quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

36ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

30 de Janeiro de 2019 (CC) 17 de Janeiro (CE)
S. Antão, o Grande, anacoreta († 356)
Modo 2



Santo Antão nasceu no Egito, por volta do ano 250, em uma família rica e nobre e foi educado na fé cristã. Aos 18 anos perdeu seus pais, ficando órfão com uma irmã sob sua proteção. Certo dia dirigia-se à Igreja e, enquanto caminhava, pensava nos Santos Apóstolos, em suas vidas, em como tinham deixado tudo neste mundo para seguir o Senhor e servi-Lo. Ao entrar na igreja ouviu as palavras do Evangelho: 

«Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me» (Mt 19, 21). 
Estas palavras impressionaram Antão de tal forma como se fossem faladas pelo Senhor a ele pessoalmente. Pouco tempo depois, Antão renunciou a sua parte da herança em favor dos pobres de sua cidade, mas não sabia com quem poderia deixar sua irmã. Preocupado com isto, foi novamente à igreja e lá, novamente escuta as palavras do Salvador, como se lhe falasse diretamente: 
«Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal» (Mt 6, 34). 
Antão confiou a guarda de sua irmã a algumas conhecidas virgens cristãs e deixou a cidade para viver em solidão e servir unicamente a Deus.

O afastamento de Santo Antão do mundo não aconteceu de repente, mas de forma gradual. No início ele passou a viver nos arredores da cidade, na casa de um piedoso eremita, já com idade avançada, e procurava imitá-lo em sua vida. Santo Antão também visitava outros eremitas que viviam nos arredores da cidade, e seguia seus conselhos. Já nesta época, ele era tão conhecido por seus esforços espirituais, que o chamavam de «amigo de Deus». Então ele decidiu então se mudar para um lugar mais distante. Convidou o velho ermitão para acompanhá-lo. Como o ermitão tivesse se recusado, se despediu e partiu, e se instalou em uma caverna distante. Ocasionalmente, algum amigo trazia-lhe comida. Finalmente, Santo Antão afastou-se dos lugares habitados; cruzou o Nilo e se estabeleceu nas ruínas de uma fortificação militar. Levou consigo uma reserva de pão para seis meses, passando depois a receber alimentos de seus amigos através de uma abertura no teto. 
É impossível imaginar quantas tentações suportou e quanta luta teve de enfrentar este grande eremita. Ele sofria de fome e sede, frio e calor. Mas, a tentação mais terrível que um ermitão pode enfrentar, nas palavras do próprio Antão, é a nostalgia do mundo e a desordem emocional. A tudo isso se acrescente os horrores e as tentações do demônio. Frequentemente, o Devoto Santo ficava sem forças e prestes a cair em desânimo. Então se apresentava a ele o próprio Senhor ou um anjo enviado por Ele para fortalecê-lo. 
«Onde estavas, Santo Jesus, por que não vieste mais cedo para acabar com meu sofrimento?»  
Implorava Antão ao Senhor, quando, após uma terrível provação lhe apareceu o Senhor.  
«Eu estava aqui mesmo, respondeu o Senhor, e esperava ver teu esforço espiritual». 
Certa vez, durante uma luta terrível com seus pensamentos, Antão gritou: 
«Senhor, eu quero me salvar, mas meus pensamentos não me deixam fazê-lo!» 
De repente, ele viu que alguém, que se parecia com ele, trabalhava sentado em uma cadeira. Então, se levantou e rezou, e depois seguiu trabalhando. 
«Faça o mesmo e te salvarás!» Disse o Anjo do Senhor.
Já fazia 20 anos que Antão vivia em solidão, recluso, quando alguns amigos, descobrindo onde estava, vieram ao seu encontro planejando permanecer com ele. Por um longo tempo ficaram batendo na porta, suplicando a Antão que deixasse sua reclusão voluntária. Finalmente, quando pensavam arrombar a porta, ela se abriu e saiu Antão. Eles ficaram surpresos de não encontrar nele qualquer vestígio de fadiga, embora tivesse se submetido a duras provas. A paz celestial reinava em sua alma e refletia em seu rosto. Tranquilo, moderado e muito amável com todos, este ancião se tornou logo o pai e mestre de muitos. O deserto recebeu vida. Por todos os lados da montanha apareciam os refúgios dos monges. Muita gente cantava, estudava, fazia jejum, rezava, trabalhava e ajudava aos pobres. Santo Antão não impôs aos seus alunos as regras especiais para a vida monástica. Ele estava preocupado apenas em fortalecer neles um devoto estado de ânimo, e lhes inspirava a fidelidade à vontade de Deus, à oração, à renúncia a todas as coisas terrenas e o trabalho incessante. Mas a vida no deserto entre as pessoas, pesava demais para Santo Antão, e ele começou a procurar um novo isolamento. 
