domingo, 8 de fevereiro de 2015

Domingo do Filho Pródigo

35º Domingo Depois de Pentecostes
08 de Fevereiro de 2015 (CC) - 26 de Janeiro (CE)
Ss. Xenofontes de Constantinopla, Maria, sua esposa 
e seus filhos, Arcádio e João († séc. VI)
2º Modo 


No segundo domingo do Triódion, celebramos o Domingo do Filho Pródigo. Esse Domingo continua a desenvolver o tema do arrependimento e do perdão, já tratado no Domingo do Fariseu e do Publicano. 
Com a celebração do Domingo do Filho Pródigo, a Santa Tradição, portanto,  quer nos ensinar o que devemos buscar na Grande Quaresma: retornar de nossas vidas pródigas para a casa do Pai, ou seja a plena comunhão com Deus. 
A motivação e a decisão que impulsiona tal retorno no Filho Pródigo se dá a partir da meditação que ele faz de suas circunstâncias de vida, e comparação da vida muito mais excelente que os empregados da casa paterna levavam,  fruto da bondade e justiça do seu pai. 
Assim, os exercícios e disposições da Grande Quaresma buscam despertar em nós a motivação e a decisão de retornamos à comunhão que deixamos de ter com Deus, da qual nos afastamos para buscar a satisfação de nossos desejos egoístas. A Grande Quaresma, na verdade, é uma grande viagem pela nossa interioridade, das sombras que há em nós para a Luz que Deus faz brilhar em nossos corações.
Comemoração de São Xenofontes
Deus dirigia a Sua palavra chamando em especial aos ricos: «Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas usufruirmos; que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis» (1Tm 6, 17-18). Este preceito divino Xenofontes o cumpriu durante toda a sua vida, juntamente com Maria, sua esposa, e seus filhos Arcádio e João. A família vivia em Constantinopla, no tempo de Justino e desfrutava de boa posição econômica. 
O Santo sempre tinha a porta de sua casa aberta para socorrer aos pobres, e sua família também compartilhava deste grande espírito de filantropia. Acolhiam aos órfãos, despendendo grandes somas em dinheiro para libertar os escravos. Desejando que seus filhos fossem instruídos nas leis, Xenofontes os enviou às escolas em Beirute para estudar. No caminho, porém, suas vidas corriam perigo e, por este inconveniente, decidiram ir mudar de direção e ir para Jerusalém onde foram consagrados à vida monástica. Ao tomar conhecimento do que havia ocorrido com seus filhos, Xenofontes e sua esposa agradeceram e glorificaram a Deus e, repartindo os seus bens com os mais necessitados, partiram também para Jerusalém. São Xenofontes foi também consagrado à vida monástica e, retirou-se depois , com sua esposa Maria a um monastério no deserto, onde passaram a viver uma vida de verdadeira ascese. Maria também escolheu o mesmo caminho, tornando-se monja num monastério para mulheres. Os santos viveram ainda por muito tempo nos respectivos monastérios, entregando em paz suas almas a Deus. 



MATINAS (VI)


Marcos 16:1-8

1 Ora, passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. 2 E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol. 3 E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida; 5 e entrando no sepulcro, viram um moço sentado à direita, vestido de alvo manto; e ficaram atemorizadas. 6 Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o nazareno, que foi crucificado; ele ressurgiu; não está aqui; eis o lugar onde o puseram. 7 Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. 8 E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de medo e assombro; e não disseram nada a ninguém, porque temiam.   


LITURGIA

Troparion
Quando Te entregaste a morte ó Vida Imortal,
aniquilaste os infernos pelo esplendor de Tua divindade;
e quando ressuscitaste os mortos das profundezas da terra,
todas as potências celestes exclamaram:
Ó Cristo nosso Deus, ó Autor da Vida Senhor, ,glória a Ti!

Kontákion
Tu Te levantaste da tumba, ó Salvador Onipotente, 
e o inferno, vendo esta maravilha, estremeceu de medo, 
e os mortos ressuscitaram de seus túmulos. 
Adão e toda a Criação se alegram Contigo, 
e o mundo, ó Salvador meu, Te louva para sempre. 

Troparion de São Xenofante - Modo IV
Ó Deus de nossos pais,
que sempre ages conosco conforme a Tua ternura.
Não nos prive de Tua misericórdia,
mas através das súplicas dos Teus santos,
dirige a nossa vida em paz.

Kondákion do Filho Pródigo - Modo III
Quando abandonei com insensatez a glória paterna,
eu desperdicei no mal a fortuna que me deste.
Por isso, eu te clamo como o filho pródigo:
«Pequei contra Ti, ó Pai Misericordioso!
Recebe-me arrependido e faze-me um de teus servos!»


Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

Kontakion de São Xenofante - Modo IV
Com boa vontade, ó bendito, distribuíste as tuas riquezas aos pobres,
e com tua esposa e filhos 
foste vigilante em guardar mandamentos do Senhor.
Agora desfrutas jubiloso a Divina herança.

