SEGUNDO DOMINGO DO TRIODION
28 de Fevereiro de 2016 (CC) - 15 de Fevereiro (CE)
Santo Onésimos, apóstolo [dos 70] (séc. I), Santo Eusébio da Síria
Modo 6
Santo Onésimos, apóstolo [dos 70] (séc. I), Santo Eusébio da Síria
Modo 6
No segundo domingo do Triódion, celebramos o Domingo do Filho Pródigo. Esse Domingo continua a desenvolver o tema do arrependimento e do perdão, já tratado no Domingo do Fariseu e do Publicano.
Com a celebração do Domingo do Filho Pródigo, a Santa Tradição, portanto, quer nos ensinar o que devemos buscar na Grande Quaresma: retornar de nossas vidas pródigas para a casa do Pai, ou seja a plena comunhão com Deus.
A motivação e a decisão que impulsiona tal retorno no Filho Pródigo se dá a partir da meditação que ele faz de suas circunstâncias de vida, e comparação da vida muito mais excelente que os empregados da casa paterna levavam, fruto da bondade e justiça do seu pai.
Assim, os exercícios e disposições da Grande Quaresma buscam despertar em nós a motivação e a decisão de retornamos à comunhão que deixamos de ter com Deus, da qual nos afastamos para buscar a satisfação de nossos desejos egoístas. A Grande Quaresma, na verdade, é uma grande viagem pela nossa interioridade, das sombras que há em nós para a Luz que Deus faz brilhar em nossos corações.
Comemoração de Santo Onésimo
Santo Onésimos era escravo de Filêmon, homem importante de Colossos, na Frigia, que se converteu à fé cristã através do apóstolo São Paulo. Quando fugia da justiça, acusado de roubar seu senhor, Onésimo entrou em contato com São Paulo que se achava em Roma. São Paulo o converteu, o batizou e o enviou à casa de Filêmon com uma carta de recomendação. Filêmon perdoou então seu escravo arrependido e o reenviou a São Paulo. São Jerônimo e outros autores escrevem que Onésimo e Tiquio foram os portadores da carta que São Paulo escreveu aos colossenses. Os dois foram sempre orientados pelo Apóstolo Paulo e se transformaram em pregadores do Evangelho e, mais tarde, foram consagrados bispos. Onésimo foi consagrado Bispo de Éfeso por São Paulo. Após o episcopado de Timóteo, afirma-se que o antigo escravo e Bispo de Efeso, Onésimo, foi levado prisioneiro à Roma e lá morreu apedrejado. Suas relíquias posteriormente foram trasladadas para Éfeso onde são veneradas até hoje.
MATINAS (VI)
Lucas 24:36-53
E falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco. E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; O que ele tomou, e comeu diante deles. E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder. E levou-os fora, até Betânia e, levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu. E, adorando-o eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém.
LITURGIA
Troparion
Enquanto Maria estava diante do sepulcro à procura de Teu imaculado Corpo, os anjos apareceram em teu túmulo e as sentinelas desfaleceram. Sem ser vencido pela morte, submeteste ao Teu domínio o reino dos mortos, e vieste ao encontro da Virgem revelando a vida. Senhor que ressurgistes dos mortos, glória a Ti!
Kondakion
Glória ao Pai † e ao Filho e ao Espírito Santo.
Levantando com Sua vivificante mão todos os mortos dos vales tenebrosos, Cristo Deus, Doador da vida, quis conceder a Ressurreição ao gênero humano; pois Ele é o Salvador, a Ressurreição, a Vida e o Deus de todos.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Theotokion
Clamando com a Tua bendita Mãe, voluntariamente, viste padecer, irradiando na cruz, desejaste encontrar Adão, dizendo aos anjos: Alegrem-se comigo, porque foi encontrado o dracma perdido, Deus nosso, que com sabedoria tudo consolidaste, glória a Ti!
Prokímenon
Salva, Senhor, o teu povo e abençoa a Tua herança. (Sl 28, 9)
Clamo a Ti, Senhor, meu Rochedo
presta ouvido aos meus rogos. (Sl 28, 1)
12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. 13 Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém aniquilará, tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. 14 Ora, Deus não somente ressuscitou ao Senhor, mas também nos ressuscitará a nós pelo seu poder. 15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum. 16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne. 17 Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com ele. 18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. 19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.
