terça-feira, 30 de março de 2021

3ª Terça-feira da Grande Quaresma

30 de Março de 2021 (CC) / 17 de Março (CE)
Santo Alexis, homem de Deus († séc. IV ou V)
Tom 1


No século IV viviam em Roma Eufêmio e Aglaya, um rico casal conhecido por sua compaixão e caridade. Alimentavam todos os dias os pobres, órfãos, viúvas e peregrinos. Quando havia poucas pessoas para alimentar, Eufêmio dizia com tristeza que era indigno de caminhar sobre a terra. Todos amavam Eufêmio e sua esposa, um casal que ainda não havia sido agraciado com filhos. Sofriam por isso, e rogavam a Deus que lhes concedesse um filho para que lhes alegrasse em sua velhice. Deus ouviu suas preces dando-lhes um filho a quem batizaram com o nome de Alexis. Seus pais tudo fizeram para lhe dar uma boa educação e para que crescesse bondoso e piedoso. E, tendo como guia seus devotos pais, desde muito cedo Alexis amava o Senhor, orava constantemente, jejuava e se vestia com modéstia. Chegando a maioridade, seus pais lhe encontraram uma noiva com quem se casou. Após o casamento, ainda nas núpcias, quando estavam sós, Alexis aproximou-se de sua esposa virgem, lhe deu um anel de ouro, um cinturão de muito valor, dizendo-lhe: «Guarda isto, e que Deus esteja entre nós até que sua bondade nos faça novos». Em seguida, deixou-a sós. Despiu suas ricas vestes nupciais, vestiu-se como um simples aldeão e se foi da casa de seus pais. Fez isto inspirado nas palavras de Cristo: «E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna» (Mt 19,29). Presume-se que tenha consentido se casar antes de sair da casa de seus pais, para assegurar a sua noiva um futuro melhor.  
Vagando por vários países, Alexis chegou finalmente à cidade de Edessa. Ali estava guardado o antigo ícone do Salvador, não feito por mãos humanas. Em Edessa, Alexis deu aos pobres suas últimas moedas e começou a viver como mendigo, próximo à Igreja da Santíssima Virgem, vivendo da generosidade dos que passavam por ali. Rezava dia e noite e comungava sempre aos domingos. Assim, viveu durante 17 anos na miséria, fazendo exercícios espirituais. 
Pouco a pouco, muitos habitantes de Edessa ficaram conhecendo e apreciavam a profunda espiritualidade do mendigo que vivia sentado à porta da igreja. Um dos servidores da igreja viu em sonho a Santíssima Virgem que lhe pediu que deixasse entrar na sua igreja um homem de Deus, pois as suas orações chegavam a Deus e, assim como repousa sobre a cabeça do o rei a coroa, sobre ele repousa o Espírito Santo. O servidor da igreja ficou confuso, pois não sabia quem era o tal «o homem de Deus». A visão, porém, se repetiu, e a Mãe de Deus indicou que era o mendigo que vivia sentado à porta da Igreja. 
Depois disso, o apreço e a admiração por Alexis aumentou, e era comum se referiam a ele como um exemplo. Então, para afastar-se das futilidades e da vangloria, ele se foi de Edessa. Chegou ao Mar Mediterrâneo e embarcou para algum outro país. Durante a travessia,  a embarcação foi surpreendida por uma grande tormenta e, depois de alguns dias, o maltratado barco chegou à Itália, próximo de Roma, onde anos atrás vivia Alexis.  
Em terra, dirigiu-se a casa de seus pais e, no caminho, encontrou seu pai que retornava da Igreja. Inclinando-se diante do pai, Alexis disse: «tem piedade deste mendigo e dá-me um lugar em tua casa, e o Senhor te abençoará e te concederá o Reino dos Céus; e se tens alguém de tua família viajando, Deus te devolverá». Aquelas palavras recordaram Eufêmio de que seu filho havia desaparecido, e caiu em lágrimas. Disse ao mendigo que lhe daria uma pequena casa em sua estância.  
Assim, Alexis começou a viver nas imediações da casa paterna sem ser reconhecido, pois tendo vivido tantos anos nas privações, tornou-se irreconhecível. Na pequena casa, Alexis continuava a viver da mesma forma como vivera em Edessa: orava constantemente a Deus, comungava a cada domingo, suportava a mendicância e se conformava com muito pouco. No entanto, era difícil ver em seu pai, mãe e esposa, a dor pela perda de seu filho e esposo. Assim se passaram mais 17 anos. 
Quando Alexis pressentiu que chegava a hora de sua morte, escreveu sobre um papel sua vida, iniciando pelo dia em que se afastou da casa de seus pais. Ao terminar de escrever, esperava pela morte.  
No domingo seguinte, o bispo da cidade de Roma, Inocêncio, na presença do imperador Honório oficiava a Divina Liturgia. Havia muitos fiéis presentes. Durante a Liturgia, escutou-se uma voz que dizia: «Busquem o homem de Deus na casa de Eufêmio». O imperador perguntou a Eufêmio: «Por que não nos disseste que em tua casa vive um homem de Deus?». Eufêmio respondeu: «Não sei do que estão falando!» 
Então o imperador Honório e o Papa Inocêncio decidiram ir à casa de Eufêmio para conhecer quem era aquele homem de Deus. Quando chegaram à estância, souberam pelos criados que na pequena casa vivia um homem que rezava e jejuava. Entraram na pequena casa e viram um homem morto caído ao chão. Seu rosto resplandecia e de seu corpo exalava um aroma. 
O imperador viu o papel na mão de Alexis, tomou e começou a ler. Finalmente Eufêmio e todos os presentes souberam que aquele mendigo que há tanto tempo vivera ali era o seu filho perdido. Os pais sofreram muito por saber tão tardiamente que aquele era seu filho. Mas lhes consolava saber que ele tinha alcançado a santidade.