Theotokion

Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Teus méritos são glorificados acima de toda a razão, ó Mãe de Deus, 
na pureza selada, preservaste a tua virgindade, 
verdadeiramente mãe, 
és reconhecida que deste à luz o verdadeiro Deus.
Roga-Lhe que salve as nossas almas!


Prokimenon

O Senhor é minha força e meu vigor
Ele foi a minha salvação. (Sl 118,14)

O Senhor severamente me castigou,
mas não me entregou à morte. (Sl 118, 18)

1 Coríntios 6:12-20

12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. 13 Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém aniquilará, tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. 14 Ora, Deus não somente ressuscitou ao Senhor, mas também nos ressuscitará a nós pelo seu poder. 15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum. 16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne. 17 Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com ele. 18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. 19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.

ALELUIA

Aleluia, aleluia, aleluia!
O Senhor te ouça no dia da tribulação; 

te proteja o nome do Deus de Jacó! 


Aleluia, aleluia, aleluia!
Salva, Senhor, o teu povo 
e abençoa a tua herança! 



Aleluia, aleluia, aleluia!

Lucas 15:11-32

11 Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos. 12 O mais moço deles disse ao pai:

"Pai, dá-me a parte dos bens que me toca." 

Repartiu-lhes, pois, os seus haveres.13 Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. 14 E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. 15 Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. 16 E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. 17 Caindo, porém, em si, disse: 

"Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! 18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados."

20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 21 Disse-lhe o filho: 

"Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho."

22 Mas o pai disse aos seus servos: 

"Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; 23 trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, 24 porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se."

25 Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças; 26 e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. 27 Respondeu-lhe este: 

"Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo."

28 Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele. 29 Ele, porém, respondeu ao pai: 

"Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos; 30 vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado."

31 Replicou-lhe o pai: 

"Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; 32 era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado."



COMENTÁRIO

Esta é uma das parábolas de Cristo mais conhecidas, pois o cenário onde ela se desenrola é o de um ambiente familiar, retratando um drama que quase todas, senão todas as famílias enfrentam: a ruptura dos filhos adolescentes com o Pai.

A crise do jovem caçula é um ícone dos sentimentos e mentalidades que governam a humanidade: o desejo de uma autonomia precoce baseando numa avaliação presunçosa e equivocada de si mesma.

Presunçosa, porque - à semelhança de um adolescente que presume que a maturidade biológica do seu corpo e seu acesso a informação lhe garante a autonomia - assim, também, a humanidade concebe que seu avanço científico e tecnológico não lhe permite mais depender de Deus e de leituras teológicas da realidade.

Equivocada porque, assim como a adolescência não se apercebe que sua maturidade biológica e capacidade mental de raciocinar logicamente, são mediadas por uma estrutura subjetiva conflituosa e por forças passionais coercitivas, assim também a humanidade ignora sua estrutura ontológica: corpo, alma e espírito, os quais se encontram fragmentados e incapazes de interagir harmonicamente, incapacitando-nos, assim de atingirmos uma “maior idade”.

Este filho caçula, nosso ícone pessoal, ao se apartar do Pai conhece em primeira estância os prazeres que advém desta ― "liberdade", mas logo, logo, descobre o quanto são passageiros e passa a provar os amargos dissabores desta postura de vida.

Em seu abismo existencial, um raio de luz alcança sua alma e ele avaliando as realidades presentes e as que vivia na casa do Pai, é levado a tomar uma decisão:

“Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai”.

Esta luz que brilhou em seu ser transforma radicalmente a sua alma, levando-o a trilhar a mesma estrada que liga a casa paterna, mas, agora de forma totalmente inversa. O caminho que outrora vira passar um jovem altivo, cheio de perspectivas ilusórias, sentindo-se senhor de todo saber; assiste agora os passos de um homem humilhado, de olhar e expectativas incertas, cheio de temores, a mendigar a aceitação do Pai em condições degradantes.

Uma surpresa põe termo a toda esta atmosfera sombria: o Pai o aguardava de braços abertos e lhe devolvendo a honra que um dia tão tolamente desprezara.

A história deste jovem é a nossa história pessoal. Todos nós a ele nos igualamos em sua primeira decisão: a de romper com o Pai, tomar a nossa herança e gerenciá-la como nos aprouver. Também, assim como ele, experimentamos o gozo efêmero e os profundos dissabores que provêm desta decisão. Mas, se quisermos ter o mesmo fim venturoso deste jovem, devemos também o imitar em sua segunda decisão: erguer-se deste lodo no qual nos achamos e caminhar em direção ao Pai e lhe dizer:

― "Pai, pequei contra Ti, já não sou digno de ser chamado Teu filho".

Porém, não pensemos que apenas o caçula é o nosso ícone pessoal: também o filho mais velho espelha a alma de alguns de nós: pois, este, vivendo na casa do Pai, não o conhecia; alimentava-se de imagens limitantes que o impedia de ter acesso a todos os bens que o Pai preparara para que ele os desfrutasse.

Padre Mateus (Antonio Eça)



ORAÇÃO

Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas tansgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares. Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe. Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma. Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste. Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. 


Salmo 50(51): 1-9.


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