quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

28ª Quarta-feira Depois de Pentecostes

17 de Dezembro de 2014 (CC) 04 de Dezembro (CE)
São João Damasceno, mon. († 749);
Santas Megalomártires Bárbara e Juliana;
Santo Ícone da Mãe de Deus de Três Mãos
Sem Jejum (Festa da Metrópole)



Depois que a grande cidade de Damasco, metrópole da Síria caiu sob os muçulmanos no ano 635, os cristãos foram submetidos a muitas desvantagens em ralação aos demais cidadãos, obrigados a pagar tributos aos seus dominadores árabes. Na época do Califa Abdul-Malek (685-705), todos os assuntos relacionados aos cristãos era de responsabilidade de Sérgio Mansur, homem de confiança do Califa, e que vinha de uma das importantes famílias cristãs da cidade. Por volta do ano 675, nasceu um homem temente a Deus e de muita sinceridade, nosso Santo Pai João, «a Arpa do Espírito Santo». Desde sua infância foi educado num ambiente onde predominavam as virtudes da caridade, do amor ao próximo, do socorro aos mais necessitados, sobretudo na pessoa de seu pai que investiu sua riqueza no resgate e libertação dos prisioneiros cristãos. João cresceu em idade e sabedoria, ao lado de seu irmão Cosme (cf. 14 oct) que, tendo perdido seus pais, foi recebido em adoção por Sérgio. A educação dos meninos foi então confiada ao monge Cosme, um erudito italiano resgatado dos árabes por Sérgio. Cosme os instruiu na filosofia em todas as ciências de seu tempo. Viva inteligência e modéstia nas atitudes lhes propiciou um rápido progresso nos estudos, especialmente nas artes, poesia e música. Assim, ao final de alguns anos, o mestre reconheceu que já não mais o que ensinar aos seus alunos, obtendo assim a permissão de Sérgio para retirar-se à Lavra de São Savas, onde desejava viver o resto de seus dias. 
Tendo adquirido um perfeito conhecimento do árabe e do grego, João juntou-se ao seu pai adotivo na administração, mostrando sua grande capacidade nestas tarefas, o que lhe garantiu que, após a morte de Sérgio, fosse nomeado como seu sucessor pelo Califa Walid (705-715). 
Mãe de Deus de Três Mãos
Quando Leão III, o Saurio (717-741) começou a perseguir a Igreja Cristã no Imério Romano, atacando a piedosa devoção aos santos ícones, São João lançou uma defesa vigorosa da fé através de suas muitas cartas que escreveu em Damasco aos seus correspondentes no império, estabelecendo as bases teológicas da veneração dos santos ícones com base nas Sagradas Escrituras e nos escritos dos Santos Padres. Assim fazendo, João atraiu sobre si o ódio de Leão que tentou livrar-se dele por meio de uma falsa carta não João, aparentemente, sugeria ao imperador que tomasse Damasco. Tal carta foi apresentada ao Califa que, furioso por seu conteúdo, ordenou a seu conselheiro que João tivesse sua mão direita decepada. Na tarde deste mesmo dia João depositou sua mão decepada diante do ícone da Mãe de Deus e, em lágrimas, por várias horas suplicou à soberana do mundo que pudesse ter de volta a sua mão. Caindo em ligeiro sono, viu que o ícone ganhava vida, e que a Virgem o consolava. Ao despertar, ficou perplexo e maravilhado ao ver sua mão direita restaurada. Desde aquele momento, fez votos de dedicar-se inteiramente ao louvor à Virgem Mãe de Deus e ao nosso Salvador, e à defesa da Santa Fé Ortodoxa. Renunciou sua posição na administração, distribuiu sua fortuna e partiu para Jerusalém com Cosme para tornar-se monge na Lavra São Savas. O abade colocou João sob a orientação de um ancião experimentado nas virtudes e muito austero, que lhe proibiu logo o contato com tudo o que estivesse relacionado com a filosofia, ciências, poesia, música ou leituras, dedicando-se a ele mesmo e sem queixar-se das tarefas domésticas, a fim de desenvolver as virtudes da obediência e humildade.  Certo dia, no entanto, apesar da proibição de seu pai espiritual, João ficou comovido pelas súplicas de alguém que havia perdido seu pai espiritual, compondo para seu consolo um hino que é usado até os nossos dias. Quando seu pai espiritual soube deste seu ato de desobediência, pediu a João que recolhesse com as mãos todo o lixo do monastério, o que João, sem dizer uma palavra, tratou de fazê-lo. Dias depois, a Mãe de Deus apareceu ao ancião e lhe pediu que, dali em diante, deixasse seu discípulo compor hinos e poemas que podiam mesmo superar os salmos de Davi e as Odes dos santos Profetas, dada a sua beleza e doçura. 
João, inspirado pelo Espírito Santo, como o doce som de uma harpa, deu voz, com perfeita harmonia, a um grande número de hinos que expressam a mais profunda percepção teológica do Pai da Igreja: escreveu o cânon que é cantado na Páscoa e compôs a maior parte de “Octoechos” (Oito tons) da Ressurreição. É também de sua autoria os maravilhosos cânones e as sublimes homilias de muitas das Festas do Senhor, da Mãe de Deus e dos Santos. 
Além de seus dons poéticos, Deus também lhe brindou com a graça da expressão teológica. Sem acrescentar nada aos dogmas e à doutrina formulada pelos primeiros pais, como: Gregório, o Teólogo, Basílio, o Grande, João Crisóstomo, Gregório de Nissa, Máximo, o Confessor, São João Damasceno, num trabalho de três parte intitulado «A Fonte do Conhecimento», parte da essência da fé cristã com impressionante concisão e clareza de expressão, de tal modo que, todo o trabalho pode ser considerado como selo e glória máxima da grande época patrística. A terceira seção, «Sobre a Fé Ortodoxa», é um excepcional acontecimento na tradição cristã e, para os cristãos ortodoxos, é a fonte mais fidedigna em relação a tudo o que diz respeito aos dogmas da fé. João revela os erros das heresias que desviam, para a esquerda e para a direita, a sã doutrina do caminho que conduz ao céu, especialmente em suas contribuições na luta iconoclasta. Em três extensos tratados, compostos entre 726 e 730, indicou claramente as profundas bases teológicas e a necessidade de veneração dos santos ícones e relíquias, ou seja, uma autêntica proclamação da realidade da encarnação do Filho de Deus e da deificação de nossa natureza na pessoa dos Santos. Tendo adiquirido uma verdadeira sabedoria através da humildade e austeridade nos exercícios ascéticos, este filósofo do Espírito Santo adormeceu sua alma na paz do Senhor no dia 04 de dezembro de 749 (ou 753). A caverna, no monastério de São Savas,  onde viveu algum tempo como anacoreta, é venerada até os dias atuais.





