sábado, 4 de novembro de 2023

22º Sábado Depois de Pentecostes

  
04 de Novembro de 2023 (CC) / 22 de Outubro (CE)
Milagroso Ícone da Mãe de Deus de Kazan
Santo Abércio, bispo de Hierápolis († c. 170)
Santos Sete Jovens Dormentes de Éfeso († 250)
Tom 4


O Ícone de Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego, teria sido escrito, segundo os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem de meio corpo da Virgem carregando o Menino Jesus, que se encontra quase de pé numa atitude de benção para com sua mãe, para quem Ele ergue Sua mão direita. 
O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho. Sob a cobertura está o desenho e as cores se conservam perfeitamente, o que se leva a considerá-lo não unicamente como uma peça de altíssimo valor religioso, mas também uma verdadeira obra de arte. 
A lâmina que recobre a imagem data do século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que deste modo quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem. 
No dia 1 de outubro de 1552, festa da «Proteção da Virgem» o exército do Czar Ivan, o Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino Tártaro. O Czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da Anunciação. 
No ano de 1579 Kazan foi assolada por um violento incêndio que destruiu a metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a Virgem aparece a uma menina de nove anos. Manda-lhe escavar as ruínas porque ali encontraria o Sagrado Ícone. 
No dia 8 de julho de 1579, é encontrada entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de 1612 quando é transportada para a cidade de Moscou. 
Em 1790 o Czar Pedro, o Grande, a invoca como «Protetora e Estandarte»na batalha de Poltava, contra Carlos XII da Suécia. Após a vitória russa o ícone é entronizado na Catedral de Moscou, sendo em seguida transferido para São Petersburgo e colocado num santuário a ele especialmente dedicado. 
Na noite de 29 de junho de 1904, durante uma revolta popular, desaparece junto a outros tesouros do Santuário. Em 1970, cerca de sessenta anos depois, reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Neste contexto, foi comprado pelo «Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima» organização católica de devoção à Virgem de Fátima. Prosseguindo sua caminhada foi entronizado na Capela Bizantina, em Fátima, Portugal e, em 1993, foi entregue ao Papa por esta organização. 
O bispo de Roma conservou o ícone na capela de seu apartamento, esperando a oportunidade de encontrar-se com o Patriarca Alexis II para devolvê-lo, pois este, enquanto chefe atual da Igreja Ortodoxa Russa, era considerado seu legítimo proprietário.  
Em 28 de agosto de 2004, o Papa João Paulo II, manifestando o desejo de promover as relações fraternas com a Igreja Ortodoxa Russa, devolveu ao Patriarcado de Moscou este que é um dos ícones mais venerados pelos Ortodoxos através da história. 



Comemoração de Santo Abércio 
Abércio Marcelo viveu no segundo séclo, na Frigia Salutaris, e era Bispo de Hierópolis.  Aos setenta anos de idade realizou uma peregrinação a cidade de Roma e, retornando desta viagem, passou pela Síria, Mesopotâmia, visitando lá à cidade de Nísibis. Por todos os lugares por onde passou encontrou fervorosos cristãos que haviam sido purificados pelo batismo e se nutriam do Corpo e do Sangue de Cristo.
O santo bispo, através de sua pregação e milagres, levou tantos à conversão que lhe foi dado o título de «Igual-aos-apóstolos». Sua fama chegou aos ouvidos do Imperador Marco Aurélio que mandou que viesse à Roma, pois sua filha era vítima de possessão. Santo Abércio realizou com muito êxito o exorcismo na jovem, ordenando ao demônio que lhe atormentava que transportasse a pedra de um altar do hipódromo romano até a sua cidade episcopal, onde seria utilizada na construção de sua sepultura. O nome de Abércio figura na liturgia grega desde o século X. Seu adormecimento em Cristo aconteceu quando contava 72 anos de idade. 
Santos Maximiliano, Jâmblico, Martiniano, João, Dionísio, Constantino e Antonino. 
São Maximiliano era o filho do administrador da cidade Éfeso, e os outros seis jovens eram filhos de outros ilustres cidadãos de Éfeso. Os jovens eram amigos desde a infância, e todos estavam cumprindo juntos o serviço militar. 
Quando o imperador Décio (249-251) chegou a Éfeso, ordenou que todos os cidadãos fossem ofertar sacrifícios aos deuses pagãos, e quem não o fizesse, sofreria torturas e execução. 
Através de uma denúncia, os sete jovens de Éfeso foram convocados para responder às acusações. Em pé perante o Imperador, os sete jovens confessaram a sua fé em Cristo. Imediatamente as divisas militares dos jovens lhes foram tomadas. Décio julgava que lhes expulsando do exército, os faria abandonar a fé pelo desejo de voltarem às campanhas militares. 
No entanto, os jovens fugiram da cidade e se esconderam em uma caverna no Monte Okhlonos, onde permaneceram todo o tempo em oração, preparando-se para o martírio. O mais novo deles, São Jâmblico, se vestiu com roupas de mendigo e entrou na cidade para comprar pão. 
Em uma dessas viagens para a cidade, ouviu que o Imperador estava os estava procurando para leva-los a julgamento. São Maximiliano exortou seus companheiros a sairem da caverna e bravamente aparecer no julgamento.