ALELUIA
Aleluia, aleluia, aleluia!
Quem habita ao abrigo do Altíssimo
e vive à sombra do Senhor Onipotente. (Sl 90:1)
Aleluia, aleluia, aleluia!
Diz ao Senhor: Sois meu refúgio e proteção,
sois o meu Deus no qual confio inteiramente. (Sl (90:2)
Aleluia, aleluia, aleluia!
Lucas 15:11-32
11 Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos. 12 O mais moço deles disse ao pai: "Pai, dá-me a parte dos bens que me toca." Repartiu-lhes, pois, os seus haveres.13 Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. 14 E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. 15 Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. 16 E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. 17 Caindo, porém, em si, disse: "Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! 18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados." 20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 21 Disse-lhe o filho: "Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho." 22 Mas o pai disse aos seus servos: "Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; 23 trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, 24 porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se." 25 Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças; 26 e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. 27 Respondeu-lhe este: "Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo." 28 Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele. 29 Ele, porém, respondeu ao pai: "Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos; 30 vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado." 31 Replicou-lhe o pai: "Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; 32 era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado."
COMENTÁRIO
Esta é uma das parábolas de Cristo mais conhecidas, pois o cenário onde ela se desenrola é o de um ambiente familiar, retratando um drama que quase todas, senão todas as famílias enfrentam: a ruptura dos filhos adolescentes com o Pai.
A crise do jovem caçula é um ícone dos sentimentos e mentalidades que governam a humanidade: o desejo de uma autonomia precoce baseando numa avaliação presunçosa e equivocada de si mesma.
Presunçosa, porque - à semelhança de um adolescente que presume que a maturidade biológica do seu corpo e seu acesso a informação lhe garante a autonomia - assim, também, a humanidade concebe que seu avanço científico e tecnológico não lhe permite mais depender de Deus e de leituras teológicas da realidade.
Equivocada porque, assim como a adolescência não se apercebe que sua maturidade biológica e capacidade mental de raciocinar logicamente, são mediadas por uma estrutura subjetiva conflituosa e por forças passionais coercitivas, assim também a humanidade ignora sua estrutura ontológica: corpo, alma e espírito, os quais se encontram fragmentados e incapazes de interagir harmonicamente, incapacitando-nos, assim de atingirmos uma “maior idade”.
Este filho caçula, nosso ícone pessoal, ao se apartar do Pai conhece em primeira estância os prazeres que advém desta ― "liberdade", mas logo, logo, descobre o quanto são passageiros e passa a provar os amargos dissabores desta postura de vida.
Em seu abismo existencial, um raio de luz alcança sua alma e ele avaliando as realidades presentes e as que vivia na casa do Pai, é levado a tomar uma decisão:
“Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai”.
Esta luz que brilhou em seu ser transforma radicalmente a sua alma, levando-o a trilhar a mesma estrada que liga a casa paterna, mas, agora de forma totalmente inversa. O caminho que outrora vira passar um jovem altivo, cheio de perspectivas ilusórias, sentindo-se senhor de todo saber; assiste agora os passos de um homem humilhado, de olhar e expectativas incertas, cheio de temores, a mendigar a aceitação do Pai em condições degradantes.
Uma surpresa põe termo a toda esta atmosfera sombria: o Pai o aguardava de braços abertos e lhe devolvendo a honra que um dia tão tolamente desprezara.
A história deste jovem é a nossa história pessoal. Todos nós a ele nos igualamos em sua primeira decisão: a de romper com o Pai, tomar a nossa herança e gerenciá-la como nos aprouver. Também, assim como ele, experimentamos o gozo efêmero e os profundos dissabores que provêm desta decisão. Mas, se quisermos ter o mesmo fim venturoso deste jovem, devemos também o imitar em sua segunda decisão: erguer-se deste lodo no qual nos achamos e caminhar em direção ao Pai e lhe dizer:
― "Pai, pequei contra Ti, já não sou digno de ser chamado Teu filho".
Porém, não pensemos que apenas o caçula é o nosso ícone pessoal: também o filho mais velho espelha a alma de alguns de nós: pois, este, vivendo na casa do Pai, não o conhecia; alimentava-se de imagens limitantes que o impedia de ter acesso a todos os bens que o Pai preparara para que ele os desfrutasse.
Padre Mateus (Antonio Eça)
ORAÇÃO
Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas tansgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares. Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe. Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma. Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste. Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.
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