quarta-feira, 21 de outubro de 2015

21ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

21 de Outubro de 2014 (CC) / 08 de Outubro (CE)
Santa Pelágia, a penitente (II metade do séc. V)
Modo 3





Pelágia, a penitente, era uma belíssima bailarina de Antioquia, que encantava os homens com sua dança e os ornamentos luxuosos que usava e que ostentava sua riqueza e sua vida promíscua. Numa ocasião, o patriarca de Antioquia convocou o Sínodo dos Bispos ante a Basílica de São Juliano, o mártir, onde costumava a pregar o honorável bispo de Edessa, São Nono. Pelágia passou pelo pórtico naquela ocasião, cavalgando um cavalo branco, rodeada de admiradores, com os braços e ombros descobertos, como se vestiam as cortesãs daquela época, e lançando olhares provocativos. São Nono interrompeu sua pregação, enquanto os outros bispos baixaram discretamente seus olhos, e fixou seu olhar em Pelágia até que desaparecesse de sua vista. Perguntou, em seguida, aos outros bispos: «Não vos parece muito bela esta mulher?» Os bispos, sem saber o que dizer, permaneceram calados. Nono acrescentou: «A mim, me pareceu muito bela, e creio que é uma lição de Deus para nós. Esta mulher faz o impossível para manter sua beleza e aperfeiçoar-se na dança. Quanto a nós, não realizamos por nossas dioceses e por nossas almas, sequer a metade do que ela faz». Naquela mesma noite São Nono se viu, em sonho, celebrando a Liturgia, enquanto um grande e estranho pássaro, sujo e agressivo, tentava impedi-lo. Quando o Diácono despediu os catecúmenos, a criatura partiu com eles, mas pouco tempo depois retornou e São Nono conseguiu então apanhá-lo e mergulhá-lo na fonte do átrio. A ave saiu da água branca como a neve, desaparecendo entre as nuvens.

No dia seguinte, um domingo, todos os bispos que assistiram a Divina Liturgia celebrada pelo Patriarca, pediram a ele que pregasse. Pelágia, que sequer era catecúmena, sentiu-se impelida a ir à Igreja naquele dia e, ouvindo a pregação do Patriarca, sentiu suas palavras caírem fundo em seu coração. Tempos depois, escreveu uma carta a São Nono rogando-lhe que permitisse falar com ele. São Nono concordou em lhe conceder uma audiência, na condição de que isto acontecesse na presença de outros bispos. Ao aproximar-se de São Nono, Pelágia caiu de joelhos diante dele pedindo-lhe o batismo e suplicando para que se interpusesse entre ela e seus pecados para que o espírito do mal não tivesse mais domínio sobre sua alma. A pedido de Pelágia o Patriarca nomeou como sua madrinha Romana, a mais velha das diaconisas, e São Nono batizou Pelágina, conformando-a na fé e lhe dando a comunhão. Oito dias depois de seu batismo, Pelágia, que já havia renunciado a todos os seus bens em favor dos pobres, despojou-se da túnica branca dos batizados e, à noite, vestida como um homem, abandonou Antioquia e seguiu solitária, a pé, para Jerusalém onde se instalou numa gruta fechada, no Monte das Oliveiras. Logo ficou conhecida como «Pelágio, o monge sem barba». Três ou quatro anos mais tarde, Jacob, um diácono de São Nono, foi visitá-la e, durante sua permanência em Jerusalém, Pelagia entregou sua alma a Deus. Ao sepultá-la, descobrindo seu verdadeiro sexo, exclamaram: «Glória a ti Senhor, Jesus Cristo, porque tens na terra muitos tesouros escondidos».


Tropário da Ressurreição
Alegrem-se os Céus/ e exulte a terra,/ pois o Senhor mostrou a força de Seu braço,/ vencendo a morte pela morte./ Ele Que É o Primogênito dentre os mortos/ arrancou-nos das profundezas do Inferno,// e concedeu ao mundo a Sua infinita misericórdia.

