terça-feira, 24 de janeiro de 2023

33ª Terça-feira Depois de Pentecoste

PÓS-FESTA DA TEOFANIA
24 de Janeiro de 2023 (CC) 11 de Janeiro (CE)
S. Teodósio Cenobiarca († c. 529); S. Mikhail de Novgorod; 
S. Mikhail de Klops, o Milagroso;
Ss. Monjas Ethenia e Fidelmia; Ss. Mártires Nicolau, Teodoro e Vladimir 
Tom 7



São Teodósio nasceu em Gariso, na Capadócia, no ano 423. Já havia sido ordenado leitor quando, a exemplo do Patriarca Abraão, deixou sua pátria e família, iniciando uma viagem à Jerusalém. Na viagem, desviou um pouco a sua rota e visitou São Simeão, o Estilita, de quem ouviu muitas predições sobre sua vida futura e obteve dele alguns conselhos. Enquanto visitava os lugares santos, em Jerusalém, São Teodósio, refletia sobre a melhor forma de consagrar-se a Deus. Escolheu então a vida monástica, pois achava que viver sem um diretor espiritual era muito perigoso. Assim pôs-se sob a direção espiritual de Longino, um santo homem de Deus que nutriu um grande afeto por seu discípulo. Em Belém, uma senhora havia construído uma igreja e Longino encarregou Teodósio de seu cuidado pastoral. Teodósio não quis aceitar, mas por necessidade, Longino lhe impôs esta obrigação em nome da obediência. Teodósio não ficou muito tempo no cargo, retirando-se logo para uma cela em uma gruta no cume de uma montanha vizinha.

Logo começaram a reunir-se numerosos companheiros que queriam servir a Deus sob sua direção. A principio, Teodósio só admitiu sete ou oito, mas em pouco tempo teve que aumentar este número chegando a não recusar nenhum vocacionado que manifestasse disposições sinceras. A primeira lição que deu aos seus companheiros foi mostrar-lhes um grande fosso que havia escavado nos arredores, e que haveria de servir como sepultura comum, para recordar-lhes que deveriam aprender a morrer a si mesmos constantemente.

Por atrair inúmeros aspirantes a vida religiosa, por causa da santidade de Teodósio, o monastério tornou-se pequeno. Teodósio construiu outro monastério maior localizado em um sitio chamado Catismo, próximo de Belém. Construiu também três hospitais: um para os doentes, outro para os anciãos e outro para os deficientes mentais. Nestes lugares as pessoas encontravam socorro material e espiritual. Segundo narrativas, em alguns dias Teodósio recebia em seus albergues mais de 100 pessoas. Quando a alimentação era insuficiente para tantas pessoas, São Teodósio os fazia multiplicar por suas orações.

O monastério era uma espécie de cidade de santos em meio ao deserto. A ordem, o silêncio e a caridade reinavam nele. Quatro igrejas eram assistidas pelo monastério. Três eram dedicadas a cada um dos diferentes idiomas dos monges. A quarta era dedicada aos penitentes e aos que estavam em processo de cura. A comunidade estava dividida em três nacionalidades principais: aos gregos, que eram em maior número, e que vinham de todas as províncias do império; aos armênios entre os quais os árabes e os persas e, finalmente os monges de língua eslava e os originários das regiões vizinhas da Trácia.

Salustio, Patriarca de Jerusalém, nomeou São Savas, superior dos eremitas, e São Teodósio superior dos monges que viviam em comunidade em toda Palestina. Por isso São Teodósio é chamado de “o Cenobiarca”. Grande amizade unia estes dois santos e, posteriormente, os sofrimentos iria uni-los ainda mais à Igreja.

O Imperador Anastácio apoiava a heresia de Eutiques e empreendeu vários esforços para que São Teodósio também a aderisse. No ano 513, depôs Elias, Patriarca de Jerusalém; antes, já havia desterrado Flaviano II de Antioquia, pondo em seu lugar Severo. São Teodósio e Savas defenderam veementemente os direitos de Elias e de seu sucessor João. Os agentes imperiais, conhecendo a fama de santidade de ambos, procuravam persuadi-los a defender sua causa. A ponto de o imperador enviar a Teodoro uma grande soma de dinheiro, com o pretexto se ajudar as obras de caridade. No entanto, esta doação envolvia outros interesses. São Teodósio aceitou o dinheiro e o distribuiu aos pobres. Anastásio, crendo que já tinha conquistado o apoio de Teodósio, enviou um documento (Profissão de fé onde as duas naturezas de Cristo se confundiam em uma só) para ser assinado). São Teodósio lhe respondeu com uma outra carta que aplacou o imperador por um tempo. Logo em seguido renovou os editos que perseguiam os cristãos ortodoxos e despachou tropas para executá-los. Ao saber disso, São Teodósio partiu por toda a Palestina exortando aos cristãos que permanecessem fieis aos ensinamentos dos quatro concílios ecumênicos. Em Jerusalém, gritou do púlpito: “quem não considera os ensinamentos dos quatro concílios ecumênicos como os quatro Evangelhos merece a morte eterna”. Estas palavras reanimaram os cristãos aterrorizados pelos editos imperiais.