 «Para onde queres fugir?» Ouviu de uma voz do céu, quando, na costa do rio Nilo, ele estava esperando o barco para se afastar para longe do povo.
«Alta Tebaida», disse Antão. Mas a mesma voz respondeu:
«Então, estás planejando ir para o alto da Tebaida ou para baixo, na Bucolia; pois não encontrarás tranquilidade em nenhum desses lugares. Vá para o interior do deserto – assim se chamava o deserto localizado perto do Mar Vermelho. Então Antão se dirigiu para lá, seguindo uma caravana.
Depois de caminhar por três dias, encontrou uma alta montanha desabitada, com uma fonte e algumas palmeiras no vale. Ali se instalou, começando a cultivar uma pequena área, de modo que ninguém precisasse mais lhe trazer pão. Ocasionalmente, visitava os eremitas. Um camelo lhe levava pão e água para manter suas forças durante essas difíceis viagens pelo deserto. No entanto, os admiradores de Santo Antão, também descobriram este seu último refúgio. Começou então a chegar muita gente que procurava por suas orações e conselhos. Traziam-lhe seus enfermos, e ele os curava com suas orações.
Já havia se passado quase 70 anos desde que Santo Antão começou a viver no deserto, quando, involuntariamente, um pensamento arrogante começou a confundi-lo. Pensava que era o mais antigo eremita que vivia no deserto. Ele pediu a Deus para que afastasse esse pensamento e teve uma revelação de que havia um ermitão que havia se instalado no deserto antes dele e que ainda estava servindo a Deus. Na manhã seguinte, levantou-se Antão muito cedo e foi em busca deste eremita desconhecido. Caminhou durante todo o dia, sem encontrar qualquer pessoa, com exceção de alguns animais que viviam no deserto. Diante dele se estendia a grandeza infinita do deserto, mas ele não perdia a esperança. Na manhã seguinte, bem cedo, prosseguiu seu caminho. De repente, viu um lobo correndo em direção a um córrego. Santo Antão se aproximou do riacho e viu uma caverna ao lado dele. Enquanto se aproximava, a porta da caverna se fechou. Durante meio dia Santo Antão passou diante daquela porta suplicando ao ancião que mostrasse seu rosto. Finalmente, a porta se abriu, saindo por ela um velho grisalho. Este homem era São Paulo de Tebas. Ele vivia no deserto há cerca de 90 anos. Depois de uma saudação fraterna, Paulo lhe perguntou como estava a humanidade. Quem estava governando? Se ainda existiam idólatras? O fim da perseguição e o triunfo do cristianismo no Império Romano foi uma notícia muito agradável para Paulo. Ao contrário, o surgimento do arianismo lhe foi uma notícia muito amarga. Enquanto conversavam, apareceu um corvo que lhe deixou um pão. 
«Quão generoso e misericordioso é o Senhor!» exclamou Paulo: «Por muitos anos ele me envia metade de um pão e agora, graças a sua visita, ele me enviou um pão inteiro». 
Na manhã seguinte, Paulo confessou a Antão que muito em breve ele deveria deixar este mundo. Por isso pediu a Antão para que lhe trouxesse a túnica do Bispo Atanásio (famoso por sua luta contra o arianismo), para que seu corpo fosse coberto com ela. Antão foi muito depressa para satisfazer o desejo deste santo ancião. Voltou ao seu deserto muito animado e, quando os irmãos monges lhe perguntavam sobre a razão da túnica, respondia: 
«Eu me considerava um monge e sou um pecador.» E: «Eu vi Elias, vi João e vi a Paulo no Paraíso!»  
E quando estava chegando ao lugar onde São Paulo de Tebas vivia, viu como ele ia subindo ao céu, entre muitos anjos, profetas e apóstolos. 
«Paulo, por que não me esperaste?» Gritou Antão. «Tão tarde eu te conheci e tão cedo te vás embora?» 
No entanto, ao entrar na caverna, encontrou Paulo ajoelhado, rezando. Antão também se ajoelhou e começou a rezar. Só depois de várias horas de oração se deu conta de que Paulo já não se movia, pois estava morto. Então, Antônio lavou piedosamente o corpo do santo e envolveu seu corpo na túnica de Santo Atanásio. De repente, apareceram dois leões que cavaram com suas garras uma tumba suficientemente profunda, onde Antônio enterrou o corpo do santo eremita.

