São Marão optou por morar isoladamente, longe da cidade de Cirrus, na Síria, onde, em espírito de mortificação, vivia quase sempre sob as intempéries. Tinha apenas uma pequena cabana coberta com peles de cabra para abrigar-se, em caso de necessidade. Certa vez, entrou nas ruínas de um templo pagão e o dedicou ao culto do verdadeiro Deus transformando-o em casa de oração. São João Crisóstomo o estimava muito e, freqüentemente, lhe escrevia, desde a época em que estava desterrado em Cucusus. Recomendava-se às suas orações e lhe pedia que sempre enviasse noticias com a maior freqüência possível. São Marão tinha tido por mestre São Zebino que era um homem de oração assídua. Dizia-se dele que passava dias e noites inteiras em oração, sem experimentar cansaço. Geralmente rezava de pé, mesmo quando já era ancião, apoiando-se em um báculo. Aos que por ele procuravam, era breve, tanto quanto possível, para ter mais tempo de conversar com Deus.
Comemoração de Santo Auxêncio
Santo Auxêncio passou a maior parte de sua longa vida como ermitão em Bithynia. Em sua juventude foi um dos guardas de Teodósio, o Jovem. Seus deveres militares, que cumpria com fidelidade, não o impedia de cumprir com suas obrigações religiosas. Todo o seu tempo livre passava na solidão e em oração. Visitava com freqüência os santos monges ermitãos que moravam próximos e lhes pedia pousada a fim de poder, com eles passar uma noite, fazendo exercícios penitenciais e cantando louvores a Deus. Tempo depois, levado por um forte desejo de perfeição e temor da vanglória, adotou a vida eremítica. Fundou seu eremitério na montanha de Oxia, distante 12 quilômetros de Constantinopla. Nesse lugar foi muito procurado e tinha forte influência por sua fama de santidade.
No Quarto Concilio Ecumênico realizado em Calcedônia, Concílio este que condenou a heresia de Eutíquio, Auxêncio foi chamado pelo imperador Marciano para depor, justificando de acusações que sobre ele caíram. Novamente em liberdade, não retornou a Oxia, indo para uma cela mais próxima de Calcedônia, em Skopas. Ali permaneceu, entregando-se a uma vida mais austera, instruindo os seus seguidores até sua morte que aconteceu, provavelmente, em 14 de fevereiro de 473. O historiador Sozemeno escreveu sobre sua vida, sua fé e sua intimidade com fervorosos ascetas.
Fonte: Ecclesia
Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
HORA SEXTA
Isaías 1:1-20
VÉSPERAS
Gênesis 1:1-13
1 No princípio, Deus fez o céu e a terra. 2 A terra, porém, não era visível e estava vazia; havia trevas sobre o abismo, e o Espírito de Deus era movido sobre as águas. 3 Disse Deus: "Haja luz". E houve luz. 4 Deus viu que a luz era boa, e então Deus fez separação entre a luz e as trevas. 5 Chamou Deus a luz, Dia, e as trevas chamou Noite. Houve tarde e houve manhã. Um dia. 6 Disse Deus: "Haja firmamento no meio das águas, e que sirva como uma divisão entre águas e águas". E assim foi. 7 Deus fez o firmamento, e fez separação entre as águas que estavam debaixo do firmamento e as águas que estavam acima do firmamento. 8 Chamou Deus ao firmamento, Céus; e viu Deus que era bom. Houve tarde e houve manhã. O segundo dia. 9 Disse Deus: "A água que está debaixo do céu seja recolhida em um só ajuntamento, e a terra seca apareça". E assim foi. A água que estava sob o céu foi recolhida em seus ajuntamentos e a terra seca apareceu. 10 Chamou Deus ao elemento seco, Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e Deus viu que isso era bom. 11 Disse Deus: "Produza a terra a erva de grama carregando semente de acordo com seu tipo e de acordo com a sua semelhança, e árvores de fruto produzindo fruto cuja semente está nele conforme a sua espécie sobre a terra". E assim foi. 12 A terra produziu a erva de grama produzindo sementes de acordo com seu gênero e de acordo com a sua semelhança, e as árvores de fruto produzindo fruto cuja semente está nele conforme o seu gênero sobre a terra; e Deus viu que isso era bom. 13 Houve tarde e houve manhã. O terceiro dia.
Provérbios 1:1-20
1 Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel; 2 Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência. 3 Para se receber a instrução que dá perspicácia, a justiça, o juízo e a retidão; 4 Para dar aos simples, sagacidade, e aos jovens conhecimento e capacidade de pensar; 5 O sábio ouvirá e crescerá em discernimento, e o entendido adquirirá destra orientação; 6 Para entender os provérbios e sua interpretação; as palavras dos sábios e seus enigmas. 7 O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os estúpidos desprezam a sabedoria e a instrução disciplinadora. 8 Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes a lei de tua mãe, 9 Porque serão como diadema gracioso em tua cabeça, e colares ao teu pescoço. 10 Filho meu, se os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites. 11 Se disserem: Vem conosco a tocaias de sangue; embosquemos o inocente sem motivo; 12 Traguemo-los vivos, como a sepultura; e inteiros, como os que descem à cova; 13 Acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos as nossas casas de despojos; 14 Lança a tua sorte conosco; teremos todos uma só bolsa! 15 Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; desvia o teu pé das suas veredas; 16 Porque os seus pés correm para o mal, e se apressam a derramar sangue. 17 Na verdade é inútil estender-se a rede ante os olhos de qualquer ave. 18 No entanto estes armam ciladas contra o seu próprio sangue; e espreitam suas próprias vidas. 19 São assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça: ela põe a perder a alma dos que a possuem. 20 A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta a sua voz.