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!


HORA SEXTA
(Meio Dia - 12h)

Isaías 9:9-10:4

9 E todo o povo o saberá, Efraim e os moradores de Samaria, os quais em soberba e altivez de coração dizem: 10 Os tijolos caíram, mas com cantaria tornaremos a edificar; cortaram-se os sicômoros, mas por cedros os substituiremos. 11 Pelo que o Senhor suscita contra eles os adversários de Rezim, e instiga os seus inimigos, 12 os sírios do Oriente, e os filisteus do Ocidente; e eles devoram a Israel à boca escancarada. Com tudo isso não se apartou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão. 13 Todavia o povo não se voltou para quem o feriu, nem buscou ao Senhor dos exércitos. 14 Pelo que o Senhor cortou de Israel a cabeça e a cauda, o ramo e o junco, num mesmo dia. 15 O ancião e o varão de respeito, esse é a cabeça; e o profeta que ensina mentiras, esse e a cauda. 16 Porque os que guiam este povo o desencaminham; e os que por eles são guiados são devorados. 17 Pelo que o Senhor não se regozija nos seus jovens, e não se compadece dos seus órfãos e das suas viúvas; porque todos eles são profanos e malfeitores, e toda boca profere doidices. Com tudo isso não se apartou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão. 18 Pois a impiedade lavra como um fogo que devora espinhos e abrolhos, e se ateia no emaranhado da floresta; e eles sobem ao alto em espessas nuvens de fumaça. 19 Por causa da ira do Senhor dos exércitos a terra se queima, e o povo é como pasto do fogo; ninguém poupa ao seu irmão. 20 Se colher da banda direita, ainda terá fome, e se comer da banda esquerda, ainda não se fartará; cada um comerá a carne de seu braço. 21 Manassés será contra Efraim, e Efraim contra Manassés, e ambos eles serão contra Judá. Com tudo isso não se apartou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão. 1 Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que escrevem perversidades; 2 para privarem da justiça os necessitados, e arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos! 3 Mas que fareis vós no dia da visitação, e na desolação, que há de vir de longe? A quem recorrereis para obter socorro, e onde deixareis a vossa riqueza? 4 Nada mais resta senão curvar-vos entre os presos, ou cair entre os mortos. Com tudo isso não se apartou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.

VÉSPERAS

Gênesis 7:1-5

1 O Senhor Deus disse a Noé: "Entra, tu e toda a tua família na arca, porque te tenho achado justo diante de mim nesta geração. 2 E dos animais domésticos limpos toma para ti sete pares, machos e fêmeas; e dos animais imundos toma pares, machos e fêmeas. 3 E das criaturas voadoras do céu, que são limpas, sete pares, machos e fêmeas; e, de todas as criaturas voadoras imundas, pares, machos e fêmeas, para manterem as suas sementes em toda a terra. 4 Pois, ainda mais sete dias e eis que Eu trago a chuva sobre a terra, por quarenta dias e quarenta noites; e Eu irei exterminar com toda a geração que tenho feito da face de toda a Terra." 5 E Noé fez todas as coisas que o Senhor Deus lhe ordenara.

Provérbios 8:32-9:11

32 Agora, pois, filhos, ouvi-me; porque felizes são os que guardam os meus caminhos. 33 Ouvi a correção, e sede sábios; e não a rejeiteis. 34 Feliz é o homem que me dá ouvidos, velando cada dia às minhas entradas, esperando junto às ombreiras da minha porta. 35 Porque o que me achar achará a vida, e alcançará o favor do Senhor. 36 Mas o que pecar contra mim fará mal à sua própria alma; todos os que me odeiam amam a morte. 1 A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas; 2 já imolou as suas vítimas, misturou o seu vinho, e preparou a sua mesa. 3 Já enviou as suas criadas a clamar sobre as alturas da cidade, dizendo: 4 Quem é simples, volte-se para cá. Aos faltos de entendimento diz: 5 Vinde, comei do meu pão, e bebei do vinho que tenho misturado. 6 Deixai a insensatez, e vivei; e andai pelo caminho do entendimento. 7 O que repreende ao escarnecedor, traz afronta sobre si; e o que censura ao ímpio, recebe a sua mancha. 8 Não repreendas ao escarnecedor, para que não te odeie; repreende ao sábio, e amar-te-á. 9 Instrui ao sábio, e ele se fará mais, sábio; ensina ao justo, e ele crescerá em entendimento. 10 O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento. 11 Porque por mim se multiplicam os teus dias, e anos de vida se te acrescentarão. 