Santo Antão morreu com idade já bastante avançada (106 anos) no ano 356, e por seus esforços espirituais mereceu ser chamado de “o Grande”. Foi o fundador da vida eremítica, que consiste em que vários eremitas vivam em celas separadas, longe um do outro e sob a direção de um Aba (que em hebraico significa pai). A vida dos eremitas se resumia em oração, jejum e trabalho. Vários eremitas reunidos sob um Abba constituíam uma Lavra. Mas, enquanto Santo Antão ainda vivia neste mundo, surgiu outro estilo de vida monástica. Eles se uniam em comunidades, trabalhando juntos, cada um segundo suas capacidades. Também compartilhavam a refeição e eram subordinados às mesmas regras. Estas comunidades foram chamadas de “comunidades monásticas”ou “mosteiros”. Os Abbas dessas comunidades passaram a se denominar arquimandritas. O fundador da vida comunitária dos monges foi São Pacômio, o Grande.

Comemoração de Santo Antão 

Tropário (4º tom)
Imitador do zelo de Elias, pelo teu gênero de vida
e seguindo os retos caminhos do precursor,
tu povoaste o deserto e consolidaste o mundo.
Em tuas orações, ó Santo Antônio, nosso Pai,
roga a Cristo nosso Deus pela salvação de nossas almas!

Leituras: Hebreus 13:17-21; Lucas 6:17-23 


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Tiago 1:1-18

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão, saúde. 2 Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações, 3 sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança; 4 e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma. 5 Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada. 6 Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento. 7 Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa, 8 homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos. 9 Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação, 10 e o rico no seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva. 11 Pois o sol se levanta em seu ardor e faz secar a erva; a sua flor cai e a beleza do seu aspecto perece; assim murchará também o rico em seus caminhos. 12 Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam. 13 Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta. 14 Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; 15 então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. 16 Não vos enganeis, meus amados irmãos. 17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. 18 Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. 

Marcos 10:11-16

11 Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela; 12 e se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério. 13 Então lhe traziam algumas crianças para que as tocasse; mas os discípulos o repreenderam. 14 Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus. 15 Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de maneira nenhuma entrará nele. 16 E, tomando-as nos seus braços, as abençoou, pondo as mãos sobre elas.