Os sermões de Teodósio produziram efeitos maravilhosos e Deus confirmava seu zelo com milagres surpreendentes. Estre estes, conta-se que uma mulher que sofria de tumores, foi rapidamente curada ao tocar nas vestes de Teodósio. O Imperador então decidiu desterrar Teodósio. O imperador Anastásio morreu pouco depois e seu sucessor tirou Teodósio do exílio.

Nos últimos anos de vida, Teodósio foi tomado por uma grave enfermidade quando pode dar provas de sua paciência e submissão absoluta à vontade de Deus. Uma pessoa que assistia seus sofrimentos lhe rogara que orasse a Deus para aliviar suas dores, mas Teodósio negava-se a fazer, dizendo que se fizesse, constituiria falta de paciência. Quando Teodósio compreendeu que seu fim estava próximo, dirigiu a seus discípulos uma ultima exortação e predisse muitas coisas que iria acontecer após sua morte. O santo cenobiarca entregou sua alma a Deus em 529, aos 105 anos. O Patriarca Pedro de Jerusalém e toda a cidade assistiram seus funerais onde pode comprovar vários milagres. Foi sepultado dentro da primeira cela que havia ocupado, chamada “gruta dos magos”, pois havia uma tradição que dizia que os Reis Magos haviam se abrigado ali, quando foram adorar o Senhor, em Belém.

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Tiago 3:1-10

Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo. Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa. Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno. Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana; Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.

Marcos 11:11-23

E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze. E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto. E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as cadeiras dos que vendiam pombas. E não consentia que alguém levasse algum vaso pelo templo. E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões. E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isto, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam, porque toda a multidão estava admirada acerca da sua doutrina. E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade. E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes. E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste, se secou. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus; Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.

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COMENTÁRIO

A leitura do Evangelho de hoje faz saltar aos nossos olhos uma faceta de Cristo pouco lembrada e até mesmo negada por muitos cristãos: a severidade e a virilidade, pois geralmente se concebem tais características como incompatíveis com a natureza do amor, principalmente quando este é compreendido única e pragmaticamente numa dimensão romântica.

O ícone denominado “Pantokrator do Sinai” (obra datada do sec. IV e preservada pelo Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai) chama muita atenção, além de sua beleza, pela estranha pintura dos olhos de Cristo, que nesta tela se apresentam desenhados de formas distintas e assimétricas. Esta disposição faz com que uma de suas faces lhe confira um semblante severo e a outra uma aparência tenra. São os olhares da justiça e da misericórdia, as quais em Cristo não são realidades divergentes, mas convergentes, conforme está escrito no Salmo 84(85): “A misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram” (Sl 84:10).

O episódio narrado pelo Evangelista São Marcos da maldição da figueira é uma figuração teológica da nação de Israel, que regada e adubada pelos Patriarcas, por Moisés e todos os Profetas foi encontrada estéril e sem fruto quando o Emanuel lhe veio visitar. Por isto João Batista clamava: “O machado está posto na raiz das árvores e toda árvore que não der fruto será cortada e lançada ao fogo”. A observação que são Marcos faz de que não havia frutos na figueira por ainda não ser o tempo de figos, representa a chegada repentina e inesperada do Reino de Deus e do Seu Juízo. A figueira, a oliveira e a videira sempre foram usadas pelos Profetas do Velho Testamento como símbolos de Israel.

O Templo transformado em camelódromo (mercado público) exemplifica a perversão religiosa existente em Israel; e a ação viril de Cristo, o juízo devastador que cairia sobre eles, não ficando “pedra sobre pedra” quando os Romanos devastaram Jerusalém, no ano 70 dc, pondo definitivamente um fim ao culto judaico, fazendo assim, cessar o sacrifício e a possibilidade de perdão, conforme a Antiga Aliança. Assim, São Paulo adverte: “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus”. E São Tiago, o irmão do Senhor, no trecho de sua Epístola que hoje lemos, se mostra cuidadoso para que os mestres cristãos não repitam os mesmos erros dos judeus, lembrando que os mestres sofrem juízo mais severo do que os demais e, que a habilidade no falar deve estar conjugada a uma disciplina pessoal capaz de subjugar as paixões que atuam na natureza humana.

Pe. Mateus (Antonio Eça)

ORAÇÃO

Guarda, Senhor, a minha alma, e livra-me; não me deixes abatido, porquanto confio em Ti. Preservem-me a inocência e a retidão, porquanto espero em Ti. Salmo 24:20,21 (25:20,21)

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