sábado, 30 de janeiro de 2021

34º Sábado Depois de Pentecostes

30 de Janeiro de 2021 (CC) 17 de Janeiro (CE)
S. Antão, o Grande, anacoreta († 356)
Tom 8



Santo Antão nasceu no Egito, por volta do ano 250, em uma família rica e nobre e foi educado na fé cristã. Aos 18 anos perdeu seus pais, ficando órfão com uma irmã sob sua proteção. Certo dia dirigia-se à Igreja e, enquanto caminhava, pensava nos Santos Apóstolos, em suas vidas, em como tinham deixado tudo neste mundo para seguir o Senhor e servi-Lo. Ao entrar na igreja ouviu as palavras do Evangelho: 
«Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me» (Mt 19, 21). 
Estas palavras impressionaram Antão de tal forma como se fossem faladas pelo Senhor a ele pessoalmente. Pouco tempo depois, Antão renunciou a sua parte da herança em favor dos pobres de sua cidade, mas não sabia com quem poderia deixar sua irmã. Preocupado com isto, foi novamente à igreja e lá, novamente escuta as palavras do Salvador, como se lhe falasse diretamente: 
«Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal» (Mt 6, 34). 
Antão confiou a guarda de sua irmã a algumas conhecidas virgens cristãs e deixou a cidade para viver em solidão e servir unicamente a Deus.