 † † †

ENSINO DOS SANTOS PADRES


Receber o Reino Como Criança

Quando os três magos foram conduzidos pelo esplendor de uma nova estrela para virem adorar a Jesus, eles não o viram expulsando a demônios, ressuscitando aos mortos, dando vista aos cegos, curando os aleijados, dando a faculdade de falar aos mudos, ou qualquer outro ato que revelava seu poder divino; mas viram a um menino que guardava silêncio, tranquilo, confiado aos cuidados de sua mãe. Não aparecia nele nenhum sinal de seu poder, mas lhes ofereceu a visão de um grande espetáculo: sua humildade. Por isso, o espetáculo deste santo menino, o Filho de Deus, apresentava aos seus olhares um ensinamento que mais tarde devia ser proclamado, e o que ainda não proferia o som de sua voz, o simples fato de ver-lhe fazia já que ele o ensinasse.

Toda a vitória do Salvador, que subjugou o diabo e ao mundo, começou pela humildade e se consumou pela humildade. Começou na perseguição seus dias assinalados, e também os terminou na perseguição. Ao menino não lhe tem faltado o sofrimento, e ao que fora chamado a sofrer não lhe faltou a simplicidade da infância, pois o Unigênito de Deus aceitou, só pela humilhação de sua majestade, nascer voluntariamente homem e poder ser morto pelos homens.

Se, pelo privilégio de sua humildade, Deus onipotente tem tornado boa nossa causa tão má, e se destruiu a morte e ao autor da morte, não repelindo o que lhe faziam sofrer os perseguidores, mas suportando com grande brandura e por obediência a seu Pai as crueldades dos que se levantavam contra ele, quanto mais nós temos de ser humildes e pacientes, visto que, se nos advém alguma provação, isto nunca acontece sem tê-la merecido? Quem se gloriará de ter um coração casto e de estar limpo de pecado? E, como disse São João, se disser-mos que não temos pecado nos enganaríamos a nós mesmos e a verdade não estaria conosco. Quem se encontrará livre de falta, de modo que a justiça nada tenha de que reprovar-lhe ou a misericórdia divina que perdoar-lhe?

Por isso, amadíssimos, a prática da sabedoria cristã não consiste nem na abundância de palavras, nem na habilidade para discutir, nem no desejo de louvor e de glória, mas na sincera e voluntária humildade, que o Senhor Jesus Cristo tem escolhido e ensinado como verdadeira força desde o seio de sua mãe até o suplício da cruz. Pois quando seus discípulos disputaram entre si, como narra o evangelista, quem será o maior no Reino dos Céus, ele, chamando para junto de si um menino, colocou-o no meio deles e disse: em verdade vos digo, se não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Pois o que se humilhar até fazer-se semelhante a uma destas crianças, este será grande no Reino dos Céus.

Cristo ama a infância, que ele mesmo viveu ao princípio em sua alma e em seu corpo. Cristo ama a infância, mestra da humildade, regra da inocência, modelo de simplicidade. Cristo ama a infância; para ela orienta os costumes dos maiores, para ela conduz a ancianidade. Aos que eleva ao reino eterno os atrai a seu próprio exemplo. Mas se quisermos ser capazes de compreender perfeitamente como é possível chegar a uma conversão tão admirável, e por qual transformação temos de ir à idade dos meninos, deixemos que São Paulo nos instrua e nos diga: Não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças, porém adultos no juízo. Não se trata, pois, de voltar aos jogos da infância nem às imperfeições do começo, mas em tomar uma coisa que convém também aos anos da maturidade, ou seja, que nossas agitações interiores passem prontamente, que rapidamente encontremos a paz, não guardemos rancor pelas ofensas, nem cobicemos as honras, mas amemos estarmos unidos, e guardemos uma igualdade conforme a natureza. É um grande bem, de fato, que não saibamos alimentar nem ter gosto pelo mal, pois inferir e devolver injúria é própria da sabedoria deste mundo. Pelo contrário, não devolver mal por mal é próprio da infância espiritual, toda cheia de equanimidade cristã.

A esta semelhança com as crianças nos convida, amadíssimos, o mistério da festa de hoje. Essa “é a forma de humildade que nos ensina o Salvador menino adorado pelos magos.”

São Leão, o Grande, Papa de Roma (Séc. V) 


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