terça-feira, 28 de agosto de 2012

Festa da Dormicão da Mãe de Deus


13ª Terça-feira Depois de Pentecostes
28 de Agosto 2012 (CC) / 15 de Agosto (CE)
Dormição da Toda Santa, nossa Soberana, Mãe de Deus e sempre Virgem Maria



MATINAS

Lucas 1:39-49, 56

     39 Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá,    40 entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel.    41 Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo,    42 e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!    43 E donde me provém isto, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?    44 Pois logo que me soou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim.    45 Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.    46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,    47 e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador;    48 porque atentou na condição humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada,    49 porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome.    56 E Maria ficou com ela cerca de três meses; e depois voltou para sua casa.   


LITURGIA

Filipenses 2:5-11

     5 Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus,    6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,    7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens;    8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.    9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome;    10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,    11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.   

Lucas 10:38-42; 11:27-28

     38 Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa.    39 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.    40 Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.    41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas;    42 entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.    27 Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste.    28 Mas ele respondeu: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam.


REFLEXÃO

...Eis aquela cuja festa celebramos hoje em sua santa e divina Dormição.

Acorrei, pois, e subamos a montanha mística. Ultrapassando as imagens da vida presente e da matéria, penetrando na treva divina e incompreensível, ingressando na luz de Deus, celebremos o seu infinito poder. Aquele que, de sua transcendência superessencial e imaterial, desceu ao seio virgíneo para ser concebido e se encarnar, sem deixar o seio do Pai; aquele que através da Paixão marchou voluntariamente para a morte, conquistando pela morte a imortalidade e voltando ao Pai; como não pôde ele atrair ao Pai sua Mãe segundo a carne? como não elevaria da terra ao céu aquela que fora um verdadeiro céu sobre a terra?

Hoje a escada espiritual e viva, pela qual o Altíssimo desceu, se fez visível e conversou entre os homens (Baruc 3, 38), ei-la que sobe, pelos degraus da morte, da terra ao céu.

Hoje a mesa terrestre que, sem núpcias, trouxera o pão celeste da vida e a brasa da divindade, foi levada da terra aos céus, e para a Porta oriental, para a Porta de Deus, se ergueram as portas do céu.

Hoje, da Jerusalém terrestre, a Cidade viva de Deus foi conduzida à Jerusalém do alto; aquela que concebera como seu primogênito e unigênito o Primogênito de te da criatura e o Unigênito do Pai, vem habitar na Igreja das primícias (Hb 12, 23); a arca do Senhor, viva e racional, é transportada ao repouso de seu Filho (Sl 132, 8).

As portas do paraíso se abrem para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a árvore da vida eterna, redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão. É o Cristo, causa da vida universal, quem recebe a gruta escondida, a montanha não trabalhada, donde se destacou, sem intervenção humana, a pedra que enche a terra.

Aquela que foi o leito nupcial onde se deu a divina encarnação do Verbo, veio repousar em túmulo glorioso, como em tálamo nupcial, para de lá se elevar até a câmara das núpcias celestes, onde reina em plena luz com seu Filho e seu Deus, deixando-nos também como lugar de núpcias seu túmulo sobre a terra. Lugar de núpcias, esse túmulo? Sim, e o mais esplendoroso de todos, a refulgir não por revérberos de ouro, de prata ou de gemas, porém pela divina luz, irradiação de Espírito Santo. Proporciona, não uma união conjugal aos esposes da terra, mas a vida santa às almas que se prendem pelos laços do Espírito, proporciona uma condição junto de Deus, melhor e mais suave que outra qualquer.