Contudo, ao descobrir o esconderijo dos rapazes, o Imperador deu ordens para vedar a entrada da caverna com pedras, para que os rapazes morressem de fome e de sede. 
Pela obra de dois cristãos desconhecidos (muitos viviam a ocultar a sua fé, para escapar do martírio), no desejo de preservar a memória dos santos, instalou entre as pedras um recipiente lacrado, no qual foram localizados dois feixes de estanho. Nelas estavam inscritos os nomes dos sete jovens e os detalhes do seu sofrimento e morte. Mas o Senhor submeteu os jovens a uma especie de adormecimento milagroso, que os fez dormir por quase dois séculos. 
Após esse tempo as perseguições contra os cristãos tinham cessado. No entanto, durante o reinado do Santo imperador Teodósio , o Jovem (408-450), surgiram hereges que rejeitavam a crença na ressurreição dos mortos e na Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Alguns deles diziam:  
"Como pode haver uma ressurreição dos mortos, quando não há mais nem alma, nem o corpo, uma vez que foram desintegrados?" 
Outros afirmavam:  
"Somente as almas poderiam ser restauradas, uma vez que é impossível para corpos ressurgir e viver depois de mil anos, pois até mesmo a poeira deles não existe mais". 
O Senhor, portanto, revelou o mistério da Ressurreição dos Mortos e da vida futura através dos seus sete jovens de Éfeso. Um mestre de obras que trabalhava nas proximidades do monte Okhlonos, descobriu a construção de pedra e os seus trabalhadores abriram as passagens para a caverna. O Senhor havia mantido vivo os jovens, e eles como que se despertassem de seu sono habitual, não suspeitavam que haviam adormecido por quase 200 anos! Seus corpos e roupas estavam intactos, sem qualquer sinal da passagem do tempo!

Preparando-se para aceitar a tortura, os jovens confiaram a São Jâmblico a ida novamente a cidade para comprar pão para que eles pudessem se apresentar para o martírio com boa disposição física. 
No caminho para a cidade, o jovem foi surpreendido ao ver a Santa Cruz gravada nos portões das casas. E ouviu o nome de Jesus ser pronunciado livremente pelas pessoas nas ruas, e nisso começou a duvidar de que ele estava se aproximando de sua própria cidade. 
Ao comprar o pão, o jovem deu uma moeda ao padeiro com a imagem do imperador Décio gravada nela. Naquele tempo havia uma horda de criminosos, usando dinheiro velho para enganar comerciantes. E nisso São Jâmblico foi detido como suspeito de fazer parte do grupo de falsários, e foi levado ao administrador da cidade, que naquele momento era o Bispo de Éfeso.

Ao ouvir as respostas desconcertantes do jovem (contando que era um habitante da Efeso dos tempos do imperador Décio), o Bispo percebeu que Deus estava revelando por meio daquele jovem algum tipo de mistério, e nisso partiu, junto com uma comitiva , para a tal caverna, na qual estariam os outros 6 jovens. 
Na entrada da caverna, o bispo encontrou o recipiente fechado e o abriu. Ele então leu o que estava gravado nos feixes de estanho: os nomes dos sete jovens e os detalhes da vedação da caverna sob as ordens do Imperador Décio.

Ao adentrar na caverna e ver os jovens vivos, todos da comitiva se alegraram e perceberam que o Senhor, através do despertar dos jovens, após um longo sono, estava revelando à Igreja o mistério da Ressurreição dos Mortos. Posteriormente, o próprio Imperador chegou a Éfeso e conversou com os jovens. 
Contudo, após algum tempo da revelação, os jovens santos , diante de todos, deitaram no chão e voltaram a adormecer, desta vez até a Ressurreição de todos, no Dia do Juízo. 
O Imperador desejava colocar cada um dos jovens em um caixão coberto de jóias, mas os santos apareceram ao Imperador em um sonho, pedindo que seus corpos fossem deixados na caverna. 
No século XII o peregrino russo, Higumeno Daniel, visitou a caverna na qual permaneciam adormecidos os sete jovens santos. 
Além do dia 04 de Agosto, os Sete Santos adormecidos de Éfeso são comemorados no dia 22 de Outubro. A data de Agosto se refere ao dia nos quais eles adormeceram, e Outubro se refere ao despertar dos Santos.

Os jovens santos são mencionados também no Ofício do Ano Novo Litúrgico, no dia 01 de Setembro.
Tropárion dos Sete Mártires Dormentes, Tom 4
Em seus sofrimentos, ó Senhor,
Teus mártires receberam de Ti, ó nosso Deus, coroas imperecíveis,
pois, tomados de Teu poder,
aviltaram os torturadores e esmagaram a débil ousadia dos demônios.
Por suas súplicas, salva, Senhor, as nossas almas.

