Do ponto de vista litúrgico, o sábado de Lázaro se apresenta como a preparação do Domingo de Ramos; dia em que se celebra a entrada do Senhor em Jerusalém. Essas duas festas têm um tema em comum: o triunfo e a vitória. O sábado revelou o Inimigo que é a morte; o domingo anuncia a vitória, o triunfo do Reino de Deus e a aceitação pelo mundo de seu único Rei, Jesus Cristo. A entrada solene na cidade santa foi, na vida de Jesus, seu único triunfo visível; até aí, ele tinha recusado qualquer tentativa de ser glorificado e é apenas seis dias antes da Páscoa que ele não só aceitou de bom grado, como provocou mesmo o acontecimento. Cumprindo ao pé da letra o que dissera o profeta Zacarias )— "Eis o teu Rei que vem montado numa jumenta" (Zac. 9:9), ele mostra claramente que queria ser reconhecido e aclamado como o Messias, Rei e Salvador de Israel. O texto do Evangelho sublinha, com efeito, os traços messiânicos: os ramos, o canto de Hosana, a aclamação de Jesus como Filho de Davi e Rei de Israel. A história de Israel chega ao seu fim: tal é o sentido deste acontecimento. O sentido desta história era o de anunciar e preparar o Reino de Deus, a vinda do Messias. Hoje é o dia em que isto se cumpre, pois eis que o Rei entra em sua cidade santa e nele todas as profecias e toda a espera de Israel encontram seu término: ele inaugura seu Reino.
A liturgia deste dia comemora este acontecimento; com os ramos nas mãos, nós nos identificamos com o povo de Jerusalém, com o qual saudamos o humilde Rei, recitando-lhe nossa Hosana. Mas, qual é o sentido disto para nós, hoje?
Primeiramente, nós proclamamos que o Cristo é nosso Rei e nosso Senhor. Muito frequentemente nós nos esquecemos que o Reino de Deus já foi inaugurado, que no dia do nosso Batismo nós fomos feitos cidadãos dele, e que nós prometemos colocar nossa fidelidade a esse Reino acima de qualquer outra. Não esqueçamos que, durante algumas horas, o Cristo foi verdadeiramente Rei sobre a terra, Rei neste mundo que é o nosso. Por algumas horas apenas e numa única cidade. Mas, da mesma maneira que em Lázaro nós reconhecemos a imagem de todo homem, podemos ver nesta cidade o centro místico do mundo e de toda a criação. Tal é o sentido bíblico de Jerusalém, a cidade, o ponto focal de toda a história da salvação e da redenção, a santa cidade do Advento de Deus. O Reino inaugurado em Jerusalém é, pois, um Reino universal, abraçando todos os homens, e a criação inteira. .. por algumas horas, e entretanto, essas horas são decisivas; é a hora de Jesus, a hora do cumprimento por Deus de todas as suas promessas e de todas as suas vontades. Essas horas são o término de toda a longa preparação revelada pela Bíblia e o cumprimento de tudo aquilo que Deus quis fazer pelos homens. E assim, este breve momento de triunfo terrestre do Cristo adquire uma significação eterna. Ele introduz a realidade do Reino de Deus no nosso tempo, em cada uma de nossas horas, fazendo deste Reino aquilo que dá ao tempo o seu sentido, sua finalidade última. A partir dessa hora, o Reino é revelado ao mundo e sua presença julga e transforma a história humana. E quando do momento mais solene da celebração litúrgica, nós recebemos um ramo das mãos do padre, nós renovamos nossa promessa a nosso Rei, e nós confessamos que o seu Reino é o único objetivo de nossa vida, a única coisa que dá um sentido a ela. Nós confessamos também que tudo, na nossa vida e no mundo, pertence ao Cristo, que nada pode ser subtraído ao único e exclusivo Mestre e que nenhum domínio de nossa existência escapa de seu império e de sua ação redentora. Enfim, nós proclamamos a universal e total responsabilidade da Igreja com relação à história da humanidade e nós afirmamos sua missão universal.
No entanto, nós sabemos, o Rei que os judeus aclamam hoje, e nós com eles, se encaminha para o Gólgota, para a cruz e para o túmulo. Nós sabemos que este breve triunfo é apenas o prólogo de seu sacrifício. Os ramos em nossas mãos significam, desde então, nosso ardor em segui-lo no caminho do sacrifício, nossa aceitação do sacrifício e nossa renúncia a nós mesmos, em que reconhecemos a única estrada real que conduz ao Reino.
