terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

2ª Terça-feira do Triódion

Semana do Filho Pródigo
36ª Terça-feira Depois de Pentecostes
10 de Fevereiro de 2015 (CC) - 28 de Janeiro (CE)
S. Efrém, o Sírio, monge e diácono († 373)
2º Modo 


Efrém nasceu em 306 em Nisibina ou em seus arredores (Mesopotâmia), Depois de ter estudado junto ao bispo daquela cidade, Jacob (Jaime) se converteu no animador de uma escola de doutrina, poesia e canto. Refugiou-se em Edesa no ano 367, por causa da ocupação persa de Nisibina, e nela prosseguiu suas atividades de ensinamento, unidas a composição de muitos escritos exegéticos, catequéticos e hinos em siríaco. Sua exuberância poética era tão grande e tal o gosto dos sírios pela poesia, que muitas homilias estão compostas em versos. Recebeu o título de "Profeta dos Sírios" e "Cítara do Espírito Santo" e a tradição se alegrou em engrandecê-lo, ao estilo dos dois primeiros apotegmas, atribuindo-lhe a concessão milagrosa dos carismas da palavra, da sabedoria e também das lágrimas. A respeito dele foi escrito que era tão natural vê-lo chorar como respirar. Levou, desde muito jovem, juntamente com outros, vida comum na castidade, pobreza e penitência e retiro, compatível, não obstante, com o ensinamento e a pregação. Foi ordenado diácono, mas não sabemos exatamente quando. Muitos são os escritos sobre a sua vida, mas lamentavelmente, mistura-se muitos elementos lendários. Várias fontes revelam que se ocupou com grande generosidade a assistência aos enfermos, famintos, dando sepultura aos mortos numa época de grande miséria. Seja verdadeira ou não esta informação, é de grande significado, pois a Tradição queria transmitir dele um perfil completo, não só como grande escritor e compositor de hinos, como também, a imagem de um diácono entregue ao serviço dos mais necessitados.

Morreu no ano 373, sendo tão venerado que rapidamente seus hinos e outros escritos foram introduzidos nas celebrações litúrgicas. Seus escritos foram traduzidos para o grego e latim e, com adaptações, introduzidos em muitíssimas recopilações; sob o impulso do grande, ainda que ingênuo, entusiasmo e amor que se lhe professava, atribuíram-lhe falsamente muitas obras que não o pertenciam.

A grandeza de Santo Efrém chegou ao seu ponto mais elevado nos cantos de louvor à Mãe de Deus. Faltava ainda muito tempo para o Concílio de Éfeso e já o pensamento de Efrém sobre ela havia adquirido um grande desenvolvimento e aprofundamento. Nela contempla e celebra a extraordinária beleza e vê refulgir nela, mediante uma co-participação extremamente contínua e privilegiada, a conformidade com Cristo: o Senhor e sua Mãe são os únicos seres perfeitamente belos neste mundo contaminado; na Senhora, resplandece uma semelhança com Deus única e excepcional. Estes pensamentos são expressados de maneira repetida por Efrém, sobretudo nos Hinos para a Natividade.

O padre Efrém teve, quando criança, um sonho ou uma visão: saía uma videira de sua boca e crescia e enchia toda terra; e estava completamente cheia de ramos; e vieram todos os pássaros do céu e comeram do fruto da videira. Mas, quanto mais comiam, mais se multiplicavam os frutos.

Outra vez, um dos santos teve esta visão: um exército de anjos descia do céu por ordem de Deus e levava um rolo na mão, ou seja, um volume escrito de ambos os lados. E se perguntavam: "a quem devemos confiá-lo?" Uns diziam: "a este"; outros diziam: "a este outro"; finalmente, se decidiram e disseram: "verdadeiramente são santos e dignos, mas a ninguém pode ser confiado este livro senão a Efrém". Logo viu o ancião que entregavam o volume a Efrém; ... Ao amanhecer, quando se levantou, ouviu como um fonte que brotava da boca de Efrém, enquanto compunha, e soube assim que provinha do Espírito Santo o que saía de seus lábios.

Um dia, enquanto Efrém passeava pelo caminho, surgiu uma meretriz de emboscada para seduzi-lo ou, ao menos, para provocá-lo, posto que ninguém o havia visto jamais preso pela ira. Ele a disse: "segue-me". Quando chegaram a um lugar muito movimentado, disse-lhe: "faz o que queres aqui, neste lugar". Mas ela, vendo a multidão disse: "como podemos fazer diante desta grande multidão sem sentir vergonha?" E ele respondeu: "se nos envergonhamos diante das pessoas, tanto mais deveríamos nos envergonhar diante de Deus que escuta no segredo das trevas. E ela, cheia de vergonha, afastou-se sem ter realizado o que pretendia. 




1 João 3:11-20

11 Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio, que nos amemos uns aos outros,    12 não sendo como Caim, que era do Maligno, e matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas. 13 Meus irmãos, não vos admireis se o mundo vos odeia. 14 Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte. 15 Todo o que odeia a seu irmão é homicida; e vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele. 16 Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos. 17 Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? 18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade. 19 Nisto conheceremos que somos da verdade, e diante dele tranqüilizaremos o nosso coração;  20 porque se o coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.  