LITURGIA

2 Timóteo 4:9-22 

Procura vir ter comigo depressa, porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém. Saúda a Prisca e a Áqüila, e à casa de Onesíforo. Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto. Procura vir antes do inverno. Ežubulo, e Prudente, e Lino, e Cláudia, e todos os irmãos te saúdam. O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito. A graça seja convosco. Amém.

Lucas 21:5-7, 10- 11, 20-24 

E, dizendo alguns a respeito do templo, que estava ornado de formosas pedras e dádivas, disse: Quanto a estas coisas que vedes, dias virão em que não se deixará pedra sobre pedra, que não seja derrubada. E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando serão, pois, estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para acontecer? Então lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino; e haverá em vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu. Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e os que nos campos não entrem nela. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.



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REFLEXÃO





São Gregório, o Grande, Patriarca de Roma Igreja (séc. VI)


Nosso Senhor e Redentor anuncia as calamidades que precederão ao fim do mundo, para que, quando cheguem, nos perturbem menos, pelo próprio fato de que já antecipadamente nos são conhecidos, pois os golpes que se observam vir ferem menos, e nos tornam mais toleráveis às calamidades do mundo quando estamos protegidos contra eles com o escudo da previsão...

Mas, como ouvindo estas coisas tão terríveis podiam perturbar-se os corações fracos, por isso também se agrega o consolo, acrescentando em seguida: Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa, porque eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. Como se claramente dissesse aos seus membros fracos: “Não vos espanteis, não temais; vocês vão para a luta, mas sou eu que combato; vocês proferem palavras, mas sou eu que falo”.

Prossegue: Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. Nós sofremos menos pelos males causados por estranhos, porém nos são mais cruéis os tormentos que sofremos da parte daqueles em cujo amor confiávamos; porque, além do tormento do corpo, sofremos o amor perdido; eis por que de Judas, seu traidor, diz o Senhor pelo salmista: Na verdade que, se o ultraje viesse de um inimigo meu, teria sofrido com paciência; e se a agressão partisse daqueles que me odeiam, poderia ter-me salvo deles; mas tu, meu companheiro, meu guia e meu amigo; com quem me entretinha em doces colóquios, que andávamos juntos na casa de Deus. E novamente: Até o próprio amigo em quem eu confiava, que partilhava do meu pão, levantou contra mim o calcanhar. Como se de seu traidor dissesse claramente: “sua traição me é tanto mais dolorosa quanto mais íntimo me parecia ser aquele de quem a sofri”.