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Para ajudar na compreensão do que vem a ser o jejum na Igreja Ortodoxa, estamos publicando o ensinamento de nosso Pai João Cassiano (360-435 dC), que serviu a Deus como monge na França.

Esse texto foi traduzido da Filokalia, e se refere à terapêutica que nosso Abba João compartilha com seus discípulos visando combater a paixão da gula.

"Primeiramente irei falar da continência do ventre, a qual se contrapõe à gula. Falaremos como fazer os jejuns e qual deve ser a qualidade e a quantidade dos alimentos. Não falarei baseado em minha própria experiência, senão da que temos recebido de nossos santos Padres, os quais não tinham uma única regra para o jejum e nem mesmo uma única maneira de comer os alimentos, tampouco nos ensinaram uma medida, uma vez que nem todos que jejuam tenham a mesma capacidade, seja por causa da idade, por doença, ou por uma constituição física frágil. Há, no entanto, um único objetivo: fugir da saciedade e evitar ficar de estômago cheio. 

Certo jejum diário tem sido considerado mais vantajoso e mais adequado para conduzir-nos à pureza do que um jejum que se arraste por três, quatro dias e até mesmo uma semana. Diz-se que o jejum que se prolonga sem medida é seguido por um período de excesso na alimentação. Assim, é possível que a abstinência exagerada de alimentos provoque perda de vigor físico, tornando-o preguiçoso em seu exercício espiritual, tanto quando o corpo, sentindo-se pesado pelo excesso de alimentos, torna a alma preguiçosa e relaxada. 

Os Padres consideravam que não é adequado para todos uma alimentação à base de verduras e legumes, nem se alimentar diariamente de pão duro. Observaram que um pode comer dois pães e continuar com fome, ao passo que outro comendo apenas um, ou metade de um pão, se sinta saciado. Tal como dissemos, a única regra que nos transmitiram é esta: que não nos deixemos enganar pela saciedade do estômago e nem ser atraídos pelo prazer da gula. Com efeito, não somente a variedade dos alimentos, mas também as distintas quantidades dos mesmos, são capazes de nos inflamar com a flecha flamejante da fornicação. E ainda mais, não é somente o excesso de vinho que é capaz de embriagar nossa mente, mas o excesso de água ou de qualquer outra comida podem tornar a mente aturdida e sonolenta. A causa da destruição dos sodomitas, não foi a embriaguez produzida pelo vinho ou pelos variados alimentos, mas por causa da saciedade de pão, tal como nos diz o profeta.

A debilidade do corpo não nos impedirá de alcançar a pureza do coração se dermos ao corpo o que lhe é necessário, e não o que demandam os prazeres. Devemos utilizar os alimentos tanto quanto o necessário para nos mantermos com vida e não para que nos induzam a servir os impulsos do apetite. Uma ingestão moderada de alimentos, conforme entendemos ser necessária para manter o corpo saudável não fere em nada a santidade. A regra da continência e a norma exata que nos transmitiram os Padres, é esta: Qualquer que seja o alimento que se esteja ingerindo deverá cessar quando ainda temos apetite, evitando a saciedade. Quando o Apóstolo nos diz para não nos ocuparmos com os desejos da carne (Romanos 13:14), não estava proibindo o necessário para nos manter com vida, mas intentava proibir um comportamento que nos induza à volúpia. 

Além do mais, para se alcançar uma pureza perfeita de alma, não é suficiente a abstenção de alimentos; outras virtudes são necessárias. Muito beneficia a realização de trabalhos humildes e a fatiga do corpo, assim como também grande proveito em fugir do amor ao dinheiro (o que significa, não somente não ter dinheiro, como também evitar deseja-lo ansiosamente): estas coisas realmente levam a alma à pureza. O abster-se da ira, da tristeza, da vanglória, da soberba, tudo isto, produzem, em geral, a pureza da alma. No entanto, particularmente, a pureza da alma, fruto da moderação, se obtém com a continência e com o jejum, pois, é impossível, em nossa carne, combater a fornicação, estando com o estômago cheio. Portanto, nossa primeira luta será por alcançar a continência do estômago e a subjugação do nosso corpo, não somente por meio do nosso jejum, como também velando com esforço, com a leitura e com o recolhimento do nosso coração, temendo a gehena e desejos por alcançar o Reino dos Céus".

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