O afastamento de Santo Antão do mundo não aconteceu de repente, mas de forma gradual. No início ele passou a viver nos arredores da cidade, na casa de um piedoso eremita, já com idade avançada, e procurava imitá-lo em sua vida. Santo Antão também visitava outros eremitas que viviam nos arredores da cidade, e seguia seus conselhos. Já nesta época, ele era tão conhecido por seus esforços espirituais, que o chamavam de «amigo de Deus». Então ele decidiu então se mudar para um lugar mais distante. Convidou o velho ermitão para acompanhá-lo. Como o ermitão tivesse se recusado, se despediu e partiu, e se instalou em uma caverna distante. Ocasionalmente, algum amigo trazia-lhe comida. Finalmente, Santo Antão afastou-se dos lugares habitados; cruzou o Nilo e se estabeleceu nas ruínas de uma fortificação militar. Levou consigo uma reserva de pão para seis meses, passando depois a receber alimentos de seus amigos através de uma abertura no teto. 
É impossível imaginar quantas tentações suportou e quanta luta teve de enfrentar este grande eremita. Ele sofria de fome e sede, frio e calor. Mas, a tentação mais terrível que um ermitão pode enfrentar, nas palavras do próprio Antão, é a nostalgia do mundo e a desordem emocional. A tudo isso se acrescente os horrores e as tentações do demônio. Frequentemente, o Devoto Santo ficava sem forças e prestes a cair em desânimo. Então se apresentava a ele o próprio Senhor ou um anjo enviado por Ele para fortalecê-lo. 
«Onde estavas, Santo Jesus, por que não vieste mais cedo para acabar com meu sofrimento?»  
Implorava Antão ao Senhor, quando, após uma terrível provação lhe apareceu o Senhor.  
«Eu estava aqui mesmo, respondeu o Senhor, e esperava ver teu esforço espiritual». 
Certa vez, durante uma luta terrível com seus pensamentos, Antão gritou: 
«Senhor, eu quero me salvar, mas meus pensamentos não me deixam fazê-lo!» 
De repente, ele viu que alguém, que se parecia com ele, trabalhava sentado em uma cadeira. Então, se levantou e rezou, e depois seguiu trabalhando. 
«Faça o mesmo e te salvarás!» Disse o Anjo do Senhor.
Já fazia 20 anos que Antão vivia em solidão, recluso, quando alguns amigos, descobrindo onde estava, vieram ao seu encontro planejando permanecer com ele. Por um longo tempo ficaram batendo na porta, suplicando a Antão que deixasse sua reclusão voluntária. Finalmente, quando pensavam arrombar a porta, ela se abriu e saiu Antão. Eles ficaram surpresos de não encontrar nele qualquer vestígio de fadiga, embora tivesse se submetido a duras provas. A paz celestial reinava em sua alma e refletia em seu rosto. Tranquilo, moderado e muito amável com todos, este ancião se tornou logo o pai e mestre de muitos. O deserto recebeu vida. Por todos os lados da montanha apareciam os refúgios dos monges. Muita gente cantava, estudava, fazia jejum, rezava, trabalhava e ajudava aos pobres. Santo Antão não impôs aos seus alunos as regras especiais para a vida monástica. Ele estava preocupado apenas em fortalecer neles um devoto estado de ânimo, e lhes inspirava a fidelidade à vontade de Deus, à oração, à renúncia a todas as coisas terrenas e o trabalho incessante. Mas a vida no deserto entre as pessoas, pesava demais para Santo Antão, e ele começou a procurar um novo isolamento. 
 «Para onde queres fugir?» Ouviu de uma voz do céu, quando, na costa do rio Nilo, ele estava esperando o barco para se afastar para longe do povo.
«Alta Tebaida», disse Antão. Mas a mesma voz respondeu:
«Então, estás planejando ir para o alto da Tebaida ou para baixo, na Bucolia; pois não encontrarás tranquilidade em nenhum desses lugares. Vá para o interior do deserto – assim se chamava o deserto localizado perto do Mar Vermelho. Então Antão se dirigiu para lá, seguindo uma caravana.
Depois de caminhar por três dias, encontrou uma alta montanha desabitada, com uma fonte e algumas palmeiras no vale. Ali se instalou, começando a cultivar uma pequena área, de modo que ninguém precisasse mais lhe trazer pão. Ocasionalmente, visitava os eremitas. Um camelo lhe levava pão e água para manter suas forças durante essas difíceis viagens pelo deserto. No entanto, os admiradores de Santo Antão, também descobriram este seu último refúgio. Começou então a chegar muita gente que procurava por suas orações e conselhos. Traziam-lhe seus enfermos, e ele os curava com suas orações.
Já havia se passado quase 70 anos desde que Santo Antão começou a viver no deserto, quando, involuntariamente, um pensamento arrogante começou a confundi-lo. Pensava que era o mais antigo eremita que vivia no deserto. Ele pediu a Deus para que afastasse esse pensamento e teve uma revelação de que havia um ermitão que havia se instalado no deserto antes dele e que ainda estava servindo a Deus. Na manhã seguinte, levantou-se Antão muito cedo e foi em busca deste eremita desconhecido. Caminhou durante todo o dia, sem encontrar qualquer pessoa, com exceção de alguns animais que viviam no deserto. Diante dele se estendia a grandeza infinita do deserto, mas ele não perdia a esperança. Na manhã seguinte, bem cedo, prosseguiu seu caminho. De repente, viu um lobo correndo em direção a um córrego. Santo Antão se aproximou do riacho e viu uma caverna ao lado dele. Enquanto se aproximava, a porta da caverna se fechou. Durante meio dia Santo Antão passou diante daquela porta suplicando ao ancião que mostrasse seu rosto. Finalmente, a porta se abriu, saindo por ela um velho grisalho. Este homem era São Paulo de Tebas. Ele vivia no deserto há cerca de 90 anos. Depois de uma saudação fraterna, Paulo lhe perguntou como estava a humanidade. Quem estava governando? Se ainda existiam idólatras? O fim da perseguição e o triunfo do cristianismo no Império Romano foi uma notícia muito agradável para Paulo. Ao contrário, o surgimento do arianismo lhe foi uma notícia muito amarga. Enquanto conversavam, apareceu um corvo que lhe deixou um pão. 
«Quão generoso e misericordioso é o Senhor!» exclamou Paulo: «Por muitos anos ele me envia metade de um pão e agora, graças a sua visita, ele me enviou um pão inteiro». 
Na manhã seguinte, Paulo confessou a Antão que muito em breve ele deveria deixar este mundo. Por isso pediu a Antão para que lhe trouxesse a túnica do Bispo Atanásio (famoso por sua luta contra o arianismo), para que seu corpo fosse coberto com ela. Antão foi muito depressa para satisfazer o desejo deste santo ancião. Voltou ao seu deserto muito animado e, quando os irmãos monges lhe perguntavam sobre a razão da túnica, respondia: 
«Eu me considerava um monge e sou um pecador.» E: «Eu vi Elias, vi João e vi a Paulo no Paraíso!»  
E quando estava chegando ao lugar onde São Paulo de Tebas vivia, viu como ele ia subindo ao céu, entre muitos anjos, profetas e apóstolos. 
«Paulo, por que não me esperaste?» Gritou Antão. «Tão tarde eu te conheci e tão cedo te vás embora?» 
No entanto, ao entrar na caverna, encontrou Paulo ajoelhado, rezando. Antão também se ajoelhou e começou a rezar. Só depois de várias horas de oração se deu conta de que Paulo já não se movia, pois estava morto. Então, Antônio lavou piedosamente o corpo do santo e envolveu seu corpo na túnica de Santo Atanásio. De repente, apareceram dois leões que cavaram com suas garras uma tumba suficientemente profunda, onde Antônio enterrou o corpo do santo eremita.

Santo Antão morreu com idade já bastante avançada (106 anos) no ano 356, e por seus esforços espirituais mereceu ser chamado de “o Grande”. Foi o fundador da vida eremítica, que consiste em que vários eremitas vivam em celas separadas, longe um do outro e sob a direção de um Aba (que em hebraico significa pai). A vida dos eremitas se resumia em oração, jejum e trabalho. Vários eremitas reunidos sob um Abba constituíam uma Lavra. Mas, enquanto Santo Antão ainda vivia neste mundo, surgiu outro estilo de vida monástica. Eles se uniam em comunidades, trabalhando juntos, cada um segundo suas capacidades. Também compartilhavam a refeição e eram subordinados às mesmas regras. Estas comunidades foram chamadas de “comunidades monásticas”ou “mosteiros”. Os Abbas dessas comunidades passaram a se denominar arquimandritas. O fundador da vida comunitária dos monges foi São Pacômio, o Grande.