† † †
Quaresma, Viagem Para A Páscoa
Pe. Alexander Schmemann.
Quando
um homem parte em viagem, deve saber onde vai. Da mesma forma com a Quaresma. Antes
de tudo, a Quaresma é uma viagem espiritual e seu destino é a Páscoa, a “festa
das festas”. É a
preparação, a “realização da páscoa figurativa, verdadeira revelação”.
Devemos então começar a compreender esta relação entre Quaresma e Páscoa, pois
ela revela algo de muito essencial, crucial, no tocante a nossa fé e a nossa
vida cristã.
É
necessário explicar que a páscoa é muito mais do que a festa entre as festas,
muito mais do que a comemoração anual de um acontecimento passado. Quem
quer que tenha participado, ainda que uma única vez, desta noite “mais
luminosa do que o dia”, quem quer que tenha provado esta alegria única
sabe-o bem. Mas de onde vem esta alegria? E por
que podemos cantar, como fazemos na liturgia pascal:
“
Hoje, todas as coisas estão repletas de luz, o céu, a terra e os infernos”?
Em
que sentido celebramos, como pretendemos celebrar, “a morte da morte, a
destruição do inferno, o inicio de uma vida nova e eterna”? A
todas estas perguntas, a resposta é a seguinte: A vida nova que, há mais de
2000 anos, jorrou do túmulo, foi dada a nós, a todos nós que cremos em Cristo.
E ela nos foi dada no dia do nosso batismo, onde, como diz São Paulo:
“Fomos
sepultados com Cristo na morte; para que como Cristo ressuscitou dos mortos,
assim andemos nós também em novidade de vida” (Romanos 6,4)
Assim,
celebramos na páscoa a ressurreição de Cristo como algo que aconteceu e que
ainda nos acontece. Pois cada um de nós recebeu o dom desta vida nova a
faculdade de acolhe-la e vive-la. É um
dom que muda radicalmente nossa atitude em relação a todas as coisas deste
mundo, inclusive a morte, e que nos dá o poder de afirmar alegremente: “ a
morte não existe mais!”
Certamente
a morte ainda está por aí, nós ainda a enfrentamos e um dia ela virá nos
buscar. Porem
aí reside toda a nossa fé: Por sua própria morte, Cristo mudou a natureza da
morte, fez dela uma passagem, uma páscoa, uma “pasha” para o Reino de
Deus, transformando a tragédia das tragédias em vitória suprema.
“Esmagando
a morte pela morte, ele nos tornou participantes de sua ressurreição”
E é
por isso que no fim das matinas de Páscoa dizemos:
“ Cristo
ressuscitou, e eis a vida que governa! Cristo ressuscitou, e nenhum morto
permaneceu no tumulo.”
Esta
é a fé da Igreja, afirmada e tornada evidente por seus inumeráveis santos.
E,
entretanto, será que não provamos diariamente que esta fé é raramente a nossa,
sempre perdemos e traímos a vida nova que recebemos como dom e que na verdade,
vivemos como se Cristo não houvesse ressuscitado dos mortos, como se este
acontecimento único não tivesse o menor significado para nós? Tudo
isso por causa de nossa fraqueza, por causa de nossa impossibilidade de viver
constantemente na fé, de esperança e caridade, no nível a que Cristo nos elevou
quando disse:
“Buscai
antes de tudo o Reino de Deus e a sua Justiça”.
Nós
simplesmente esquecemos, de tanto que estamos ocupados, imersos em nossas
ocupações cotidianas e, porque esquecemos, sucumbimos. E por
esse esquecimento, esta queda e este pecado, nossa vida volta a ser “velha”,
mesquinha, escurecida e finalmente desprovida de sentido; uma viagem
desprovida de sentido em direção a um fim sem significado. Fazemos
tudo para esquecer a própria morte, e eis que de repente, no meio de nossa vida
tão agradável, ela está lá diante de nós, horrível, inevitável, absurda. Até
podemos, de vez em quando, reconhecer e confessar nossos diversos pecados, mas
sem por isso relacionar nossa vida àquela vida nova de Cristo nos revela e nos
deu. Na
verdade, vivemos como se Ele jamais tivesse vindo. Este é o único verdadeiro
pecado, o pecado de todos os pecados, a tristeza insondável e a tragédia de
nosso Cristianismo, que só o é de nome. Se
tomamos consciência disto, então podemos compreender o que a realidade da
Páscoa recobre e porque ela necessita e pressupõe a Quaresma.
