamente cessou a
sua hemorragia; e sentiu no corpo estar já curada do seu mal. 30 E logo Jesus,
percebendo em si mesmo que saíra dele poder, virou-se no meio da multidão e
perguntou: Quem me tocou as vestes? 31 Responderam-lhe os seus discípulos: Vês
que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou? 32 Mas ele olhava em
redor para ver a que isto fizera. 33 Então a mulher, atemorizada e trêmula,
cônscia do que nela se havia operado, veio e prostrou-se diante dele, e
declarou-lhe toda a verdade. 34 Disse-lhe ele: Filha, a tua fé te salvou;
vai-te em paz, e fica livre desse teu mal.
COMENTÁRIO
A Lei estigmatizava
a mulher na qual houvesse fluxo de sangue desordenado, classificando-a como “imunda” (Lv. 15:25) e condenava também
à imundície todo objeto que fosse tocado por ela: a cama onde dormia, a cadeira
onde se sentava, etc; mas, não somente os objetos, também qualquer pessoa que
os tocasse se tornaria imunda (Lv. 15:26) Assim, uma mulher que padecia de um
mal hemorrágico sofria quase que o mesmo ostracismo dos leprosos: a diferença
entre um e outro é que a hemorrágica podia disfarçar temporariamente o seu mal.
A mulher se
aproveitou da multidão para se acobertar e tocar em Cristo sem que Este pudesse
notar. Mas Jesus a surpreende: “Quem me
tocou?”, pergunta o Mestre, distinguindo o seu toque do aperto que sofria
da multidão. Ele distinguiu o toque porque sentira do Seu corpo sair poder.
Quando aquilo que era “imundo” tocara
O que É Santo, o Santo não se tornara imundo – como prescrevia a Lei – antes, o
Santo purificou o que é imundo. No entanto, muitos corpos pecadores tocavam e
até comprimiam o Corpo Santo, mas nenhum desses atraiu para si a Virtude do
Santo. Só o desta mulher – que pela Lei era mais indigna do que os demais –
alcançou tal graça. O que tinha este toque de distinto dos demais?
Se o corpo do
Santo comunicara virtude à mulher imunda, é porque o toque da imunda comunicava
ao Santo a fé que habitava no corpo imundo. E a fé é o único instrumento que
atrai a Graça (Ef. 2:9). Esta fé que se apresenta quando todos os pilares da
existência desmoronam. A mulher gastara todo seu dinheiro com o seu tratamento,
sem obter resultado, sua dignidade e honra estavam dilaceradas pelo estigma
social que a doença provocara. O tempo da enfermidade (12 anos) lhe torturara o
suficiente para destruir todas as certezas ilusórias da sua vida. Algo no seu
íntimo a fazia intuir que Aquele homem da Galileia era Depositário da graça que
ela necessitava.
Mas Ele era
um Rabi, um Homem Santo, que certamente a condenaria, visto que esta era a
sentença da Lei. Por isto a estratégia de se dissimular por entre a multidão.
Sua
estratégia dera certo. Ela estava curada. Uma alegria lhe toma o ser. Mas,
parece que sua alegria teria duração curta. O Rabi interrompe sua caminhada e
pergunta: “Quem me tocou?” Olhando em
seguida para ela.
Pronto, agora
fora descoberta. Seria humilhada e condenada. A cena do Éden parece se repetir.
Eva tem que sair detrás da árvore e se apresentar nua perante o Seu Criador e
Juiz. O que iria surpreender a mulher é que no roteiro do drama do Éden, o ato
agora em cena, não era mais o da sentença de Eva, mas o da promessa: pois Quem
aparece no palco do mundo é O Descendente nascido da semente da mulher que iria
pisar a cabeça da serpente (e por esta ser ferido).
Podemos aqui
fazer um aparte para que reflitamos na Graça que habitou na Mãe de Deus. Quando
o Verbo foi Gerado em seu ventre para receber dela a sua carne, Ele teve seu
Ser tocado pelos genes impuros de Eva que habitavam na Virgem, e assim como a
mulher hemorrágica não pudera contaminar o Santo, antes recebendo dele a
purificação da sua doença, assim também a Santa Virgem teve todo seu corpo
purificado por Aquele que tudo plenifica.
Desprovida de
seus disfarces, tiradas as máscaras do anonimato, desfeita a estratégia da
dissimulação, a mulher se apresenta perante o Santo de Deus. Ela está prostrada
perante o Santo e direciona o olhar do medo para o chão, porém os seus ouvidos
não demoram a ouvir palavras de ternura:
“Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica
livre desse teu mal”.
ORAÇÃO
Jesus dulcíssimo, glória dos apóstolos; meu Jesus,
alegria dos mártires; Senhor onipotente, Jesus, meu Salvador, Jesus belíssimo,
salva-me a mim que recorro a Ti. Salvador Jesus, tem piedade de mim, pela
intercessão daquela que te trouxe ao mundo, e de todos, ó Jesus, os teus
santos, e de todos os profetas; meu Salvador Jesus, torna-me também digno das
delícias do paraíso, ó Jesus amigo dos homens.
Jesus dulcíssimo, orgulho dos monges; Jesus
longânime, alimento e beleza dos ascetas, Jesus, salva-me; Jesus meu Salvador,
Jesus meu boníssimo, arranca-me da mão do dragão, Salvador Jesus, e livra-me de
seus laços, Salvador Jesus; e libertando-me do abismo, ó meu Salvador Jesus,
faze-me sentar à tua direita com as outras ovelhas.
Senhor, Cristo Deus, que com a tua paixão curaste
as minhas paixões e com as tuas feridas medicaste as minhas chagas, dá-me a
mim, mísero pecador, lágrimas de compunção. Perfuma o meu corpo com a
fragrância do teu corpo vivificante e oferece a doce bebida do teu precioso
sangue para refazer-me da amargura com que o inimigo deu de beber à minha alma.
Ergue a Ti a minha mente atraída pelas baixezas
terrenas e levanta-me do abismo da perdição. Ofusquei a minha mente com
afeições terrenas e não consigo erguer os olhos para Ti; nem aquecer com
lágrimas o meu amor por Ti.
Mas tu, Mestre, meu Senhor Jesus Cristo, tesouro de
todos os bens, concede-me contrição perfeita e ardente desejo de lançar-me à
tua procura. Dá-me a tua graça e renova em mim as feições da tua imagem. Eu te
abandonei, não me pagues com o abandono. Vem em busca de mim, reconduze-me ao
teu redil, e faze-me nutrir-me da relva dos divinos mistérios.
Pela intercessão da tua puríssima Mãe e de todos os
teus santos. Amém.
Cânon A Jesus Dulcíssimo,
Teostericto, Monge - (séc.
IX)
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