Kondakion dos Sete Mártires Dormentes, Tom 4
Tendo rejeitado as coisas corruptas deste mundo
e recebendo o dom da incorruptibilidade,
pois, mesmo estando mortos, permaneceram intocados pela corrupção.
Assim, ao ressurgirem depois de muitos anos,
sepultaram toda a incredulidade dos ímpios.
Ó Fiéis, celebremos hoje os Dormentes, entoando hinos a Cristo!


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

2 Coríntios 5:1-10

Fragmento 178 - Irmãos, sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.

Lucas 7:2-10

Fragmento 29 - Naquela época, Jesus entrou em Cafarnaum. E o servo de um certo centurião, muito estimado por ele, estava doente e moribundo. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-Lhe uns anciãos dos judeus, rogando-Lhe que viesse curar o seu servo. E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-Lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto, porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-Lhe o centurião uns amigos, dizendo-Lhe: Senhor, não Te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado. E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter Contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-Se dele, e voltando-Se, disse à multidão que o seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé. E, voltando para casa os que foram enviados, acharam são o servo enfermo.

† † †

ENSINO DOS SANTOS PADRES


Portanto, o que diz o centurião? Senhor, eu não sou digno de que entres em minha morada. O escutemos, todos nós que queremos receber a Cristo, porque agora também é possível recebê-lo. O escutemos e o imitemos, e recebamos a Cristo com o mesmo fervor. Diz uma só palavra e o meu servo será curado. Observa como o centurião, assim como o leproso, tem uma opinião verdadeira a respeito de Cristo. Pois este também não diz: “roga”, nem “suplica”, mas somente ordena. E em seguida, temeroso por modéstia de que Cristo se negasse, acrescentou: Porque eu também sou um subordinado; mas tenho soldados sob meu comando e digo a este: “Vai”, e ele vai; e a outro: “vem”, e ele vem; e a meu servo: “faz isto”, e ele faz.

Perguntarás: Mas o que se conclui disto? Se é que o centurião apenas suspeitava do poder de Cristo! Porque o que se quer saber é se Cristo o proclamou e confirmou. Bela e prudentemente o perguntas! Então, o investiguemos. Logo percebemos que aqui aconteceu o mesmo que no caso do leproso. Neste, disse o leproso: Se queres. E se confirma o poder de Cristo não apenas pelo que diz o leproso, mas também pelas palavras de Cristo; visto que não só não refutou a opinião do leproso, mas também a confirmou, acrescentando algo que parecia supérfluo, quando disse: Quero, sê limpo, para dar apoio aquela opinião. No caso do centurião é igualmente necessário examinar se acaso Cristo também o confirma em sua opinião: concluiremos que aconteceu o mesmo.

Porque o centurião apenas terminou de falar e já deu testemunho do grande poder de Cristo; este não só não o repreendeu, mas ainda o aprovou e fez algo a mais. Pois o evangelista não só diz que Cristo louvou suas palavras, mas também que, dando a entender o grau elevado de seu louvor, diz que Cristo se admirou; e que estando presente todo o povo, o apresentou como exemplo para que o imitassem. Observas como todos os que testemunham o poder de Cristo o faziam com admiração?

E as multidões se espantavam de sua doutrina, porque Cristo lhes ensinava como quem tem autoridade. E ele não apenas não os repreende, mas desce com eles do monte, e com a cura do leproso confirma-os em sua opinião (a respeito dele). O leproso dizia: Se queres, podes limpar-me. E Cristo não só não o corrigiu, mas ainda procedeu como o leproso dizia, e assim o curou. Aqui também o centurião dizia: Diz uma só palavra e meu servo será curado. E Cristo com admiração lhe disse: Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.

Podes conhecer a mesma coisa em um exemplo ao contrário. Marta não disse nada semelhante a isso, mas tudo ao inverso: Eu sei que o que pedires a Deus, Deus te concederá. Mas Cristo não a louvou, apesar de ser sua conhecida e que lhe amava muito e era uma das que com empenho lhe serviam. Pelo contrário, a corrigiu, porque não se expressava corretamente. E lhe disse assim: Não te disse que se creres verás a glória de Deus? Com isto a corrigia por ainda não ter crido. E como ela dizia: “Eu sei que o que pedires a Deus, Deus te concede”, a afasta de semelhante opinião, e lhe ensina que ele não suplica a outro, mas que ele é a fonte de todo bem. E lhe diz: Eu sou a ressurreição e a vida.

Como se dissesse: “Eu não tenho que esperar de outro a força para agir, mas tudo o faço por minha virtude própria”. Este é, pois, o motivo do centurião admirar-se; e desta forma o exalta sobre tudo o povo e lhe dá a honra do reino e estimula os outros a imitá-lo. E para que vejas que Cristo disse isto para ensinar aos outros a mesma fé, observa o empenho do evangelista e como o deixa entender quando diz: Virando-se Jesus, disse aos que o seguiam: Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. De maneira que pensar maravilhosamente de Cristo é o que há de mais próprio da fé, e é o que nos traz o Reino dos Céus e todos os outros bens.

São João Crisóstomo,
Patriarca de Constantinopla

Fonte: Lecionário Patrístico

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