Seu túmulo é mais gracioso do que o Éden: neste, sem querermos repetir tudo o que lá se passou, houve a sedução do inimigo, sua mentira apresentada como conselho amigo, a fraqueza de Eva, sua credulidade, o engodo - doce e amargo - ao qual seu espírito se deixou prender e pelo qual em seguida aliciou o marido; a desobediência, a expulsão, a morte, mas - para não trazermos com tais lembranças assunto de tristeza à nossa festa - houve o túmulo que elevou ao céu o corpo de um mortal, ao contrário daquele primeiro jardim, que derrubou do céu nosso primeiro pai. Pois não foi ali que o homem, feito à imagem divina, ouviu a sentença: "tu és terra e em terra te hás de tornar"? (Gn 3, 19)

O túmulo de Maria, mais precioso que o antigo tabernáculo, encerrou o candelabro espiritual e vivo, brilhante de divina luz, a mesa portadora de vida, que recebeu, não os pães da proposição, mas o pão celeste, não o fogo material mas o fogo imaterial da divindade.

Esse túmulo é mais feliz que a arca mosaica, pois teve por partilha a verdade, já não as sombras e as figuras; acolheu a urna áurea do maná celeste, a mesa viva do Verbo encarnado por obra do Espírito Santo, dedo onipotente de Deus, Verbo subsistente; acolheu o altar dos perfumes, a brasa divina que aromatizou toda a Criação.

Fujam portanto os demônios, gemam os míseros nestorianos - como outrora os egípcios - com seu chefe, o novo faraó, o cruel flagelo, o tirano, pois foram engolidos pelo abismo da blasfêmia. Nós, porém, salvos, que atravessamos a pé enxuto o mar da impiedade, cantemos à Mãe de Deus o canto do Êxodo. Miriam, que é a Igreja, tome nas mãos o tamborim e entoe o hino de festa; saiam as jovens do Israel espiritual com tamborins e coros (Ex 15, 20), exultando de alegria! Que os reis da terra, os juízes e os príncipes, os jovens e as virgens, os velhos e as crianças, celebrem a Mãe de Deus! Que reuniões e discursos de toda espécie, raças e povos na diversidade de suas línguas, componham um cântico novo! Que o ar ressoe de flautas e trombetas espirituais, inaugurando com brilho de fogos o dia da salvação! Alegrai-vos, ó céus, e vós, nuvens, fazei chover a alegria! Saltai, novilhos do rebanho eleito, apóstolos divinos que, como montanhas altas e sublimes, aspirais às mais altas contemplações; e vós, também, ó cordeiros de Deus, povo santo, filhos da Igreja, que pelo desejo vos alçais como colinas até as altas montanhas!...

...Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus: por causa de Adão entrega seu corpo à terra, mas por causa de seu Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Santificada seja a Cidade santa, que acolhe mais essa bênção eterna! Que os anjos precedam a passagem da divina morada e preparem seu túmulo, que o fulgor do Espírito a decore! Preparai aromas para embalsamar o corpo imaculado e repleto de delicioso perfume! Desça uma onda pura a fim de haurir a bênção da fonte imaculada da bênção! Alegre-se a terra de receber o corpo e exulte o espaço pela ascensão do espírito! Soprem as brisas, suaves como o orvalho e cheias de graça! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens em sua alegria, a boca dos oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios em suas dissertações sobre essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas contemplações. Que todas as criaturas se associem nessa homenagem, que ainda assim não seria suficiente. Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Sim, todos, pelo fervor do coração, desçamos com a que desce à sepultura e ali nos coloquemos. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: "Rejubila-te, cheia de graça, o Senhor é contigo!" Permanece na alegria, tu que foste predestinada a ser Mãe de Deus. Permanece na alegria, tu que foste eleita antes dos séculos por um desígnio de Deus, germe divino da terra, habitação do fogo celeste, obra-prima do Espírito Santo, fonte de água viva, paraíso da árvore da vida, ramo vivo que portas o divino fruto, donde fluem o néctar e a ambrosia, rio de aromas do Espírito, terra produtora da divina espiga, rosa resplandecente da virgindade, donde emana o perfume da graça, lírio da veste real, ovelha que geras o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, instrumento de nossa salvação, superior às potências angélicas, serva e Mãe!...

Trechos da Homilia de São João Damasceno


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