Jejum da Natividade
São Barlaam foi um agricultor numa aldeia localizada nas proximidades de Antioquia. Sua fé em Cristo mexeu com seus perseguidores que o mativeram durante um longo tempo na prisão antes que fosse julgado. O juiz zombou da aparência e linguagem rústicas de Barlaam, mas não podia deixar de reconhecer e admirar suas virtudes e sua firmeza. Apesar disso, foi cruelmente açoitado, mas de sua boca não se ouviu uma única queixa. Depois, como consequência das torturas que sofreu, teve os ossos desconjuntados. Como também isso não surtisse os efeitos esperados, o prefeito o ameaçou de morte, ordenando que lhe mostrassem a espada e feixes manchados com o sangue de outros mártires. Barlaam tudo assistiu sem dizer uma palavra. O juiz, envergonhado ao se sentir vencido, ordenou que fosse levado de volta para o prisão, enquanto planejava um tormento ainda pior. Finalmente, acreditou que tivesse descoberto uma forma para fazer com que Barlaam renegasse sua fé e oferecesse sacrifícios ao ídolos. O prisioneiro foi conduzido diante de um altar onde se encontrava um braseiro. Os guardas puseram incenso na mão de Barlaam que estava presa, de tal modo que, ao menor movimento, o incenso caísse sobre as brasas como num gesto de sacrifício. Embora, na realidade, tal movimento resultasse de um ato instintivo, Barlaam, temendo escandalizar seus irmãos, manteve firme sua mão direita sobre o fogo ate que o calor a queimasse inteiramente. Logo depois, entregou seu espírito ao criador sem, no entanto, abandonar a sua fé. Isso se deu no ano 304 da era cristã.
1 Timóteo 1:8-14
Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina, conforme o evangelho da glória de Deus bem-aventurado, que me foi confiado. E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério; a mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade. E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo.
Lucas 17:26-37
E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos. Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do homem se há de manifestar. Naquele dia, quem estiver no telhado, tendo as suas alfaias em casa, não desça a tomá-las; e, da mesma sorte, o que estiver no campo não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á. Digo-vos que naquela noite estarão dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e outra será deixada. Dois estarão no campo; um será tomado, e o outro será deixado. E, respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as águias.
REFLEXÃO
A Boa Vontade Procede e Se Consuma Em Deus
O primeiro movimento de boa vontade (no homem) Deus mesmo nos concede por sua inspiração. Esta nos atrai ao caminho da salvação, já seja por impulso imediato dele, ou pelas exortações de um homem, ou pela força das circunstâncias. E também é um dom de sua mão a perfeição das virtudes. O que de nós depende é corresponder com frieza ou com entusiasmo a esse impulso da graça. Segundo isto, merecemos o prêmio ou o tormento, na medida em que tenhamos cooperado ou não, com nossa fidelidade ou infidelidade, a esse plano divino que sua condescendência e paternal providência havia concebido sobre nós...
São João Cassiano
Idêntica linha de conduta observamos na cura dos dois cegos do Evangelho: Que Jesus passe por onde eles estavam é graça de sua condescendência e providência; conceder que os cegos falem e digam: Tem piedade de nós, Senhor, Filho de Davi!, é obra de sua fé e confiança nele. E o fato de que a luz volte aos seus olhos e vejam, é dom exclusivo da misericórdia divina.
Cabe observar que mesmo depois de haver recebido algum benefício de Deus, subsiste a força da graça divina e a liberdade humana. O manifesta o episódio dos dez leprosos que foram curados pelo Senhor ao mesmo tempo. Somente um deles, por obra de seu livre-arbítrio – secundando, é claro, a moção divina –, retorna para dar graças. O Senhor elogia a iniciativa.
Porém, ao mesmo tempo reclama e pergunta pelos outros nove. Com isto manifesta que sua solicitude continua agindo a favor dos homens, apesar de sua ingratidão que esquece os seus benefícios. Ambas as coisas são igualmente um dom de sua visita: acolher e respeitar ao agradecido, e buscar repreender aos ingratos.
Ademais, convém que creiamos com uma fé incondicional que nada acontece no mundo sem a intervenção de Deus. Devemos realmente reconhecer que tudo acontece ou por sua vontade ou por sua permissão. O bem, mediante a sua vontade e o seu auxílio; o mal, por sua permissão, quando, para punir nossos crimes ou a dureza de nosso coração, nos abandona à tirania do demônio ou as vergonhosas paixões da carne.