Pois
então podemos compreender que as tradições litúrgicas da Igreja, todos seus
ciclos e ofícios, são feitos antes de tudo para nos ajudar a recobrar a visão e
o gosto desta vida nova, que perdemos e traímos tão facilmente, e assim
poderemos nos arrepender e voltar a esta vida. Como
poderíamos amar e desejar algo que não conhecêssemos? Como colocar acima de
tudo, em nossa vida, algo que não vimos e não provamos? Em
suma, como poderíamos procurar um Reino de que não tivéssemos a menor ideia? É
a liturgia da Igreja que, desde o começo e ainda hoje, nos introduz, nos faz
comungar a vida nova do Reino. É
através de sua vida litúrgica que a Igreja nos revela algo daquilo que “o
ouvido não ouviu, o olho não viu e que não subiu ao coração do homem, mas que
Deus preparou para aqueles que O amam”. E no
centro desta vida litúrgica, como seu coração e seu ápice, como o sol cujos
raios penetram por toda a parte, encontra-se a Páscoa. É a
porta aberta a cada ano ao esplendor do Reino de Cristo, a antecipação do júbilo
eterno que nos espera, a glória da vitória que – desde já – ainda que
invisivelmente, preenche toda oração: “a morte não mais existe!”
Toda
a liturgia da Igreja é ordenada ao redor da Páscoa, e, assim, o ano litúrgico,
isto é, a sucessão de estações e festas, torna-se uma viagem, uma peregrinação
para a Páscoa, para o “Fim” que é ao mesmo tempo o “Começo”: fim do que é
velho, começo da vida nova, uma “passagem” constante “deste mundo”
para o Reino já revelado em Cristo.
E,
entretanto, a vida “velha”, a vida do pecado e da mesquinharia, não é
facilmente vencida e transformada. O
evangelho espera e exige do homem um esforço de que ele é, em seu estado atual,
virtualmente incapaz. Somos colocados perante um objetivo, um modelo de vida
que estão tão além de nossas possibilidades! Os próprios apóstolos, quando
ouviram os ensinamentos do seu Senhor, perguntaram- lhe, desesperados: “como
isso é possível?”
Não é
fácil realmente, rejeitar um ideal mesquinho de vida, perto de preocupações
cotidianas, de busca de bens materiais, de segurança e prazer, por um ideal de
vida cujo objetivo exclui tudo que está aquém da perfeição:
“Sê
perfeito como vosso Pai Celeste é perfeito.”
Este
mundo diz por todos os seus meios de comunicação:
“Sejam
felizes, não se preocupem, tomem a via larga”.
Ora,
Cristo diz no evangelho:
“Escolhei
a via estreita, combatei e sofrei, pois é o caminho da única felicidade
verdadeira”.
Sem o
socorro da igreja, como podemos fazer esta escolha terrível, como podemos nos
arrepender e retornar à gloriosa promessa que nos é dada a cada ano na Páscoa? É
aqui que intervém a Quaresma. É o
socorro que nos oferece a Igreja, escola de arrependimento que, somente ela,
nos tornará possível acolher a Páscoa, não como uma simples permissão de comer,
beber e se divertir, mas verdadeiramente como um fim daquilo que é “velho”
em nós, como nossa entrada no “novo”.
Na
Igreja primitiva, o principal objetivo da Quaresma era preparar ao batismo os
catecúmenos, isto é, os cristãos recém-convertidos, em um tempo em que o
batismo era ministrado durante a liturgia pascal. Entretanto,
mesmo quando a Igreja não batizava mais adultos e a instituição do catecumenato
tinha desaparecido, o sentido da quaresma permaneceu o mesmo. Pois, apesar de
sermos batizados, o que perdemos e traímos constantemente é precisamente o que
recebemos no batismo.
É por
isso que a Páscoa é nosso retorno anual ao nosso próprio batismo, enquanto que
a Quaresma é a preparação a este retorno, o esforço lento e resistente para,
finalmente, realizar a nossa própria “passagem” ou “páscoa” na
nova Vida em Cristo.
E se,
como veremos, a liturgia da Quaresma conserva ainda hoje o seu caráter
catequético e batismal, não é como um resto arqueológico do passado, mas como
algo de valioso e essencial para nós. Pois, a cada ano, a Quaresma e a Páscoa
nos fazem redescobrir uma vez mais e recobrar aquilo que a passagem batismal
através da morte e da ressurreição havia operado em nós.
Uma
viagem. Uma peregrinação.
E, ao
empreendê-la, já desde o primeiro passo na “radiosa tristeza” da
Quaresma, percebemos ao longe, bem longe, o destino: a alegria da Páscoa, a
entrada na glória do Reino. E esta visão, o gosto antecipado da Páscoa, que
torna radiosa a tristeza da Quaresma e faz de nosso esforço na Quaresma “primavera
espiritual”.
A noite
pode ser longa e sombria; mas, ao longo do caminho, uma aurora misteriosa e
luminosa desponta no horizonte.
“Não
desaponte nossa espera, ó Amigo do Homem!”
† † †
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