E, finalmente, os ramos, essa celebração, proclamam nossa fé na vitória final do Cristo. Seu Reino ainda está oculto e o mundo o ignora. O mundo vive como se o acontecimento decisivo jamais tivesse ocorrido, como se Deus não tivesse morrido na cruz e como se, nele, o homem não tivesse ressuscitado dentre os mortos. Mas nós, cristãos, cremos, na chegada desse Reino onde Deus será tudo em todos, e onde o Cristo aparecerá como o único Rei.
As celebrações litúrgicas nos relembram acontecimentos passados; mas todo o sentido e toda a virtude da liturgia consistem precisamente em transformar a lembrança em realidade. Neste Domingo de Ramos, a realidade em questão é a nossa própria implicação neste Reino de Deus, é nossa responsabilidade a seu respeito. O Cristo não entra mais em Jerusalém; ele o fez de uma vez por todas. Ele não cuidou do "símbolo" e, certamente, não foi para que nós possamos perpetuamente "simbolizar" sua vida, que ele morreu na cruz. O que ele espera de nós, é um real acolhimento do Reino que ele nos trouxe. . . e se nós não estivermos prontos a sermos totalmente fiéis ao juramento que renovamos a cada ano, o Domingo de Ramos, se de fato não estivermos decididos a fazer do Reino a base de toda nossa vida, então nossa celebração é vã, vãos e sem significado são os ramos que levamos da igreja para nossas casas.
Alexandre Schmémann, Olivier Clément.
«O Mistério Pascal - Comentários Litúrgicos»
São Nikon e seus 199 discípulos, mártires (†273)
São Nikon nasceu em Nápoles, na Itália. Seu pai era pagão e sua mãe cristã, de quem recebeu os ensinamentos e doutrina do Evangelho. Ainda jovem, se fez soldado e, muito rapidamente, se distinguiu entre os companheiros por sua valentia e disciplina. Porém, desejava intimamente levar a vida de um asceta, e para alcançar este objetivo iniciou uma viagem nas proximidades de Constantinopla. Fez uma breve estadia em Xios, onde recebeu o batismo, e dedicou sua vida às práticas ascetas e aos estudos da Sagrada Escritura. O bispo local, observando seus dons espirituais, o ordenou sacerdote e, pouco tempo depois, tornou-se abade de um monastério com 190 monges que ficaram então sob sua direção. Quando seus pais faleceram, Nikon e seus monges juntamente com mais nove pessoas, formavam uma devota comunidade e foram se estabelecer na Sicília. Contudo, foram perseguidos pelo governador da época que era idólatra. Todos os monges se opuseram ao governador e, por isso, foram presos, horrivelmente torturados e, finalmente, assassinados.
MATINAS
Mateus 21:1-11, 15-17
1 Quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: 2 Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos. 3 E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei: O Senhor precisa deles; e logo os enviará. 4 Ora, isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: 5 Dizei à filha de Sião: Eis que aí te vem o teu Rei, manso e montado em um jumento, em um jumentinho, cria de animal de carga. 6 Indo, pois, os discípulos e fazendo como Jesus lhes ordenara, 7 trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus mantos, e Jesus montou. 8 E a maior parte da multidão estendeu os seus mantos pelo caminho; e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho. 9 E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! 10 Ao entrar ele em Jerusalém, agitou-se a cidade toda e perguntava: Quem é este? 11 E as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia. 15 Vendo, porém, os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que ele fizera, e os meninos que clamavam no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, 16 e perguntaram-lhe: Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e de criancinhas de peito tiraste perfeito louvor? 17 E deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite.
LITURGIA
Primeira Antífona
Diácono
1. Amo ao Senhor, pois Ele ouviu a voz da minha súplica.
Coro
Pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos Senhor!
Diácono
2. Cercaram-me os laços da morte,
Os laços do inferno se abateram de mim.
Coro
Pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos Senhor!
Diácono
3. Cai na aflição e na ansiedade,
Foi então que invoquei o Nome do Senhor.
Coro
Pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos Senhor!
Diácono
Glória ao Pai† e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Segunda Antífona
Diácono
1. Conservei a confiança, ainda que eu pudesse dizer:
“Em verdade sou extremamente infeliz.”
Coro
Salva-nos, ó Filho de Deus, /que estás sentado sobre um jumentinho, /nós que a Ti cantamos: aleluia!
Diácono
2. Que darei eu ao Senhor
Por todos os benefícios que me tem feito?
Coro
Salva-nos, ó Filho de Deus...
Diácono
3. Cumprirei os meus votos para com o Senhor
Na presença de todo o Seu povo.
Coro
Salva-nos, ó Filho de Deus...
Diácono
Glória ao Pai † e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Ó Filho Único e Verbo de Deus...!
Terceira Antífona
Coro 1
1. Dai graças ao Senhor porque Ele é bom
E a Sua misericórdia é eterna.