Marcos 14:10-42

10 Então Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes para lhes entregar Jesus. 11 Ouvindo-o eles, alegraram-se, e prometeram dar-lhe dinheiro. E buscava como o entregaria em ocasião oportuna. 12 Ora, no primeiro dia dos pães ázimos, quando imolavam a páscoa, disseram-lhe seus discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a páscoa? 13 Enviou, pois, dois dos seus discípulos, e disse-lhes: Ide à cidade, e vos sairá ao encontro um homem levando um cântaro de água; seguí-o; 14 e, onde ele entrar, dizei ao  dono da casa: O Mestre manda perguntar: Onde está o meu aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? 15 E ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado e pronto; aí fazei-nos os preparativos. 16 Partindo, pois, os discípulos, foram à cidade, onde acharam tudo como ele lhes dissera, e prepararam a páscoa. 17 Ao anoitecer chegou ele com os doze. 18 E, quando estavam reclinados à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me. 19 Ao que eles começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe um após outro: Porventura sou eu? 20 Respondeu-lhes: É um dos doze, que mete comigo a mão no prato. 21 Pois o Filho do homem vai, conforme está escrito a seu respeito; mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! bom seria para esse homem se não houvera nascido. 22 Enquanto comiam, Jesus tomou pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, dizendo: Tomai; isto é o meu corpo. 23 E tomando um cálice, rendeu graças e deu-lho; e todos beberam dele. 24 E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do pacto, que por muitos é derramado. 25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira, até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus. 26 E, tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras. 27 Disse-lhes então Jesus: Todos vós vos escandalizareis; porque escrito está: Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão. 28 Todavia, depois que eu ressurgir, irei adiante de vós para a Galiléia. 29 Ao que Pedro lhe disse: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu. 30 Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes tu me negarás. 31 Mas ele repetia com veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. Assim também diziam todos. 32 Então chegaram a um lugar chamado Getsêmane, e disse Jesus a seus discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto eu oro. 33 E levou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e começou a ter pavor e a angustiar-se; 34 e disse-lhes: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai. 35 E adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. 36 E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice; todavia não seja o que eu quero, mas o que tu queres. 37 Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, dormes? não pudeste vigiar uma hora? 38 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. 39 Retirou-se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. 40 E voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam carregados; e não sabiam o que lhe responder. 41 Ao voltar pela terceira vez, disse-lhes: Dormi agora e descansai. - Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantai-vos, vamo-nos; eis que é chegado aquele que me trai.   


COMENTÁRIO

São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V)


Durante a ceia, tomou o pão e o partiu. Por que instituiu este mistério durante a Páscoa? Para que conclua de todos os seus atos que ele foi o legislador do Antigo Testamento, e que todas as coisas que nele se contêm foram esboçadas em vista à nova aliança. Por isso, onde estava a figura, Cristo entronizou a verdade. A tarde era o símbolo da plenitude dos tempos, e indicava que as coisas já estavam chegando ao seu fim. Pronunciou a bênção, ensinando-nos como nós temos de celebrar este mistério, mostrando que não vai coagido para a paixão e preparando-nos para que tudo quanto soframos o saibamos suportar com ação de graças, e tirando do sofrimento um avigoramento da esperança.

Pois, se já o tipo ou a figura foi capaz de libertar de tão grande escravidão, com mais razão libertará a verdade ao redor da terra e redundará em benefício de nossa raça. Por isso Cristo não instituiu este mistério antes, mas tão somente no momento em que estavam para cessar as prescrições legais. Aboliu a mais importante das solenidades judaicas, convocando aos judeus em torno à outra mesa muito mais santa, e disse: Tomai e comei: isto é meu corpo, que será entregue por vós.

E como não se perturbaram ao ouvir isto? Porque anteriormente Cristo já lhes tinha dito muitas e grandiosas coisas deste mistério. Por isso agora ele não se estende em explicações, porque já tinham escutado bastante sobre esta matéria. Apesar disso, sei que lhes diz qual é a causa da paixão: o perdão dos pecados. Chama a seu sangue “sangue da nova aliança”, ou seja, da promessa e da nova lei. De fato, isto é o que antigamente já tinha prometido e o confirma a nova aliança. E assim como a antiga aliança ofereceu ovelhas e novilhos, a nova oferece o sangue do Senhor. Esta passagem também insinua que ele tinha que morrer; por isso fez alusão ao testamento e menciona também o antigo. Daí que também não faltasse sangue na inauguração da primeira aliança. Novamente declara a causa de sua morte: Que será derramada por muitos para o perdão dos pecados. E acrescenta: Fazei isto em minha memória.

Não percebes como retrai e afasta os seus discípulos dos ritos judaicos? Que é como se dissesse: Vós comemorais aquela ceia em comemoração dos prodígios operados no Egito; celebrai a nova ceia em minha comemoração. Aquele sangue foi derramado para salvar aos primogênitos; este, para o perdão dos pecados de todo o mundo. Este é o meu sangue, diz, que será derramado para o perdão dos pecados. Disse isto, sem dúvida, tanto para demonstrar que a paixão e a morte são um mistério, como para, desta forma, consolar novamente aos seus discípulos. E assim como Moisés disse: É lei perpétua para vós, assim ele também disse: Em minha comemoração, até que eu volte. Por isso afirma: Tenho desejado ardentemente comer esta comida pascal; ou seja, desejei entregar-vos esta nova realidade, dar-vos uma páscoa com a qual vos convertereis em homens espirituais.

E ele mesmo bebeu também dele. Para evitar que ao ouvir estas palavras replicassem: Como? Vamos beber sangue e comer carne?, e se escandalizassem – pois, falando em outra ocasião deste tema, muitos se escandalizaram de suas palavras; pois bem, para que não tivessem motivo de escândalo, ele é o primeiro em dar o exemplo, induzindo-os a participar nestes mistérios com o espírito tranquilo. Por esta razão, ele mesmo bebeu o seu sangue.

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