Portanto, todos os escolhidos, pelo próprio fato de serem membros da soberana cabeça, devem imitar-lhe também em sua paixão, de forma que sofrem ter por inimigos em sua morte aqueles em quem confiavam, e se acrescente neles a recompensa de seu padecimento tanto quanto sua virtude ganha com a perda do amor alheio.

Mas como são coisas duras estas que se predizem da aflição da morte, em seguida se acrescenta o consolo da alegria da ressurreição, dizendo: Nem um cabelo de vossa cabeça se perderá. Sabemos, irmãos, que, quando se corta a carne, dói, e que, quando se corta o cabelo, não dói. Por conseguinte, quando diz aos seus mártires: Nem um cabelo de vossa cabeça se perderá, é como dizer-lhes claramente: “Por que temeis que se perca aquilo que, cortado, dói, quando não se perderá o que, cortado, não dói?




São Cirilo de Jerusalém (séc. IV)


Virá, portanto, dos céus, nosso Senhor Jesus Cristo. Certamente virá para o fim do mundo, no último dia, com glória. Então se realizará a consumação deste mundo, e este mundo, que foi criado ao princípio, será outra vez renovado. Pois já que a corrupção, o furto, o adultério e todos os tipos de pecados se derramaram sobre a terra e algumas vezes se derrama sangue, desaparecerá este mundo presente para que esta morada não se encha de iniquidade, e para suscitar outro mais belo.

Queres ver uma demonstração disto a partir da Sagrada Escritura? Ouve ao Profeta Isaías: Os céus se enrolam como um livro, e todo o exército tombará, como cai da vinha à folha morta, como deixa à figueira o verdor emurchecido. E o Evangelho diz: O sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor, as estrelas cairão do céu. Não estejamos, pois, aflitos como se somente nós tivéssemos que morrer, pois as estrelas também morrem, ainda que talvez ressurjam novamente. O Senhor fará que os céus se dobrem, e não para fazê-los perecer, mas para fazer outros ainda mais belos.

Escuta ao Profeta Davi quando diz: Desde os tempos antigos, fundastes a terra, e os céus são obra de tua mão; eles perecem, mas tu permaneces. Mas dirá alguém: Ele declara abertamente que perecerão. Escuta como diz “perecerão”, pois o que diz na continuação esclarece: Todos eles se desgastam como roupa, como um vestido tu os modificas, e eles se modificam. De modo semelhante a como se diz que o homem perece, segundo aquilo: O justo perece, e não há quem se importe, mesmo que se esteja esperando a ressurreição.

Assim, esperamos também como que uma ressurreição dos céus. O sol se mudará em trevas e a lua em sangue. Saibam-no aqueles que se converteram dos maniqueus e não façam deuses aos astros nem tampouco pensem sacrilegamente que Cristo haverá de perder a sua luz algum dia. Escuta novamente ao Senhor que diz: O céu e a terra passarão, porém minhas palavras não passarão, pois as criaturas não são do mesmo valor nem têm o mesmo destino que as palavras do Senhor.

Passarão, portanto, as coisas visíveis e virão aquelas que se espera serão melhores do que estas, mas que ninguém busque com curiosidade qual será o momento. Pois diz: Não vos compete conhecer o tempo e o momento que o Pai fixou em seu poder. Nem te atrevas a determinar quando acontecerão estas coisas nem fiques preguiçosamente adormecido. Pois também diz: Estai preparados, porque no momento em que não pensardes, virá o Filho do homem.

Mas já que era conveniente que conhecêssemos os sinais da consumação, e visto que é Cristo a quem esperamos, e para que não morrêssemos decepcionados e fôssemos levados ao engano pelo anticristo da mentira, os apóstolos, impulsionados por uma moção divina, e de acordo com os sábios desígnios de Deus, aproximaram-se do verdadeiro Mestre e lhe dizem: Diz-nos quando acontecerá isso, e qual será o sinal de tua vinda e do fim do mundo.

Esperamos que venha uma segunda vez, porém, satanás se disfarça de anjo de luz. Coloca-nos, portanto, a nós, precavidos, para que não adoremos a outro em teu lugar. E ele, abrindo sua boca divina e bem-aventurada, diz: Cuidem para que ninguém vos engane. Também vós, que agora ouvis, olhai-o agora como se o estivésseis vendo com os olhos do espírito, e escutai-o como quem vos está dizendo as mesmas coisas: Cuidem que ninguém vos engane.

Estas palavras advertem a todos a que dirijais vosso espírito ao que vos será dito. Pois não se trata de uma história de coisas passadas, mas daquelas que vão acontecer, e é uma profecia daquilo que com certeza acontecerá. E não é que nós profetizemos, pois somos indignos disso, mas proclamamos nesta assembleia o que está escrito e explicamos seus sinais. Tu verás que coisas dessas já aconteceram e quais restam ainda por chegar. Deste modo podes prevenir-te.









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