Coro 2
Ó Cristo Deus, dando-nos, antes da tua Paixão,/ uma garantia da ressurreição geral,/ ressuscitaste Lázaro dos mortos;/ por isso, nós também, como os filhos dos hebreus,/ levamos os símbolos da vitória, clamando:/ Ó vencedor da morte, hosana nas alturas!/ Bendito o que vem em nome do Senhor!
Coro 1
2. Diga a casa de Israel:
A Sua misericórdia é eterna.
Coro 2
Ó Cristo Deus, dando-nos, antes da tua Paixão...
Coro 1
3. Digam os que temem ao Senhor:
A Sua misericórdia é eterna.
Coro 2
Ó Cristo Deus, dando-nos, antes da tua Paixão...
Glória ao Pai...
Tropárion
Ó Cristo Deus, dando-nos, antes da tua Paixão,/ uma garantia da ressurreição geral,/ ressuscitaste Lázaro dos mortos;/ por isso, nós também, como os filhos dos hebreus,/ levamos os símbolos da vitória, clamando:/ Ó vencedor da morte, hosana nas alturas!/ Bendito o que vem em nome do Senhor!
2º Tropárion
Fomos sepultados contigo pelo batismo, ó Cristo Deus,/ e pela tua Ressurreição, merecemos a vida eterna./Por isso, a Ti cantamos em alta voz: hosana nas alturas!/ Bendito o que vem em nome do Senhor!
Hipacoï
Os Judeus, louvaram primeiro a Cristo Deus com ramos/ e, em seguida, prenderam-no com varapaus./ Quanto a nós, honremo-lo sempre como Benfeitor/ e com fé inabalável, clamemos:/ bendito És Tu que vieste para fazer Adão reviver!
Kondakion Modo 6
Ó Cristo Deus, que nos céus estás sentado num trono,
e na terra montado num jumentinho,
recebeste com agrado o canto dos Anjos
e o louvor das crianças que te aclamavam:
bendito és, Tu que vieste para fazer Adão reviver!
pai, / Roga ao Cristo Deus que nos conceda Sua grande misericórdia!
Hino à Virgem
Ó Admirável Protetora dos Cristãos...
Canto dee Entrada (Issodikon)
O Senhor é Deus e a nós se revelou,
bendito o que vem em nome do senhor! (3x)
Salva-nos, ó Filho de Deus,
que estás sentado sobre um jumentinho,
a nós que a Ti cantamos: aleluia!
Prokímenon
O Senhor é Deus e a nós se revelou.
Bendito o que vem em nome do senhor!
Louvai o Senhor, porque ele é bom,
porque a sua misericórdia é eterna.
EPÍSTOLA (FILIPENSES 4:4-9)
4 Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai- vos. 5 Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor. 6 Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças; 7 e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. 8 Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. 9 O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus de paz será convosco.
Aleluia
Aleluia, aleluia, aleluia!
Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque ele operou maravilhas!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Todos as extremidade da terra
viram a salvação de nosso Deus.
Aleluia, aleluia, aleluia!
EVANGELHO (JOÃO 12:1-18)
1 Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. 2 Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3 Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo. 4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse: 5 Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? 6 Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava. 7 Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou; 8 porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes. 9 E grande número dos judeus chegou a saber que ele estava ali: e afluíram, não só por causa de Jesus mas também para verem a Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. 10 Mas os principais sacerdotes deliberaram matar também a Lázaro; 11 porque muitos, por causa dele, deixavam os judeus e criam em Jesus. 12 No dia seguinte, as grandes multidões que tinham vindo à festa, ouvindo dizer que Jesus vinha a Jerusalém, 13 tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o rei de Israel! 14 E achou Jesus um jumentinho e montou nele, conforme está escrito: 15 Não temas, ó filha de Sião; eis que vem teu Rei, montado sobre o filho de uma jumenta. 16 Os seus discípulos, porém, a princípio não entenderam isto; mas quando Jesus foi glorificado, então eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a respeito dele, e de que assim lhe fizeram. 17 Dava-lhe, pois, testemunho a multidão que estava com ele quando chamara a Lázaro da sepultura e o ressuscitara dentre os mortos; 18 e foi por isso que a multidão lhe saiu ao encontro, por ter ouvido que ele fizera este sinal.
Hirmos
O Senhor é Deus e a nós se revelou!/ Celebrai a festa e alegrai-vos,/ e vinde, glorifiquemos a Cristo,/ levando palmas e ramos de oliveira/ e cantando-lhe hinos, dizendo:/ bendito o que vem em nome do Senhor, nosso Salvador!
Kinonikon
O Senhor é Deus e a nós se revelou.
Bendito o que vem em nome do Senhor.
Aleluia, aleluia, aleluia!
* No lugar de "Vimos a Luz Verdadeira...", entoa-se o Tropário da Festa dos Ramos.
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