Kondákion da Ressurreição
Hoje, Tu, ó Compassivo, ressuscitaste do túmulo,/ e nos conduziste para fora dos portões da morte./ Hoje Adão dança de alegria e Eva rejubila,/ e com eles os Profetas e os Patriarcas louvam sem cessar// o divino poder de Tua autoridade.

Prokímenon

Cantai louvores ao nosso Deus, cantai louvores!
Cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores! (Sl. 46:6)

Aplaudi com as mãos, todos os povos; 
cantai a Deus com voz de triunfo (Sl. 46:1)

Colossenses 1:18-23

E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.

Aleluia

Aleluia, aleluia, aleluia!
Junto de Ti, Senhor, me refugiei; 
não seja eu confundido para sempre, por Tua justiça, livra-me!

Aleluia, aleluia, aleluia!
Sê para mim um Deus protetor
e uma casa de refúgio que me abrigue. 

Aleluia, aleluia, aleluia!


Lucas 6:46-7:1

E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha. Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa. E, depois de concluir todos estes discursos perante o povo, entrou em Cafarnaum.





A Bondade e Justiça Humanas Não São Boas 
Comparadas Com a Bondade e Justiça Divinas

Quantas coisas são qualificadas de boas no Evangelho! Dá-se o qualificativo de bom à árvore, a um tesouro, a um homem, a um servo: “A árvore boa não pode dar frutos ruins. O homem bom tira do bom tesouro de seu coração coisas boas. Muito bem, servo bom e fiel”. É incontestável que em todos estes casos se trata de uma bondade real, não imaginária. No entanto, se dirigirmos o olhar para a bondade de Deus, nenhum deles poderá tornar-se digno do qualificativo de “bom”. Assim o afirma o Senhor: “Ninguém é bom a não ser Deus”.

Frente a ele, os próprios apóstolos – a quem o mérito de sua eleição lhes situa em muitos aspectos acima da bondade comum dos homens – são declarados maus. Na realidade, a eles se direcionam estas palavras: “Portanto, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas para vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus, dará coisas boas para quem as pede!”

Portanto, se nossa bondade se transforma em malícia ao considerar a bondade celestial, nossa justiça, comparada à justiça divina vem a ser semelhante, como diz Isaías, a um lenço imundo: “Toda a nossa justiça é como um lenço imundo”. E se apelamos para um testemunho ainda mais evidente, eis aqui o que nos dizem os preceitos de vida da Lei: Ela – se afirma – foi dada por anjos, através de um mediador. E dela também diz São Paulo: “Portanto, a Lei é santa; e o preceito é santo, justo e bom”. Porém, a palavra divina proclama que não são bons frente à perfeição evangélica: “Foi-lhes dado preceitos que não são bons, e mandamentos nos quais não encontrarão a vida”. Ouvi ainda a São Paulo, que afirma que toda a glória da Lei se eclipsa ante a luz que reflete o Novo Testamento, até ao ponto de que frente ao esplendor do Evangelho já não merece ser glorificado: O que em outra época foi glorificado, deixa de ser glorificado frente a esta insigne glória.

A Escritura segue esta trajetória e este mesmo estilo, quando, com sinal inverso, coloca na balança os pecados dos homens. Assim, em comparação com os ímpios, justifica aos que pecaram menos, dizendo: “Tu justificaste a Sodoma”. E ainda: “Qual foi o pecado de Sodoma, tua irmã?” E também: “Israel, o infiel, parece justo em comparação da pérfida Judá.”

O mesmo acontece com todas as virtudes enumeradas mais acima. São boas e preciosas em si mesmas, porém obscurecem ante a claridade da “teoria”[1]. É que, por mais que os santos se ocupem em boas obras, muitas vezes estão envoltas em cuidados terrenos que diminuem e retardam da contemplação daquele sublime bem.


São João Cassiano (séc. V)


Nenhum comentário:

Postar um comentário