segunda-feira, 15 de julho de 2024

4ª Segunda-feira Depois de Pentecostes

15 de Julho de 2024 (CC) / 02 de Julho (CE)
Deposição da Preciosa Veste da Ss. Mãe de Deus em Blaquerne (458);
Fócio, Metropolita de Kiev; Juvenal Patriarca de Jerusalén; 
Juvenal, Protomártir de América e Alaska; João Maximovich de Shangai e São Francisco; Synaxis da Mãe de Deus dos Órfãos.
Tom 2



Durante os anos do reinado do Imperador bizantino Leão, o Grande, o macedônio (457-474), os irmãos Galbius e Candidus, associados do Imperador, partiram de Constantinopla para a Palestina para adorar nos lugares sagrados. Em um pequeno povoado perto de Nazaré, eles pararam para pernoitar na hospedaria de uma certa judia muito idosa. Em sua casa, a queima de velas e o incenso fumegante chamaram a atenção dos peregrinos. Para suas perguntas, sobre que tipo de coisa sagrada havia em sua casa, a mulher piedosa por um longo tempo não quis dar uma resposta, mas, depois de pedidos persistentes, ela respondeu, que com ela estava um item sagrado muito precioso - o Robe da Mãe de Deus, do qual ocorreram muitos milagres e curas. A Virgem Santíssima, antes do tempo de Sua Dormição ("Repouso"), legou uma de suas vestes a uma piedosa donzela judia da linhagem familiar desta casa, depois de instruí-la a entregá-la após a morte a outra virgem. Assim, de geração em geração, o manto da Mãe de Deus foi preservado nesta família. 
O baú de jóias, contendo o manto sagrado, foi transferido para Constantinopla. São Genádios, Patriarca de Constantinopla (†471), e o Imperador Leão, tomando notícia da descoberta sagrada, convenceram-se da incorruptibilidade do santo manto e, com tremor, confirmaram sua autenticidade. Em Blaquerne, perto do litoral, foi erguida uma nova igreja em honra da Mãe de Deus. Em 2 de junho de 458, São Genádios, em grande solenidade,  transferiu o manto sagrado para a igreja de Blaquerne, colocando-o dentro de um novo relicário. 
Posteriormente, no relicário, juntamente com o manto da Mãe de Deus, foi colocado também Seu homofórion (um sobre-manto) e parte de sua faixa de cinto. Esta circunstância também estabeleceu seu selo sobre a iconografia Ortodoxa da festa, em conjugar os dois eventos: A Colocação da Túnica e a Colocação da Faixa-Cinturão da Mãe de Deus em Blaquerne. O peregrino russo Stefan Novgorodets, visitando Tsar'grad (Constantinopla) por volta do ano de 1350, testemunha: 
"Chegamos a Blaquerne, onde jaz o manto sobre um altar-trono em um relicário impresso". 
Mais de uma vez, durante a invasão de inimigos, a Santíssima Mãe de Deus salvou a cidade, à qual Ela entregou seu santo manto. Assim aconteceu durante o tempo do cerco de Constantinopla pelos ávaros em 626, pelos persas - em 677 e pelos árabes - no ano 717 e em 860 pelos russos, que anos mais tarde, vieram a se converter, sendo batizada a nação inteira em grande evento, o qual entrou para a história com o nome de "O Batismo de Kiev", ou "Batismo da Rússia".
Leituras Comemorativas 
Hebreus 9:1-7 
Lucas 10:38-42; 11:27-28 

Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém! 

Romanos 9:18-33

Fragmento 102 - Irmãos, Deus tem misericórdia de quem quer, e a quem quer, endurece. Dir-me-ás, então: Por que se queixa Ele ainda? Pois, quem resiste à Sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso? E que direis, se Deus, querendo mostrar a Sua ira, e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como diz Ele também em Oséias: “Chamarei Meu povo ao que não era Meu povo; e amada à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; aí serão chamados filhos do Deus vivo”. Também Isaías exclama acerca de Israel: “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor executará a Sua palavra sobre a terra, consumando-a e abreviando-a”. E como antes dissera Isaías: “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, teríamos sido feitos como Sodoma, e seríamos semelhantes a Gomorra”. Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça, mas a justiça que vem da fé. Mas Israel, buscando a lei da justiça, não atingiu esta lei. Por quê? Porque não a buscavam pela fé, mas como que pelas obras; e tropeçaram na pedra de tropeço; como está escrito: “Eis que Eu ponho em Sião uma Pedra de Tropeço; e uma Rocha de Escândalo; e quem n’Ela crer não será confundido”.