Comemoração de Santo Antão 

Tropário (4º tom)
Imitador do zelo de Elias, pelo teu gênero de vida / e seguindo os retos caminhos do precursor, / tu povoaste o deserto e consolidaste o mundo. / Em tuas orações, ó Santo Antônio, nosso Pai, // roga a Cristo nosso Deus pela salvação de nossas almas!
 
Kondákion, Tom 2
Tendo rejeitado os tumultos da vida, / completaste os teus dias em existência serena, / em tudo, ó Santo, replicando o Batista. // E com ele, Antônio, nós te veneramos, // ó Primeiro entre os Pais.

Leituras: 
Mateus 11:27-30 (Matinas); Hebreus 13:17-21; Lucas 6:17-23 


Oração Antes de Ler as Escrituras
Faz brilhar em nossos corações a Luz do Teu divino conhecimento, ó Senhor e Amigo do homem; e abre os olhos da nossa inteligência para que possamos compreender a mensagem do Teu Santo Evangelho. Inspira-nos o temor aos Teus Santos mandamentos, a fim de que, vencendo em nós os desejos do corpo, vivamos segundo o espírito, orientando todos os nossos atos segundo a Tua vontade; pois Tu És a Luz das nossas almas e dos nossos corpos, ó Cristo nosso Deus e nós Te glorificamos a Ti e ao Teu Pai Eterno e ao Espírito Santo, Bom e Vivificante, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Efésios 1:16-23

Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.

Lucas 14:1-11

Aconteceu num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando. E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico. E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado? Eles, porém, calaram-se. E, tomando-o, o curou e despediu. E respondendo-lhes disse: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo? E nada lhe podiam replicar sobre isto. E disse aos convidados uma parábola, reparando como escolhiam os primeiros assentos, dizendo-lhes: Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e, vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar. Mas, quando fores convidado, vai, e assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa. Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.

† † †

HOMILIA

São Doroteu de Gaza (séc. VI)

Existem duas classes de humildade, assim como existem duas classes de orgulho: a primeira classe de orgulho consiste em desprezar ao seu irmão, não o levando em consideração, como se não fosse nada, e em crer-se superior a ele. Se não tratamos imediatamente de vigiar-nos com rigor, cairemos pouco a pouco na segunda espécie que consiste em exaltar-se diante do próprio Deus e atribuir suas boas obras a si mesmo e não a Deus... Devemos lutar contra a primeira classe de orgulho, para não cair lentamente no orgulho total.

Existe também um orgulho mundano e um orgulho monástico. O mundano consiste em crer-se mais do que seu irmão por ser mais rico, mais belo, melhor vestido ou mais nobre do que ele. Quando percebemos que nos gloriamos nestas coisas, ou que nosso monastério seja maior ou mais rico ou mais numeroso, saibamos que ainda estamos no orgulho mundano. O mesmo acontece quando nos vangloriamos de qualidades naturais, por exemplo: ter uma bela voz ou salmodiar bem, ou ser hábil ou de trabalhar e servir corretamente. Estes motivos são mais elevados que os primeiros, embora ainda se trate de orgulho mundano.

O orgulho monástico consiste em gloriar-se de suas vigílias, de seus jejuns, de sua piedade, de suas observações, de seu zelo, assim como em humilhar-se por vaidade. Tudo isso é orgulho monástico. Se não podemos evitar de orgulhar-nos, convém que este orgulho recaia sobre coisas monásticas e não mundanas. Explicamos, então, qual é a primeira espécie de orgulho e qual a segunda; também temos definido o orgulho mundano e o orgulho monástico. Mostremos agora quais são as espécies de humildade.

A primeira consiste em considerar ao seu irmão como mais inteligente que a si mesmo e superior em tudo; a saber, como dizia um santo: “Colocar-se abaixo de todos”.

A segunda espécie de humildade consiste em atribuir a Deus as boas obras. Essa é a perfeita humildade dos santos. Ela nasce naturalmente na alma como consequência da prática dos mandamentos. De fato, olhemos, irmãos, às árvores carregadas de frutos: São os frutos que fazem curvar e baixar os galhos. Ao contrário, o galho que não tem frutos se ergue no espaço e cresce direito. Inclusive há certas árvores cujos galhos não dão frutos enquanto se mantêm erguidos para o céu, porém, se lhes coloca uma pedra para orientá-los para baixo, então dão fruto. O mesmo acontece com a alma: quando se humilha dá fruto, e quanto mais produz, mais se humilha. Porque quanto mais se aproxima de Deus, mais pecadora se vê.

ORAÇÃO

Ó Senhor e Mestre da minha vida, afasta de mim o espírito de preguiça, o espírito de desânimo, o desejo de poder e a vâ loquacidade.

Mas concede a mim, Teu servo, o espírito da castidade, da humildade, da paciência e do amor.

Sim, Senhor e Rei, concede-me que eu veja as minhas faltas e não julgue meus irmãos. Pois tu és bendito pelos séculos dos séculos.

Amém.

Santo Efrem, o Sírio

† † †

Nenhum comentário:

Postar um comentário