O apóstolo nos ensina isto com evidência nestas palavras: Por isto Deus os abandonou as suas paixões ignominiosas, e também: Porque não se preocuparam de conhecer a Deus, os entregou aos sentimentos depravados, e daí o seu procedimento indigno. E o próprio Senhor diz pela boca do profeta: E o meu povo não ouviu a minha voz, e Israel não obedeceu aos meus mandatos. Por isto lhes abandonei – diz – aos pensamentos de seu coração e andaram segundo os seus próprios caprichos.
Devemos considerar que se a liberdade se destaca na desobediência do povo, não é menos evidente, por outro lado, a contínua providência que Deus tem sobre os seus. De fato, não deixa de encaminhar-lhes diariamente seus avisos, clamando, por assim dizer, a Israel. Quando afirma: Se meu povo me escutasse, mostra claramente que ele falou a Israel, o primeiro. E não somente pela lei escrita lhes fala assim Deus, mas também por contínuas e diárias admoestações, segundo aquela que diz Isaías: O dia inteiro estendi as minhas mãos ao povo que não cria em mim e me contradizia.
São João Cassiano (séc. V)
Devemos Orar Especialmente Por Todo O Corpo Da Igreja
Oferece a Deus um sacrifício de louvor, cumpre os teus votos ao altíssimo. Louvar a Deus é o mesmo que fazer votos e cumpri-los. Por isso, foi-nos dado a todos como modelo aquele samaritano que, ao ver-se curado da lepra juntamente com outros nove leprosos que obedeceram à palavra do Senhor, retornou ao encontro de Cristo, e foi o único que glorificou a Deus, agradecendo-lhe. Dele disse Jesus: Somente este estrangeiro voltou para dar glória a Deus? E lhe disse: Levanta-te e vai, tua fé te salvou.
Com isto o Senhor em seu divino ensinamento te mostrou, de um lado, a bondade de Deus Pai e, por outro, te insinuou a conveniência de orar com intensidade e assiduidade: mostrou-te a bondade do Pai, revelando-te como ele se compraz em conceder-nos os seus bens, para que aprendas com isso a pedir bens aquele que é o próprio bem; mostrou-te a conveniência de orar com intensidade e assiduidade, não para que repitas sem cessar e mecanicamente fórmulas de oração, mas para que adquiras a virtude de orar frequentemente. Porque, repetidamente, as longas orações vão acompanhadas de vanglória, e a oração seguidamente interrompida tem como companheira a negligência.
Portanto, o Senhor também te exorta a que tenhas o máximo interesse em perdoar os outros quando tu pedes o perdão de tuas próprias culpas; com isso, tua oração se torna recomendável por tuas obras. O apóstolo afirma, também, que se deve orar primeiro afastando as controvérsias e a ira para que desta forma a oração se encontre acompanhada da paz de espírito e não se misture com sentimentos alheios a oração. Ademais, também nos é ensinado que convém orar em todos os lugares: assim o afirma o Salvador, quando diz, falando da oração: Entra no teu quarto.
Porém, entende-o bem, não se trata de um quarto rodeado de paredes, no qual o teu corpo se encontra fechado, mas sim daquela morada que existe em teu próprio interior, no qual residem os teus pensamentos e moram os teus desejos. Este quarto para a oração vai contigo a todos os lugares, em toda a parte onde te encontres continua sendo um lugar secreto, cujo só e único árbitro é Deus.
Também te é dito que deves orar especialmente pelo povo de Deus, ou seja, por todo o corpo, por todos os membros de tua mãe, a Igreja, que vem a ser como um sacramento do mútuo amor. Se somente pedes por ti, tu também serás o único a suplicar por ti. E, se todos suplicam somente por si mesmos, a graça que o pecador alcançará será, sem dúvida, menor que a que obteria do conjunto dos que intercedem se estes fossem muitos. Mas, se todos pedem por todos, também se deve dizer que todos suplicam por cada um.
Concluamos, portanto, dizendo que, se rezas somente por ti, serás, como já dissemos, o único intercessor em teu favor. Mas, se tu rezas por todos, também a oração de todos te aproveitará, pois tu também formas parte do todo. Desta maneira, alcançarás uma grande recompensa, pois a oração de cada membro do povo se enriquecerá com a oração de todos os outros membros. Nisto não existe nenhuma arrogância, mas uma grande humildade e um fruto mais copioso.
Santo Ambrósio, bispo de Milão (séc. IV)
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