Mateus 11:2-15

Fragmento 40 - Naquela ocasião, João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a dizer-Lhe: És Tu Aquele que havia de vir, ou esperamos outro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: “Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho". E, bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim. E partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas, a respeito de João:  Que fostes ver no deserto? uma cana agita-da pelo vento? Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo Eu, e muito mais do que profeta; porque é este de quem está escrito: “Eis que diante da Tua face envio o Meu anjo, que preparará diante de Ti o Teu caminho.” Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele. E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

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COMENTÁRIOS


“És Tu O Que Virá ou Devemos Esperar a Outro?”

João enviou dois dos seus discípulos para perguntar a Jesus: És tu aquele que virá ou devemos esperar a outro? Não é fácil a compreensão destas palavras simples, ou, do contrário, este texto estaria em desacordo com o que foi dito anteriormente. Na realidade, como João pôde afirmar aqui que desconhece a quem anteriormente havia reconhecido por revelação de Deus Pai? Como é que naquela ocasião conheceu o que previamente desconhecia, enquanto que agora parece desconhecer ao que já conhecia antes? Eu – disse ele – não o conhecia, porém aquele que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires baixar o Espírito Santo... E João acreditou no oráculo, reconheceu aquele que foi revelado, adorou o que foi batizado e profetizou sobre o enviado dizendo: E eu o vi e dou testemunho de que este é o escolhido de Deus. Portanto, como aceitar sequer a possibilidade de que tão grande profeta tenha se equivocado, até o ponto de não considerar como Filho de Deus àquele de quem tinha afirmado: Este é o que tira o pecado do mundo?

Por conseguinte, já que a interpretação literal é contraditória, busquemos o seu sentido espiritual. João, como já afirmamos, era tipo da lei precursora de Cristo. E é correto afirmar que a lei – acorrentada materialmente como estava nos corações dos que não têm fé, como em cárceres privados da luz eterna, e constrangida por entranhas fecundas em sofrimentos e insensatez –, era incapaz de levar a pleno cumprimento o testemunho da divina economia sem a garantia do Evangelho. Por isso João envia a Cristo dois de seus discípulos, para conseguir um complemento de sabedoria, visto que Cristo é a plenitude da lei.

Além do mais, sabendo o Senhor que ninguém consegue ter uma fé plena sem o Evangelho – sendo que a fé começa no Antigo Testamento, mas não se consuma senão no Novo –, da pergunta sobre sua própria identidade, responde não com palavras, mas com fatos: Ide, disse ele, anunciar a João o que estais vendo e ouvindo: os cegos veem e os paralíticos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres lhes é anunciado a boa notícia. Contudo, estes exemplos mencionados pelo Senhor ainda não são os definitivos: A plenificação da fé é a cruz do Senhor, sua morte e sua sepultura. Por isso, completa suas afirmações anteriores dizendo: E feliz é aquele que não se escandaliza por causa de mim!

É verdade que a cruz se apresenta como motivo de escândalo inclusive para os escolhidos, porém, também é verdade que não existe maior testemunho de uma pessoa divina, nada há mais sublime que a total oblação de um só pela salvação do mundo. Só este fato o corrobora plenamente como Senhor. Dizendo de outra forma, é assim que João o designa: Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Na verdade, esta resposta não está dirigida apenas para aqueles homens, discípulos de João: vai dirigida a todos nós, para que creiamos no Cristo baseados nos fatos.

Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e alguém que é mais do que profeta. Porém, como é que queriam ver a João no deserto, se estava preso na cadeia? O Senhor nos propõe como modelo aquele que lhe havia preparado o caminho, não só precedendo-o por seu nascimento segundo a carne e anunciando-o com a fé, mas também lhe antecipando com sua gloriosa paixão. Sim, mais que um profeta, já que é ele quem encerra a sucessão dos profetas; mais do que um profeta, já que muitos desejaram ver a quem ele profetizou, a quem ele contemplou, a quem ele batizou.

Santo Ambrósio, bispo de Milão (séc. IV)

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